Mox in the Sky with Diamonds

terça-feira, abril 29, 2008

MAL-ESTAR

Quando leio isso, dá vontade de desistir.

Sinto-me um barquinho indo contra o tsunami. É muito difícil. Até os inteligentes estão sucumbindo.
É preciso ser muito forte. A normalidade, como dizia Fromm, é patológica.

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REFORÇANDO O POST ANTERIOR [DISCUSSÃO SEGUE NOS COMENTÁRIOS]

a identidade social daqueles com quem o indivíduo está acompanhado pode ser usada como fonte de informação sobre sua própria identidade social, supondo-se que ele é o que os outros são. O caso extremo, talvez, seja a situação em círculos de criminosos: uma pessoa com ordem de prisão pode contaminar legalmente qualquer um que seja visto em sua companhia, expondo-o a prisão como suspeito.

(GOFFMAN, Erwin. Estigma, p. 58).

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segunda-feira, abril 28, 2008

DE NOVO O MORALISMO

Novamente o moralismo ataca, dessa vez aqui pelos Pampas. É ridícula a cobertura que a mídia deu para o episódio do Secretário Ariosto Culau que tomou um chopp com Lair Ferst. Patética. Insanamente moralista. O fato de confabular, rir, tomar um chopp, etc. com alguém que tenha cometido um crime (que ainda nem foi provado!) é algo que indica ABSOLUTAMENTE NADA sobre nada.
O moralismo, dessa vez usado pela esquerda, é da mesma estirpe que a covardia que sofreu a Deputada Angela Guadagnin, vítima inclusive de comentários preconceituosos fascistas, ano passado. Totalmente desproporcional ao fato. Puro macartismo da mídia (incluindo blogs de política gaúchos). Infelizmente, esses empresários morais continuam dando as cartas e fazendo com que a ética e a moral no serviço público se confunda com um macartismo cretino que nivela condutas muitas vezes absolutamente inofensivas ao bem comum.
Os esquerdistas nesse momento estão "gozando". Gozando da sua própria arbitrariedade e violência, utilizando expedientes espúrios e lacerdistas. Tratam o adversário político como mero inimigo e agem sem qualquer ética, surfando numa mídia incapaz de propor qualquer debate público qualificado pela escassez argumentativa dos seus jornalistas, que só substituem a Ilha de Caras pelo Congresso Nacional, fazendo o mesmo tipo de cobertura. Transformam jornalismo político em espécie de coluna social que, vez por outra, como toda coluna social, alimenta-se de hipocrisia e cinismo pútridos. Ao surfar nessa onda, a esquerda gaúcha navega no mesmo barco que os Deputados e Senadores da oposição que tanto criticam. Fazem exatamente o mesmo jogo.
Era de se esperar que o PT tivesse aprendido algo com o Governo. PSDB e DEM pouco aprenderam. O PT idem. Então ficamos nesse jogo sujo em que condutas absolutamente díspares como por exemplo a suspeita da compra da casa da Governadora com sobras de campanha (grave) e um chopp com um amigo acusado de delito (inofensiva) são niveladas no mesmo patamar, pois contra o inimigo vale tudo.

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domingo, abril 27, 2008

NIETZSCHE, HOJE

Estávamos sentados enquanto ele tocava um órgão gigante, de vez em quando passando o dedo por uma ou outra tecla enquanto aquele som infernal MIDI atolava nossos ouvidos. Falava de drogas, dos nossos adolescentes perdidos na balada, da fé em Jesus, sorria aos clientes do restaurante, cantalorava músicas antigas. Ele tem respostas para tudo. Ele vive uma vida inquestionável.
Nietzsche foi o primeiro a ter coragem de enfrentar isso de frente: foi o primeiro a recusar a "moralina", combustível dos melhoradores da humanidade. Já enfrentei por aqui os limites da libertação nietzschiana e a necessidade de fixarmos um novo padrão de moralidade, baseados na transcendência do Outro, sem qualquer apoio metafísico ou teológico. Mas o discurso de Frederico teima em ser atual: os moralistas continuam na linha de frente.
Eles nos governam. Eles -- "essas pessoas da sala de jantar". Enquanto sentia vontade de rir pelo ridículo do nosso tocador de órgão, sentia também um profundo mal-estar: seria cômico, se não fosse trágico.
Resta-nos cantar com Caetano:
Eles (Caetano Veloso/Gilberto Gil)
Em volta da mesa
Longe do quintal
A vida começa
No ponto final
Eles têm certeza
Do bem e do mal
Falam com franqueza
Do bem e do mal
Crêem na existência do bem e do mal
O florão da América
O bem e o mal
Só dizem o que dizem
O bem e o mal
Alegres ou tristes
São todos felizes durante o Natal
O bem e o mal
Têm medo da maçã
A sombra do arvoredo
O dia de amanhã
Eis que eles sabem o dia de amanhã
Eles sempre falam num dia de amanhã
Eles têm cuidado com o dia de amanhã
Eles cantam os hinos no dia de amanhã
Eles tomam bonde no dia de amanhã
Eles amam os filhos no dia de amanhã
Tomam táxi no dia de amanhã
É que eles têm medo do dia de amanhã
Eles aconselham o dia de amanhã
Eles desde já querem ter guardado
Todo o seu passado no dia de amanhã
Não preferem São Paulo, nem o Rio de Janeiro
Apenas tem medo de morrer sem dinheiro
Eles choram sábados pelo ano inteiro
E há só um galo em cada galinheiro
E mais vale aquele que acorda cedo
E farinha pouca, meu pirão primeiro
E na mesma boca senti o mesmo beijo
E não há amor como o primeiro amor
Como primeiro amor
Que é puro e verdadeiro
E não há segredo
E a vida é assim mesmo
E pior a emenda que o soneto
Está sempre à esquerda a porta do banheiro
E certa gente se conhece no cheiro
Em volta da mesa
Longe da maçã
Durante o Natal
Eles guardam dinheiro
O bem e o mal

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quinta-feira, abril 24, 2008

FERGUSON TROPEÇA E TUDO SEGUE INDEFINIDO

Não sei que raios bateu em Alex Ferguson no final dessa temporada. Tinha uma escalação razoavelmente consolidada, que tinha Scholes e Anderson [ou Carrick ou Fletcher] no centro do campo, com Giggs e Ronaldo nas meias laterais. À frente, Tevez [ou Saha] e Rooney. No intuito de avançar Ronaldo, que vem marcando muitos gols, Ferguson deslocou Rooney para a meia. E insiste em pôr Park, jogador que pouco participou na temporada. Contra o Barça, o time era uma salada mista, com Rooney na meia bastante recuado e Tevez também no meio, para Ronaldo jogar à frente. Não funcionou. Rooney correu, mas pouco fez. Tevez parecia uma barata tonta. Park destoa do conjunto, não sabe o que fazer com a bola. Ferguson poderia ter colocado Anderson em vez de Park e recuado Ronaldo para onde ele sabe jogar, na meia direita, forçando Iniesta a recuar para auxiliar Abidal na marcação e, com isso, soltando Hargreaves, ótimo jogador. Tevez e Rooney no meio foi uma invenção pra lá de infeliz. Se queria se defender mais, que colocasse mais um meia [Giggs, Nani ou até Fletcher] e sacasse Tevez, deixando Rooney e Ronaldo à frente.
Os dois jogos foram truncados, bem inferiores às quartas-de-final. Chelsea e Liverpool fizeram confronto equilibrado, e é curioso que o Chelsea mais medíocre dos últimos três anos seja o com maior chance de chegar à final. O esforçado time do Liverpool pode ainda reverter, mas às vezes carece de qualidade técnica, dependendo muito de Gerrard, bem marcado por Makelele, e Torres, ainda muito jovem.
Contra as minhas expectativas, acho que passam Manchester e Chelsea. Inicialmente, apostava no Liverpool.

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VIROU COOL SER DE DIREITA

Antigamente, ser de direita fazia corar.
Corar porque em um país em que as pessoas ainda morrem de fome, frio e falta de medicamentos, ser conservador representa, em outros termos, compactuar com esse lixo.
Mas agora não.
Agora é cool ser de direita. É cool defender aquela revista. É cool ser cínico. É cool compactuar com o lixo, alegando que tudo não passa de questão de humor. Quem tem a piada mais engraçada vence a discussão.
Ei-nos, pois, afundados na merda.

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terça-feira, abril 22, 2008

TRÊS COLUNAS IMPERDÍVEIS DE CLÓVIS ROSSI

CLÓVIS ROSSI às vezes irrita. Seu pessimismo crônico, crítica implacável e anti-governismo às vezes dão nos nervos. Mas não dá para não reconhecer que se trata de um jornalista com J maiúsculo, desses como Jânio de Freitas ou Elio Gaspari. Quando se lê suas colunas, os nanicos retornam aos seus lugares. Acompanhem essas últimas duas que são simplesmente geniais:
CLÓVIS ROSSI
Os talibãs de São Paulo
PARIS - Antes de escrever, preparo a mala para o retorno ao Brasil. Aterrorizado. De perto, o país -ou pelo menos a parte em que me toca viver, a cidade de São Paulo- sempre me pareceu primitivo, bárbaro. Com as óbvias ilhas de luz ou de sentido comum, mas, no essencial, selvagem. O caso da menina Isabella parece ter levado a um mergulho ainda mais acentuado na barbárie. A reportagem de Laura Capriglione e Ricardo Westin sobre os tipos que se acotovelavam diante da delegacia em que o pai e a madrasta da menina estavam depondo é um compêndio completo sobre o regresso à selva, à lei da selva mais exatamente, de uma fatia dos paulistanos. O texto é um desses momentos em que a essência básica do jornalismo, que é ver, ouvir e contar, joga luz nos subterrâneos da alma de uma cidade que se tornou crescentemente inóspita. Talvez a reação fosse a mesma em qualquer outra cidade do mundo, mas parece evidente que São Paulo e sua selvageria cotidiana atiçam, cutucam, os piores demônios que se escondem nos recônditos da alma. O pior é que viajei após um texto em que criticava a condenação antecipada do pai e da madrasta pela polícia, sem que tivesse havido, naqueles primeiros momentos, qualquer investigação séria que permitisse acusar ou inocentar quem quer que fosse. Dizia, então, que, se o casal fosse culpado, acabaria sendo condenado cedo ou tarde. Mas, se fosse inocente, teria sido condenado irremediavelmente, sem provas, sem julgamento, sem investigação. Vinte dias depois, volto diante de um cenário ainda mais selvagem: o casal foi preso, julgado, condenado e linchado (simbolicamente, mas quase literalmente) a cada dia. Já não apenas pela polícia, mas pelo público ou, ao menos, a parte dele que vai à porta da delegacia ou pela massa que se cala diante da vitória dos talibãs
de São Paulo.

CLÓVIS ROSSI
Um certo gosto de sangue
SÃO PAULO - Duas ou três cartas sobre o caso Isabella me horrorizaram. Leitores aparentemente alfabetizados decretavam a culpa do pai e da madrasta da menina só com base nas informações que a polícia libera para o jornalismo. Jogam no lixo o devido processo legal, um dos principiais pilares da civilização. Pensei que fosse reação restrita a exóticos de diferentes origens, atraídos pelos holofotes da TV, mas verifico, horrorizado, que há muito talibã solto por aí. Na maioria das cartas, chovem críticas à mídia, apontada como única responsável pelo circo armado em torno do caso. Responsável, sim; única, não. Sem que as autoridades -as ÚNICAS que detêm informações sobre o caso- alimentem o circo, não há circo, ou o circo é menos nefasto. O pecado original é, portanto, do delegado, que, em vez de apenas investigar, atua simultânea e indevidamente como promotor, juiz e alto-falante, condenando o casal desde o início, antes mesmo das primeiras investigações. Se se pretende civilizar um país talibanizado, é preciso primeiro que a polícia se comporte com a discrição indispensável. A polícia portuguesa, por exemplo, não acusou os pais no caso da menina inglesa Madeleine, muito parecido com o de Isabella. Quando o fez, a mídia foi atrás e teve que pedir desculpas publicamente, na primeira página, e ainda doar uma baita grana para um fundo criado pelos pais para procurar a filha. E o fizeram sem saber se os pais são de fato inocentes. Quanto à mídia, não vejo nenhum capanga armado obrigando o telespectador (ou leitor) a ficar sintonizado nos programas policialescos ou, agora, no noticiário sobre a menina morta. Há público -e grande- para isso. Alguns são apenas portadores da normal curiosidade humana. Outros têm gosto de sangue na alma, não nos iludamos.

Sobre o tema, ainda há essa genial de Fernando Barros e Silva, outro ótimo jornalista:

FERNANDO DE BARROS E SILVA
Teatro dos vampiros
SÃO PAULO - Perto do fim de "Budapeste", José Costa (ou Zosze Kósta), o narrador do romance de Chico Buarque, descreve a sensação de estar dentro de uma ficção em seus passeios pela orla do Rio:"As pessoas que eu topava (...) não me pareciam afeitas ao ambiente. Às vezes eu as via como figurantes de um filme que caminhassem para lá e para cá, ou pedalassem na ciclovia a mando do diretor. E as patinadoras seriam profissionais, ganhariam cachês os moleques de rua, ao volante dos carros estariam dublês, fazendo barbaridades na avenida.
"Embora distante, essa passagem de mestre veio com força à memória na última sexta, diante da imagem da multidão aglomerada e disposta a linchar o casal suspeito pelo assassinato de Isabella.
Aqueles tipos pareciam figurantes, coadjuvantes, dublês involuntários num filme B de horror. Um "popular" se exibe fantasiado de Bin Laden; outro vem de Cuiabá, 12 horas na estrada; um terceiro surge com um bolo de aniversário, devorado em segundos pelos "curiosos".
A novidade, porém, não está na atuação desses zumbis sociais; o que agora espanta não é apenas a fúria carnavalesca deste lúmpen da sociedade do espetáculo.
Quando o programa da Record coloca, no meio da tarde, uma cama no palco para reproduzir, no estúdio, o quartinho da menina, a apelação abjeta desse teatro parajornalístico é muito evidente.
E quando a Rede Globo decide transmitir ao vivo, durante três horas, sem intervalos, as imagens do casal acossado no dia dos depoimentos -o que devemos pensar?
Não excluo, evidentemente, a mídia impressa -nem a Folha- dos comentários. Mas é a TV, como se sabe, quem chega às massas, ainda mais neste país. A morte de Isabella já se tornou um capítulo de uma guerra desembestada por audiência. E o jornalismo dito "sério" está a reboque dessa escalada bárbara.
Ou, quem sabe, William Bonner seja apenas um ator da novela das oito representando um locutor que nos narra uma tragédia grega...

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quinta-feira, abril 17, 2008

FLEET FOXES

Eles vêm de Seattle e bebem em várias fontes, fazendo eco a gente como My Morning Jacket e Band of Horses, cruzados com um experimentalismo folk a la Grizzly Bear [todos, por sinal, bebem na mesma fonte: Neil Young], e deixam, de início, um agradável EP, de nome "Sun Giant EP". Vocal agudo e denso, backing vocals harmônicos, longas e quebradas melodias que alternam intimismo e alguma grandiloqüência. São crias da Subpop, lendária gravadora que lançou o Nirvana. Já foram agraciados com boas críticas e lançaram um registro completo, que ainda não ouvi. Mais um integrante para esse safra de bandas consistentes e anti-comerciais ultimamente proveniente dos EUA. Confiram a bela Mykonos [em versão ao vivo um tanto quanto prejudicada...] e vejam a que me refiro:




Baixe aqui o EP e confira o produto lapidado. Vale a pena.

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UNBELIEVABLE

Nome do disco da MARIAH CAREY, sucessor do "THE EMANCIPATION OF MIMI" (!!!)?

E = MC2.

Sim, aquela fórmula.

Porque, afinal, Mariah e física têm tudo a ver.

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quarta-feira, abril 16, 2008

ALBERTO HELENA JR. GENIAL NO COMENTÁRIO:

Daqui:

O longo processo de desgaste de Ronaldinho Gaúcho – algo, aliás, que me parece vem orquestrado por todas as partes envolvidas – está chegando ao fim, com o desfecho previsto desde o fim do ano passado: o craque no Milan. É que, no Barça, até outro dia, Ronaldinho era rei, senão deus – duas vezes o melhor do mundo e tal e cousa e lousa e maripousa. Negociá-lo, nessas condições, seria uma temeridade para qualquer diretoria. Mas, agora, não. A torcida catalã já até torce para o negócio sair.

Com Berlusconi, então, de volta ao poder, na Itália, nas asas de uma maioria absoluta, quem há de segurar a investida do Milan? Curioso isso: enquanto Berlusconi anuncia o fechamento de suas fronteiras para os imigrantes e sugere aumento de acampamentos (campos de concentração?) para os que lá estão ilegalmente, importa a peso de ouro um negro brasileiro, malabarista da bola. É que circo não conta, né?

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PARA LER JUNTO

Para ler junto com isso, que eu escrevia há quatro meses atrás.

16/04/2008 - 10h04
Nove morrem em ação do Bope; coronel diz que PM do Rio é "o melhor inseticida social"
Em operação classificada por coronel da Polícia Militar como "inseticida social", nove supostos traficantes foram mortos ontem durante incursão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na Vila Cruzeiro, na Penha (zona norte). Quatorze homens foram presos e seis ficaram feridos no confronto.
A operação com 180 homens foi comandada pelo Bope, que manteve parte do efetivo na favela.
"Amanhã [hoje] o pau na vagabundagem continua", disse o comandante de policiamento da Capital, coronel Marcus Jardim. "A PM é o melhor inseticida contra a dengue. Conhece aquele produto, [inseticida] SBP? Tem o SBPM. Não fica
mosquito nenhum em pé. A PM é o melhor inseticida social", disse, rindo.
Um dos objetivos da operação, segundo a PM, era destruir barricadas feitas pelo tráfico. O 16º Batalhão da PM (Olaria), responsável pelo patrulhamento da área, teria recebido queixas de moradores que encontraram dificuldades para levar familiares a hospitais para tratar de doenças como a dengue.
"O objetivo era desobstruir esse acesso principalmente em razão da dengue. As pessoas estão com dificuldade para procurar ajuda no Hospital Getúlio Vargas e na tenda de hidratação", disse o comandante-geral da PM, coronel Gilson Pitta.
A polícia tinha ainda como objetivo cumprir "cerca de" 15 mandados de prisão e localizar pontos de venda de drogas. O Comando Vermelho comanda as bocas de fumo na região.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que os nove mortos na operação não se renderam e reagiram à ação da PM.
"Quem quiser se render --e deve se render-- é preso. Aqueles que resistiram de maneira injusta à atuação da PM, aconteceu o que aconteceu [foram mortos]", disse.
Foram apreendidos na Vila Cruzeiro uma metralhadora, cinco pistolas, três fuzis, uma submetralhadora e cinco granadas, além de drogas.
A operação começou por volta das 9h com cem homens do Bope com rostos pintados de preto.
Segundo a polícia, foram retiradas barricadas em cinco ruas. Oito escolas foram fechadas durante a troca de tiros.
Quatorze homens foram presos no depósito de um supermercado na região. Entre eles está um homem identificado pela polícia apenas como Chininha. Segundo agentes, ele seria o responsável pela morte do policial do Bope Wilson Santana, em maio do ano passado.

É incrível que esse sadismo nazista do BOPE possa ser gritado em praça pública, haja vista o atual respaldo social [rectius: da classe média e elite brasileiras] que ganhou a partir do discurso do Tropa de Elite.

PS: É óbvio que quem não se rende e atira na Polícia pode sofrer a mesma reação. Isso é legítima defesa. Outra coisa é o que se pode deduzir do discurso, que indica mais prontamente práticas próximas da "limpeza étnica" que vem se dando no Brasil e pouco se fala sobre o tema. Jamais um BOPE da vida declararia que executou por executar. Mas não é difícil ver que isso ocorre com facilidade na prática ["bota na conta do Papa"].

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terça-feira, abril 15, 2008

ISTO É SERRA


Serra aprova lei de pulseira eletrônica para presos de SP
PAULO R. ZULINO - Agencia Estado
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), sancionou ontem a lei que prevê o monitoramento de presos em regime semi-aberto por meio de pulseiras eletrônicas. A lei estadual foi publicada no Diário Oficial do Estado de hoje e será implementada de forma gradativa. Segundo informações do governo, trata-se da primeira experiência no País. A lei, que teve origem em projeto de lei do deputado estadual Baleia Rossi (PMDB), permite o monitoramento dos presos condenados por tortura, tráfico de drogas, terrorismo, crimes decorrentes de ações praticadas por quadrilha, entre outros crimes, com direito ao regime semi-aberto. Caso o preso viole as normas de uso da pulseira, pode ter revogada a condicional, a saída temporária e o recolhimento em estabelecimento penal comum.

Do: "Presidente Eleito"
A/C aqueles-que-acham-biopolítica-coisa-de-maconheiro-foucauldiano.

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segunda-feira, abril 14, 2008

AINDA EM INÍCIO DE SEMANA...

Mais música boa, desta vez brasileira:


Essa música maravilhosa "Clarice", do Caetano. Aliás, esse disco ("Caetano Veloso") é bom do início ao fim.


Os Mutantes, bem novinhos, e a ótima "Panis et circenses" ("as pessoas na sala de jantar... sempre boa crítica).


Los Hermanos, "Pois é" (dispensa comentários) (clip não-oficial).


Chico Buarque, "Apesar de você" (genial contra a Ditadura)


Os ótimos Supercordas, "Ruradélica" (psicodelia retrô massa).


Alter Ego, "Golpe de Estado" (aposta da casa).



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PARA ABRIR A SEMANA...

Um pouco de boa música:



A Sempre indispensável "Karma Police", by Radiohead.


The Verve, "the Drugs don't work".


My Bloody Valentine, "Sometimes"


Pavement, "Cut your hair"


Strokes, "Hard to explain" (dos clipes mais legais que já vi).

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sexta-feira, abril 11, 2008

TRANSIÇÃO DOLOROSA, MAS NORMAL

Celso Roth, felizmente, é coisa do passado. Paulo Pelaipe se inviabilizou. Um conjunto de declarações infelizes e uma política mal-sucedida de contratações o transformou em vilão. Roth, por sua vez, apenas seguiu seu ritmo normal: depois de um início bem sucedido, desandou e teve o rumo costumeiro -- eliminação das competições.
Esse blog vem advertindo há muito tempo que a situação das contratações foi tenebrosa esse ano. O time está inquestionavelmente mais fraco, além de ter jogado fora toda sua base -- a espinha dorsal composta por jogadores como William, Tcheco e Sandro, lideranças que favoreciam a equipe.
Há ainda mais um problema: a troca de treinador. Esse blog não expressava seu medo ano passado pela troca de técnico por acaso.
Primeiro, porque Mano Menezes não tardará a mostrar que é um técnico de ponta. Sabe organizar o time, compõe sólidas defesas e não tem dificuldades de lidar com jogadores talentosos. Teve, no início, com Anderson. Mas a experiência o ensinou a fazê-lo. Hugo, Lucas, Léo Lima, Tcheco e Carlos Eduardo são exemplos de jogadores que Mano fez jogar. Com o tempo, Mano aprendeu o valor do talento e o fez jogar.
Segundo, porque a troca de treinador é sempre um evento traumático. Quando trocamos Tite, também era certo que passaríamos dificuldades. Todas as equipes que trocam técnico passam dificuldades. É um período de adaptação, até acertar o profissional certo. Curiosamente, até o teimoso futebol brasileiro, que insistia em demitir treinadores, está aprendendo que não é a melhor solução. A melhor solução, que o Grêmio ensinou ao Brasil desde há tempos (pelo menos desde Felipão), é manter o treinador, que dá consistência à equipe e pode imprimir seu estilo. Mas, para isso, é preciso um bom técnico, não qualquer um. O Grêmio passa por esse terrível período de transição, até acertar um bom técnico.
Até acertarmos, a transição será dura. Os gremistas têm que agüentar no osso.

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terça-feira, abril 08, 2008

GARANTISMO < NOTÍCIA-SENSACIONALISTA-PARA-A-MÍDIA

Do site do UOL:

08/04/2008 - 07h58

Perícia descarta sangue no carro do pai de Isabella
São Paulo - Exames do Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo praticamente afastaram a hipótese de que exista sangue no Ford Ka do consultor jurídico Alexandre Carlos Nardoni, de 29 anos, pai da menina Isabella, que morreu após cair do 6º andar do prédio onde mora o pai, na zona norte de São Paulo. Os resultados dos primeiros exames ficaram prontos ontem à noite. Pouco depois das 20 horas, ainda faltavam algumas provas para serem examinadas, mas os peritos consideravam improvável que o teste desse positivo para sangue. "As primeiras manchas eram aquelas em que a gente tinha uma esperança muito grande. O que sobra agora deve ser mancha de graxa ou de óleo", afirmou um dos peritos que trabalham no caso.
Ainda falta o exame do material colhido no corredor do 6º andar do prédio onde o crime ocorreu e das manchas achadas no interior do apartamento. Um especialista em exame de DNA e de exames hematológicos foi destacado pela direção do IC para cuidar dessa análise. No começo da noite de ontem, peritos do Instituto de Criminalística retornaram ao apartamento para nova perícia complementar. O objetivo era fazer mais medições do lugar para o laudo sobre a cena do crime. Eles aguardam ainda a definição da causa da morte da menina para resolver algumas das dúvidas. De acordo com o diretor técnico do Instituto Médico-Legal, Hideaki Kawata, Isabella morreu em decorrência da queda. Para ele, os sinais encontrados no pulmão e no coração da menina podem sinalizar uma parada cardiorrespiratória, e não o resultado de uma tentativa de asfixia ou esganadura. Os legistas do IML, no entanto, não descartam que a morte de Isabella tenha sido motivada por asfixia.
O instituto aguarda a conclusão do exame toxicológico e patológico de Isabella para divulgar o laudo final. A polícia ainda busca fitas de vídeo com imagens do sistema interno de um supermercado de Guarulhos para saber com que roupa Alexandre estava no dia do crime. Eles querem confirmar se o consultor estava vestindo a camisa e a camiseta com manchas de sangue encontradas no apartamento de sua irmã, Cristiane Nardoni. Ela é dona de um imóvel no mesmo andar em que ocorreu o crime. Cristiane diz que as roupas pertencem a pedreiros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.



Parece que a mídia não aprendeu nada com o caso da Escola-Base. A execração pública já começou, suspeitas se tornaram certezas e investigados já foram condenados. Até o afobado promotor pediu cautela.
Não sei se eles são culpados ou não. O que sei é que no decorrer de uma investigação pré-juízos devem ser evitados ao máximo. A presunção constitucional é de inocência. Depois, em caso de condenação, com provas colhidas com base na busca da verossimilhança, e não da pressa em dar notícia, é que vamos com as respostas.

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LIVERPOOL 4 X 2 ARSENAL

Certamente o melhor jogo da Championsleague até agora. Disputado até os ossos, contou com um Arsenal superior até marcar o gol, por volta dos 20 minutos do primeiro tempo, e depois o Liverpool pressionando com base no abafa, tudo com a sua camiseta muito mais forte que, na hora da decisão, mostrou seu valor. Não tardou a Hippia empatar, num cabeceio.
No segundo tempo, o Liverpool voltou melhor e Torres, de atuação não apenas apagada, mas ruim mesmo, deixou sua marca, com um belo chute. O Arsenal, depois de agüentar a marcação pressão por cerca de 25 minutos, parte para cima e, em jogada maravilhosa de Walcott, Adebayor empata. Aí aparece a camisa: menos de um minutos depois, o fraco Babel, que já havia entrado bem, entra driblando e é derrubado por Touré. Gerrard converte o pênalti. No final, o próprio Babel deixa sua marca.
O Liverpool, apesar de inferior tecnicamente ao Arsenal, jogou com muita raça e conseguiu, com a força da camiseta, fazer valer sua história no torneio. O Arsenal era melhor tecnicamente e mais organizado taticamente, mas nessa hora foi mais coração e sangue do que cérebro e dribles. Faltou camiseta e experiência ao Arsenal. Fabregas, o craque do time, desapareceu. Adebayor teve boa atuação. O destaque do jogo foi mesmo Gerrard, seguido de esplêndida atuação do zagueiro Skirtl, uma rocha na defesa. Kuyt, jogador fraco, é esforçado e consegue incomodar o adversário. Algo que o estrategista Rafa Benitez preza aos montes. Mesmo o esquisitão Crouch teve boa atuação, incomodando o miolo de zaga do Arsenal.
Liverpool e Chelsea, como previa o blog. Amanhã acompanhamos a classificação do Barça e ManUnt. Um forte semi-final se apresenta [como, aliás, a do ano passado].

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COBERTURA RASTEIRA

É uma lástima que, como disse aqui tantas vezes, a imprensa continue com essa cobertura rasteira da política nacional. Podem dizer: é um reflexo do que é a política brasileira. Certo, mas o inverso também é verdadeiro. Os dois principais temas da imprensa atualmente são o dossiê que revelaria gastos da Presidência FHC e o terceiro mandato de Lula.
É por essas e outras que eu entendo a implicância dos petistas com a mídia. Primeiro, se o dossiê existiu, é grave, mas não suficiente para cobrir 10, 15 dias das principais páginas políticas. Deve ser investigado, porém há outras coisas para se falar. Não digo que é factóide porque se baseia em um fato real (provavelmente), mas a insistência e relevância que é dada ao tema é absolutamente desproporcional. Aliás, como já disse no caso do Dossiê do Serra, é incrível como quando o Dossiê é contra os tucanos o que importa é a forma, e não o conteúdo (que, dizem, incluí inclusive pênis de plástico nas compras presidenciais -- imagina se fosse do PT). Há, visivelmente, dois pesos e duas medidas. Reitero: nada contra a investigação da imprensa, nada contra a contestação das versões oficiais, nada contra discursos que condenam o uso da máquina pública. A cobertura é desproporcional ao fato, só isso. Razão? É desfavorável ao Governo. E a mídia precisa bater no Governo, uma mais; outras menos. O assunto é tão chato que ninguém comenta nada nas ruas, nos ônibus, em lugar algum.
Já a notícia do terceiro mandato é puro factóide. A mídia insiste, polemiza, uns escrevem colunas detonando Lula (!) e o Presidente já negou mais de dez vezes que vai concorrer novamente. Aqui sim, dá vontade de mandar tudo à puta que pariu. No entanto, seguem páginas e páginas de "jornalismo" sobre o tema.
Não sou adepto de teorias persecutórias que falam do "PIG" ou da "mídia má", como escrevem por aí. Mas que a mídia fabrica factóides, fabrica. Que favorece o PSDB e especialmente José Serra, favorece. Isso qualquer pesquisa séria que fizesse levantamento de dados poderia constatar sem absolutamente nenhuma dificuldade.
Minha pergunta é: não tem coisas mais importantes? O que os governos fazem da segurança pública? Vamos discutir modelos de polícia? Educação, precisamos, né? Vamos debater que tipo de educação? Vamos atrás dos programas e investimentos para criticá-los ou elogiá-los? Vamos debater os assuntos ambientais que envolvem o PAC? Falta "alta política" não só para o Governo; a pobreza dos debates midiáticos está diretamente relacionada com isso.
Já havia falado do tema aqui e principalmente aqui.

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domingo, abril 06, 2008

O VEXAME TEM NOME: CELSO ROTH

Antes de ser acusado de casuísta, vamos deixar algumas coisas claras. O Grêmio já tem a base de um time. Paulo Sérgio deu uma boa resposta, Roger vem jogando bem e com muita vontade e Perea também continua sendo um atacante perigoso. Continuo achando que com três reforços de peso -- um zagueiro, um volante e um meia-ofensivo ou atacante -- podemos ter uma equipe consistente. Além disso, a entrevista de Celso Roth após a partida também foi bastante contida e razoável.
E paramos por aí.
Os problemas do Grêmio começam por cima: o Diretor de futebol, Paulo Pelaipe, é um desequilibrado. Na verdade, já cansei de falar sobre o tema. Vendemos nossos grandes jogadores -- Lucas, Anderson, Carlos Eduardo e o goleiro Cássio --, e perdemos outros que passaram e não ficaram por falta de um contrato mais longo [Hugo, Diego Souza, etc.]. Poucos são os reforços para a quantidade de dinheiro que entrou. Perea é o único investimento do Grêmio no ano. O resto é resto, inclusive Roger, que hoje é nosso melhor jogador. Além disso, o Diretor fala demais, ninguém mais agüenta.
Seguido do nosso Diretor, temos o Professor Pardal. Até esse momento, Celso Roth vinha sendo calmo e inventando pouco. Mas, de dois jogos para cá, resolveu reinventar a roda.
Na partida contra o Atlético Goianense, preteriu Tadeu a Jonas, mesmo em um gramado alagado. Depois, colocou o também leve André Luiz, apesar da jogada aérea ser a única tentativa do Grêmio ao longo de toda partida. Substituiu Nunes por Thiego, fazendo um 3-5-2 que sequer deve ter sido treinado, pela confusão de posicionamento. Por sorte, Roger deixou um gol no final. Roth não teve humildade de admitir seus erros, atribundo a problemas "técnicos" o mal-desempenho [muito mais atribuível a problemas táticos].
Contra o Juventude, nenhum gremista que viu a escalação acreditou. Primeiro, um Paulo Sérgio invertido, pondo Hidalgo -- que é fraco mesmo -- no banco. Depois, manteve Nunes, que não consegue acertar um passe, e colocou Dos Santos e Maylson, avançando Roger, em formação que já foi testada e fracassou. Fracassou novamente. A pretensiosa expressão de Luxa, "nó tático", se aplica perfeitamente ao jogo. Roth tomou um "nó tático" de Zetti. O Grêmio, do meio para frente, era uma confusão sem sentido, sem a mínima organização.
Roth tem quatro títulos: Copa Daltro Menezes [Caxias, 1996], Campeonato Gaúcho [Inter, 1997; Grêmio, 1999] e Copa Nordeste [Sport, 2000]. Em compensação, treinou, além dos gaúchos, Vasco, Palmeiras, Santos, Flamengo, Goiás, Atlético-MG, Botafogo e outros times. Treinou equipes de respeito -- algumas de ponta -- e não ganhou nenhum título relevante.
Ou seja, Roth é um técnico superestimado pelos dirigentes. Seu currículo é prova de que deixa a desejar como treinador. Treinador vive de títulos. Até Vagner Mancini tem título de Copa do Brasil. Roth já teve oportunidades. Mas mostrou, inequivocamente, que é treinador para equipes pequenas, é treinador para retirar times da zona de rebaixamento, e não para as levar até as cabeças.
Roth é o tipo de técnico que inventa. Que mantém jogador à custa de tudo e todos. Que contraste com o ótimo Mano Menezes! Mano insistia duas, três, quatro partidas com um jogador. Se não jogasse, saía do time. Simples. Roth é o técnico do "cargo de confiança". É o técnico que, com Labarthe, Junior, Adilson e Rafael Carioca resolveu apostar em Nunes. É técnico que troca de sistema como se isso fosse coisa simples. Evita simplificar: em vez de simplesmente substituir Pico por Hidalgo, Nunes por Junior, Rudnei por Dos Santos e Reinaldo por Tadeu, preferiu dar de Professor Pardal.
Roth, enfim, é um técnico medíocre. Um técnico que vive do dualismo retranqueiro/ofensivista, porque não descobriu que o problema não é se é ofensivo ou defensivo, mas se é compacto ou não é. Não sabe que um time que está vencendo não precisa parar de atacar, desde que mantenha a compactação. Que não é necessário empilhar volantes ou zagueiros para se defender. O currículo de Roth fala por ele: desde 1996 na ativa, guarda apenas títulos regionais -- e poucos.
Não bastasse isso, Jean confirmou minhas piores suspeitas. Não dá segurança, a zaga tem sido perfurada por dentro, o que é inadmissível, e por cima. Marcelo é vergonhoso: o primeiro gol é uma falha clamorosa, que mostra sua pouquíssima habilidade como goleiro. Precisamos, urgentemente, da volta de Victor e de um zagueiro mais seguro.
Enfim, um desastre completo, que exigiria projetarmos um Brasileiro com nova Direção e treinador e mais dois reforços de peso. Ou vamos para o destino que Roth nos encaminha: fugir do rebaixamento.

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sexta-feira, abril 04, 2008

AUTO-PROPAGANDA (E TB ESPAÇO DE DISCUSSÃO)

HOJE, na ZH:

Os sem-palavra, por Moysés da Fontoura Pinto Neto*

Na quarta-feira, Zero Hora publicou reportagem em que trata do "constrangimento" causado pelos moradores de rua. A reportagem foi seguida de debates sobre o tema, partindo-se de uma série de perguntas sobre o que fazer em relação ao "problema".O que chama atenção na reportagem é que nenhum morador de rua teve a palavra. Nenhum morador de rua foi tratado como sujeito. Os "técnicos" que falaram sobre o tema tiveram oportunidade de fazer a abordagem que entenderam adequada, "contra" ou "favorável" aos moradores, mas jamais foi dada, em instante algum, a palavra a algum morador de rua.

Isso sinaliza um aspecto: para nós, o morador de rua simplesmente não existe. É como se ele não existisse. Nós não lhe damos a palavra porque ele simplesmente não está ali como alguém, mas como um "problema", e portanto um objeto. O filósofo Emmanuel Levinas, judeu que foi prisioneiro dos campos de concentração e viu sua família dizimada pelo nazismo, propôs, como resposta à catástrofe, um modelo de ética que chamamos de "ética da alteridade". A essência dessa proposta consiste em sempre tratar o outro como alguém, na sua plena diferença, sem que objetivemos esse outro. Levinas viu a si mesmo na condição de representação (o "judeu") e percebeu que a violência nasce quando deixamos de considerar o outro alguém pelo qual somos responsáveis. Todos lutam para definir o papel dos moradores ("pedintes", "bandidos", "vagabundos", "vítimas"), mas ninguém concede a eles o direito de falarem por si mesmos.

Preocupantes são manifestações que trataram conjuntamente o problema dos moradores de rua e da criminalidade: além de preconceituosas e desinformadas (apesar de se reivindicarem "realistas"), instigam o medo, pois, "em estado de preconceito, não existe mais indivíduo, grupo, multidão e nem mesmo, em sentido estrito, massa: apenas existe o Medo", e o medo "é o pai acolhedor que perdoa todos os filhos de sua insensatez" (Timm de Souza). É, na realidade, o combustível do fascismo.

*Professor do Departamento de Ciências Penais da UFRGS, especialista e mestre em Ciências Criminais.

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HUGO, BOA CONTRATAÇÃO

Descartadas nossas reservas passionais contra Hugo pelo que fez com o Grêmio em 2006, devemos reconhecer aí uma grande contratação. Hugo vinha jogando tanta bola no Olímpico que deve ter imagina que, em pouco tempo, estaria na Seleção Brasileira, com a transferência ao São Paulo. Não funcionou.
Se confirmada a contratação e também contratarmos Rochemback, apesar do lamentável desempenho do Grêmio na última quarta, finalmente estaremos montando um time competitivo. Com um meio com Eduardo Costa, Rochemback, Roger e Hugo, e Soares e Perea na frente, estamos bem competitivos. Jean ainda não me passa segurança suficiente, talvez trazer um xerife absoluto fosse adequado. A propósito, pelo que vêm jogando Hidalgo e Pico, a vaga de titular é de Bruno Telles, o mais regular dos três.
Por outro lado, discordo frontalmente de Wianey Carlet quando acha que é necessário três jogadores de forte marcação no meio. Dois é o suficiente, desde que os laterais subam alternada e moderamente. Chelsea, Barcelona, Madrid, Manchester e outras grandes equipes jogam assim. A única equipe que realmente empilha volantes é o Milan, e se viu no que deu nessa temporada esse buraco entre meio e ataque, a deixar um Pato desamparado e Kaká com dois ou três marcadores sobre si. O Grêmio pode jogar com Roger e Hugo, desde que um lateral fique e os dois volantes protejam com eficiência a defesa. Seis jogadores é o suficiente para defender, desde que os de frente marquem pressão e atrapalhem a saída de bola.
Com Hugo e mais um volante, o Grêmio pode finalmente ter um time competitivo para um campeonato que promete ser difícil -- temos que enfrentar equipes bem armadas como Palmeiras, São Paulo, Fluminense, Flamengo, Cruzeiro e Santos -- basta que Celso Roth não resolva dar de Professor Pardal, como fez na quarta, colocando Thiego no lugar de Nunes e depois, em pleno gramado alagado, resolveu optar pelo jogador leve [André Luiz] e não o centroavante mais trombador [Tadeu].

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quarta-feira, abril 02, 2008

ARSENAL VS LIVERPOOL, AO VIVO

Minhas apostas parecem estar se confirmando. ManUnt e Barça, ontem, Liverpool e Chelsea, hoje. O Arsenal tem um bom time, mas nessa hora a camiseta costuma pesar, que o diga a Inter de Milão. O Liverpool não conta com a dupla de zaga titular, Agger e Carragher, que se viu deslocado para a lateral, para cobrir a ausência de Finnan. Em escanteio, depois de leve pressão de dois ou três lances, Van Persie lança na área e Adebayor marca de cabeça. Mas, em seguida, o talento de Gerrard, livre como meia mais avançado que Kuyt [é moda na Inglaterra colocar atacantes na meia?], cruza e o próprio Kuyt marca. O Arsenal se abala e centraliza demais o jogo, deixando de aproveitar sua maior virtude, que é [e sempre foi] a jogada pelos meias laterais, que forçam a abertura do jogo até para abrir espaço ao seu craque Fabregas, ou lançar a bola à área para Adebayor cabecear.
O Liverpool leva, até agora, um bom empate para casa. Na Turquia, o Chelsea marca 1 a 0 em gol casual, e o resultado é bom até para os torcedores mais otimistas da equipe azul.
Babel, meia fraco demais para os padrões do Liverpool, dá lugar a Benayon, mais técnico, mas também insuficiente. Há lugar para Lucas nesse time, mas Mascherano e Alonso marcam como leões.
O jogo termina com o Arsenal tentando pressionar, mas esbarrando no sólido sistema defensivo do Liverpool, que já não se preocupava com mais gols. Na Turquia, o Fenerbach vira, com um golaço de Deivid, mas acredito que ainda assim passa o Chelsea.

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terça-feira, abril 01, 2008

MANUNT VS. ROMA, AO VIVO

O jogo começa estranho, a começar pela própria organização tática do ManUnt, que surpreendentemente joga com uma linha de 4 defensores, seguidos de Carrick, Scholes e Anderson à frente, Rooney na meia esquerda e Park [!] na direita, com Ronaldo à frente. Uma 4-5-1 que oscila entre 4-1-4-1 e 4-5-1, com três meias centrais [uma melhor nomenclatura que "volante" para definir os esquemas britânicos]. Scholes e Anderson, este bastante tímido, sobem quase livremente. Paradoxalmente, Rooney é obrigado a acompanhar o lateral da Roma até a linha de fundo defensiva. Park, como era de se esperar, corre sem efetividade. Aquilani, o melhor do meio campo romano, tenta acionar Vucinic, que geralmente perde para Rio Ferdinand. O ManUnt se abala com a perda do seu ótimo zagueiro Vidic, por lesão, e sofre um pouco com avanços da Roma.
Mas aí aparece o gênio: na primeira trama que Rooney consegue armar, Scholes surge de surpresa e cruza, para um raio aparecer cabeceando -- Cristiano Ronaldo.
No final, o limitadíssimo Pizarro ainda dá uma pancada sem bola em Ronaldo, que faz firulas, bem à moda do futebol sul-americano [ex-futebol arte, hoje futebol anti-arte].
Sigo daqui a pouco com o segundo tempo.
Na Alemanha, o Barça vence o Shalke 04 por 1 a 0. Nenhuma novidade.
E a história se repete: a Roma sufocava o ManUnt com avanços pela direita de Tonetto, que explorava a fragilidade de Park, e atirava contra o gol de Van Der Sar. Sir Ferguson tenta reagir colocando Hargreaves à direita, no lugar de Anderson, e a Roma reage colocando Giuly pela sua direita [à esquerda do ManUnt, portanto], para forçar o outro lado. A Roma pressiona, pressiona, mas o ManUnt faz o crime novamente: em jogada de linha de fundo, Park cabeceia para dentro, Doni falha e Rooney empurra pra dentro. 2 a 0.
A Roma cambaleia e aguarda o soco final para nocaute.
Terminou. A Roma pode agradecer não ter tomado o terceiro gol. Depois do segundo, o time se arrastou em campo sem qualquer objetividade. Não fez mais nada. Em compensação, o ManUnt arrancava com extrema velocidade em tabelas rápidas de Rooney, depois Tevez, e Ronaldo.
Ferguson surpreendeu colocando três jogadores marcadores no meio campo -- Anderson, Scholes e Carrick, depois ainda Hargreaves -- ao lado de Park, certamente pela obediência tática. Avançou, com isso, Ronaldo, mostrando que é o centro do time, para deixá-lo livre e não o obrigar a acompanhar o lateral adversário. Preferiu, inclusive, dar a tarefa a Wayne Rooney. Os três meias centrais cuidaram dos três meias avançados da Roma, neutralizando a linha próxima ao ataque da equipe italiana.
Opção sem dúvida questionável. A priori, eu serei totalmente contra, preferindo apostar, por exemplo, em deslocar Anderson para a meia direita, avançando Ronaldo e deixando Rooney onde sabe jogar: no ataque. De qualquer forma, é impressionante como Rooney consegue começar jogadas, sendo dos atacantes mais completos do mundo.
Fato: o Manchester é melhor, e pronto. A Roma não tinha chance alguma, nem terá. Não há possibilidade de zebra, o ManUnt pode aguardar seu adversário.

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O TRIP HOP

Boa reportagem da Folha de São Paulo sobre trip hop. O problema é que só assinantes podem acessá-la.
Acho interessante que, desde o início, todos os integrantes do estilo negaram sua existência. A reportagem entrevista Roísin Murphy, do Moloko, que nega sua existência. Os caras do Massive Attack detestam a nomenclatura. Mas a verdade é que existia uma identidade nas batidas cadenciadas do hip hop e do dub, combinadas com elementos sobrepostos mais psicodélicos, o que gerou a fusão "trip" + hop. "Third", disco do Portishead desse ano, é muito mais "trip" que "hop".
A reportagem menciona duas bandas lixo: Moloko e Morcheeba. E ainda outra: Supreme Beings of Leisure. São bandas muito ruins que no máximo acertaram uma ou duas vezes, e transformaram o delicioso -- mas um tanto quanto indigesto na primeira audição -- gênero em "easy listening" [para nós, brasileiros, "música de elevador"].
Bom do trip são os espetaculares álbuns do Massive Attack, especialmente a perfeição chamada "Mezzanine" (1998), tudo do Portishead, o primeiro álbum de Goldfrapp, "Felt Montain" (2000) e a obra do Tricky, especialmente "Maxinquaye" (1995). Essa é a discoteca básica desse gênero delicioso, sobretudo pela sua extrema sensualidade.
Segue um aperitivo do estilo para quem não o conhece:



Massive Attack, "Dissolved Girl" (vídeo não-oficial)


Goldfrapp, "Deer Stop" (vídeo não-oficial)


Portishead, "It's a fire" (vídeo não-oficial)


Tricky, "Black Steel"