Mox in the Sky with Diamonds

quarta-feira, setembro 30, 2009

EM UMA FRASE

Para os adeptos da razão opaca (ardilosa ou astuta), presentes nas mais diversas instituições que nos circundam, o problema da política é que ela é política.

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segunda-feira, setembro 28, 2009

ERRO INDIVIDUAL PREJUDICOU O GRÊMIO

SEI QUE HÁ muitos amigos insatisfeitos com Paulo Autuori e a postura do Grêmio. Eu não vejo da mesma forma. Basta ouvir Autuori para ver que está acima de pelo menos 90% dos técnicos nacionais. Quem deveria assumir seu lugar? Renato Gaúcho? Geninho? Nelsinho? Joel Santana? Vadão? Cuca? Leão? Bonamigo? A maioria desses treinadores oscila entre vários fracassos e um ou outro trabalho bem sucedido, geralmente por sorte de ter um elenco que encaixa, mas têm sérias limitações que não cansam de aparecer. Já Autuori pode irritar por não compartilhar dos ideais gremistas (garra, raça, imortalidade), mas é bom treinador. Seu estilo, no entanto, é oposto ao de Celso Roth: enquanto este tira todo gás da sua equipe no início, geralmente disparando na tabela, a tendência dos times do Autuori é crescer com o tempo, mais lentamente. O Grêmio já mostra isso.
Quando Autuori assumiu, o Grêmio não conseguia ficar com a bola mais que um minuto. O time só conseguia dar três ou quatro toques e ou perdia a bola, ou alçava para os atacantes. A principal - e única - jogada era a bola aérea lançada em diagonal na área, aproveitando a altura dos zagueiros ou, no final, do Maxi Lopes. Era um time com um buraco gigante no meio-campo. Agora o Grêmio toca a bola bem, tem organização e consistência. Mas paga um preço por isso. Enquanto o esquema de Roth funcionava fora de casa, quando jogávamos encolhidos e escapávamos em contra-ataques ou roubadas de bola no ataque, agora não conseguimos nos impor como precisamos para sustentar o estilo mais elaborado de jogo. O time que joga em casa fica com a bola; isso favorecia o esquema de Roth e dificulta o de Autuori. Apesar disso, as últimas partidas foram bem superiores às anteriores.
A razão do crescimento é uma: Fábio Rochemback. Ainda está jogando pouco e está acima do peso, mas sua entrada melhorou significativamente o meio-campo, substituindo o ineficaz Túlio, que fragiliza a marcação. Com Rochemback, ganhamos mais força no meio e isso permitiu soltar mais Tcheco e Souza, que ficavam desorientados entre marcação e armação fora de casa. Era visível que faltavam volantes; não é à-toa que sustentei várias vezes que deveríamos ter trazido Emerson. Aliás, uma boa direção teria trazido Paraíba, Emerson e Gilberto, e nosso time teria outra cara. Adílson não é ruim, mas ainda não se posiciona bem e tem muita dificuldade no ataque. Precisa melhorar, para a próxima temporada, seu chute de longa distância.
O Grêmio perdeu o jogo por uma falha individual de Thiego, que é fraco demais. Concordo com Autuori em não responsabilizar individualmente; se fosse treinador, faria o mesmo. Mas é visível que o lance foi tosco demais, que Thiego não tem mais condições no Grêmio. A "falta de pegada" que vários reclamaram se deveu ao calor de 40ºC em Goiás. Os jogadores estavam mortos. Aliás, se reclama de Autuori isso; é simples, a pegada não é treinador que determina, basta aos jogadores se esforçarem mais. Não precisa o técnico mandar o volante "pegar" o meia. Ele que vá lá e faça.
Em todo caso, sonhos para esse ano acho difícil. Melhor é apostar no crescimento da equipe para o ano que vem.

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sábado, setembro 26, 2009

A charge - que já tinha recebido, mas retirei do blog do Salo - reflete o típico discurso conservador dos nossos dias e escamoteia o fato básico de que ambos os modelos são violentos. A forma como o poder se exerce contemporaneamente consiste em impor a disputa entre as duas alternativas falidas.


EDUCAÇÃO NÃO É DISCIPLINA

DAQUELA SOCIEDADE que divertiu tanto Freud com as respectivas neuroses e Foucault na exploração do poder disciplinar pouco restou. Dentro do cenário de grande complexidade da sociedade contemporânea, a forma-de-vida que tem se tornada hegemônica não é a - um tanto cômica - neoconservadora, mas sim a neoliberal. Predomínio dos atuarialismos, da burocracia, dos discursos de "motivação", do "pensamento-positivo-Segredo", da idolatria do Deus-Dinheiro. Na sociedade de consumo, não é mais a ética ascética que Weber tão bem descreveu e relacionou com as raízes protestantes e o espírito do capitalismo; a sociedade do trabalho, que valoriza a ascese e economia, dá lugar ao consumo desenfreado e insustentável. Do regime do desejo mantido à custa da repressão e do recalque, palco de festas da psicanálise, passamos ao imperativo do gozo e narcisismo, com o consequente deslocamento para a psicologia comportamental e os psicofármacos. Pouco resta da disciplina pois não há mais interesse em produzir "trabalhadores"; interessa, apenas, o consumo, a fluidez do capital e, de resto, o esvaziamento do lixo (humano) que é "extranumerário".
E, no entanto, nossa sociedade gaúcha, patética e fascista como é (já fizemos o exercício de contar quantos do presidentes autoritários do Brasil eram gaúchos?), parece empenhada em campanhas neocons. Uma delas - conduzida pelo seu jornaleco marrom que já comentei aqui - trata de criar um clima de "pânico moral" em torno da desordem nas salas de aulas e requer o "retorno da disciplina". Para isso, conta com empresários morais vociferando pela presença do "limite".
Ora, a presença do limite jamais seria um problema; a questão é, qual o limite? É então que o conservadorismo gaudério aparece e volta a demanda pela "autoridade". Como se o modelo da disciplina não tivesse caído não por esquecimento, mas de podre que estava. Para isso, se humilha em público uma criança que agora deve estar sozinha em casa bebendo do veneno da culpa e do ressentimento. Não é incrível que ninguém esteja preocupado com o que sente nesse momento a criança que pichou as paredes? Será que não está traumatizada de forma cruel com o linchamento público que vem sofrendo na mídia? Tudo lembra muito a tese de René Girard de que a violência está onipresente num círculo vicioso de vinganças até o momento em que se resolve executar uma "vítima expiatória" -- com a unanimidade que projeta sobre ela todo o mal do mundo. Que tenhamos esquecido que se trata de uma criança que gosta de brincar é algo sintomático do ódio e violência que permeiam nossas relações.
Esse caso é tão central para o abolicionismo quanto os mais relevantes casos penais; trata-se do momento exato em que uma visão abolicionista demandaria uma nova visão da educação, não como um processo baseado no castigo e na disciplina, mas como uma prática que envolva diálogo e respeito à alteridade. Parece nítido que uma prática restaurativa seria algo muito mais maduro e educativo do que uma prática punitiva baseada na humilhação e no sofrimento. Mas será que alguém está realmente preocupado em educar esse menino? Ou simplesmente em transformá-lo no mesmo monte de lixo disciplinado que é incapaz de pensar com sua própria cabeça tal como os "cidadãos de bem" que escrevem para o jornaleco marrom? Até quando iremos acreditar que gritos, humilhação, sofrimento, traumas e agressões físicas podem ser chamadas de educação? Não há mais nem um resíduo de humanidade nessa fria sociedade gaúcha?
Antes de ser um modelo baseado em "direitos" e "instituições", o abolicionismo consiste num conjunto de propostas que pensam um novo modelo de sociabilidade, baseado no diálogo, no respeito à alteridade, na consciência moral e na restauração dos vínculos corrompidos. A educação tem um papel absolutamente central na construção desse novo mundo.

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sexta-feira, setembro 25, 2009

CRÔNICA DA BURRICE GENERALIZADA

Depois de uma pintura na escola, um aluno resolve pichar as paredes e é obrigado a consertar o0 dano, além de sofrer ofensas e humilhações públicas pela professora. Seus pais resolvem reclamar porque a criança se nega a voltar à escola, traumatizado pelo castigo e pela vergonha que passou diante dos colegas.

98% apóiam a professora em pesquisa. Todos reclamam dos pais e apóiam a punição. Ninguém quis ouvir a(s) criança(s). Professor famoso escreve para o jornal dizendo que "os alunos imploram por limites". Caso vira símbolo da "retomada da disciplina" na escola.

Em outras palavras, para o RS humilhar uma criança em público é "educá-la" corretamente.

RS, o país dos burros. Vai uma música para a tchurma gaudéria e machona:





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POBREZA DE ESPÍRITO

You say you'll change the constitution
Well you know
we'd all love to change our heads
You tell me it's the institution
Well you know
You better free your mind instead

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segunda-feira, setembro 21, 2009

A BELEZA DO PÓS-ROCK

NÃO GOSTO DE ESCREVER sobre mim. Não gosto, em geral. Geralmente me arrependo do que escrevi. Além disso, desde que criei meu primeiro blog - acho que em 2003 - sempre o fiz com a proposta de escrever nada sobre mim ou minha vida. Vez que outra deixo resvalar algo. Hoje, confesso que uma das coisas que mais me importunam na vida é meu temperamento depressivo. Em determinados momentos - mesmo sem causa aparente - sinto uma sensação de esmagadora impotência que me conduz a uma espécie de desespero existencial, jogando-me na apatia absoluta. Sentindo um peso mastodôntico sobre mim, sequer consigo me mover diante de tanta opressão. Não sei exatamente lidar com isso; a sensação é tão intensa que me vejo pronto a concordar com Sileno e sua verdade. E às vezes dura alguns meses, apesar de, diante de todo mundo, na maioria das vezes eu parecer estar totalmente normal. Esse algo profundo dilacera meu interior de uma forma que não sei bem explicar; é difícil me conter e não ter a "esperança" de simplesmente desaparecer: ou, dito melhor, jamais ter existido. Esse temperamento melancólico -- meu elo com a bílis negra - me deixa em paz por muitos momentos, mas volta e meia reaparece.
A vantagem desse meu temperamento é que consigo apreciar a forma sublime de bandas como o Explosions in the Sky. Já escrevi sobre eles por aqui, traçando sua genealogia que os coloca na posição de uma banda progressiva num mundo que não tolera virtuosismo, quase como o punk tivesse se tornado um épico.
Meu álbum favorito dos Explosions in the Sky é "The earth is not a cold dead place" (2003). É como se fosse uma sinfonia de guitarras tecida por um indivíduo perdido em alto-mar. A sensação de melancolia é arrasadora e, ao mesmo tempo, sublime. A capacidade de traduzir emoções sem o recurso vocal - em um puro balé de guitarras - é de uma vivacidade abissal. Se me permitem, comento algumas canções:

"First breath after coma" é, como diz o título, a perfeita expressão da tranqüilidade nula do coma, da ausência de qualquer pressão, do vazio expresso por um sutil dedilhado que vai ganhando força aos poucos, com paciência e esmero, traduzindo eficazmente a partir de certo instante a sensação mágica da entrada do luz, do "acordar" para o mundo, com seu som ensurdecedor, sua alteridade traumática, sua plenitude sufocante. Do simples palpitar do coração, entre os aparelhos do hospital, até a avassaladora sensação de estar diante da vida novamente. É como partir de um ponto em que nada há para a explosiva e tumultuada realidade, sair da paz da ausência de vida para o estouro dionisíaco do instante.



"Six days at the bottom of the ocean" é uma longa e doce viagem no mundo da solidão absoluta, na melancolia gélida do alto-mar, da aventura de estar vivendo em meio ao azul da Terra e longe de qualquer resquício do humano. Num ponto longínquo do alto-mar, o observador vislumbra a totalidade como um sereno, impassível e infinito plano frio, sentindo-se como uma pequena partícula que tem apenas pequeninos flashs de esperança, para em seguida o fogo apagar-se diante do vento inclemente que repõe a solidão e a tristeza. Será que é por isso que os anglo-saxônicos chamam triste de "blue"?



E "Memorial"? Não é uma espécie de versão musical da imagem que vislumbra o anjo de Klee que Benjamin descreve nos teses sobre o conceito de história? Não é tão melancólica quanto a catástrofe que se repete constantemente, escrita e suavizada do seu vermelho de sangue em um azul triste e frio, quase tão opaco quanto o cinza? Um memorial que traduz anos e anos de tragédia para, em um só momento, explodir grandiloquente, sinalando algo como uma guerra ou revolução, ou será que é o instante da redenção? Não sei exatamente. Nas suas idas-e-vindas que fecham no mesmo lugar, como o eterno retorno do mesmo, tão espantosas quanto angustiantes são as triturações que por certas vezes as guitarras produzem. O certo é que o pequeno suspiro da violência (divina?) traduz algo dissonante, diferente, dentro da tristeza que corrói o ouvinte. Onde mora o perigo mora também a salvação.




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sábado, setembro 19, 2009

RS NO FUNDO DO POÇO




A TAL "SEMANA FARROUPILHA" nos dá chance de ver um fato tão escancarado que sua negação desesperada é puro sintoma da sua verdade: o afundamento abissal da imagem tradicional do Rio Grande do Sul.
Há pouco tempo atrás, os EUA mergulharam profundamente em um processo de declínio que envolveu, entre outras coisas, políticas baseadas no fanatismo religioso e uso de estratégias totalitárias na violência pública (tortura, campos de concentração, invasões de países, etc.). Foi um processo longo e gradativo iniciado por Ronald Reagan que possibilitou a ascensão do neoconservadorismo na sociedade, jogando a cultura liberal norte-americana no lixo. O que começara com a estratégia do grande encarceramento, do recuo do Welfare State e avanço do Estado Penal, da conjunção de fatores que abrangeram a "disciplina dos pobres" (o "pensamento" Manhattan) e o populismo penal - tolerando até esquizofrênicas teses de que é melhor, para distribuir os impostos, reduzir para os ricos do que ceder aos pobres ou de que a história teria chegado ao "fim" -, deságua numa melancólica "Guerra ao Terror", sem alvo claro, sem princípios, sendo ela própria terror, com práticas que colidem com valores compartilhados por grande parte da sociedade norte-americana. É como se fosse um gradual processo de radicalização à direita que começa tímida e vai até o limite. Foi justamente esse processo que possibilitou a eleição de um liberal clássico como Obama, diante de um ambiente saturado de conservadorismo que chegou ao seu limite e transbordou.
Parece que o RS vive processo semelhante. A sectarização do debate público que inicia no Governo Britto e recrudesce no Governo Olívio parece ter atingido o ponto máximo. A fúria antipetista - que está ancestralmente arraigada ao anticomunismo simpático à ditadura militar -- consolida seu ambiente no Estado até sufocar a esquerda e impossibilitar o crescimento dos seus eleitores. (O PT gaúcho, por óbvio, não é inocente nesse processo: que o digam erros crassos como a filiação de Dilma Rouseff e Sereno Chaise durante o Governo sem restituição dos cargos ao PDT, perdendo o aliado estratégico que possibilitou a eleição e possibilitaria o Governo.) O processo -- que conta com o auxílio do jornalismo marrom que povoa as páginas do Grupo RBS -- gradualmente vai tomando o tecido social com um manto de ódio e conservadorismo até desembocar no seu produto derradeiro: o Governo Yeda Crusius.
Ao contrário do discurso da mídia oficial, que teima em pintar as coisas como um conflito entre sectários, trata-se da gradual hegemonia de um discurso tipicamente ideológico cujo único mote é o ódio ao petismo (descendente do "comunismo"). Se a tese da mídia marrom estivesse correta, o processo deveria ter suavizado com o "pacificador" Germano Rigotto, o que não aconteceu, uma vez que o resultado da eleição de 2006 é um segundo turno em que o principal objetivo é ver o PT fora, depositando-se "voto útil" em Yeda (o que gerou o efeito colateral da sua eleição). O sectarismo antipetista, no episódio que chamei por aqui de "morte da política no RS", acreditou que poderia derrotar esmagadoramente o terço cativo da esquerda que é o piso do PT, levando dois candidatos da direita para o segundo turno. Ou seja: trata-se de um momento de auge -- em que o moralista gaúcho invoca o "mensalão" e a "companheirada" de Lula -- para esmagar o adversário da esquerda. Por um erro de cálculo, o candidato Germano Rigotto acaba não passando para o segundo turno e isso resulta na eleição de Yeda Crusius.
Esse processo de radical antipetismo encontra agora, tal como o neoconservadorismo de George W. Bush, seu momento de exacerbação e, por isso, declínio em face do transbordamento. O Governo Yeda Crusius leva a cabo políticas visivelmente fascistas que envolvem arbitrariedade policial explícita, repressão violenta a greves, movimentos sociais e até a passeatas tipicamente políticas contra seu governo. Ao mesmo tempo, afunda na lama junto com parte da elite política do RS que comandou o Estado nos últimos 15 anos, usando estratégias vergonhosas e espúrias a olho nu (por exemplo, ter como "capitães" na Assembléia um deputado com a função de relator da CPI que afirma a única missão de impedir seu acontecimento; ou outro cuja única estratégia é gritar e intimidar seus adversários, como, aliás, é típico dos fascistas em todos os lugadores). A própria Governadora está visivelmente envolvida e só piora a cada dia sua situação. Suas intervenções são sempre lamentáveis e não raro indicam -- tal como ocorria com Bush -- perturbação psíquica.
O desespero tem levado o jornalismo marrom do Grupo RBS a usar táticas diversionistas (tão engraçadas - e trágicas - quanto as de Flávio Obino sua Presidência do Grêmio) ou estigmatizadoras (acusando a oposição de "radicalismo" ou "politização"; ou os manifestantes de "vândalos" ou "sindicalistas") em um nível a tal ponto ridículo que mesmo aqueles ingênuos que não percebiam as mentiras e desvios agora vêem claramente. Semelhante a Bush nos EUA e a manipulação midiática pornográfica na Guerra ao Iraque, as coisas aqui -- com a ajuda da Internet -- vão se tornando tão transparentes que, mesmo tentando desesperadamente, a mídia marrom não consegue mais segurar o rojão.
Esse RS - chafurdando na lama -- agora comemora suas festas típicas com a sensação de completa desmoralização; os "cidadãos de bem" mostram suas faces de canalhas e picaretas que, enquanto pregavam suas ideologias sujas, apropriavam-se do dinheiro dos cofres públicos. Toda mitologia em torno da "honestidade do gaúcho" ou do "aqui é diferente" caiu no riso. A Semana Farroupilha é a semana de um Estado em frangalhos, desmoralizado por um processo de crescimento do pensamento fascista e autoritário que redundou no pior Governo dos últimos tempos, comparável apenas aos irmãos do Norte. Certamente o copo do antipetismo que tolerava tudo que não fosse PT transborda quando mostra sua pior face. Tudo indica que a próxima eleição - para desespero do jornalismo marrom - será o momento de inversão na qual, como aconteceu nos EUA, avizinha-se uma mudança de rumos.

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quarta-feira, setembro 16, 2009

SENTADOS SOBRE A MISÉRIA

ACHO INTERESSANTE quando se inicia o discurso moralista, cínico e ultrajante que vocifera ódio ou preconceito contra o MST. Não apenas vindo de reacionários insuportáveis como as tradicionais figuras do nosso jornalismo marrom, mas também jovens que acham todo palavratório do MST e, enfim, toda miséria brasileira, uma discussão simplesmente "uncool". Eu também não gosto de muitas coisas que o MST defende. No entanto, é impossível ficar do lado - e a política, infelizmente, está no mesmo patamar de não-neutralidade de todo o resto - de gente desprezível que acha que uma folha de papel que vem passando de mão em mão desde Dom Pedro I (ou antes) vale mais que a vida de pessoas - não raro feias, é verdade, e nem um pouco cools -- que morrem por não ter onde viver simplesmente.
Ora, é verdade que nem todos os integrantes do MST estão nessas exatas condições e igualmente que alguns acabam vendendo as terras que receberam para migrar para a cidade. Não se tome, no entanto, exceção pela regra. Assim como o Bolsa-Família não deixa de ter valor apenas porque tem meia dúzia se dizendo extremamente pobres e recebendo a "fortuna" do benefício, tampouco posso adotar essa visão evidentemente estigmatizante do miserável do campo que é literalmente desterrado - nascido exposto, banido desde o princípio, e simplesmente luta pela efetivação da justiça social. Deveria ele ler Jürgen Habermas e aguardar (com o "melhor argumento") até sua reivindicação conseguir vencer as "distorções" da esfera pública e, com isso, obter a legitimação democrática por meio do seu reconhecimento jurídico (legal ou judicial), respeitando, enquanto isso, o "direito fundamental de propriedade" alheio? Ou - pergunto eu - o desterrado deve mandar tudo isso à merda e simplesmente partir para a desobediência civil? Não é sua fome ou sua condição banida da própria terra que o coloca na posição de "melhor argumento"? Não é - ele próprio, enquanto ser de carne-e-osso - o "melhor argumento"?
Mas não é só isso. Há um tempo atrás conversava com um amigo do Achutti e ele me dizia - enquanto historiador - que um amigo pesquisava os títulos de propriedade aqui no RS e vinha descobrindo que tudo foi invadido. E não é a mesma situação dos proprietários - rectius: grileiros - que reclamam o "direito de propriedade" e a "soberania nacional" contra esses terríveis índios que agora se apossam de uma pequena fração do território brasileiro, se tomarmos em consideração que todo esse território era "deles", índios (eles, mais civilizados, não tinham essa pretensão de propriedade)? Quer dizer: o que é um simples fato de poder passa a uma esfera sagrada - como dizia a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão - da "propriedade privada", sendo por inviolável, como diz também nossa Constituição. E o Direito se dá o trabalho de legitimar toda essa estrutura, servindo de combustível para todos esses fósseis ambulantes da grande mídia destilarem seu ódio e sua raiva. E da oposição - representando parte das oligarquias nacionais - reivindicar uma CPI porque o Governo resolve dar dinheiro para subsistência desses movimentos sociais. Segundo eles, trata-se de uma guerrilha terrorista que visa a destruir os "homens de bem" do país, instaurando o comunismo. Antes fosse.
Não paremos por aí. Quem somos nós? Não estamos, por acaso, eternamente sentados sobre a injustiça? Não vivemos, por exemplo, legitimando estruturas de violência com o eterno argumento de que "não há outro meio"? Não será esse meio violento que adotamos uma forma de sustentação ou pelo menos minimização de uma violência original que existiu historicamente e hoje tentamos compensar (esquerda) ou conservar (direita)? Nossos sagrados direitos não são apenas fatos de poder naturalizados que nos fazem sentar sobre aqueles que estão desterrados, expostos, absolutamente jogados no mundo sem qualquer chance de redenção? Como permanecer "blasé", indiferente ou celebrador de tudo isso? Pode ser extremamente uncool, pode não soar "pós-moderno" ou lembrar "chavões de terceiro-mundista", mas não é inevitável reconhecer isso tudo? Quando nascemos em um país que chama de descobrimento um gigantesco processo de escravização, genocídio e grilagem como ficar com a "consciência limpa", aguardando que a Constituição Dirigente faça seu papel?
A realidade é que nós - eu e você, leitor, que pode ler esse texto - estamos cobertos de merda e sangue do início ao fim, sentados sobre os cadáveres dos que nos antecederam e foram vítimas desse processo cruel e violento. Que pelo menos não sejamos hipócritas. É um começo.

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LIXO GAÚCHO

Manchete do nosso jornaleco marrom hoje sobre passeata de estudantes que reivindicam o impeachment da governante com mais evidências de corrupção dos últimos tempos e a saída de um relator (algo equivalente a um delegado!) que diz que seu principal objetivo é obstaculizar a investigação ("a CPI do PT"):

É por essas e outras que, depois de morta a grande mídia, os jornalistas não vão entender bem o que aconteceu.

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segunda-feira, setembro 14, 2009









Luciana Vendramini.

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domingo, setembro 13, 2009

ESTADO DE ESPÍRITO



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quarta-feira, setembro 09, 2009


POOR OBAMA

Quando comentamos fatos que vêm do Irã, da Coréia do Norte, da China ou do Sudão tquase udo nos parece absurdo. Os habitantes ("bárbaros?") desses locais parecem cegos em relação a fatos que se põem diante do seu nariz, incapazes de reagir ante um fanatismo doentio e um grau ideológico comparável a uma esquizofrenia coletiva.
Claro, bárbaro é o norte-coreano. A oposição que Obama vem enfrentando nos EUA, contudo, nada tem de bárbara. São sujeitos "de bom senso" que defendem que deixar 50 milhões de norte-americanos sem sistema de saúde é algo que se faz em respeito à "liberdade".
Poucos fatos atuais mostram um grau tão forte de ideologia quanto esse problema nos EUA; logo os EUA, que se orgulham de ser "pragmáticos". Pois é, sabe qual é a justificativa (adotada inclusive por democratas)? A coisa vai prejudicar os cofres públicos e os planos privados. Então, nossos conterrâneos que se fodam. Viva o mercado.
Se isso não é ideologia, se isso não é fanatismo, volto à caverna.

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terça-feira, setembro 08, 2009

HIBERNANDO

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sexta-feira, setembro 04, 2009


O WELFARE STATE NÃO FOI RADICAL O SUFICIENTE

ACHO INTERESSANTE quando leio criminólogos de quilate de Massimo Pavarini, David Garland e Jock Young destilarem, simultaneamente, sua nostalgia do Estado de Bem-Estar Social e sua descrença em soluções estruturais para problemas de segurança pública. Acho uma contradição dolorosa. Uma observação antes da análise: esses autores são fundamentais em Criminologia e não raro estou toda hora me referindo às suas obras nas minhas aulas. Reconheço sua importância fundamental. Porém também tenho críticas.
Todos esses autores, por exemplo, fazem questão de criticar a idéia de que a redução da desigualdade social é um fator capaz de reduzir a criminalidade. Para tanto, usam o argumento de que, apesar dos bons índices sociais do final da década de 70, o crime aumentou.
Creio que esse argumento é uma falácia. Dizer que "apesar da redução da desigualdade econômico-social, cresceu o delito" não significa, por si só, que a desigualdade social não tenha reduzido os índices possíveis de crime caso a desigualdade fosse ainda maior. Convido os doutores a comparecerem ao Brasil e conhecerem seus índices nada agradáveis de violência, especialmente violência letal. Portanto, é uma armadilha cavada pela direita (como tantas outras da década de 80) dizer à esquerda que deve jogar no mesmo tabuleiro, ou seja, que é preciso deixar de lado a "questão social" e partir para a disputa em torno das políticas de segurança pública. (Mais uma vez: não tenho nada contra as políticas de segurança, ao contrário; porém, ao mesmo tempo, me recuso a não pensar além disso tudo, pois se trata de mero paliativo, sem qualquer chance de alcançar a raiz dos problemas.)
Por que, então, não ocorre a correlação? Ora, sabe-se há muito mais tempo que os anos 60 (portanto, muito antes dos movimentos de 68) que os problemas humanos não são exclusivamente de raiz econômica. A violência não se exerce apenas pela via da exploração do trabalho. Racismo, machismo, etnocentrismo, etc., são formas de violência exercidas sem necessariamente corresponderem a estruturas econômicas. Portanto, diminuir a desigualdade material não significa, automaticamente, reduzir toda cadeia de violência social. Há relações irredutíveis a este esquema, que não são imediatamente atingidas pelas mudanças vinculadas a "classes sociais". Logo, o fracasso do Welfare não deve ser atribuído ao esforço desnecessário (como fazem crer os defensores do mercado), mas à sua falta de ambição.
Se, por um lado, diminuir a "privação material" não significa, automaticamente, diminuir a violência humana, disso não pode ser deduzir mais nada salvo o que foi dito. Ou seja, dizer, como dizem Pavarini ou Garland, que não é possível fazer a correlação não significa que seja possível não a fazer. Tudo indica, ao contrário, que reduzir a privação material, além de ser uma forma direta de reduzir a violência (a privação já é uma violência), igualmente proporciona condições para reduzir outros tipos de violência. É possível que a própria estrutura do Welfare - inspirada em princípios de justiça distributiva - tenha sido uma das causas dos movimentos emancipatórios nele surgidos e que não raro se voltaram contra o próprio Welfare. É que a ansiedade por justiça não se interrompe e, uma vez aberta a possibilidade, a imaginação humana não tem limites. Por isso, todos os arranjos políticos que propõem a emancipação têm de estar preparados para ser destruídos ou profanados.
Isso também revela um erro de avaliação nostálgico de Young acerca dos movimentos de 68. A visão idealizada que tem do Welfare (conquanto muitas vezes o critique) o cega para o simples fato de que provocar o vazio é provocar o novo. Se o espaço foi deixado vazio e disso se aproveitaram os conservadores, é porque a disputa política por hegemonia foi perdida naquele momento. Cabe a nós retomá-la. Não, porém, reivindicar o retorno a uma estrutura que caía de podre que estava. Quando leio uma proposta radical e absolutamente fundamental - como a da Andréa no TPM acerca das "políticas do afeto" -, todos esses criminólogos me parecem mansinhos querendo dizer "viu como nós não somos radicais? Nossas propostas são para o cidadão de bem também!".
A causa da violência é a própria violência; ou seja, a violência funciona como um processo ininterrupto e sem limites, analogamente ao que ocorre em um incêndio (nesse ponto, creio que René Girard é uma leitura obrigatória). Quanto mais fogo jogamos, maior o incêndio. Perguntar "de onde vem a violência?" é um tanto quanto redundante, pois ela sempre esteve aí. É ela e seus círculos viciosos intermináveis que nos governam. Nossa tarefa é dela escapar, com ambição.

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quarta-feira, setembro 02, 2009

LULA É O PRÉ-SAL

POUCAS VEZES vi tão claramente a configuração política do momento exposta como está em relação ao Pré-Sal. Advertência: não entrarei, pois não quero nem entendo, em discussões técnicas e econômicas. Interessa-me registrar apenas o aspecto político do fenômeno.
Até certo momento do mandato, Lula era o maior defensor do etanol. Interessava o discurso ambiental, especialmente em relação ao aquecimento global, como forma de impulsionar o Brasil, que era o maior produtor do etanol (nosso álcool) no mundo. A tecnologia brasileira, baseada na cana-de-açúcar, era muito melhor que a norte-americana, baseada no milho. Tudo isso foi deixado de lado quando Lula se viu diante de uma possibilidade astronômica de petróleo no Brasil pela camada do pré-sal. O etanol, então, passou ao esquecimento, dando lugar aos benefícios óbvios da produção petrolífera.
Nada espelha melhor o Governo Lula que isso. A preocupação de justiça distributiva e projetos a longo prazo é típica desse Governo; as medidas para impulsionar a economia e melhorar a condição de vida dos muito pobres são exuberantes. Nesse ponto, Lula bate a oposição com sobras, e sabe disso. É muito provável que, em pouco tempo, Lula venha a ser reconhecido como o melhor Presidente do Brasil desde Getúlio Vargas, pelas medidas de impacto imediato que fizeram o país avançar e, em bloco, superaram com folga o Plano Real, até então imbatível. Entre elas, sem dúvida alguns dos destaques são os índices econômicos fantásticos, como a queda brutal do desemprego, o crescimento estável, a resistência à crise (que, para desespero dos trolls da direita, foi mesmo "marolinha"), a política de crédito que impulsionou a microeconomia e fundamentalmente o Bolsa-Família e a elevação substancial do salário mínimo. Tudo isso chega direto ao bolso do pobre que sente - independente das pancadas que toma o Governo da grande mídia - a justiça distributiva na carne. Nesse ponto, a oposição - completamente perdida na sua plataforma - não consegue sequer articular um discurso, especialmente pelo fato de que no Brasil os partidos de direita não se assumem como privatistas ou elitistas, apenas procuram enrolar para conquistar o poder. Esses, Lula tira de letra.
O problema é que para o Governo Lula a questão ambiental ainda está colocada como estava antes dos anos 60, ou seja, como "um problema" como todos os outros. A própria mídia trata a questão dessa forma, como se o meio ambiente fosse um problema local, mais uma pasta no ministério, capaz de ser resolvida mediante acordo entre ambientalistas e ruralistas. Por isso, a política ambiental de Lula - embora não de todo ruim, como de resto as demais - só pode se orgulhar de "controlar o desmatamento na Amazônia", sem mostrar algum avanço mais substancial que envolva mudança de rumo. O que está na pauta é simplesmente o "crescimento"; com o meio ambiente nós negociamos.
Lula, a oposição e a grande mídia não perceberam que a questão ambiental se alterou substancialmente, ou seja, não é apenas "uma pasta", mas algo que envolve uma nova racionalidade política e econômica. A "sustentabilidade" não é uma bandeira vazia que cabe em qualquer meia dúzia de árvores plantadas; é o pensamento que se articula ponderando em relação à tecnologia as condições de sobrevivência do Planeta diante do sufoco que passa atualmente. Isso não envolve uma decisão "local", mas a própria base de convicções político-econômicas que administram um Governo. A mídia trata Marina como uma candidata "temática", não percebendo que meio ambiente e sustentabilidade são questões transversais que percorrem toda lógica política, rompendo com as ideologias modernas de direita e esquerda que se uniam na matriz baconiana de dominação da natureza. A questão da sustentabilidade é muito mais intensa e não tocada nem de perto na sua essência radical pelo Governo Lula, que só consegue percebê-la como "um problema que depende de boa vontade". Sustentabilidade não é uma questão focada; é um problema radical, de base, de estraçalha sistemas políticos e econômicos inspirados no puro e simples crescimento.
É nesse momento que Marina poderia ser um salto qualitativo sobre o Governo Lula, andando sobre os ombros dos avanços incontestáveis adquiridos durante o período. A direita representa o retrocesso, o fortalecimento das oligarquias e a injustiça social. Dilma, a continuação de um programa de justiça distributiva, mas de natureza reformista e mediante sacrifício do meio ambiente. Marina, ao contrário, poderia significar a formação de uma nova racionalidade política, apoiada realmente na sustentabilidade e capaz de perceber que tudo depende da qualidade da vida (humana e não-humana) conquistada no Planeta -- e não de um ciclo obsessivo de dominação e poder.

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