DIAGNÓSTICO PERFEITO
O PROFESSOR OSWALDO MARTINS TEIXEIRA, segundo noticia o Caderno Mais! da Folha, lecionava literatura para alunos da 7ª e 8ª série da escola da Zona Sul do Rio de Janeiro. Oswaldo foi demitido por ter cometido um crime indesculpável: era poeta e, pior, gostava de poesia erótica.
Não tardou muito tempo até os cães hidrófobos do moralismo descobrirem e pedirem a cabeça do professor. Tudo aquilo era "inadequado" para seus filhos, ainda que a produção nem fosse lecionada em aula. É como se a "impureza" fosse contagiosa, perigosa doença que pode ser impregnada nos seus castos filhos e filhas. A resposta do poeta e professor foi a única plausível: a literatura erótica é comum, sempre foi, e nada há de anormal nisso.
A patrulha, no entanto, venceu, e o despachou do colégio sem maiores explicações. Fascismos, afinal de contas, não precisam de grande sofisticação na fundamentação: vivem mesmo da burrice e da mediocridade - orgulham-se disso, inclusive. Se disse apenas que uma comissão de "juristas e psicólogos" (não poderiam ser outros atores senão esses que Michel Foucault tão bem estudou na hedionda combiação psi/lex) entendeu ser caso de afastamento.
Em homenagem ao poeta Oswaldo, publico aqui trecho do seu poema que saiu na Folha de São Paulo. É impressionante como a poesia -- e filósofos como Derrida, Heidegger e até Rorty não cansaram de o dizer -- repõe a integralidade do indizível o habitando, sem precisar exercer a violência da representação. Percebam a crítica mordaz que antecipa a demissão e a explica com precisão:
"a alice no país das baboseiras
é uma garota esperta
prefere foder com a coleguinha
usar celular
batom
cortar as cabeças
dos mendigos"
Do livro "Cosmologia do Impreciso"
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