Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, outubro 30, 2008

INTERVALO

E UM POUCO DE BOA MÚSICA. Porque o véio tá ficando véio.


The Killers, "Smile like you mean it" (já clássica, a melhor música deles).


Nirvana, "Lithium" (porque nunca faz mal lembrar do melhor).


Blur, "The Universal" (caras bacanas esses).


Trail of Dead, "Richter Scale Madness" (caras maus esses).


Primal Scream, "Kowalski" - (DUCARALHO).

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ROTH DEVE FICAR

ESTOU BASTANTE PESSIMISTA. Confesso que estou com o pior dos presságios: acho que, dentre os 5 que disputam 4 vagas na Libertadores, o Grêmio é quem vem em declínio, e a diferença é de apenas 3 pontos. Enfim, não me façam dizer.
O que aconteceu? O declínio técnico do Grêmio começou com o jogo do Náutico, o terceiro do segundo turno. Ali, começou a restar claro que, pela liderança, o Grêmio chamava atenção e, por isso, sistemas de marcação especial começaram a aparecer, assim como exploração das vulnerabilidades da equipe. Roth constatou isso e tentou mudar. Mas encontrou um obstáculo: estava ainda na liderança, então por que mudar? O 3-5-2 estava desgastado (os alas eram fracos e Tcheco, centro técnico do meio campo, sofria marcação especial) e as soluções não se encaixaram imediatamente. Não houve tempo para "Plano B".
Resultado: chegamos ao final aos trancos e barrancos, quase sem espinha dorsal. O esquema titular não dá mais resultados. Roth não conseguiu encontrar soluções imediatas. É tarde para grandes mudanças. Preocupante.
Creio que um dos fatores para isso é que Roth não trabalha com tranqüilidade. Diante da penúria de bons treinadores no Brasil, melhor agora é dar uma nova chance ano que vem, independente do resultado, para que ele possa montar uma equipe e suas variações. Mesmo na pior das hipóteses. Assim, ele pode trabalhar tranqüilamente e organizar a equipe.
Para o ano que vem, creio que o Grêmio precisa de dois laterais e dois atacantes - e só. Acho que, indo para a Libertadores, poderíamos arriscar talvez uma contratação a mais - penso em Emerson, que está em fim de carreira. Mas, fora ele, não precisamos de meio-campistas: Rafael e Magrão são bons volantes, Souza e Tcheco devem ser titulares ano que vem (em 4-4-2) e Makelele, Orteman e Douglas Costa são boas opções. A prioridade absoluta deve ser um lateral-esquerdo e, depois, um atacante bombado e outro excelente (dos nossos cinco, ficaria com três - todos são do mesmo nível). De resto, o time está montado.

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quarta-feira, outubro 29, 2008

POLÍTICA DOS PAMPAS

O GAÚCHO TEM UM TRAÇO político que realmente o distingue dos demais estados brasileiros. Somos campeões de nos acharmos melhores (não somos), menos corruptos (não somos), menos fisiológicos e clientelistas (não somos), mais "ordeiros" (se somos, isso é ruim) e mais "coerentes" (depende do que isso quer dizer). Um traço, no entanto, é verdadeiro: mudanças partidárias não sem bem-vistas. O gaúcho gosta dos seus partidos e se mantém fiel a eles.
É por isso que, apesar de isso não significar grande coisa, PMDB e PP ocupam espaços diferentes no RS dos que ocupam no resto do país. Aqui no RS o PMDB ocupa o papel nacional do PSDB, uma espécie de centrismo moderado do MDB, papel que é representado por Fogaça, Simon e Rigotto. Assim como o PSDB de Serra e FHC ocupa esse espaço em âmbito nacional, formando uma espécie de "centro" político que atrai a direita e rivaliza com a esquerda do PT, idêntica função tem o PMDB no RS, exatamente porque é do PMDB que saiu o PSDB e gaúcho não tolera mudança de partido. Assim, o mesmo espaço de anti-ditadura centrista que ocupam FHC e Serra em âmbito nacional é ocupado por Fogaça e Rigotto no estadual. Prova: em todas as últimas eleições o PMDB polarizou com o PT fazendo exatamente o mesmo duelo que o PSDB faz em âmbito nacional.
A direita, que é representada em âmbito nacional pelo DEM, aqui é pelo PP, que no âmbito nacional é puramente fisiológico (e aqui parcialmente). Gaúcho não gosta de mudança de partido.
E o PSDB de Yeda? É um partido sem expressão, composto de fisiológicos e tecnocratas (corrente de Yeda) que não têm espaço em outros partidos. Ganhou por puro acidente uma disputa que mais uma vez deveria ter sido polarizada entre Olívio e Rigotto.
Se eu vejo algum mérito nisso? Vejo. Mas nada demais. A "fidelidade" dos gaúchos é também um pouco da "coerência" que, se corretamente analisada, deveria ganhar o nome de "burrice". Afinal, o burro é sempre coerente.

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segunda-feira, outubro 27, 2008

UMA DERROTA PARA PENSAR

O PT NÃO SAIU DERROTADO dessas eleições, como alguns colocam, e nem vitorioso, como outros. Saiu mais ou menos como entrou. A aprovação de Lula bateu na estratosfera justamente porque o brasileiro começou a vê-lo como um "Chefe de Estado" (ou, para arrepiar todos os jornalistas: como um estadista), acima das disputas partidárias e atuando como "árbitro" dos conflitos políticos. Por mais que os neocons da mídia ultraconservadora tentem pintar Lula como um chefão de uma burocracia partidária que quer se apossar do Estado, a imagem não colou sequer entre a classe média mais cautelosa com o PT (a mesma mídia que tacha certa esquerda de "anacrônica" vive no exato mesmo tempo atrasado). Mesmo os mais exaltados, hoje em dia, reconhecem a autoridade de Lula - que o coloca acima dos partidos (posição que FHC ocupou apenas nos últimos instantes do mandato, quando fez a transição de governo). A aprovação de Lula, por isso, não tinha como se transferir diretamente aos candidatos do PT. A aprovação é de Lula Presidente, do "estadista" Lula, não do "governista" Lula (ou menos ainda do "petista" Lula).
Dito isso, fica claro que o PT atingiu um patamar médio que se transmite a quase todas as cidades: algo entre 35 e 40% do eleitorado. Esse é o eleitor fiel da esquerda, aquele que vota no PT independente do candidato e da conjuntura política. Foi o eleitor de Martha Suplicy e Maria do Rosário.
Se observarmos as conversas cotidianas em bares, restaurantes, ônibus e filas de banco, podemos constatar que não está mal essa fatia. Via de regra, o senso comum é conservador. Portanto, sair do patamar de 40% não está nada mal. Entre as democracias mais antigas nenhuma é predominante de esquerda. A direita sempre sai com vantagem, justamente porque ao lado dela está o senso comum e, com ele, o conservadorismo. É tarefa da esquerda sempre reverter essa tendência desfavorável.
Em Porto Alegre, a estratégia para essa reversão foi falha. Primeiro, pela aposta das esquerdas em repetir a estratégia que tirou o PT do poder: lançar tantas candidaturas quanto possível e atacar o Governo por todos os lados. Não deu certo. A ameaça de Manuela no segundo turno desgovernou a campanha de Maria do Rosário e criou um processo autofágico. Quanto ao PSOL, é um partido não-fisiológico, ao contrário dos seus simétricos (do ponto de vista quantitativo-eleitoral) da direita (PTB, PSDB, PPS, DEM, PP), capazes de se unir sempre em qualquer circunstâncias (a política do Governo do Estado é o mais claro exemplo: somos governados pelo mesmo grupo político há anos - é ele, e não a Dama de Ferro, que nos comanda). Com isso, a fratura no primeiro turno prejudicou - e não ajudou - a esquerda. A única chance que eu via, desde o início, de desbancar Fogaça era uma chapa com Maria e Manuela. O narcisismo do PT e a ambição de Manu impediram a vitória.
Segundo, a campanha do PT viu como única chance a "colagem" da imagem de Lula. Não deu. O Presidente preferiu ficar na sua posição de estadista e não se envolver, inclusive para não criar atritos com o PMDB. Curiosamente, por aqui no RS o PMDB é o rival que ocupa o lugar do PSDB na contraposição ao PT - como ninguém fala disso? - basta ver que Antônio Britto, Germano Rigotto e José Fogaça são peemedebistas. Então, foi uma aposta errada querer colar a imagem em Lula (isso deveria vir como "bônus").
A estratégia deveria ter sido confrontar projetos em amplitude. O PT deveria ter se mostrado como esquerda de Fogaça, ter partido para a rinha ideológica mesmo, mostrando-se como o partido dos "sem". Isso sim poderia ter despertado a militância adormecida e feito um "milagre" como a eleição de Olívio Dutra em 1998. Preferiu, no entanto, jogar o jogo de Fogaça, comparando o número de postos de saúde construídos - afundou na mesma mediocridade do nosso vencedor. Deveria ter se posicionado à esquerda em questões polêmicos como flanelinhas, moradores de rua, camelôs, carroceiros, orçamento participativo, ter confrontado prioridades e apresentado Fogaça como o candidato dos ricos porto-alegrenses (grosso modo, é o que ele é).
No RS, o PT passa por uma crise aguda. Perdeu eleições e não sabe por quê. Eu digo: falta renovar-se enquanto esquerda, sair da opção entre esquerda hardcore-marxista (turma do Rosseto, Olívio e Pont) e esquerda light-não-sei-o-que-penso-vou-com-Lula (turma da Maria do Rosário e Tarso Genro). Isso pode custar uma eleição, mas ao mesmo tempo faz retornar a credibilidade do discurso. É a conjuntura do momento - os candidatos, o clima político e a gestão da prefeitura - que irá decidir, ao fim e ao cabo. O fato é que não dá mais para apostar nos "´fiéis". Eles são minoria e, de regra, a esquerda sempre será.

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sexta-feira, outubro 24, 2008

GÊNIOS!


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segunda-feira, outubro 20, 2008

LIBERALISMO E LIBERALISMO

UMA COISA QUE SEMPRE me incomoda, e quem é leitor desse blog há tempos sabe disso, é a banalização da palavra "neoliberalismo". Usada como jargão-clichê por uma esquerda anacrônica, de um lado, e como "fim da história", por outro, é isso que está desabando diante dos nossos olhos na crise econômica. Mas o que incomoda, sobretudo, é ver gente como Reinaldo Azevedo dizendo que é "um liberal" (e pior, gente do campo oposto concordando). Cruz credo.
As sociedades norte-americana e européia (especialmente a Grã-Bretanha, aqui) haviam consolidado, desde o New Deal e o Plano Marshall, um Estado "grande", apelidado de Welfare nos EUA ou simplesmente de "Bem-Estar Social". Foi a partir da crise econômica do Choque do Petróleo (1973) que as instituições desse "grande Estado" começaram a ser derrubadas.
Aqui já vemos o primeiro equívoco: ao contrário do que o pittbull neocon defende, o neoliberalismo não surgiu em choque com o comunismo, mas sim com o welfarismo, ou seja, a social-democracia. Seu inimigo não era Karl Marx, e sim Keynes ou até Dewey. A idéia era de que os altos impostos que custeavam os serviços públicos deveriam ser devolvidos para a sociedade e o livre-mercado daria conta dos problemas. Por isso, "neoliberalismo".
Não gosto do termo. Liberalismo, para mim, tem o sentido norte-americano: é a corrente de gente perspicaz como Richard Rorty, John Rawls, Ronald Dworkin e Arthur Danto, ou dos movimentos de direitos civis de mulheres, negros e homossexuais. Seu parentesco mais próximo é com a social-democracia de Habermas, na Europa, ou até de Laclau ou Chantal Mouffe. É uma corrente inspirada em gente como Dewey e Tocqueville. O liberal é aquele pragmático meio "blasé", meio irônico, um tipo meio voltairiano que vê com bons olhos reformas sociais e aposta radicalmente na democracia contra todo autoritarismo. Reinaldo Azevedo certamente não se enquadra no rótulo. Ele e sua revista estão muito próximos -- isso sim -- do neoconservadorismo de George W. Bush, Ronald Reagan e Charles Murray.
Por essa razão não gosto de "neoliberalismo" -- ofende os bons liberais. Gostaria de dizer apenas "neoconservadorismo" para falar dessa tendência hegemônica que combina liberdade de mercado (na realidade, apenas uma forma de tornar os ricos mais ricos) e conservadorismo moral. Mas acho que não dá. Isso porque, além desse emaranhado "neocon" que Sarah Palin tão bem representa (e que se contrapõe a Maio de 68), essa política veio combinada com outros elementos. Vamos ver alguns.
A "ideologia do sucesso" (*) é um deles. Trata-se de um emaranhado que combina discursos de administração ("motivação", "competição", "gestão" etc.), filosofia new age (orientalismo e busca da "paz interior" como amortecimento), consumismo (como meta) e narcisismo (figura da "performance") e produz pessoas como aquelas personagens mulheres de filmes como "Era da Inocência" e "Beleza Americana", ou homens como o pai da menina em "Pequena Miss Sunshine" ou o "Psicopata Americano". Figuras que poderiam remeter a gente como Donald Trump ou Roberto Justus e livros como "O Sucesso é ser Feliz" ou qualquer um do Lair Ribeiro. Essa ideologia tem papel fundamental na contemporaneidade, ocupando largo espaço social, e seu impacto se dá sobretudo sobre o meio empresarial e todo seu emaranhado administrativo.
De outro lado, como complemento, temos a "ideologia atuarial", que está na outra ponta - a analítica (aqui, pouco a ver com filosofia analítica). Trata-se de uma metodologia que reduz tudo a cálculos econômicos de estatística, ignorando os problemas humanos e culturais que subjazem às questões. As pessoas são reduzidas a indivíduos calculadores e custo/benefício e o restante é reduzido a "subjetivismo" e sai da "melhor gestão". Essa área atuarial vai da educação à criminologia, passando por direito, sociologia e outras disciplinas.
Ambas áreas convergem para um fenômeno: a burocratização da sociedade. A prevalência discursiva da administração ("choque de gestão") e da economia (contra o Estado "gastador") indicam uma sociedade "administrada", como anteviam os frankfurtianos e, de certa forma, se confirma a previsão. Essa burocratização, que acompanha o neoconservadorismo, é o cerne do "neoliberalismo", que muito pouco tem de parecido com o liberalismo de Beccaria, Verri, Tocqueville e Dewey (no âmbito jurídico, chamaríamos esse último de "garantismo"). A corrente "atuarial" pretende ser "neutra" e vê com muitas ressalvas qualquer interferência de "políticos" (dela vem o chamado "choque de gestão"). É apenas mais uma máscara para deixar os ricos mais ricos (a partir, sobretudo, da especulação econômica) e "gerir" os problemas sociais por meio de fórmulas que ignoram (propositalmente) a respectiva complexidade.
Felizmente, aquilo que víamos como "globalização" (a absoluta flexibilidade do mercados financeiros) parece estar entrando em outro patamar (de regulação) e poderemos domesticar o capitalismo selvagem que vivemos (coisa que gente como Bauman e Habermas alertavam há anos). Antigamente, chamávamos esse espaço de "política"...

(*) Ideologia, aqui, tem o sentido fraco de "conjunto de idéias".

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sexta-feira, outubro 17, 2008

POLÍCIA E POLÍTICA: QUESTÃO DE ESTADO

ONTEM A POLÍCIA civil e a polícia militar paulista entraram em conflito, tendo esta reprimido manifestação política daquela. A questão é deveras preocupante e não está sendo levada a sério por nenhuma das partes envolvidas.
Não foi à-toa que Walter Benjamin certa vez identificou o poder do Estado com a polícia, a verdadeira fonte do monopólio estatal da violência. Eis por que o poder de polícia é o reflexo mais claro do poder soberano e precisa ser limitado na sua infinita possibilidade de violência (até matar sem cometer assassinato, como bem nos ensinou Giorgio Agamben em "Homo Sacer - o Poder Soberano e a Vida Nua"). Para nós, brasileiros, golpeados na nossa democracia em 64 pelo exército, a questão deveria estar ainda mais clara (ainda que a amnésia goebbeliana de alguns queira realmente fazer parecer que o golpe foi "contra-golpe"). Basicamente, a polícia tem armas -- e aqui há muito problema.
Surpreende, por isso, a pouca seriedade da atenção ao problema. Não é apenas uma questão de salários que está em jogo. O Governador José Serra nega-se a negociar e com isso corre um risco muito alto. A oposição aproveita-se politicamente do episódio. É inadmissível. Ambas as partes deveriam reunir-se e negociar com a polícia, sob pena de a crise tomar dimensões muito maiores e inadmissíveis.
Tudo isso reflete uma coisa: a questão policial - que é um dos nervos centrais do Estado de Direito - é subestimada e mal-tratada no Brasil. Deve ser vista como questão de Estado, transcendente aos governos, e lidada de forma conjunta pelos partidos, até para agüentar o tranco da pressão corporativa que virá diante das mudanças. No entanto, tudo fica como está: Governo autoritário joga policiais contra policiais, paga mal e não senta para dialogar; oposição aproveita a inabilidade política e usa o fato como capital eleitoral. Enquanto isso, a população fica sem segurança decente, a polícia é estigmatizada e mal-remunerada e, por outro lado, mantém suas estruturas podres de corrupção e bagunça de gestão.
Um dia, quem sabe, possamos tratar as coisas com a devida seriedade.

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quarta-feira, outubro 15, 2008

SELEÇÃO BRASILEIRA: POSSIBILIDADES E DELÍRIOS NARCÍSICOS

OS COMENTARISTAS estão sempre insatisfeitos com o desempenho da seleção. O público vaia. Os mauricinhos e patricinhas que nunca pisaram em um campo de futebol pagam a fortuna que a CBF cobra (mais de R$ 100,00) e vão lá chamar de "pipoqueiros" os jogadores. Enfim, é sempre a mesma lenga-lenga.
Enquanto os brasileiros sempre dizem que a seleção joga mal, para os argentinos seu time é sempre "estelar" e está em ponto de bala. Enquanto isso, o Brasil leva quase todas as competições e nossos "hermanos" ficam a ver navios.
O que falta na Argentina sobra no Brasil. Nossa auto-crítica é demasiada, um tanto quanto catastrofista e saudosista de um tempo que não volta mais. É o que falta nos hermanos, muitas vezes pouco dados à humildade (como reza o folclore). Ou simplesmente, e eu prefiro talvez essa perspectiva, capazes de ter uma relação mais leve e saudável com sua equipe, sem depositar frustações e projetar defeitos, capaz de "amá-la" pelo que ela é. Por isso nós vaiamos e eles aplaudem, mesmo na derrota. A relação do torcedor brasileiro com a seleção é vampiresca, desapaixonada, aproveitadora. A do torcedor argentino é gratuita, apaixonada e sincera. Por isso quando vencemos sempre é pouco e quando perdemos é terra arrasada; e por isso o argentino acostuma-se com uma certa adoração "trágica" da sua seleção, quase acostumada com uma grande promessa seguida de grande frustação.
A crônica esportiva brasileira é saudosista em demasia. Não pelo apologia ao "futebol-arte" ou pela crítica ao estilo defensivo. Mas por achar que é possível, nos dias de hoje, montar uma seleção (qualquer) compactada o suficiente, com o calendário inchado que temos em competições. Não é. Claro, é bem possível que os técnicos aproveitem mal o tempo, mas isso não retira o fato de quem não se monta uma equipe em três dias. Para um time jogar "bonito" e ofensivamente na atualidade, como desejam esses cronistas, é preciso tempo e entrosamento. Não há.
Reclama-se que o Brasil joga mal, joga feio, não convence. Concordo. Mas a maioria dos jogos de seleção é assim. Paraguai e Argentina não vêm jogando mais que o Brasil. A Itália foi campeã do mundo em jogos sonolentos. França, Inglaterra, Portugal e Alemanha jogam um futebol chatíssimo. Os times que chamam mais atenção atualmente são Holanda e Espanha. Os dois jogam ofensivamente. A Holanda, no entanto, não venceu nada até agora e entrou para a Copa de 2006 para montar um time para 2010. Será que o Brasil toparia? A Espanha, por outro lado, contou com sorte em ter jogadores de características parecidas (Xavi, Iniesta, Fabregas, Silva) que se entrosaram rapidamente.
Portanto, não há nada de estranho na situação do Brasil. Vem jogando mal como, de resto, a maioria das seleções. Deveria ser criada uma brecha no calendário exclusivamente para as seleções, talvez um mês por ano, quando se dariam os jogos eliminatórios e os treinadores teriam tempo para formar equipes. No restante, os jogadores seriam exclusivamente dos clubes. Sem isso, os jogos continuarão sonolentos e as equipes dependentes de talentos individuais.
*
Falo um pouco especificamente da escalação. Esse nosso hábito de fazer terra arrasada em cada derrota acabou nos cegando quanto a coisas óbvias. Por exemplo, que, mesmo com a derrota em 2006, o Brasil tinha uma equipe quase pronta. Faltava substituir os laterais (emergencialmente), encontrar volantes e o centroavante estava na cara desde o início, era Adriano. Então, na realidade, eram quatro posições.
Lateral-direito o Brasil tem dois, Maicon e Daniel Alves. Nenhum dos dois é Jorginho ou Carlos Alberto Torres, mas, dentro do contexto mundial, está ótimo. Aliás, são titulares da Inter de Milão e Barcelona. Como podemos ter dúvidas? Lateral-esquerdo, por outro lado, não se encontrou. Kléber, Gilberto, Juan e Marcelo não são o artigo.
Pior são os volantes. Realmente não surgiu um camisa 5 convincente desde o Emerson. Gilberto Silva, dono natural da posição, deixa a desejar na marcação e pouco contribui com o ataque. Josué, nem se fala. Mineiro está em fim de carreira. Em todo caso, de todos esses eu ficaria com Gilberto Silva, pela experiência, e colocaria Lucas na segunda função. Está há horas chovendo no molhado essa solução. Hernanes é boa opção no banco, o mudado Anderson ou até Julio Baptista (se duvidar, a melhor solução). O que nós temos? Julio Cesar, Maicon, Lucio, Juan e Kléber; Gilberto Silva, Lucas, Kaká, Ronaldinho e Robinho; Adriano. Uma equipe que escalo por aqui há quantos anos? Nem sei, mas era óbvio que seria essa, assim como era óbvio que Luis Fabiano, assim como Fred, Ricardo Oliveira e Pato, são os únicos com condição de integrar o ataque, e não Sobis, Jô, Wagner Love, Afonso e outras nabas de Dunga. Tudo isso está claro desde a Copa passada, era pura invencionite o contrário (para não dizer que estou mentindo, fui procurar meu primeiro comentário sobre a gestão do Dunga - ei-lo).
Ronaldinho vem mal? Vem. Acho que, se não se tornar novamente um jogador disciplinado e dedicado, deve cair fora do time. Acho que Anderson, Mancini ou Julio Baptista (todos superiores a Elano) seriam opções para sua vaga. Em todo caso, num time titular ideal, creio que ninguém deixaria de escalá-lo.
A pergunta é: diante de tão pouco tempo e todos os problemas, por que Dunga inventa tanto? Resposta: porque é ruim.

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ANTI-AMERICANISMO E XENOFOBIA

A FOLHA PUBLICA hoje que saiu no New York Times pesquisa indicando que 89% dos norte-americanos acreditam que seu país está "no rumo errado".
É o que digo aos meus amigos de esquerda que são "anti-americanos". Falar dos estadunidenses de forma pejorativa e ressentida é algo que termina constantemente na xenofobia (o mesmo ocorre com Israel). Não dá para generalizar o que é um país apenas pelos atos do seu governo. Isso diz pouco sobre como funciona sua sociedade.
89% é uma taxa altíssima porque, se olharmos para o Brasil, podemos comparar e ver que as pessoas críticas são realmente poucas. O discurso do "medo" e da "emergência", que é o principal mote do Governo Bush, cai igualmente bem por essas bandas. A maioria da população brasileira - como a do resto do mundo - está apenas preocupada com o próprio umbigo e vê com muito maus olhos "generosidades" do seu país em relação aos outros (que o diga a classe média brasileira que critica as medidas de Lula em relação à Bolívia). Por todas essas razões, 89% é índice altíssimo, a indicar que não dá para ter a visão "Bush = EUA" sem ser, no fundo, xenófobo -- ou pelo menos tem uma "reatividade" demasiada. Sem dizer que é mais difícil tirar da "zona de conforto" para uma zona crítica (em relação a si mesma) uma sociedade que vive em bem melhores condições que a brasileira.
Toda vez que começa aquela pregação fanática anti-americana seria bom que olhássemos para nós mesmos (brasileiros) e perguntássemos: estamos tão melhor assim?

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terça-feira, outubro 14, 2008

O "SUCESSO" DA POLÍTICA DE ENCARCERAMENTO PAULISTA

A FOLHA DE SÃO PAULO publicou hoje editorial no qual celebra o "sucesso" da política prisional de São Paulo, atribuindo a isso a diminuição dos homicídios a menos de 10 por 100 mil pessoas, razão pela qual sai da linha de "epidemia".
Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que, diante dessa diminuição, é de se aplaudir algo em São Paulo. Realmente, diminuir a taxa de homicídios, na minha opinião, deve ser a prioridade máxima de qualquer iniciativa de segurança pública no Brasil. A pergunta, no entanto, fica assim: o que causou essa diminuição? Essa diminuição é sustentável?
Me parece que aí entramos em uma problematização mais complexa. O mundo social não é como o mundo natural: as coisas não têm uma "causa" pré-definida que atua produzindo um efeito. Ao contrário, as estruturas interagem de uma forma um tanto "caótica" (no sentido certo e errado), sendo relativamente desprovidas de linearidade. Por exemplo: é constatável empiricamente que o "medo social" não corresponde aos índices reais de criminalidade. Isso é produzido pela mídia? Ou a mídia reflete o medo? É muito provável que as duas coisas sejam verdadeiras. A mídia se alimenta do medo e o alimenta, em um efeito circular em que uma coisa potencializa a outra. Esses processos certa vez foram descritos como "profecias-que-cumprem-a-si-mesmas".
Diante disso, teríamos que ver vários fatores que devem ter contribuído para essa queda. A melhoria do aparato policial é uma delas. O crescimento econômico brasileiro e a redução da taxa de desemprego, saindo da recessão, deve ser outra. Iniciativas de índole comunitária e recuperação de espaços públicos também contribuíram. E a própria execução da lei penal deve ter influência. O problema é que os conservadores pegam o último dado como se fosse o único - e isso significa não prestar atenção a outras iniciativas igualmente favoráveis que tiveram tanto efeito quanto. Mas a política de encarceramento em si mesma tem alguns problemas.
Primeiro, foi ela que produziu o PCC. Isso não é contabilizado. Foi justamente a partir do "grande encarceramento" produzido em São Paulo que o crime passou a ser organizado desde dentro das prisões. E, olhadas friamente, as reivindicações do PCC são até legítimas, se considerarmos que eles apenas lutam pelo cumprimento da Lei de Execuções Penais (e nada mais). Só o ornitorrinco Brasil é capaz de produzir um movimento que usa meios terroristas para reinvindicar a aplicação da lei.
Segundo, essa política não é sustentável. A longo prazo, o que irá acontecer é:
a) o retorno da população encarcerada ao meio social irá potencializar estigmas e favorecer as "carreiras criminais";
b) a seguir o modelo, será necessária a construção ilimitada de presídios, até o infinito, para dar conta do crescimento da criminalidade, até o ponto que a sociedade ficará fraturada em duas partes ("nós" e "eles" - como na distopia de "Filhos da Esperança");
Sem falar do componente mais importante -- político e não apenas funcional (como os dois anteriores) -- de que essa população encarcerada é, via de regra, produto de uma marginalidade social produzida ao longo de 500 anos que joga indivíduos à condição de vida nua e cria uma reatividade intensa. Ela só reforça o círculo vicioso da violência que consiste no olhar indiferente/estigmatizador, a incorporação/resposta do invisível/estigmatizado e, de novo, mais olhar e mais resposta, até o infinito.
Em suma, deveríamos prestar atenção ao modelo paulista e ver o que há de sustentável nele, copiando aquilo que representa um bom exemplo, e não simplesmente cair no simplismo atroz conservador que não permite o rompimento do círculo vicioso da violência.

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segunda-feira, outubro 13, 2008

MARINA SILVA DIZ TUDO QUE EU GOSTARIA SOBRE A CRISE ECONÔMICA

REPRODUZO COLUNA publicada na Folha de hoje. É o que melhor foi escrito sobre a crise dos mercados que eu tenha lido:

MARINA SILVA

Tirando o escorpião das costas
NA ÚLTIMA sexta-feira, Clóvis Rossi relatou a festa de quase US$ 450 mil promovida pela seguradora AIG para seus executivos, logo após ser socorrida pelo governo americano com US$ 85 bilhões. É assustador, pela quantia gasta no socorro a uma única empresa, pelo custo da celebração absurda, em meio ao desabamento do sistema financeiro; e por retratar a estupidificação de uma pequena parcela da humanidade, que, haja o que houver, se vê protegida num olimpo, atirando flechas contra os mortais na planície. Esses casos do entorno da crise nos falam de uma cultura que não dá sinais de arrefecer nem diante do prenúncio do caos. Quantos já não correm para manipular a desgraça e fazê-la se transformar em "oportunidade"? Lembra a fábula do sapo e do escorpião. Em meio à enchente, o escorpião pede ao sapo para levá-lo às costas até a outra margem do rio. O sapo hesita porque teme uma picada mortal. "Que nada", diz o escorpião. "Eu não faria uma coisa dessas com quem está salvando minha vida!". Convencido, o sapo inicia a travessia. E leva a picada fatal: "Por que, se você vai morrer junto comigo?" A
ntes de ser tragado pela correnteza, o escorpião responde: "Desculpe, mas essa é a minha natureza".
Há nisso tudo uma questão de fundo: a hipertrofia financista comandando a vida social. No mundo imaginário do planeta dinheiro, ninguém e nada tem existência fora do seu valor monetário e do potencial para multiplicar cifras, mesmo que artificialmente. Nesse mundo, o Estado é continuamente instado a se afastar para dar lugar à exuberante "generosidade" dos ganhos fartos. Quando a coisa vai mal, como agora, corre-se para o colo do Estado, a fim de que solucione a crise e divida os prejuízos com a sociedade. Escrevo enquanto o FMI faz sua reunião anual em Washington. Será que há esperança de que essa rotina comece a mudar?
A solução não pode ser estatal nem econômica, ela é política. Mas, cerceada pelas razões puramente econômicas, quando entra em cena, a política o faz fragilizada, subjugada e sem traquejo para operar o que é de sua natureza: a defesa do interesse público. Os interlocutores são inseguros, as respostas demoram, safam-se aqueles que originaram o abalo. Com o espaço de decisão política obstruído, aos cidadãos resta a solidão da perplexidade. O que virá? Depressão, desemprego, inflação? Quanto dessa crise mundial atingirá o Brasil? Quaisquer que sejam as respostas, uma conclusão já podemos tirar. Está mais do que na hora de fazermos a travessia, só que sem o escorpião nas costas. contatomarinasilva@uol.com.br
MARINA SILVA escreve às segundas-feiras nesta coluna.

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sábado, outubro 11, 2008

THE VERVE, "FORTH" (2008)



PARA MIM, O THE VERVE é uma das bandas - senão "a" - mais injustiçada da história. É incompreensível que uma banda com álbuns como "A Northern Soul" (1995) e "Urban Hymns" (1997) tenha tão pouco reconhecimento. Bandas como Oasis, Led Zeppelin, Pavement e Queen podem polarizar opiniões, mas sempre têm reconhecimento em uma ou outra lista, geralmente ocupando os topos. O trabalho do Verve, no entanto, é solenemente ignorado pela mídia musical. Considerando a estatura de "Urban Hymns", por exemplo, a banda de Richard Ashcroft deveria lograr melhores conceitos do que meramente "a banda de 'Bittersweet simphony'" ou "uma banda arrogante". É verdade que muitos críticos não enxergam méritos nas obras do Oasis pela última razão, mas isso não afasta outra grande fatia de ignorar o fato. Com o Verve é diferente.
Da minha parte, posso dizer que o Verve é das minhas 3, 5 bandas favoritas. Uma banda capaz de fazer músicas como "A New Decade", "this is Music", "On you own", "History" (todas de "A Northern Soul") ou "Bittersweet simphony", "Sonnet", "Lucky Man", "C'mon", "One Day" (na realidade gosto ABSURDAMENTE de todo "Urban", com exceção de "This time") é fora-de-série. Realmente ESPECIAL.
Foi por isso que esperei ansiosamente a retomada da banda, uma vez que a presença de Nick McCabe era fundamental para dar contornos shoegaze para as belas melodias de Ashcroft. Esperei mais de 10 anos. E finalmente, contra todas expectativas, veio o quarto álbum, "Forth".
Após muitas audições, posso dizer que o disco é seguro, mas não atinge o nível dos anteriores. Meu principal pensamento é: se esse disco fosse uma bolacha (vinil), o recheio estaria todo no "Lado B".
O disco começa fraco e requentado, carente de inspiração com "Sit and Wonder", uma tentativa de repetir um "A New Decade", mas fracassa. Segue a mais chata do álbum, "Love is Noise", justamente o single, especialmente pelos gritinhos chatos do fundo que continuam pentelhando na faixa seguinte ("Rather Be"). Lembram os temas pouco inspirados dos álbuns solos de Ashcroft. O "Lado A" se arrasta em mais duas músicas ("Judas" e "Numbness"), ambas sem sal, quase fazendo o ouvinte desistir.
Mas aí há um salto tremendo de qualidade. "I see houses" começa lentinha, parecendo banal, porém vai se turbinando até alcançar um clímax poderoso, que muito lembra os melhores momentos do Verve. A seguir, "Noise Epic" é fúria pura, mais de 7 minutos de muita guitarra e agressividade, parecendo recuperar o estilo "A Northern Soul". E chegamos a "Valium Skies", melhor do álbum, que é uma balada chapadaça ("valium") ao estilo "One Day". Aqui o disco já contagia, tu começa a cantalorar as canções, tudo fica bonito e cheio de qualidade. Segue a forte "Columbo", que recupera o clima pesado ANS, repleta de paredes de guitarras. E terminamos com a bela "Appalachian Springs", balada que caminha lenta e viajante, lembrando um pouco "Velvet Morning".
Enfim, o disco vale pelo "Lado B". No começo, é modorrento e inconvincente, parecendo demorar para engrenar. Porém, quando engrena, é só alegria. Lembra o velho Verve que sempre nos deu boas melodias para assoviar e guitarras barulhentas para emocionar.

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EXERCÍCIOS FILOSÓFICOS

UMA DAS COISAS MAIS difíceis para o estudioso em filosofia engolir é quando os pensadores contemporâneos dizem que a ontologia foi engolida pela linguagem, ou seja, de que é impossível construir uma ontologia sem passar pela questão lingüística (ou linguageira) enquanto formadora de mundo.
Estava explicando aos meus alunos a teoria de Norbert Elias sobre o conceito de sociedade - sociedade é uma relação, e não um ente ou simplesmente algo que é redutível à vontade de indivíduos - e dei o exemplo de como não temos mundo sem as palavras. A crença metafísica deles era que a linguagem era transparente, funcionando apenas como "espelho da realidade", como tradicionalmente se imagina. Foi difícil - se é que consegui provar - que a linguagem não é apenas um "detalhe", mas quase tudo, que não existe o "mito do museu" (Quine) e que é impossível para nós sabermos se os alemães sentem a mesma "saudade" que nós sem ter a palavra "saudade" (inescrutabilidade - Quine e Davidson). Tendemos realmente a acreditar na "linguagem privada", como se coisas tipo o "amor romântico" ou "criança" não dependessem essencialmente de invenções humanas.
Creio que a lição de Heidegger sobre a abertura do ser, se bem a entendi, nesse caso é imbatível: o ser está aberto e oferece a linguagem enquanto morada, mas sem que esse ser se entifique em "simples-presença", tal como concebem a ciência e o cartesianismo. A arte, por exemplo, é uma forma de abrir novas dimensões de relação com o ser. Só isso é capaz de explicar porque o penico de Wahrol se transformou em arte, apesar de ser um mero penico - ou, de outra forma, como a arte também é experiência de verdade.
O problema é que sempre sobra o inefável - irredutível à linguagem e à ontologia - esse Outro que nomeamos "alteridade". Agamben escreveu belas linhas sobre como as tonalidades emocionais do fetiche e da melancolia se relacionam com o inefável justamente enquanto não conseguem capturá-lo. E Levinas fundou sua ética sob o pressuposto de que o Outro é inefável e, por isso, é pura violência investigá-lo à luz da ontologia, que não é capaz de capturar essa alteridade irredutível a esquemas intelectuais. Em vez disso, Levinas propôs que lidássemos com essa alteridade de forma distinta: nos relacionando com ela, respondendo às suas interperlações, libertando-a do nosso intelectualismo. É assim que compreendo a idéia de "ética como filosofia primeira", que não é primeira no sentido de intelectualmente fundante, e sim de prioritária, fundamental. Com esse passo, Levinas se desloca praticamente para fora da filosofia (ou do logos), chocando-a com algo que não é ela (a ética).
A única chatice foi ter que provar que isso nada tem a ver com relativismo.
Afinal, relativismo é uma palavra que só faz sentido dentro do cartesianismo (na epistemologia) ou dentro da ética posta em termos kantianos (de deveres inscritos na razão). Hoje em dia, acho que a palavra "relativismo" é um total contra-senso que serve apenas como palavra de choque para hesitar diante da virada paradigmática pós-metafísica ou do fato de se ter colocado a ciência no seu devido lugar, tirando-a do posto (mítico) de saber fundante e concentrador de todo sentido do ser.

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quinta-feira, outubro 09, 2008

NÃO INVENTA, MANÉ

DEPOIS DE QUATRO ANOS DE hesitação, finalmente tomei coragem mês passado e adquiri, via Amazon.com, cinco livros. Tenho certeza que os cinco são ótimos (um já li: "Culture of Control", de David Garland). Optei por comprá-los diretamente, porque afinal de contas imaginei que seria mais barato que usar a Livraria Cultura.
Tolice.
Como se todos os deuses estivessem contra mim, o dólar simplesmente resolveu disparar (de RS 1,70 para 2,30), aumentando quase pela metade o preço da compra.
Não bastasse isso, dois dos cinco livros ("Culture of Control" e "Outsiders", de Howard Becker), foram traduzidos DEPOIS da minha compra, apesar de o segundo ter já algumas décadas de existência -- enfim, tinham que traduzir justamente NO MOMENTO em que eu resolvo comprar e TOMO BONITO ... na valorização do dólar. É PESSOAL.
Agora só me resta esperar pelos meus lindos livros novos do Agamben: "Means without ends", "The Time that remains" e "Remmants of Aushwitz" como consolo.
A lição é clara: NÃO INVENTA, MAGRÃO.

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POBRES EDUCADORES

A ASCENSÃO DO NEOLIBERALISMO na década de 80 nos países anglo-saxônicos do Atlântico Norte acabou criando mostrengos anexos à teologia do mercado que certamente levariam Adorno e outros frankfurtianos a dizer: "eu disse, eis a 'sociedade administrada'!". Um desses monstrengos é o que chamaria de atuarialismo, que poderia ser definido como a redução de problemas complexos a estatísticas e cálculos custo/benefício. Esse bicho estendeu-se da Criminologia à Educação, passando por várias áreas em entre elas.
Antes de tudo, deixo claro que nada tenho contra levantamentos estatísticos nem técnicas de gestão. Acho, aliás, que falta isso em muitas áreas -- sem dúvida a segurança pública é a mais urgente. O problema é que esse raciocínio "atuarial" acaba engolindo todo problema e lhe dando uma solução "cosmética", que não penetra na sua complexidade, muitas vezes transformando a realidade em um delírio (metafísico) que reduz tudo a números e percentuais.
Quando leio que a Secretaria da Educação de São Paulo - claramente identificada com a "educação atuarial" que orienta também o "especialista" da Veja sobre o tema - começa a contabilizar os 10 minutos de intervalo como tempo para correção de provas e elaboração de aulas, sinceramente, me dá vontade de chutar as paredes. Não é possível que o tempo de o professor fazer xixi, comer algo, beber água ou café e descansar a voz (como bem alertou o Cristovam Buarque) seja computado dessa forma. É ridículo. É o que acontece quando entregamos para burocratas a "gestão" da educação. Eles só olham para os números e a "gestão" melhor do tempo, sem se dar conta das necessidades humanas de cada um. Tudo isso é ridículo demais.
A prioridade hoje em dia deve ser investir no professor, no educador. O professor precisa começar a ter auto-estima alta, a ser importante socialmente, a ser reconhecido. Para isso, precisa, para abrirmos a discussão, ganhar mais. Não tem meio termo, consertos provisórios, sem mudar isso. Com os salários atuais os profissionais mais qualificados deslocam-se para áreas mais bem remuneradas e ficam apenas os mais fracos e os engajados na educação. É preciso tornar a profissão atrativa. É preciso dar o recado aos educadores: vocês são importantes para nós. Isso só se faz dando boas condições de trabalho: aumento de salário, valorização das horas-extras (preparação de aulas, correção de provas), ambiente adequado. Não adianta os bombardear com cursos de "motivação"; a motivação só ocorre se houver um suporte adequado, senão é dopping. O professor precisa de dinheiro para ir ao cinema, ao teatro, comprar livros e revistas e vestir-se dignamente.
A elite brasileira hipócrita aposta tudo na educação no discurso, criticando programas de transferência de renda, mas não move uma palha para consertar o desastre que vivemos na remuneração dos professores. Há até os burocratas da educação atuarial querendo mostrar que a questão nada tem a ver com salário. Para eles, a educação nada tem a ver com pessoas, e sim com números. Pura "alucinação", porém geralmente mal-intencionada. O primeiro passo para não mais usarmos a expressão "pobres educadores" é não deixar os educadores pobres.
Prosseguirei sobre o tema da educação (meu trabalho, por sinal) em outros posts.

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segunda-feira, outubro 06, 2008

SOBRE AS ELEIÇÕES (II) - PORTO ALEGRE - QUANTO CEDER PARA VENCER?


É POSSÍVEL QUE A PERGUNTA sobre a relação entre meios e fins tenha se tornado a mais clássica de todas na filosofia política, pelo menos desde "O Princípe" de Maquiavel. Os fins justificam os meios? Não pretendo dar uma resposta ao dilema, embora tenha minha opinião a respeito, mas tecer algumas considerações sobre o segundo turno em Porto Alegre ponderando se vale a pena arriscar tudo para obter nada.
Contra a "onda roxa" de Manuela (PC do B, PPS), que parecia inexorável e em crescimento, o PT foi bem sucedido em estancar o movimento e chamar sua base ao voto. Eu mesmo, confesso, votei em Maria do Rosário porque temia um segundo turno em que votaria nulo. Ou seja, fiz voto útil. Pelo amadurecimento político que mostrou nessa eleição e pelas mesmas razões que me levariam a votar em Gabeira (post abaixo), teria votado em Luciana Genro (convido quem me acha purista e xiita e verificar os artigos antigos do blog e ver quantas vezes critiquei as posturas de Luciana e o PSOL nos últimos anos).
O problema é que a dificuldade do PT em dialogar com outros partidos (especialmente no RS) acabou cindindo a base política e não haverá transferência automática dos votos do PC do B (significativos 15%), que normalmente pertenciam ao PT. Agora, ao contrário, a polarização do primeiro turno poderá ocasionar o deslocamento dos votos de Manuela para Fogaça, que com sua apatia desperta uma espécie de voto também apático, uma espécie de voto na "neutralização da política".
Não é possível que as pessoas não enxerguem a total nulidade que foi o mandato de Fogaça, o quanto a cidade ficou girando no vazio sem direção alguma. O que protegeu Fogaça foi uma mídia complacente e a própria antipatia com o esquerdismo da política da capital. O eleitores da direita, no entanto, foram suficientemente tímidos para recusar a projeto petista sem acatar a alternativa realmente conservadora (Onyx - éca!), preferindo ficar nessa espécie de "meio termo" onde nada acontece.
Creio que a primeira decisão de Maria do Rosário foi sábia no segundo turno: afastar qualquer possibilidade de participação do PPS na chapa. Para quem não se lembra, o PPS é aquele partido composto por Britto, Proença, Berfran, Odone e Busatto (maiores informações, favor acessar o NovaCorja). Maria do Rosário aposta na cisão da aliança e adesão de Manuela ao projeto petista (coisa que deveria ter acontecido desde o início, com uma aliança costurada em nível federal que colocasse Maria na cabeça e Manuela de vice, chapa de poderia derrotar Fogaça). Os votos da Luciana Genro naturalmente se deslocarão, a maioria pelo menos, para o PT.
A disputa, no entanto, se anuncia cruel. A apatia é muito grande. O cansaço dos 16 anos de PT gerou uma cidade com alergia à política. Conquistar esses votos será muito difícil. O PT perdeu mais que imagina em Porto Alegre com o escândalo do mensalão. Aqui realmente (esse estudo está para ser feito - favor algum jornalista ou cientista social) os escândalos do Governo Federal produziram significativos efeitos (lembram que Lula perdeu para Alckmin?) e geraram um descontentamento com o PT. É provável que não se consiga reverter.
É possível reverter? É. Mas acredito que não vale a pena embarcar em canoas furadas (p.ex., associar a campanha ao Onyx) para vencer de qualquer jeito. É melhor perder dignamente e se apresentar como projeto viável para 2012. Com o término do Governo Lula e uma certa "pax" que se anuncia, estará aberto o caminho para o PT retomar a prefeitura, desde que costure bem alianças, não cometa significativos tropeços e se apresente nesse segundo turno como um partido que está preocupado fundamentalmente com as questões sociais profundas, marcando espaço político numa polarização de esquerda. Não é, no entanto, o que prevejo. Acho que a campanha vai continuar estimulando o debate "administrativo-social", como se escreveu na Folha hoje, sem a devida polarização, e tudo isso vai esfriando a verve política porto-alegrense.
Espero, no entanto, estar errado.
Sobre o meu voto, posso dizer que surpreendentemente concordo com o insuspeito NovaCorja.

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SOBRE AS ELEIÇÕES (I) - RIO DE JANEIRO - OU "HABERMAS É INGÊNUO, MAS MELHOR QUE NADA"

ACREDITO QUE JÜRGEN HABERMAS seja um filósofo poderoso, já tendo lido alguns trabalhos do professor aposentado de Frankfurt e constatado o vigor da sua teoria da ação comunicativa. De fato, parece que a angústia de Habermas sempre foi dar respostas para a reconstrução da democracia (ou da Modernidade) após as catástrofes da II Guerra Mundial, pretendendo dar uma resposta "positiva", em contraponto à do seu antecessor Theodor Adorno.
Depois de um tempo, no entanto, a teoria de Habermas começou a me parecer demasiado ingênua, incapaz de navegar na faticidade do real. É verdade que ele fala da "colonização do mundo da vida" e assim por diante, mas seu apego à dimensão "quase-transcendental" da linguagem, na "sinceridade" do ato de fala, recortando esse aspecto para formar uma nova metanarrativa dá um embrulho no estômago de qualquer foucauldiano. Não há mais retorno: entramos de vez na era da faticidade e é impossível isolar as relações sociais das relações de poder que as constituem. Acreditar em uma "situação ideal" é retornar à metafísica, no que concordariam pensadores tão distintos como Rorty e Foucault.
Por que eu falo de Habermas se o título se refere ao Rio de Janeiro e às eleições? Justamente para mostrar o porquê do raciocínio que se seguirá.
Contra as tendências iniciais, Gabeira passou Crivella e irá ao segundo turno com Eduardo Paes. Crivella representava o voto popular e evangélico; Paes é uma espécie de repetição do governador Sérgio Cabral em nível municipal (como ele, PMDB e portanto vinculado a Lula); Gabeira, por sua vez, optou por fazer alianças com a oposição e trazer uma plataforma de moralização. Crivella ficou, inesperadamente, de fora, o que para mim é bom pelo receio que tenho de relações Igreja/Estado que são tão indesejáveis, especialmente em se tratando de algumas igrejas. Ficaram Paes e Gabeira.
Como uma pessoa ainda ligeiramente inclinada para o PT, minha tendência seria ir para Paes. Mas não é. Creio que a plataforma de Gabeira é a mais desejável atualmente, apesar de algumas restrições. Por exemplo, por que ele, defensor histórico da descriminalização das drogas, resolveu mudar de idéia, sob o pretexto de combater corrupção policial? Esse salto conservador de Gabeira é perigoso, mas suas idéias -- que pareciam altamente improváveis aos olhos da grande mídia no início da campanha -- se vingarem, são boas.
O que Gabeira quer mexer, e é justamente por isso que mencionei Habermas, é na chamada "esfera pública". Ele quer estabelecer um novo tipo de relação, menos viciado e mais institucional, nas relações políticas. Isso é que precisamos. Eu já escrevi por aqui sobre o fracasso de Lula nesse aspecto. Essa plataforma é tudo que precisamos atualmente, já que, de resto, as coisas vão caminhando relativamente bem (com a ressalva da segurança pública, último nó a ser destrinchado). Precisamos agora apostar em uma democracia mais sólida, menos poluída por interesses espúrios e em uma administração pública mais eficiente e profissional. É hora de acabar com os cabides de empregos partidários e consolidar uma política mais habermasiana, mais "limpa" de interesses.
Apesar de apoiado por partidos de centro-direita (PPS e PSDB) e até extrema direita (DEM), acredito que Gabeira é a melhor aposta a ser feita no Rio de Janeiro. Como já escrevo há muitos anos que PT e PSDB, que detêm os melhores quadros eleitorais do Brasil, deveriam se unir temporiamente para "limpar" a esfera pública dos partidos sanguessugas. Se bem que, de lá para cá, alguma coisa mudou (o DEM está mais ideológico e o PMDB parece querer formar aliança para criar dois blocos, PT/PMDB X PSDB/DEM. Em todo caso, o raciocínio continua válido se pensarmos menos nas siglas e mais em coronéis e oligarquias).
Enfim, ruim com Habermas, pior sem ele. No RJ, apesar de estar com a direita, votaria em Gabeira porque acho que está com ele a esperança de desembaçar um pouco a esfera pública carioca - e essa aposta na democracia, por si só, já vale.

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domingo, outubro 05, 2008

DIAGNÓSTICO PERFEITO

O PROFESSOR OSWALDO MARTINS TEIXEIRA, segundo noticia o Caderno Mais! da Folha, lecionava literatura para alunos da 7ª e 8ª série da escola da Zona Sul do Rio de Janeiro. Oswaldo foi demitido por ter cometido um crime indesculpável: era poeta e, pior, gostava de poesia erótica.
Não tardou muito tempo até os cães hidrófobos do moralismo descobrirem e pedirem a cabeça do professor. Tudo aquilo era "inadequado" para seus filhos, ainda que a produção nem fosse lecionada em aula. É como se a "impureza" fosse contagiosa, perigosa doença que pode ser impregnada nos seus castos filhos e filhas. A resposta do poeta e professor foi a única plausível: a literatura erótica é comum, sempre foi, e nada há de anormal nisso.
A patrulha, no entanto, venceu, e o despachou do colégio sem maiores explicações. Fascismos, afinal de contas, não precisam de grande sofisticação na fundamentação: vivem mesmo da burrice e da mediocridade - orgulham-se disso, inclusive. Se disse apenas que uma comissão de "juristas e psicólogos" (não poderiam ser outros atores senão esses que Michel Foucault tão bem estudou na hedionda combiação psi/lex) entendeu ser caso de afastamento.
Em homenagem ao poeta Oswaldo, publico aqui trecho do seu poema que saiu na Folha de São Paulo. É impressionante como a poesia -- e filósofos como Derrida, Heidegger e até Rorty não cansaram de o dizer -- repõe a integralidade do indizível o habitando, sem precisar exercer a violência da representação. Percebam a crítica mordaz que antecipa a demissão e a explica com precisão:

"a alice no país das baboseiras
é uma garota esperta
prefere foder com a coleguinha
usar celular
batom
cortar as cabeças
dos mendigos"
Do livro "Cosmologia do Impreciso"

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sábado, outubro 04, 2008

ÉTICA (?) E JORNALISMO (?)

FALANDO NOVAMENTE DO ASSUNTO, nada como ver o nosso jornalismo gaúcho.
Não perco mais tempo com a perseguição da mídia em relação ao PT, nem deixei de criticar veementemente por aqui a campanha decepcionante, para não dizer pífia, que Maria do Rosário vem realizando. Mas algumas coisas são absurdas.
Esse post está sendo escrito no sábado à noite. Abro a Zero Hora do dia de amanhã e o Ibope anuncia empate técnica entre Maria e Manuela. APOSTO quanto vocês quiserem que Maria do Rosário estará no segundo turno, e por uma diferença significativa de votos. O Correio do Povo já anuncia hoje que a diferença é de 5 pontos a favor do PT.
É sempre assim, uma vergonha. A Zero Hora simplesmente publica na maior cara-de-pau dados equivocados da campanha desfavorecendo o PT.
Sei - esse papo pode parecer chato. Pode parecer repetitivo, paranóico. De fato. Mas, que é real, é. Infelizmente, é. Não é a primeira vez e nem será a última. Amanhã me cobrem.

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quarta-feira, outubro 01, 2008

ÉTICA E JORNALISMO

HOJE ESTAVA conversando com minhas alunas do jornalismo sobre ética da profissão. Afora todas as considerações que vocês imaginam que eu tenha feito (problema da alteridade, da atuação investida, neutralidade e assim por diante), comentei com elas que, como admirador da profissão (a maioria dos meus amigos e mesmo da esquerda detesta jornalistas) e leitor assíduo de jornais e blogs, confiro se o jornalismo é honesto a partir da coerência do jornalista.
Blogs e jornais que nunca trazem informação contra certos setores políticos (de esquerda ou direita), que são demasiado maniqueístas (de esquerda ou direita), que não ouvem o lado oposto (de esquerda ou direita), que nunca reconhecem seu erro (de esquerda ou direita) para mim tem muito pouca ou nenhuma credibilidade. Claro, aqueles que deixam à mostra sua posição são pelo menos mais honestos e, por isso, um pouco melhores do ponto de vista ético. Mas assim como um soco no rosto é melhor que um assassinato, sem que isso torne o soco legítimo, o jornalismo deveria tentar ser mais imparcial. Os "anti" qualquer coisa para mim não têm qualquer credibilidade, pois não têm compromisso com o leitor.
Acompanhem um bom jornalista a partir da sua capacidade de criticar os dois lados, enxergar defeitos em ambos os lados - o que só se verifica com tempo. Isso só se faz quando se é coerente com seus próprios princípios. Claro, isso, por si só, muitas vezes não nos faz concordar com os jornalistas (meu caso com o Nova Corja, que aliás ultimamente vem falando pouquinho dos "países aonde aquele Modelo Econômico O Qual Não se Deve Falar O Nome funciona"), mas certamente confere credibilidade a eles. Os bons jornalistas que leio sempre trazem análises que superam o maniqueísmo.
Jornalistas demasiado alinhados à direita ou à esquerda na leitura dos fatos não têm ética com o leitor, pois não respeitam a confiança deste, e sim um projeto político que justifica os meios adotados.

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UM DETALHE

QUANDO CHEGOU NO GRÊMIO, afora 1001 explicações que teve que dar para a própria imprensa sobre sua "mudança" de comportamento nas entrevistas (numa espécie de diálogo tedioso que o torcedor tem que acompanhar porque os jornalistas veiculam demandas corporativas como se fossem de interesse geral), passou despercebido por alguns que Celso Roth negou, veementemente, ter feito terapia.
Que a imprensa esportiva é composta por conservadores brutamontes é algo que, ressalvadas algumas exceções (Tostão e Juca Kfouri, por exemplo), salta aos olhos. O futebol "dos machos" não tolera "terapia", coisa de "louco" ou efeminado. Por isso a pouca atenção ao fato de que não é nada anormal - ao contrário - fazer terapia. Aliás, jogadores como Ronaldo e Ronaldinho só conseguiriam agüentar a pressão se passassem constantemente pelo processo. As coisas ficam como ficam por isso. Então, "nada de estranho" perceberam nossos repórteres na "veemência" de Roth contra a terapia (se tivesse ouvido seu mestre Felipão...).
Coisa triste, porque acho que é justamente de um(a) bom(a) psicólogo(a) que precisa Roth para aprender a agarrar a vitória que ele mesmo conquista e, quando está muito próximo, deixa escapar.
Como brilhantemente fechou sua coluna hoje Tostão, "Freud explica".

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