Mox in the Sky with Diamonds

quinta-feira, dezembro 28, 2006

A Dama de Ferro encontra dificuldades

De todos os candidatos da eleição do RS, talvez Yeda Crusius (PSDB) era quem me despertava a maior repulsa, ao lado de Francisco Turra (PP). Tratam-se de legítimos "sweet neocons", para usar a expressão que os Stones cunharam no último álbum.

Mas Yeda foi eleita, e agora é hora de tratar o cenário político gaúcho. O que vem acontecendo no RS, há muito tempo, é a eleição de um mesmo grupo político que põe fantasias diferentes. Desde o Governo Simon, com breve interrupção no Governo do PT (eis um dos porquês de tanta raivosidade na oposição), o mesmo grupo homogêneo governa -- PMDB, PTB, PP, PFL, PSDB e PDT dividem cargos nas Secretarias de Estado. Troca apenas a cabeça da chapa.

E como governam? Empurrando com a barriga. Após acomodar as bancadas fisiológicas, normalmente aumentam um ou outro imposto, deixam as corporações policiais mandarem na segurança, fazem acordos com os outros Poderes para manter o status quo, cortam meia dúzia de despesas e mandam a PGE proscrastinar as ações judiciais. Tudo em clima de serena cordialidade e "harmonia" gaúcha. Não sendo o Governo dos petês, tudo está beleza.

Qual era a minha esperança? Que a Dama de Ferro rompesse com isso, pelo menos. Se não teremos um Governo com vínculo social, capaz de medidas que caminhassem para a esquerda, pelo menos poderíamos ter um Governo de "tesoura", capaz de enfrentar setores corporativistas e clichês gaúchos (por exemplo, não se aumenta imposto) que nos travam há anos e colocam o Estado em uma crise de vem desde Jair Soares. Enquanto tivermos pensionistas e servidores recebendo 30, 40 mil reais, nunca vamos pra frente. Em nenhum outro Estado é tão claro que a despesa com folha de pagamento de servidores não só é excessiva, como (principamente) mal distribuída.

Inicialmente, o ímpeto antipático de Yeda pareceu mostrar isso. Vejam: conquanto antípota ideológico do Governo, não sou burro. Sem uma elevação da carga tributária e medidas de tesoura, não há como tirar o Estado do atoleiro. Isso significa suportar por três a quatro anos uma violenta carga tributária, que pode ser reduzida ao longo do tempo.

Mas o que de fato aconteceu? Yeda foi eleita com uma base e aliados que não tem nada a ver com isso. Yeda se elegeu com o mesmo grupo político que vem nos governando desde Jair Soares, com a breve interruptação do PT (sem entrar no mérito se foi boa ou ruim). Aliás, a própria Yeda mentiu descaradamente nas eleições, ao afirmar que não aumentaria impostos. Ou seja, fez o jogo das suas bases política (aliados) e eleitoral (classe média e alta) para vencer a eleição -- e depois "mudou de idéia".

O que acontece é que o início do Governo tem sido um desastre. E por um motivo bastante óbvio: Yeda é um desastre. Prepotente, arrogante e fascista são adjetivos que combinam com o seu tipo de personalidade autoritária, personalista e pseudotécnica (aliás, essa questão do "técnico" mereceria um post, sobre a "neutralização" da política). Resultado: sua base já se desarticula, secretários se vão antes mesmo de assumirem e, ao que parece, ela estará desgastada em menos de um ano. Ao invés de reviver a idéia de "pacto", que pressupõe negociação, conversa, diálogo, compromisso, Yeda preferiu o estilo do canetaço autoritário, bem ao estilo "dama de ferro".

O que temos agora? Um quadro desastroso de governo sem estrutura, da qual destaco apenas a nomeação vexatória de Enio Bacchi, um total despreparado para o cargo de Secretário da Segurança, que certamente irá comer nas mãos das polícias e, por isso, nada mudará (o que é a pior notícia possível para segurança).

Os irresponsáveis que votaram no "anti" agora carreguem a responsabilidade. Ela é de vocês, queiram ou não.

Drogas

Leio no
Terra que uma adolescente de 16 anos morreu por overdose com receio de ser flagrada em blitz policial com drogas. Seu acompanhante, que fez o mesmo, já está com prisão temporária decretada.

Eis como se constrói uma política de terror nessa sociedade abostarda e nojenta que vivemos. Essa mesma "sociedade" que vota em Yeda. Com medo de sofrer as torturas do sistema penal, a adolescente engoliu as drogas e acabou morrendo. Perdemos uma vida porque achamos que temos o direito de dizer o que é melhor para o corpo de cada um. Achamos que temos o direito de encarcerar ou punir quem consome substâncias que consideramos inadequadas.

No traumatismo do sistema policial-penal, perdemos uma adolescente de 16 anos. Valeu a pena?

E o que faz o sistema? Decreta a prisão do seu companheiro. Temporária. Mais um bode expiatório para os "cidadãos de bem" caírem em cima.

Nacionais

Em um ano de bons lançamentos de discos nacionais, faltou um top somepills, não? Buenas, estou prometendo até final de janeiro. Só posso adiantar que o disco número 1 é rock mas não é, ok?

Uma boa notícia

A imprensa adora abstrair e falar o "economês" do mercado. Mas há uma boa notícia a caminho: mais uma vez Lula autorizou um aumento do salário mínimo acima da inflação. Nada mais correto. É preciso haver, de vez, justiça econômica, não apenas contenção. O salário mínimo é mecanismo eficiente para redução da desigualdade e distribuição de renda. Chega direto no bolso do pobre.

Os mesmos que dizem que isso é "populismo" são aqueles que tacham o bolsa família de "assistencialista". Como se houvesse alternativa de, por exemplo, conceder um emprego a cada brasileiro e formar uma competição igual. Eis, talvez, o pior da herança do liberalismo. Sem condições mínimas de igualdade (independentes de qualquer mérito ou trabalho), nenhuma sociedade funciona.

Nesse ano novo

Que as pessoas bebam, se divirtam, parem de se preocupar em dizer o que é melhor para as outras, parem de se fazer de vítimas e comecem a se sentir responsáveis, aproveitem cada momento, olhem para o Outro, respeitem-no, façam amizades, fortaleçam os vínculos, gozem, troquem de posição o dinheiro e as pessoas, sejam mais gentis, bem humoradas, menos queixosas e egoístas, que saibam tratar cada um como o indivíduo infinito que é.

Que, definitivamente, aprendamos as lições de Nietzsche e Lévinas combinadas: saibamos, ao mesmo tempo, não ser censores e aprender a gozar, livres de culpa ou ressentimento, olhando, respeitando e nos responsabilizando pelo Outro.


Trilha sonora do post: Grizzly Bear, "Little Brother".

quinta-feira, dezembro 21, 2006

OS MELHORES DISCOS DO ANO
Tremei, mortais....

Uma lista de melhores do ano, como disse em 2005, é sempre um tanto quanto arbitrária, sobretudo idiossincrática. Mas 2006 manteve um nível bastante bom musical, com bons e ótimos álbuns, além de duas ou três surpresas.

Disponibilizei quase todos os discos -- a maioria é importado -- em mp3. Basta clicar no título e baixar. Os créditos vão para a Rock Downloads Community. Faltou apenas o Grizzy Bear [que foi foda de achar, mesmo...], que prometo disponibilizar no próximo post.

10º

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Camera Obscura, "
Let's get out of this country"*. A banda mais pop desse topten, ainda que seja de um twee pop, agridoce combinação do pop dos anos 50/60 com The Smiths e, claro, uma pitada de Belle and Sebastian. Confiram as ótimas "Lloyd I'm ready to be heartbroken" e "Dory previn", que cheiram a mofo, mas com aquele toque de antigüidade preciosa.



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Grizzly Bear, "Yellow house". Uma beleza de combinação entre bucólico e psicodélico, na linha do folk que vem consagrando o geniozinho Sufjan Stevens, porém com pitadas ainda mais experimentais, variações climáticas espetaculares, arranjos múltiplos e não-sincrônicos, tudo recheado por melodias que, de tão doces, parecem não se contagiar pelas harmonias malucas.




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The Strokes, "
First Impressions of the Earth". Para alguns, essa pode ser a maior surpresa. O disco do Strokes, de modo geral, apanhou da crítica, em parte com razão. Se "Is this it" e "Room on fire" haviam fixado um padrão absurdo para a banda, especialista em rocks precisos e certeiros, o terceiro álbum traz temas mais longos, dando, ao final, um certo ar de redundância, desnecessidade para algumas músicas. Mas o FATO é que "You only live once", "Heart in a cage", "Juicebox", "Razorblade" e "On the other side" são provavelmente alguns dos melhores [possíveis] singles do ano, cada uma sozinha colocando NO BOLSO todo o disco dos queridinhos Arctic Monkeys.



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Snow Patrol, "
Eyes Open". Colocar um disco bom como esse na 7ª posição mostra que foi mesmo um bom ano. O Snow Patrol jogou como time que está vencendo: manteve a formação e confirmou bom resultado. Seguindo a mesma receita de "Final Straw", reeditou seus rocks com incrível potencial pop e, ao mesmo tempo, imersos em guitarras de respeito. A trinca "You're all I have", "Hands Open" e "Chasing cars", abrindo o disco, já dá, sozinha, conta do recado.



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Sonic Youth, "
Ratter Ripped". Uma banda com história lança novamente um disco relevante -- depois dos mais experimentais "Murray Street" e "Sonic Nurse" -- e novamente alcança o poderio dos clássicos "Goo" e "Dirty". Com uma sonoridade mais limpa e seus vocalistas cantando mais sutilmente, trazem a perfeição em músicas como "Reena", "Do you believe in rapture?" e "Turquoise Boy".



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The Killers, "
Sam's town". Outro disco polêmico, que oscilou do 0 ao 10 na crítica mundial. Sou insuspeito para falar do Killers. Insuspeito porque NÃO GOSTO [e até ODEIO algumas] as influências da banda -- aqui, principalmente, Bruce Stringsteen, Queen, hard rock farofa e o synth-pop em geral. No entanto, tenho que admitir que o som dos caras é um power pop de imensa qualidade, com uma força incrível, que realmente pega de jeito o ouvinte. Eles realmente fazem jus ao "power" do estilo. Ouçam a trinca "For reasons unknown"-"When you were young"-"Read my mind" e sintam a verve. O disco ainda traz as ótimas [e às vezes canastras] "Bones", "This River is wild" e "Sam's town", todas de inevitável energia.



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Thom Yorke, "
The Eraser". Quem me conhece pode imaginar o pesar desse disco constar nessa posição. Porque, além de um fã fundamentalista do Radiohead, achei o trabalho simplesmente ESPETACULAR. Thom Yorke desenvolve, à exaustão, as tendências atuais de temas confusos e abertos, permeados pela música eletrônica, dos últimos trabalhos do Radiohead [Hail to the thief/Com Lag], e os aprofunda, com sua voz magnifíca que coloca carne e sangue em meio à maquinaria que reflete o disco. A fantástica "The Clock", com seu giro melódico cheio de sentido, fica como exemplo.



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Silversun Pickups, "
Carnavas". Seria possível cruzar as paredes de guitarras shoegazers [My Bloody Valentine, Slowdive] com a barulheira do rock alternativo americano [Smashing Pumpkins, Sonic Youth]? O Silversun coloca isso em prática e faz um som simplesmente DIVINO, com paredes de guitarra etéreas cobrindo verdadeiros riffs matadores, numa combinação de tirar o fôlego de qualquer apaixonado por guitarras. Ouçam "Lazy Eye", que é simplesmente a arquitetura do céu.



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Secret Machines, "
Ten Silver Drops". A banda que eu mais ouvi esse ano, simplesmente. Esse disco me pegou de jeito, me fez vergar a coluna. Assumi o Secret Machines como aquelas bandas que o cara coloca, sempre, entre as suas preferidas, não apenas como um disco bom qualquer. Já começa certeiro com a música do ano: "Alone, Jealous and Stoned". Segue com uma dobradinha de rock de arena combinado com post-punk, "All at once (it's not important)" e "Lightning blue eyes". Emenda duas psicodelias vervianas, "Daddy is in the doldrums" e "I hate pretendind". Tem uma leve caída em "Faded lines" que apenas realça o brilhantismo dos dois últimos temas, "1000 seconds" e "I want to know", espécie de baladas que irrigam de sangue as melodias primorosas de Grandaddy e Radiohead. Um som bastante próximo à perfeição.



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Guillemots, "
Through the windowpane"**. Uma estréia em primeiro lugar! Esse disco é tão bom que me fez vencer uma resistência terrível na ultrapassagem dos Secret Machines. Não queria que ninguém os ultrapassasse. Mas o fato é que os Guillemots são tão bons que não tive como evitar isso. Uma banda que reinventa o new acoustic, depois de o Coldplay estar na iminência de se perder, combinando melodias com absoluta capacidade pop ao lado de arranjos experimentais, a servir de pano de fundo para a construção de uma sonoridade bastante nova, inaugural, distante de qualquer coisa parecida. Uma espécie de Jeff Buckley [que talvez tenha sido causa de uma homenagem que é o único equívoco do álbum -- "Blue will still be blue"], com Radiohead/Kid A. Músicas simplesmente perfeitas como "We're here", "Trains to Brazil", "If the world ends". A experimental "Come away with me" ou a belíssima "Little Bear", abertura do álbum. Sem falar da magnífica sinfonia que fecha o álbum, a "Paranoid Android" dos anos 2000 [pronto! eis o meu momento NME] "Sao Paulo", de distintos movimentos e melancolia arrebatadora. Simplesmente, sem palavras.


* senha: rcd
** senha: rcd

sábado, dezembro 16, 2006

VACATION!!!

Finalmente a maratona chegou ao fim! Missão cumprida: um ano de trabalho duro e milhares de leituras, dedicadas a um Mestrado feito com afinco. Agora é hora de descansar.

Passou dos Limites

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Decepção...

Todos sabemos que este blogueiro é o último dos moralistas. Mas, vamos convir, está ficando ridícula essa história de papparazzis no Terra.com, hein? Ao que parece, qualquer dia os caras vão enfiar a câmera na buceta da mulher e dizer, CALMA, EU SÓ ESTOU TRABALHANDO.
Imaginem o cortocionismo dos fotógrafos se esticando para ver se a mulher usa ou não calcinha. Ok, é uma delícia vê-la sem calcinha. Mas todos têm direito à privacidade, inclusive sob suas vestes íntimas. O negócio chegou ao limite depois que li esses dias: "Carolina Dieckmann 'se cuida' e não deixa aparecer a calcinha". Que que é isso???

DANCE


Para agüentar esse calor infernal da Província, nada melhor que conferir dois hits explosivos para dançar, do Hot Chip e Gnarls Barkley. Somepills recomenda.


Hot Chip - Over & Over


Gnarls Barkley Crazy


Nenhum comentário sobre o clipe matador do Simian Mobile Disco? Ou este blog anda com pouca audiência, ou as pessoas estão com preguiça de gastar 3 minutos para ver um clipe...
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Governo Yeda
Tropeça vertiginosamente ao colocar Enio Bacchi de Secretário da Segurança. Eis o início do caos.
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Ano dos segundos discos
E, de regra, fiquei com os primeiros. Assim foi, pelo menos, com The Stills, The Rapture, Yeah Yeah Yeahs e Kasabian.
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Trilha sonora do post: TV on the Radio, "Wolf like me".

segunda-feira, dezembro 11, 2006

2006: nenhum filme me convenceu

2006 definitivamente não foi um ano de cinema para este blogueiro. Acostumado a acompanhar a maior parte dos lançamentos -- americanos ou não --, este ano acabei deixando de ir por, basicamente, duas razões: 1) não ter mais namorada; e 2) ter 1.000.000.000.000 de livros para ler.
No entanto, o que vi não me convenceu. Nem os filmes do início do ano, aqueles da safra do Oscar [O Segredo de Brockeback Montain, Capote, Boa Noite Boa Sorte], nem os que passaram ao longo do ano [O Corte, O Libertino, X-Men 03], tampouco os atuais [Os Infiltrados, O Grande Truque] me convenceram. Match Point, Volver, V de Vingança, Bonecas Russas e o longa argentino O que você faria? foram os que mais gostei, mas nenhum deles tem a estatura de um Crash, Dogville ou 21 Gramas. Minha esperança do ano é justamente a película Babel, do mesmo diretor desse último cascorado filme.
A conferir.
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Tudo é possível
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Poderia uma banda shoegaze, com aquelas conhecidas e monumentais paredes de guitarras, tornar-se, após se desmembrar, um conjunto que mestra influências de alt-country e folk? Pois do maravilhoso Slowdive, que nos presenciou o seminal Souvlaki, surgiu o Mojave3. A banda já lançou alguns discos, inclusive esse ano ["Puzzles like you"], e "Breaking the ice" é uma das músicas de 2006.
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E não é que, mesmo depois de assumir não ter gostado mesmo do TV on the Radio, o tal do Gnarls Barkley é bem bom? Alguma coisa com toque soul me pegou esse ano.
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Desenvolvimento sim, mas sustentável
Infelizmente, na nossa imprensa predominam jornalistas com formação sabe-se-lá-de-quê, porque não possuem a mínima aptidão teórica para discutir certos assuntos.
Não, nem sequer estou falando dos temas criminais.
Estou falando, isso sim, da pauta imposta aos Governos [desde FHC] com vistas a um crescimento acelerado. Virou dogma. É claro que o Brasil precisa de crescimento, mas não qualquer crescimento. Nossa riqueza ambiental já deveria ter feito a Imprensa se atentar para o conceito de desenvolvimento sustentável, há muito defendido nas conferências internacionais. O discurso da Imprensa a coloca lado-a-lado com grandes ruralistas, muitas vezes devastadores do meio ambiente, e acabam influenciando o poder político, cujo único objetivo, por definição, é poder.
Os constantes ataques transversos à Ministra Marina Silva são prova desse tipo de política equivocada. Pressionando o meio político por um crescimento acelerado, a Imprensa deixa de exercer o papel crítico que vem desempenhando, por exemplo, na Europa, onde a população começa a se dar conta do impacto ambiental das políticas públicas.
Por aqui, produtor de soja "acelera o crescimento" e "dá empregos".
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Quem somos nós?
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São inegáveis as virtudes do filme Quem Somos Nós?. Contudo, bem menores do que parecem. O filme é, na realidade, um espelho das teorias de autores como Fritjof Kapra e Edgar Morin. Tem os méritos de retirar uma certa aura de sacralidade da ciência e trazer a discussão.
No entanto, nem tudo pode ser dito de uma forma tão veemente. Hoje, revendo minhas posições, especialmente por autores como Heidegger, Derrida, Lévinas e Rorty, a questão do conhecimento científico é menos de "relativizá-lo" e tratar de demonstrar "não existir a verdade", do que ressaltar a existência de uma pluralidade de verdades, na medida em que a descrição objetiva não esgota o objeto. Assim, a ciência até pode ser verdadeira para seus fins, mas está longe de esgotar a totalidade do mundo. Existe uma ética subjacente a todo ato científico, especialmente em se tratando de aplicação, e essa ética não apenas é discutível, como costuma ser extremamente pobre e carente de fundamentos.
Ou será que fabricar clones é algo neutro?
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Sobre a morte de Pinochet
A morte de Pinochet não mereceria uma vírgula nesse blog, não fosse para eu revelar que finalmente encontrei a verdadeira divisão política que orienta minha visão. Não é mais tanto entre "direita" e "esquerda", mas entre pacifistas [portanto, geralmente democratas] e militaristas. É com essa divisão que posso colocar no mesmo saco Fidel, Mao, Stalin, Pinochet, Médice, Hitler e Mussolini. Estou radicalmente ao lado da paz.
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Simian Mobile Disco
Andam espalhando por aí que esse é o melhor clipe de todos os tempos. Somepills recomenda.
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Trilha sonora do post: The Raconteurs, "Intimate Secretary".

terça-feira, dezembro 05, 2006

LOS HERMANOS EM PORTO ALEGRE
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Pessoas, mais de uma semana sem poder acessar a Internet em casa é um saco. Mas estamos aí.
Falar do Los Hermanos já está se tornando banal. Contudo, não custa deixar mais uma palavrinha, já que esses dias lia no Lúcio Ribeiro que fora eleito o melhor disco nacional o do Moptop, bandinha que Somepills já testemunhou ao vivo [show do Oasis] detectou o óbvio: The Strokes, The Strokes, The Strokes. Quando "a" banda nacional do ano é um plágio descarado, é sempre bom valorizarmos o que temos de melhor.
E os Hermanos são, defitivamente, o que temos de melhor.
Uma palavrinha antes, contudo, sobre o Mombojó. Eleitos pelo Somepills como o melhor disco nacional de rock do ano 2004, com "Nadadenovo", os caras trouxeram o seu novo CD, o "O Homem-Espuma", para tocar por aqui. Com algumas ouvidas, é possível dizer que, apesar de manter um certo experimentalismo, o som está bem mais direto e agora, mais claro que nunca, trata-se de rock. A sonoridade de "Nadadenovo" era tão difusa e misturada, que era difícil catalogar os caras. Samba, free jazz, bossa nova, trip hop, eletrônico -- tinha de tudo ali. "O Homem-Espuma" é bem colorido, mas mais "na mira" do rock. Show bastante bom, que foi prejudicado pelo fanatismo dos fãs dos Hermanos, a quem se queria ouvir de fato.
Antes de começar o show direto dos Hermanos, as bandas ainda tocaram juntas "Saborosa", que ganhou uma guitarrada de Sonic Youth, e "Fez mar", que foi portisheadizada, como as próprias bandas falaram em entrevista anterior. Ficaram ótimas. E mais algumas.
O show foi o de sempre: músicas cantadas em uníssono, brilhantismo de letras, arranjos excelentes, performance perfeita da dupla. Apenas repito o que já tinha falado quanto ao show anterior: Camelo é um novo Buarque; Amarante, um novo Renato Russo. Nessa simbiose MPB/Rock Alternativo, os Los Hermanos fazem a melhor síntese de música brasileira e rock desde os Mutantes, e se credencia como das melhores bandas do mundo. Isso já fica claro com "Dois Barcos" e "Primeiro Andar", as duas geniais músicas que abrem o show.
Eu prefiro, particularmente, a banda sem os metais, como tocaram no Opinião. Mas com eles também é ótima. Não rolou a psicodelia radioheadiana de "Pois é", porém o show foi mais uma mostra de que o rock brasileiro tem esperança.

Silversun Pickups e Asobi Seksu
Suas novas bandas americanas que bebem no shoegaze. Mas com diferenças significativas. Leiam a minha resenha do Silversun no Plugitin!. Fica bem claro entre as bandas que são de fontes diferentes, enquanto a primeira soa como My Bloody Valentine [de "Loveless"] e Slowdive; a segunda fica entre Ride e Chapterhouse, a parte chata do shoegaze [que se pretende mais alegrinha], na minha modesta opinião.
Seleção do Brasileirão
Ceni (SP); Paulo Baier (Palmeiras), William (Grêmio), Eller (...) e Marcelo (Fluminense); Mineiro (SP), Lucas (Grêmio), Zé Roberto (Botafogo) e Hugo (Grêmio); Fernandão (...) e Souza (Goiás).
Técnico: Mano Menezes (Grêmio).
Trilha sonora do post: The Verve, "Velvet Morning".