Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, junho 30, 2008

CAMPEÓN!!!

Quem acompanha esse blog sabe que acompanho de perto o futebol espanhol, hincha que sou do Madrid (meu único clube extra-Grêmio). Já escrevia desde antes da Eurocopa que a Espanha tinha chances nessa Eurocopa, por contar com sua melhor geração nos últimos anos, repleta de meio-campistas com características de toque de bola, bom chute, chegada à frente e ocupação de espaços. Fabregas, Iniesta, Xavi são três exemplos, mas mesmo Xabi Alonso, que pouco jogou, tem esse perfil. Disse, ao início da competição, que apostava em Portugal, Holanda e Espanha.
Pobres espanhóis! Cheios de romantismo no seu futebol, adeptos do jogo com apenas um volante ("pivote") marcador, admiradores dos meias abertos como pontas (por las "bandas"), do toque de bola permanente, futebol ofensivo, dos "pichichis" (goleadores), dos zagueiros clássicos como Fernando Hierro e Santamaría, francamente rejeitam os modelos alemão e italiano de jogar. E, por isso, vêem-se motivo de chacota na Europa inteira, que zomba do seu futebol limpo e da sua covardia em decisões, o mesmo que acontece com a Holanda. Os espanhóis vingam-se com seus Madrid e Barça, especialmente o primeiro, vinculado à capital e símbolo da unidade nacional, maior negócio (empresa) do território espanhól e, com os cofres repletos de dinheiro, capaz de comprar os melhores jogadores do mundo e empilhar, de tempos em tempos, times dos sonhos que levantaram por nove vezes a taça de Copa dos Campeões. É só assim que Madrid e Barça vencem: com futebol vistoso e ofensivo, enfrentando defesas compactas e as desmontando com atuações geniais dos seus craques, seja Di Stefano ou Stoichkov, Puskas ou Romário, ou ainda, para ficarmos na nossa época recente, no gol espetacular de Zidane contra o disciplinado (e mui alemão) Bayer Leverkusen ou dos dribles desconcertantes de Ronaldinho e Lionel Messi contra os impenetráveis Milan e Chelsea, respectivamente.
Ontem foi o dia dos espanhóis virarem a mesa. Foi a vez de, ao seu estilo, levantarem a taça passando pelos seus dois maiores opostos: Itália e Alemanha. Venceu o truncado e inconvincente time de Donadoni, pronto para ir adiante aos trancos e barrancos como de costume; e venceu os "malvados" da Alemanha, cujo sangue frio costuma imperar nas decisões em que desbancam o adversário com marcação dura, eficiência nos chutes e um gol precioso. Venceu ambos.
Venceu jogando ao seu estilo: com três meias de ótima saída de bola, Xavi, Fabregas e Iniesta, muito toque de bola e um centroavante poderoso, Fernando Torres. Contou, diga-se também, com muita raça de Sergio Ramos, Marcus Senna (que deu estabilidade defensiva ao meio), Marchena (perfeito), Puyol e mesmo o fraco Capdevilla. Tinha um goleiraço: Iker Casillas. Passes de primeira, aproximações e tabelas foram a arma de quebrou Itália, Alemanha e Rússia, para a alegria dos bêbados de Cibeles.
Aragonez, técnico de quem não gosto, teve uma participação importante: motivou seus jogadores e a entrada de Senna foi fundamental para o time, apesar de eu mesmo ser contra isso (preferia Xabi Alonso, p.ex.), e com 11 titulares conseguiu dar solidez e confiança ao seu time. Teve coragem de não convocar Raúl (até acho que teria lugar no grupo, mas sua presença iria gerar problemas com a reserva) e apostar nos seus dois melhores atacantes, o arisco Davi Villa e o pujante Fernando Torres.
Hala España! Congratulaciones!

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GRE-NAL PREVISÍVEL

Estava apostando no empate. Era previsível que o Inter crescesse um pouco com o treino de Tite e o Grêmio não teria condições de ultrapassar uma equipe que se defendesse em bloco, neutralizando seus pontos fortes.
Previsível a neutralização do Grêmio. Um técnico como Tite não hesitaria em fazer o certo. Colocou marcação individual em Roger, com cobertura, e com isso neutralizou o único ponto de armação do tricolor. Não dá nem para culpar o camisa 10 do Grêmio. William Magrão não conseguiu jogar (e sua jogada é a ultrapassagem rápida, com conclusão, não o toque nem o drible) e Eduardo Costa, no primeiro tempo, se omitiu. Aliás, faz um tempinho que nosso grande volante anda jogando pouco, tendo decaído seu nível técnico. Os alas, por outro lado, não funcionaram. Helder é fraco fisicamente e, nervoso, não superou o contato. Paulo Sérgio foi uma nulidade completa. Com isso, o Grêmio ficou sem meio campo, tendo que partir para ligação direta com Pereirão dando balão para frente, tentando acionar os pobres Perea e Marcel, que corriam feito baratas tontas.
O erro de Roth -- erro pequeno, no entanto -- foi ter sacado Rafael Carioca, que tem bom passe e ultrapassagem, por William Magrão, deixando o time sem articulação.
Maior erro poderia ter ocorrido no segundo tempo. É impressionante como Roth lida mal com a pressão, se acovarda e inventa. Ontem foi o mesmo. A equipe não conseguia mudar o rumo da partida no segundo tempo, a torcida começou a vaiar e Roth, acuado e sem sua atitude ríspida, inventou novamente, colocando um 4-4-2 em campo. Me assusta o temperamento depressivo de Celso, que o faz encolher nas decisões e adotar soluções bizarras. Quem acompanha minhas críticas ao técnico pode observar: o que critico sempre nele é que, apesar de conseguir formar um "time", com espinha dorsal e consistência tática, em momentos decisivos ele põe tudo a perder, desmontando tudo que construiu.
Roth montou o Grêmio com 3-5-2. É difícil jogar no 3-5-2. Mas ele conseguiu. Os alas no Grêmio são meio-campistas, os stoppers sobem e o conjunto funciona adequadamente. Celso trocou o sistema. Não se troca o sistema durante o jogo. Sistema de jogo é um negócio sério, que determina a postura do time em campo. Pode ser ortodoxia minha, mas só admito trocar, durante o jogo, do 4-4-2 para 4-3-3 (e vice-versa) e de 3-5-2 para 3-4-3 (e vice-versa). São alterações que envolvem a movimentação de apenas um ou dois jogadores, e não do conjunto da equipe.
A mudança de Roth foi, portanto, altamente arriscada, mas, por sorte, deu certo. Rafael Carioca (a quem bastaria ter colocado ao lado de outro ala, por exemplo Felipe ou Pico, para tentar mais ultrapassagem sem desvirtuar o conjunto) e Rodrigo Mendes entrarem bem e o último teve estrela, dando sorte no lance de Renan. Conseguimos o empate na sorte (apesar do gol irregular do Inter) e Celso tem que saber disso.
Por outro lado, está claro que o Grêmio tem limitações evidentes e, sobre isso, Roth pouco pode fazer. O reforço de Tcheco já vai acrescentar bastante, mais um jogador de armação, alternativa ao (futuramente) muito marcado Roger.
Se quer pegar o trem que segue aquele que passou, Roth tem que se acostumar com a pressão: não pode se encolher (adotar seu ar melancólico e derrotista) e nem inventar quando se depara com situação difícil.

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sábado, junho 28, 2008

ELA
(inspirado no post do Juricá)

Estou onde tua mente não está. Quando queres me pegar, escapo. Tuas fantasias não correspondem à minha realidade. Sou mais do que podes pensar. Quanto mais tentas me apagar, mais apareço. Não delires: não estou na tua cabeça, estou na tua frente, te olhando. Não imagine: fale, responda.
Eu não me ofereço ao teu intelecto: é só o toque, contato, é só a proximidade que pode chegar a mim. Não tentes querer saber de mim; fale comigo, me toque, me agasalhe, entre em contato comigo. Tua cabeça jamais chegará a mim; somente tuas mãos, teus braços, teu sorriso e tua voz. Quando me pensas, só te depara com um enigma. Quanto me diriges a palavra, sentes a minha plenitude.
Eu me ofereço apenas para conversar, ser tocada, protegida ou respondida; guarde teus pensamentos para as coisas. Sou sensível e pouco inteligível.

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quinta-feira, junho 26, 2008

PITADAS SOBRE A VOLTA DA SOCIOLOGIA E FILOSOFIA

Textos do chapeuzinho da Veja e do Gustavinho Ioshpe criticam o retorno da filosofia e da sociologia ao ensino médio. Me impressiona a importância que se dá a isso. O primeiro é um entusiasta da Ditadura Militar e seus escritos não valem nada, por não guardarem um pingo de coerência e serem nulos de conteúdo. Quando me presto a ler o blog, parece que tem merda derramada na tela. É o mais baixo nível que poderia chegar a Veja, contratar alguém de discurso tão rasteiro e pífio e mostrar, com isso, que tipo de princípios guiam sua atividade jornalística. Eu, sinceramente, nem me presto a fazer contraponto, tal é o grau do lixo que ali está escrito (um pouco de orgulho é humano, também). O segundo, por sua vez, é um pedagogo treinado em escolas neoliberais dos EUA (sim, lá isso existe) pronto para disparar teorias tecnocráticas, tratando todos os problemas de forma atuarial e chegando ao desatino de afirmar que o salário de professores não é um problema na educação. Tudo que os "chefes" querem, não? Não é à-toa que também é funcionário da revista.
Enfim, essas opiniões, a rigor, não servem para nada. A filosofia e a sociologia são boas notícias no ensino médio, finalmente reabastecendo um saber humanista que não apenas fornece a parte técnica (saber calcular e escrever em português), mas também dão um bom instrumental de reflexão para que não acreditemos em tudo que dizem, pensemos com nossa própria cabeça e, sobretudo, saíamos da inatividade acelerada (paradoxo proposital) dos nossos dias.
O que, então, assusta? Assusta a "doutrinação" dos adolescentes.
Ora, em primeiro lugar, é curioso como a extrema-direita convive bem com o vocabulário marxista. Uma das palavras preferidas de todo extremista de direita é "ideologia". Isso é "ideológico", não é real. De onde vem essa palavra? Marx. Ah, não, mas eles estão usando no sentido de Mannheim. Não, não. É no de Marx mesmo. No sentido de algo que encobre a "verdadeira realidade" de alguém, uma espécie de "Matrix" do real. Não é curioso que eles adorem seu maior rival?
Para quem está na contemporaneidade, a palavra "ideologia" não tem mais nenhum significado. Foucault já disse isso, e bem, e poderíamos acrescentar outros como Rorty ou Derrida para confirmá-lo. Não existe "a" descrição da realidade. Só existem percepções dessa realidade, e essas percepções não são espelhos fiéis - um mapa representacional - do mundo, mas tomadas a partir da linguagem, da contingência, da perspectiva. Não é que os fatos brutos não possam ser afirmados (o que nos tornaria solipsistas), simplesmente nosso olhar é sempre perspectivo, a própria idéia de "objetividade" é segunda, não primeira, na percepção do ente. Nessa teia entre o que existe e o que percebemos existem fatores de linguagem, poder, etc.
O que os contrários não podem aceitar é que não existe uma linguagem transparente, uma "razão opaca", algo que diria apenas "o real" e nada mais. Eles não podem aceitar que nosso sistema - inclusive o educacional - não é neutro, e lhe dói que mais pessoas possam o questionar. A semente da irresignação, semente que está incrustada no próprio tempo que passa, assusta o consevador -- aquele que quer "parar o tempo", como diz Ricardo Timm de Souza. É isso que dói a eles, o medo de que as pessoas percebam a ausência de opacidade da razão, a ausência de consistência na realidade, a inexistência de neutralidade nas coisas.
Sociologia - por ser uma disciplina que estuda o mundo social - e filosofia - por ser reflexiva - dão ao estudante a capacidade de pensar por si mesmo, de refletir sobre o mundo em que vive, e não apenas sobre angiospermas, tabela periódica ou placas tectônicas. É isso que assusta.
Assusta que o estudante perceba a imensa violência que vivemos. Não apenas a violência seletivamente escolhida como única -- a dos que roubam nossos carros -- mas a violência estrutural, violência da representação e da exclusão, da estigmatização e do domínio. Eles preferem dizer que isso não existe. Mas existe.
O fascismo é sempre burro. Ele se alimenta da burrice. Por isso, quer acreditar que as pessoas não conseguem pensar com suas próprias cabeças. Tem medo disso. Acha perigoso. Nós apostamos no oposto: até mesmo em relação aos discursos marxistas empoeirados, acho que não há risco algum, o estudante saberá distinguir aquilo que é válido do que não é. Nós, afinal, acreditamos na liberdade, e não no medo; no tempo, e não na desesperança; na justiça, e não na ordem.

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quarta-feira, junho 25, 2008

MÍDIA RIDÍCULA

Depois a gente tem que ficar ouvindo o Wianey Carlet dar lição de moral (furada) contra os treinamentos fechados. Esse episódio comprova que o treinador tem que fechar mesmo, foda-se a imprensa, porque o torcedor só quer a vitória, independe de manchetes dos jornais.
É incrível a cara-de-pau da mídia no corporativismo. O cinismo de se intitular dona do "interesse público" é grotesco. Nesse ponto, equivalem-se aos políticos que tanto criticam.

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E A ALEMANHA CONFIRMA

Com Alemanha e Itália não se brinca. Esse blog duvidou que um dos dois chegasse, e a Alemanha cuidou de preservar a tradição. Derrotou, friamente, a Turquia, que vinha jogando bom futebol. Schweinsteiger, Podolski e Ballack são os destaques da seleção, que alterou suavemente o time de Klismann, avançando Ballack. A base, no entanto, é a mesma.
Sobraram Espanha e Rússia. Não vi o jogo contra a Holanda, portanto não conheço o time da Rússia, mas aposto na Espanha. Desde antes da Eurocopa eu suspeitava que a Espanha tinha uma boa equipe, contando com talentos no meio como Xavi, Iniesta, Fabregas e os avantes Villa e Fernando Torres.
A ver.

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DIANTE DA EXPLOSÃO DE FASCISMO NO RS E NO BRASIL...

Só a arte dá conta:


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terça-feira, junho 24, 2008

FUCK BUTTONS, "STREET HORRRSING" (2008)



Concebes a insanidade que seria um encontro entre Explosions in the Sky, Mogwai, Nine Inch Nails (representando o gênero "industrial") e Liars? É, seria realmente muito maluco. E é basicamente essa linha descontínua que seguem os Fuck Buttons.
O álbum congrega, a rigor, uma combinação entre a agressividade do industrial e a ausência de melodia e ênfase em harmonia do pós-rock, tornando longas divagações aquelas explosões raivosas do primeiro gênero. A batida lenta e persistente dos Explosions in the Sky é combinada com barulhos múltiplos, vocais sujos e quase inaudíveis, mais barulho, repetição e experimentação até o limite do audível. Seria apenas um punhado de experiências se não houvesse uma sincronia, uma certa beleza da feiúra, permeada por pertinentes transições que nos jogam em atmosferas apocalípticas soando como Mogwai/Ministry até músicas cacofônicas que tem o ar tribal dos Liars em "Drums not dead" (2005).
Entre momentos de extrema beleza ruidosa [herança indelével que o My Bloody Valentine deixou à música] e grunhidos que parecem que irão estourar os teus tímpanos e derreter o cérebro, o Fuck Buttons lançam, antes de um álbum, um desafio. O disco é apenas para aqueles que se propõem o enfrentar.

DESTROYER, "TROUBLE IN DREAMS" (2008)



Há uma mística em torno da banda canadense The New Pornographers que os torna uma espécie de Teenage Fanclub do século XXI: seu som é ligeiramente convencional (não por acaso power pop), mas conquista uma legião de fãs indies que os idolatram.

A idolatria é tanta que mesmo os discos solos dos seus integrantes -- para exemplificar, os recentes de A. C. Newman, de Neko Case ou do próprio Dan Bejar -- são tidos todos como pedras preciosas, mas, a meu ver, não ultrapassam o nível do comum.

Em 2005 Destroyer já havia lançado seu aclamado "Destroyer Rubies", um belo disco, mas nada superior à média do que vem fazendo gente como o Bright Eyes ou José Gonzales em termos de folk. A "mística" cuidou de elevar a altos patamares seu disco intimista, estiloso e pessoal. O mesmo, absolutamente mesmo, se aplica a "Trouble in Dreams": menos minimalista que seu antecessor, dessa vez mais variado e "gordo" nos arranjos, o álbum é consistente, interessante, mas não consegue ultrapassar o limite médio do folk. Por isso, cai na mesma vala do monte de produção que há no gênero (afinal, depende de pouco mais que voz e violão), não se equiparando a, por exemplo, "Illinois" (2005), do Sufjan Stevens, ou "I'm wide awake it's morning" (2005), do Bright Eyes (não comento "Cassadaga", disco medíocre do ano passado), para ficar apenas em exemplos recentes.

Suspeito que Destroyer não tenha para os roqueiros muito mais valor que um Jack Johnson para o pessoal do reggae. Música para de vez em quanto, ou para quando não queremos ouvir música.

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segunda-feira, junho 23, 2008

CHEGAMOS AO MÁXIMO

Já escrevi por aqui que "Tolerância Zero" não foi apenas um programa relativamente bem sucedido, embora totalmente excludente, praticado na cidade de Nova York durante o governo de Rudolf Giuliani. É também um tremendo slogan publicitário, repetido ad nauseam por pessoas de baixa formação acadêmica, misturado às "every day theories" ou simplesmente com senso comum mastigado com pitadas de fascismo.
Adotamos, agora, "Tolerância Zero" para o álcool no volante. Como a maioria das últimas leis, é produto do relativo sucesso da esquerda punitiva no quadro político criminal brasileiro, que editou leis pesadas para punir "novas formas" de criminalidade. Esquerda Punitiva e Lei e Ordem, embora de lados distintos, andam de mãos dadas legitimando a idéia de que o sistema penal é adequado para resolver os complexos problemas sociais. Então Fundação Thiago Gonzaga e outras ONGs irão aplaudir, como as feministas aplaudiram a Lei Maria da Penha.
As discussões na mídia sobre o assunto mostram o quão ridícula é a situação. Estamos discutindo pessoas que tomam antidepressivos, moças que comem bombons de licor, amigo que toma um gole da cerveja do companheiro, enfim, situações absolutamente ridículas que deveriam acordar nossos "higienistas" para a irrealidade da exigência.
A lei coloca de cabelo em pé qualquer pessoa que se preocupe com a técnica adequada de tutela penal. Privilegia perigo abstrato (ou seja, ausência de perigo efetivo, mera presunção) em detrimento de perigo concreto (ou seja, existência real de perigo pela conduta do motorista), e ouviu-se até dizer que o "carona" poderia começar a ser punido, daqui a pouco.
De outro lado, nada, absolutamente nada se provou sobre os motoristas que dirigem com menos de 0,6% no sangue de álcool e, mesmo assim, causam acidentes. Essa seria a razão para a diminuição do patamar. Deveríamos provar que o limite do álcool era insuficiente, que esses motoristas eram causadores de acidentes; enfim, base empírica REAL. O que temos? Nada.
Por que, então, a lei foi aprovada? Simples: populismo punitivo. Aumentamos os bodes expiatórios e rimos deles (enquanto não formos nós), usando a legislação penal com finalidade "educativa". É isso que, infelizmente, por falta de diálogo vêm pregando movimentos sociais importantes como o feminista, ambiental, negro, homossexual, de diminuição da violência no trânsito, etc. Por ignorância, acabam usando o sistema mais ineficiente e débil da nossa sociedade como única forma de instrumentalização das suas reinvindicações legítimas. Com isso, perdem todos.
Infelizmente, problemas sociais são complexos. Há transporte público seguro e eficiente para todos? Há focos de cultura de violência contra a mulher? Um tipo penal acabará com a insegurança dos "machões" contra os homossexuais? O racismo tem diminuído com a criminalização? Todos esses problemas são imensamente difíceis, e não é o sistema penal, que é o que funciona pior de todos, que os resolverá.

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domingo, junho 22, 2008

CELSO ROTH, SIM

Todas as cautelas do mundo devem ser tomadas nos elogios a Celso Roth. O técnico costuma empolgar no início da competição e, ao longo de partidas decisivas, "inventar" coisas novas, recuar em demasia suas equipes ou simplesmente não conseguir fazer seu time reagir. Mas também é injustiça não reconhecer seus méritos.
Roth começou bem sua carreira, empunhando títulos com o Grêmio e imitando o estilo de Felipão, turrão com a imprensa, apreciador de marcação pesada e cabeça-dura nas decisões. Roth, no entanto, teve azar: não teve o mesmo sucesso de títulos de Felipão (que venceu, posteriormente ao Grêmio, p.ex., a Libertadores com o Palmeiras) e seu tempo foi passando, sem que seu estilo difícil fosse se justificando (ao contrário do seu mestre). Depois, não soube se reciclar, como fez Felipão que, hoje em dia, é um técnico de times compactos, não defensivos (vejam a seleção de Portugal, que tinha apenas um só marcador de força no meio, Petit, ou o Brasil de 2002, que jogou a primeira fase com Juninho na segunda função). O momento de Roth passou, assim como vai passando o de Tite, que também teve sua chance e não soube a agarrar, ficando preso aos seus "bruxos".
Será que Roth conseguirá se recuperar no Grêmio? Seu último título data de 2000, com o Goiás, há oito anos. E está há mais de dez anos, pelo menos desde 1996, na ativa. É hora de agarrar a chance. É hora de fazer o trem da história voltar, de embarcar no trem seguinte daquele que passou e já se foi.
Seu início está bom. O Grêmio hoje é um time organizado, e o maior mérito de Roth é ter onze jogadores titulares -- o que é muito difícil, embora pareça simples. Mais: o técnico mostrou que aprendeu a lição do início do ano e não inventou quando teve oportunidade, substituiu seis por meia dúzia (lateral por lateral, meia por meia e atacante por atacante, todos nas respectivas posições, sem improvisão) e manteve o esquema tático que deu consistência à equipe. Até acredito que Bruno Telles, por exemplo, jogue mais que Helder, mas isso é irrelevante.
O que interessa é que, aparentemente, Roth está pronto para finalmente emplacar. Não ficar como "eterna promessa" (como um Denílson dos treinadores), mas afirmar-se, mais velho, revendo os erros que impediram seu sucesso e o tornaram um dos treinadores mais detestados do país.
Se Celso Roth não inventar, mantendo a equipe como está e fazendo apenas alterações necessárias, pode ser que finalmente vença as resistências que sofre e desponte como bom treinador. Até agora, ele foi só um Denílson. Mas os gremistas esperam que ele seja um Mineiro.

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sexta-feira, junho 20, 2008

INDICIAMENTO DESCABIDO

É descabido o indiciamento do Secretário de Segurança e demais responsáveis pela superlotação do Presídio Central. Se alguém deveria ser indiciado, é o juiz da Vara de Execuções Criminais, que controla o número de presos. Além disso, o problema é estrutural, não individual. Chamamos de "esquerda punitiva" esse espectro político que usa a mesma estratégia da direita -- criminalização e discurso punitivo -- para resolver problemas profundos. Ambas tendências têm em comum seu caráter "cosmético", como diz Jock Young, por tratar problemas crônicos com soluções superficiais.
Não tanto "esquerda punitiva" quanto o oportunismo político fez deputado do PT reclamar que um dos assessores de Yeda tinha cumprido pena. Jogou o mesmo jogo sujo da política, em que vale tudo para atacar o adversário, e acaba caindo numa incoerência tão insuportável que teve que se retratar, em uma emenda que saiu pior que o soneto. Pior ainda são os cegos que não querem ver a burrada.
Como bem disse o ótimo Marcos Rolim, nem esquerda nem direita estão preparadas para lidar com o problema. O oportunismo político tem bloqueado o pensamento sério sobre crime e segurança pública.

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SIGUR RÓS, "Með Suð í Eyrum Við Spilum Endalaust" (2008)


NOVO ÁLBUM DO SIGUR RÓS é tão chato, tão chato, que mal e mal consegui agüentar ouvir inteiro. A banda se tornou, de vez, um objeto de desinteresse absoluto de agora em diante. Gostei apenas de uma música, "Fljótavíc". Acho que "Festival" é possivelmente uma das coisas mais aborrecedoras que já ouvi.
Sigur Rós? Fique com eles até "Takk" (2004), com aquelas belas melodias recheadas de guitarras grandiloqüentes, o cântico das baleias no oceano gélido. Esse novo disco é um empilhado de chatice após chatice, explorando o vocal que era exatamente o ponto fraco da banda. O som perdeu toda sua grandiosidade, toda climatização e experimentação que o colocavam num patamar de experiência sonora da diferença. Agora, ao contrário, é uma pastelice choramingada. Horroroso.

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CRISTIANO RONALDO PERTO DO MADRID

Segundo consta na mídia internacional, Cristiano Ronaldo, o melhor jogador do mundo, está bem próximo do Madrid. Ronaldo já até manifestou essa vontade em entrevistas.
Com Ronaldo no seu plantel, tudo indica que o Madrid irá decolar. Falta à equipe apenas um craque. O restante do grupo é sólido e tende a crescer: que o digam Robben, Sneijder, Gago, Sérgio Ramos (já um monstro), jovens hoje titulares das suas seleções, e outros que prometem, como Higuaín, Marcelo, De la Red e Drenthe. A aposta na juventude pode ter sido correta, mesclada com a experiência de Casillas, Raúl, Guti e Cannavaro. Nomes como Julio Baptista e Saviola (que, entretanto, acho que não deve ficar) são favoráveis para complementar o plantel, reservas que podem suprir com eficiência os titulares.
Ronaldo é a cereja do bolo que faltava. Robinho teve a oportunidade de ocupar esse lugar -- e estava quase conseguindo--, mas uma lesão acabou o prejudicando e a ausência de ritmo na volta comprometeu o resto da temporada. A verdade é que, após três temporadas no Madrid, Robinho não conseguiu se firmar como craque. E, por isso, talvez seja sacrificado por Ronaldo. Tudo indica que este se adaptará perfeitamente ao futebol mais cadenciado da Espanha, que dá maior liberdade aos atletas e não tem a velocidade do inglês.
Com o camisa 7 do Manchester, o Madrid deve formar a linha de meio-campo com dois volantes, dois meias e dois atacantes (Ronaldo e Robben; Raúl e Nistelrooy), ou três meias e um atacante (Ronaldo, Sneijder e Robben; Nistelrooy). Ficam bons reservas, mas ou o Madrid aposta de vez em Roberto Soldado, ou contrato um centroavante consistente para a reserva de Nistelrooy. Eu traria, ainda, mais um volante (para a reserva ou titularidade, ex. Xabi Alonso) e um zagueiro (apesar da fortuna gasta em Pepe, que sinceramente não se explica).
Com esses reforços, finalmente o Madrid pode voltar a disputar a cabeça da Champions, competindo de igual para igual com as equipes inglesas.

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quinta-feira, junho 19, 2008

O LIXO

Na famosa polêmica sobre os moradores de rua na Capital, o Cel. Mendes afirmou que todo "lixo social" cai nas mãos da Brigada Militar. Mendes foi hostilizado pela sua frase. Penso que, conhecendo a visão do coronel sobre o assunto, ele mereça parte da hostilidade. Mas pelo menos tem o mérito de não ter sido hipócrita.
A verdade é que existe uma escala da qualidade da vida. Determinados indivíduos são "super" ou "sobre"-cidadãos [a lei não atinge, está acima], outros simplesmente cidadãos [classe média] e outros são "sub"cidadãos [a lei não atinge, está abaixo]. Não é à-toa que a classe média gaúcha, leitora de ZH, usa o jargão-clichê do "cidadão de bem". No Brasil, é apenas essa parcela que está na linha da cidadania.
Motivações que me escapam me fizeram interessar por esses "subcidadãos". Essa "vida nua", que fala Giorgio Agamben, esses que são descartáveis, que não têm o direito a ter direitos, que não são "homens" [no sentido liberal do termo, do modo que falava Foucault]. Esses "não seres" são os varridos para baixo do tapete, o lixo que deixamos de fora dos nossos cálculos.
Foi por estudar eles, esses que ficam de fora, que perdi a crença no garantismo e na Constituição em geral. O Direito não chega nesse nível, não resolve, eles não são "humanos" para usufruírem os direitos humanos. Nessa fronteira, minha crença no Direito é nula. Esse limite, onde se exerce o "estado de exceção", é algo que me fez transbordar do simples discurso dos direitos fundamentais.
Escrevo isso pensando no caso das carroças. Li em um blog horroroso "os deputados que votaram contra a remoção dos carroceiros que atrapalham a vida do porto-alegrense". Qualidade da vida: os carroceiros não são "porto-alegrenses". Eles são "outra coisa". A vida deles é qualitativamente diferente, vale menos.
Reconhecer a hierarquia da vida é admitir que, ao lado do Direito, temos também poder. E esse poder se articula, se modula de acordo com a hierarquia da vida. É esse nível biopolítico que me interessa. É nesse nível que o Direito não chega. Esse "resto", esse "lixo" social está fora do Direito. Não tem ainda direito aos direitos. Quando você lê alguém falando de "cidadão", leia conjuntamente o "não-cidadão" -- esse lixo -- excluído.

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DOENÇA TOTAL!!!

18/06/2008 - 20h33
Família de mãe de Isabella nunca aprovou namoro com Alexandre
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PAULO TOLEDO PIZA
Colaboração para a Folha Online


A avó materna de Isabella, Rosa Maria Cunha de Oliveira, disse que cheques devolvidos de Alexandre Nardoni, 29, aliado à suspeita sobre a fidelidade dele, levaram sua filha, a bancária Ana Carolina Oliveira, a romper de vez o relacionamento com o pai da criança.
Em depoimento que começou às 17h40 e terminou às 18h34 desta quarta-feira, a avó de Isabella disse ao juiz Maurício Fossen, do 2º Tribunal do Júri do Fórum de Santana, que sua família nunca aprovou o relacionamento de sua filha com Alexandre. "Ele falava muita gíria e não estudava", afirmou Rosa Maria, de acordo com a assessoria do TJ (Tribunal de Justiça).
Segundo Rosa Maria, o estopim para o término do relacionamento ocorreu quando a bancária descobriu que Alexandre tinha 75 cheques devolvidos.
"Não quero isso para minha vida", teria dito Ana Carolina para a mãe.
Rosa Maria afirmou ainda que ficou horrorizada quando a mãe de Alexandre, Maria Aparecida Nardoni, lhe contou que certa vez o filho jogou Pietro --filho dele com Anna Carolina Jatobá-- de uma certa altura, porque o garoto teria mordido a irmã.

Ciúme

No depoimento, Maria Rosa revelou também que a mãe de Alexandre teria dito a ela que Jatobá sentia um ciúme doentio da mãe de Isabella. A avó materna acrescentou que sua filha só falava com a madrasta de Isabella por telefone e ressaltou que as duas nunca foram amigas. "Até porque, a Jatobá detestava minha filha". Por causa desses problemas de relacionamento, Maria Rosa disse que tanto a família Nardoni quanto a sua se preocupavam em deixar menina dormir na casa do pai.
O pai de Isabella e sua mulher são acusados pela morte da menina, que segundo a polícia foi jogada do sexto andar do prédio onde o casal morava, no dia 29 de março.
Retratação
Ao final da primeira hora de depoimento, Rosa Maria disse que se expressou mal à polícia durante o inquérito. Na ocasião ela afirmou que sua filha ficou doente porque havia terminado com Alexandre. Na verdade, segundo ela, queria dizer que Ana Oliveira teria adoecido devido a uma gastrite.
A avó materna de Isabella é a terceira testemunha ouvida hoje pelo juiz Maurício Fossen. Já prestaram depoimento Ana Carolina de Oliveira, mãe da criança, e o porteiro que trabalhava na noite em que a garota morreu, Valdomiro da Silva Veloso. O juiz dispensou o depoimento do marido de Rosa Maria, José Arcanjo de Oliveira, alegando que ele diria a mesma coisa que a mulher. A Promotoria acatou a decisão.

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quarta-feira, junho 18, 2008

COLUNA DO TOSTÃO: UM OÁSIS NO DESERTO DE IDÉIAS FUTEBOLÍSTICAS

Uma lástima, grande lástima, que os amantes do futebol não possam acompanhar seguidamente a coluna de Tostão na Folha, em face do acesso cerrado aos assinantes. Tostão escreve às quartas. Se não me engano, publica sua coluna também nesse jornal "O Povo".
O craque da camisa 9 na legendária equipe de 70 faz precisas análises táticas e técnicas, bem distante dos clichês habituais. Comparem, por exemplo, com as colunas do Wianey Carlet ou mesmo do Zini Pires, em conteúdo e substância. Tostão, além disso, é dono de idéias avançadas, defendendo um futebol ofensivo sem perder o equilíbrio, como jogaram as duas melhores equipes dos últimos tempos (Manchester e Barcelona).
É o único a perceber a pressão sobre a saída de bola como ingrediente fundamental do time ofensivo, e do pouco treinamento dos técnicos em relação ao aspecto. Aliás, Tostão também é o único que tem coragem de questionar os métodos dos treinadores da seleção, que empilham dois toques, coletivos e recreativos, mas não treinam contra-ataques, posicionamento defensivo e marcação-pressão.
Quando lemos Tostão, que pensar do Dunga? Um cara carrancudo, sem experiência como treinador, que briga imediatamente com seus dois maiores craques (Ronaldinho e Kaká), confunde esquemas táticos (disse que a maioria dos europeus joga no 3-5-2) e empilha Josué, Mineiro e Gilberto Silva no meio-campo da seleção.
Dunga, por gentileza, abra passagem para Anderson, Hernanes, Lucas, Pato e outros jovens, pois na seleção devem estar apenas aqueles acima da média. Inclusive na marcação, coisa que Gilberto Silva, por exemplo, deixa a desejar. Se é para convocar um experiente, chama nosso velho Emerson (a França ainda joga com Makelele, p.ex.), para aos poucos ir formando o meio com Lucas e Hernanes.
A seleção brasileira, atualmente, vive momento de transição, tal como a Holanda há dois anos e, hoje, a França, Portugal e Espanha. Os jogadores da antiga geração ou nem jogam mais (R. Carlos, Cafú, Emerson, Ronaldo, Zé Roberto) ou já estão em declínio (Gilberto Silva, Mineiro, Gilberto). Cabe começar, com pressa, a renovação. Jogadores como Lucas, Hernanes, Anderson, Pato, Wagner, Marcelo, Daniel Alves devem ir se juntando aos poucos aos grandes valores da equipe, a sólida dupla Juan e Lúcio, Kaká, Robinho e Adriano -- únicos titulares, além de Júlio César.
Não custaria a Dunga dar uma força ao Ronaldinho. É um craque que somaria muito, tornaria a seleção assustadora. Imaginem enfrentar uma seleção com Ronaldinho, Kaká, Robinho e Adriano seguidos, no banco, por Anderson, Luís Fabiano e Pato. Mas será que Dunga gosta dos craques?

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RECOMENDAÇÃO

Os leitores desse blog já costumam visitar os links ao lado, tais como Longe Demais das Capitais, Eu gosto mesmo é de vida real, O Biscoito Fino e a Massa, Get Personal with Fabs, entre outros.
Hoje acrescentei mais três links. São de amigos que vale a pena ler diariamente. "O Não Lugar", "Cartas de um Louco" e "Túnel no fim da luz" trazem um pouco mais de inteligência, reflexão e engajamento ético à nossa leitura cotidiana -- a leitura dos primeiros posts já será suficiente para o leitor se dar conta disso. São blogs ácidos, críticos, consistentes e humanos.
Tudo que precisamos para seguir adiante em meio a esse mundo-cão.

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segunda-feira, junho 16, 2008

INTERROGATÓRIO E TORTURA NA CPI

É engraçado a capacidade de rirmos dos nossos direitos e garantias. Ninguém gostaria de ser torturado numa investigação. No entanto, quando é o outro, tudo bem. Nossa sociedade contemporânea é, como bem nota o perspicaz psicanalista Joel Birman, sobretudo narcisista. O sujeito está impregnado de si mesmo na sua mônada e o registro da alteridade é anulado, gerando indiferença e predação do outro. Isso, do ponto de vista político, vem produzindo o que o gênio Eugenio Raúl Zaffaroni chamou, com a precisão costumeira, de "autoritarismo cool". Não é um autoritarismo como o do entre-guerras, estilo fascismo e nazismo, com um forte viés ideológico, frontal, mas um autoritarismo publicitário, moralista e baseado em slogans. Ele se alimenta, propriamente, de uma "greve do pensamento". É proibido pensar. Quem se atreve é mal-visto, pois esse autoritarismo se orgulha de ser rasteiro.
Eu mesmo já admiti meu "gozo" pela demolição desse Governo podre e conservador do Estado, mas é preciso evitar a posição de algoz. Quando nessa posição, normalmente tento estancar a situação e refletir sobre minha conduta.
Um interrogatório é uma cerimônia tremenda. Imagino que o cara naquela posição deva sofrer um bocado, estar realmente em uma posição degradante. Existem estudos criminológicos sobre o tema, inclusive. Por isso, estabeleceu-se em convenção internacional, com toda razão, que mais de 3 horas de interrogatório configura tortura. E configura mesmo. O filme "A Vida dos Outros" mostra bem isso. Ninguém resiste higidamente a um interrogatório de 5, 6 horas. Impossível. Tortura psicológica.
O que estamos vendo na CPI, no entanto, são interrogatórios de 10 ou mais horas. É totalmente desumano e inconstitucional. Inadmissível. Precisa parar. Não é possível que se continue interrogando os envolvidos por 10 horas. Os deputados que dêem um jeito de encurtar as perguntas, para com trelelé e ir direto ao ponto. Que elaborem perguntas por bancada.
G.D. advertia aqui que a questão não era de um partido ou outro, mas de delírio niilista. Até concordo com ele, mas em parte. Me preocupa, no entanto, que essa geração niilista ex-petista se enfia dentro de um moralismo raso, sem substância, e volta e meia quando resolvem opinar sobre alguma coisa é um deus-nos-acuda. Esses últimos posts estão de dar orgulho ao chapeuzinho da Veja. Na saga de se diferenciar os petistas, acabam abraçando os conservadores. Me preocupa esse niilismo.

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VOLANTES: EIS A QUESTÃO

Mauro Silva e Dunga, Dunga e César Sampaio, Emerson (Gilberto Silva) e Kléberson, Emerson e Zé Roberto. Essas foram as últimas duplas de volantes da Seleção, desde que Parreira "ousou" colocar dois cabeças de área no meio campo em 1994. Todos, durante os respectivos períodos, cumpriram satisfatoriamente as funções.
Dunga, por ironia um volante, se depara com uma situação distinta. Nenhum dos seus volantes -- Gilberto Silva, Josué e Mineiro -- mostra um bom futebol. Aliás, todos são discretos nos seus respectivos clubes. Todos esses com cara de "primeiro volante" estão em decadência.
O que vem acontecendo, e deve ser difícil para um cara como o Dunga perceber, é uma mudança no perfil dos volantes brasileiros. Nossos novos volantes são jogadores como Lucas, Hernanes e Anderson. Esses são os que vêm se destacando na Europa. São jogadores de perfil mais leve, que não se parecem com Makelele, Gattuso, Gravesen, Brocci, mas sim com Lampard, Gerrard, Pirlo, Fabregas, Iniesta e Gago. Sabem passar e vão à frente, correm menos e se posicionam melhor que os "cães-de-guarda". Não jogo fora o volante forte, mas, na ausência deste, é preciso adaptar o esquema a eles.
O Brasil deveria no mínimo contar com um desses três como titular, para os poucos ir entrando o outro. Gilberto Silva ou Mineiro poderiam seguir, um deles, titular, acompanhado de Lucas ou Hernanes ou Anderson. Dunga, se fosse bom treinador, deveria estar percebendo que o perfil do time deve mudar: não vale mais a pena, por exemplo, colocar três zagueiros para proteger os alas, como fez Felipão com Cafú e Roberto Carlos. Maicon e Gilberto são laterais médios. Por isso, ele deveria avançar os volantes, fazendo-os jogar no meio do campo mesmo (e não na cabeça da área, como joga o G. Silva) e segurando mais os laterais, para compor a defesa com Lúcio e Juan. Mineiro faria melhor esse papel acompanhado de Lucas, com Kaká e Diego logo à frente, e mais dois atacantes, dos quais Adriano deve ser um.
Na ausência de Kaká, Adriano deveria ser titular emergencialmente. O Brasil precisa de jogadores de assustem: Adriano, Robinho. Com esse grupo do Dunga, colocaria: Julio Cesar, Maicon, Juan, Lúcio e Gilberto; Mineiro, Hernandes, Anderson e Diego; Robinho e Adriano.

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domingo, junho 15, 2008

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Depois me perguntam porque eu acho a Veja uma revista de baixa qualidade, jornalismo rasteiro e delirante.
"Jornalismo" da Veja = "Filosofia" do Olavo de Carvalho.

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sábado, junho 14, 2008

ESPANHA SEM SANGUE NOS OLHOS

A Espanha pressionou o jogo inteiro e, finalmente, venceu, em uma bobeada do zagueiro sueco que resultou em belo gol do rápido e arisco Villa. Colocava a Espanha entre os possíveis candidatos ao título, além de Portugal e Holanda, mas esse jogo me deixou cético. Faltou mais sangue nos olhos aos espanhóis. Mais ímpeto. A sede por vitória da Holanda, que tem destroçado seus adversários em poucos minutos, não estava presente na "fúria". Dessa forma, apesar de estar diante da sua melhor geração, não leva de jeito nenhum.
Não há explicação plausível para o melhor espanhol da temporada, Cesc Fabregas, estar no banco. Marcus Senna não é melhor nem que Xabi Alonso. O meio deveria contar com Cesc, Xavi e Iniesta, três jogadores que juntos formam uma boa marcação e muita criatividade. À sua frente, os guris Villa e Torres. Com esse time e os voluntariosos Ramos, Marchena e Albiol atrás, a Espanha poderia ser candidata.
Mas, além de mal escalada, parece não estar na ponta dos cascos. Talvez cresça. Talvez não.

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BOMBA!!!



O novo do Coldplay é BOM. A banda que despertou maior interesse nos anos 2000 e que levou a expectativa do terceiro disco a níveis apocalípticos -- correspondentes à decepção do pop-xarope-baladesco "X&Y" -- retomou os bons trilhos com disco produzido por Brian Eno. "Viva la Vida or Dead and all his friends" é um belo trabalho, com alguns momentos mais fracos, mas bastante consistente e relembrando os melhores momentos da banda. "42", "Yes", "Chinese Sleep Chart" e "Strawberry swing" são temas inspiradíssimos, que realmente trazem algo de novo.
O disco não é bunda-mole e arrisca tons mais altos, passando por guitarras com reverb, temas instrumentais, vocais sem falsete, violinos cabíveis e uns toques mais agressivos, fazendo parecer que Mr. Chris Martin ouviu "In Rainbows", e gostou. Os finais grandiloqüentes continuam lá, seguindo a linha que foi explorada em "Rush of Blood to the Head" (2002) e "Parachutes" (2000), mas levado ao extremo ad nauseam no antecessor.
O Coldplay não abandonou o sonho de tomar o lugar do U2, após a aposentadoria deste, mas desta vez resolveu fazer o trabalho com classe, como nos melhores momentos da banda de Bono Vox.

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sexta-feira, junho 13, 2008

AVANÇANDO NO DEBATE: DESMILITARIZAÇÃO URGENTE DA POLÍCIA

Uma das prioridades da segurança pública no Brasil deveria ser uma reforma na polícia.
Inúmeros pesquisadores têm constatado que a polícia não sofreu qualquer mudança significativa desde o período da Ditadura Militar, abusando de métodos ilegais e inclusive da tortura, além de ostentar níveis inadmissíveis de corrupção. É uma instituição decomposta. O fato grave é que, por isso, como diz Zaffaroni, no genial livro "O Inimigo em Direito Penal", "a América Latina está ficando sem polícias".
Curiosamente, o debate em relação à segurança tem se focado exclusivamente na gravidade das penas e nos instrumentos processuais. Direito Penal e Processo Penal são apenas parte do problema criminal -- já deveríamos ter aprendido isso quando conhecemos o conceito de "cifra negra". Os conservadores só reclamam por mais prisões, penas mais altas, redução da maioridade penal, eliminação das garantias processuais, etc.
Não passa pela cabeça questionar o procedimento truculento e ilegal típico das polícias brasileiras. Elas não sabem investigar, não sabem planejar e não atuam dentro da lei. São totalmente ineficientes. Uma reforma das polícias passa por duas coisas: eficiência -- ou seja, planejamento estratégico, coleta de dados, melhora das técnicas de investigação -- e respeito aos direitos humanos -- que não se opõem à eficiência, antes a complementam, pois a ilegalidade no uso da força é vizinha da corrupção. O Luiz Eduardo Soares vem escrevendo muitos artigos sobre o tema, sugiro a leitura no seu site.
A primeira providência que está claro que deva ser tomada é a desmilitarização gradual (radical seria o ideal, mas acho politicamente inviável) da polícia. Polícia é CIVIL, e não militar. Polícia e exército não são a mesma coisa. Exército tem suas funções, e são distintas daquelas durante o tempo de paz. O Brasil tem Polícia Militar porque teve Ditadura Militar, herança cretina que ainda não conseguimos nos livrar.
Precisamos de polícia civil e comunitária, eficiente e legalista, atuando próxima à comunidade para poder planejar suas ações, bem remunerada e não corrupta, legalista e não torturadora, capaz de investigar e não apenas colher burburinhos e confissões. Para isso, precisamos começar a discutir polícia. Mas, infelizmente, o tema é bloqueado pelas corporações e pelo grande público, que apóia a violência policial e quer aumento de penas.
Penas graves e alta taxa de prisões não resolve. Comparem as taxas de encarceramento e o total de penas dos EUA com os de Portugal, e as respectivas taxas de homicídio. Penas e prisões têm taxas muito maiores nos EUA, mas os homicídios são 10 vezes mais freqüentes que em Portugal, com pena máxima de 20 anos. A comparação não mente. Há "muitas coisas entre o céu e a terra" que a vã filosofia penal não consegue alcançar.
Clausewitz certa vez declarou que a guerra é assunto muito sério para ser deixada na mão dos militares. Deveríamos aprender sua lição: segurança é assunto muito sério para ficar na mão da polícia.

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quinta-feira, junho 12, 2008

GESTÃO DA SEGURANÇA NO RS: RUMO AO FASCISMO?

Andamos mal das pernas. Quem lê este blog acompanha, desde o início do Governo Yeda, as críticas que venho fazendo à política de segurança do Governo, uma das mais fundamentais de atribuição estadual. Yeda liberou geral, de vez, a Brigada Militar para fazer o que sabe fazer: truculência.
No início da gestão já ficou clara, com a nomeação de Enio Bacci, a opção por uma política de arbitrariedade "contra os bandidos". Depois, o reverendo Mallmann, com seu discurso quaker de cruzada contra o álcool. Agora, dando carta branca ao Cel. Mendes, que sustenta um discurso claramente tributário ao período da Ditadura Militar. Quem contesta a ordem é vagabundo, quem está à margem deve ser preso, a BM recebe o "lixo social". Uma vergonha.
Infelizmente, os episódios de hoje representam que, na área de segurança, o Governo Yeda beira ao fascismo. É muito, mas muito pior que os Governos Britto e Rigotto. O "liberou geral" para a BM significa abusar da força, usar a truculência, adotar estratégia agressiva. O pior é a extensão do controle penal que este blog já denuncia há tempos: não são apenas pessoas diretamente envolvidas com crimes, mas todas elas estigmatizadas que constituem problemas sociais (flanelinhas, moradores de rua, camelôs, etc.) e mesmo aqueles que protestam contra a situação atual (movimentos sociais). Para o Cel. Mendes, é tudo igual, está tudo no mesmo saco, todo mundo deve ser preso. O objetivo, afinal, é deixar a classe média mansinha.
Mesmo que tenham ocorrido incidentes de destruição de coisas, a conduta da Brigada Militar é sistemática na truculência. E agora está liberada. É óbvio que o tratamento que a Polícia dá aos manifestantes interfere na reação destes. E, até hoje, poucas vezes se viu tanta violência, especialmente com destaques claros de violência policial. É triste. Parecem os dias da Ditadura. Até porque o carro de som que protestava contra a Governo foi simplesmente "apreendido". Por quê? Não sei. Não dá, né?
Yeda concorda com tudo isso. Yeda está feliz de impedir, com base na porrada, manifestações contra o seu Governo. Yeda é uma autoritária demente. Eu digo isso há tempos, pessoal. Ela não está nem aí. É autoritária. O insucesso político do seu Governo (até no "gabinete da crise") mostra seu temperamento insuportável e a tendência ao canetaço. Yeda está gostando de Mendes.
Tenho meus problemas com o PT. Não gosto da ala xiita, de Rosseto, Pont e Olívio. Mas hoje me orgulho de dizer: VOTEI EM OLÍVIO DUTRA. Votei e votaria de novo. Só o fato de não ter votado nessa fascista nojenta já me orgulha, por si só, como deve ter se orgulhado um paulista que não vota no Maluf, indepedente de votar no PT ou PSDB. Me orgulho em dizer: não contribuí para esse lixo.

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quarta-feira, junho 11, 2008

EUROCOPA: ALGUMAS APRECIAÇÕES

Até agora, vi poucos jogos da Euro. Portugal mostrou ser um time competitivo e talentoso. Começou hesitante, como quase sempre começam os times de Felipão, mas também costumam terminar rangindo os dentes e disputando o título. Ronaldo jogou bem, Deco foi muito bem e, de resto, a equipe foi eficiente. Quaresma, Nani e Moutinho são jogadores que não deixarão saudades de Rui Costa e Figo. Falta uma zaga mais segura -- Pepe, para minha tristeza zagueiro do Madrid, está sempre desorientado dentro da área no jogo aéreo, não tendo aprendido que se marca o atacante, e não a bola. Resultado: sempre há algum atacante adversário livre. A República Tcheca, por outro lado, mostrou que tem uma equipe consistente, mas inferior ao poderoso time que tinha como grandes craques armadores Pavel Nedved e Poborsky. Portanto, não deve ir muito longe.
A Holanda, como comentei, mostrou organização e poderio ofensivo, além de um contra-ataque mortal. Conta ainda com Arjen Robben no banco. Van der Vaart e Sneijder podem ter seu grande momento. A Itália, por outro lado, terá que se endireitar, mas quem aposta contra a Itália?
Suécia e Grécia são equipes médias, a primeira contando com o ótimo Zlatan Ibrahimovic; a segunda, mostrando que sua vitória na Copa anterior foi um aborto da natureza. A França foi uma decepção, mas acredito que crescerá ao longo da competição, especialmente com os ágeis atacantes Benzema, Henry e Rybery.
Por fim, não vi a Espanha nem a Alemanha. Espero uma boa competição da Espanha. Tem um time próspero. Nada explica a decisão, no entanto, de Aragonez de manter Fabregas, o melhor espanhol da temporada, no banco. Um meio-campo com Fabregas, Xavi, Iniesta e Silva, com Fernando Torres e Villa à frente. Não faz sentido Marcus Senna de titular.
Aposto, portanto, nas "zebras" Portugal, Espanha e Holanda e na "favorita" França. Acho que dessa vez as hegemônicas Itália e Alemanha não levam. Acho.

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REESTIMATIVA DOS DADOS DA AIDS (BIOPOLÍTICA - ISSO EXISTE?)

A FOLHA DE SÃO PAULO comentou a notícia de que os dados sobre a Aids revelarem que o risco foi superestimado pelos médicos por razões de prevenção. O foco sobre os "grupos de risco", nomenclatura que foi abandonada ao longo da década de 80, estaria mais adequado que as generalizações atuais.
Haverá o dia em que semelhante fenômeno ocorrerá em relação às drogas. É nítido o exagero do discurso médico-psiquiátrico em relação ao problema -- que existe, como o da Aids existe; e é grave, como a da Aids é grave. Não é a primeira nem será a última vez que os médicos assumem a tarefa de salvadores/melhoradores da humanidade. O problema é, sempre, a histeria. "Biopolítica", quem sabe, ganhe mais sentido.
Segue abaixo o editorial:

A política da Aids
PELA PRIMEIRA vez a Organização Mundial da Saúde (OMS) admite que o risco de uma epidemia global de Aids entre heterossexuais é bastante reduzido e que as estratégias de prevenção promovidas pelas principais organizações de combate à moléstia podem ter sido mal focadas.Os indícios de que os números da Aids estavam superestimados não são novos. No final do ano passado, a própria Unaids (a agência da ONU para lidar com a moléstia) corrigiu sua contabilidade e baixou a estimativa de infectados de 39,5 milhões (2006) para 33,2 milhões (2007).Nos últimos meses, epidemiologistas, entre eles um ex-dirigente da OMS, vêm lançando fortes críticas ao trabalho das organizações e dos ativistas anti-Aids. Sugerem que, por força de lobbies, foram cometidos erros no combate à doença.Um exemplo de enfoque equivocado seria o das campanhas educacionais voltadas para a população geral. Exceto pela África subsaariana, o risco de contrair Aids numa relação heterossexual é baixo. A transmissão só ocorre em uma de cada 500 a 1.000 cópulas com parceiro infectado. Teria feito mais sentido investir fatias maiores do orçamento em peças publicitárias dirigidas a grupos de risco, como homossexuais masculinos, usuários de drogas injetáveis e prostitutas e seus clientes.Ocorre que, após as primeiras caracterizações da Aids como "peste gay" no início dos anos 80, médicos e ativistas julgaram oportuno ilidir o preconceito. Para tanto, trataram de desconstruir a noção de grupo de risco. Nunca é boa prática deixar que dados científicos sejam contaminados por decisões políticas, por mais corretas que sejam.É fato que a Aids, por afetar um público influente, sempre recebeu atenção desproporcional em relação a outras doenças. Mas é igualmente inegável que, também por força de lobbies e de seus exageros, o mundo respondeu de forma no geral adequada à irrupção da Aids, que, mesmo despida de excessos retóricos, permanece um grave problema de saúde pública.

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terça-feira, junho 10, 2008

A FORMAÇÃO DO "GABINETE DA CRISE"

A formação do "Gabinete da Crise", com a imprensa mansinha querendo a recuperação do desastre político que é Yeda Crusius (Quem não sabia disso? Quem não sabia que seria assim?) apenas repete aquilo que escrevi por aqui desde o início do ano passado:

De todos os candidatos da eleição do RS, talvez Yeda Crusius (PSDB) era quem me
despertava a maior repulsa, ao lado de Francisco Turra (PP). Tratam-se de legítimos "sweet neocons", para usar a expressão que os Stones cunharam no último álbum.

Mas Yeda foi eleita, e agora é hora de tratar o cenário político gaúcho. O que vem acontecendo no RS, há muito tempo, é a eleição de um mesmo grupo político que põe fantasias diferentes. Desde o Governo Simon, com breve interrupção no Governo do PT (eis um dos porquês de tanta raivosidade na oposição), o mesmo grupo homogêneo governa -- PMDB, PTB, PP, PFL, PSDB e PDT dividem cargos nas Secretarias de Estado. Troca apenas a cabeça da chapa.E como governam? Empurrando com a barriga. Após acomodar as bancadas fisiológicas, normalmente aumentam um ou outro imposto, deixam as corporações policiais mandarem na segurança, fazem acordos com os outros Poderes para manter o status quo, cortam meia dúzia de despesas e mandam a PGE proscrastinar as ações judiciais. Tudo em clima de serena cordialidade e "harmonia" gaúcha. Não sendo o Governo dos petês, tudo está beleza.Qual era a minha esperança? Que a Dama de Ferro rompesse com isso, pelo menos. Se não teremos um Governo com vínculo social, capaz de medidas que caminhassem para a esquerda, pelo menos poderíamos ter um Governo de "tesoura", capaz de enfrentar setores corporativistas e clichês gaúchos (por exemplo, não se aumenta imposto) que nos travam há anos e colocam o Estado em uma crise de vem desde Jair Soares. Enquanto tivermos pensionistas e servidores recebendo 30, 40 mil reais, nunca vamos pra frente. Em nenhum outro Estado é tão claro que a despesa com folha de pagamento de servidores não só é excessiva, como (principamente) mal distribuída.

Inicialmente, o ímpeto antipático de Yeda pareceu mostrar isso. Vejam: conquanto antípota ideológico do Governo, não sou burro. Sem uma elevação da carga tributária e medidas de tesoura, não há como tirar o Estado do atoleiro. Isso significa suportar por três a quatro anos uma violenta carga tributária, que pode ser reduzida ao longo do tempo.Mas o que de fato aconteceu? Yeda foi eleita com uma base e aliados que não tem nada a ver com isso. Yeda se elegeu com o mesmo grupo político que vem nos governando desde Jair Soares, com a breve interruptação do PT (sem entrar no mérito se foi boa ou ruim). Aliás, a própria Yeda mentiu descaradamente nas eleições, ao afirmar que não aumentaria impostos. Ou seja, fez o jogo das suas bases política (aliados) e eleitoral (classe média e alta) para vencer a eleição -- e depois "mudou de idéia".

O que acontece é que o início do Governo tem sido um desastre. E por um motivo bastante óbvio: Yeda é um desastre. Prepotente, arrogante e fascista são adjetivos que combinam com o seu tipo de personalidade autoritária, personalista e pseudotécnica (aliás, essa questão do "técnico" mereceria um post, sobre a "neutralização" da política). Resultado: sua base já se desarticula, secretários se vão antes mesmo de assumirem e, ao que parece, ela estará desgastada em menos de um ano. Ao invés de reviver a idéia de "pacto", que pressupõe negociação, conversa, diálogo, compromisso, Yeda preferiu o estilo do canetaço autoritário, bem ao estilo "dama de ferro".

O que temos agora? Um quadro desastroso de governo sem estrutura, da qual destaco apenas a nomeação vexatória de Enio Bacchi, um total despreparado para o cargo de Secretário da Segurança, que certamente irá comer nas mãos das polícias e, por isso, nada mudará (o que é a pior notícia possível para segurança).

Os irresponsáveis que votaram no "anti" agora carreguem a responsabilidade. Ela é de vocês, queiram ou não.

Com isso, Yeda entrega aos "donos do poder" gaúchos aquilo que lhes pertencia. E deveria ser de todos. Aliás, notaram quem é o representante do PMDB?
Quem se atreve a questioná-la?

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segunda-feira, junho 09, 2008

LADYTRON, "VELOCIFERO" (2008)



Já anunciei aqui o novo álbum do Ladytron, banda de Liverpool com alguma cancha nas pistas indies. "Velocifero" tem o notório ímpeto dançante do conjunto, buscando sinalizar a partir de sintetizadores pesados uma atmosfera suja e dark, mas ao mesmo tempo bastante sensual. Situam-se em algum lugar entre a agressividade do industrial, o peso e embalo do techno do final dos 90 (leia-se, por exemplo, Prodigy) e o shoegaze, convertendo as famosas paredes de guitarras em trovoadas de sintetizadores. Tudo, como já disse, muito escuro e sexy.
O álbum, diga-se a verdade, peca por alguma irregularidade. O próprio single "Ghosts" é incompreensível, das faixas mais fracas do álbum. Entretanto, temas como "Black Car", "Runaway" e principalmente "Season of Illusions" e "Predict the day" são bons demais, desses de fazer os nervos vibrarem e agitarem qualquer danceteria cheia de gente de cabelo estranho, camiseta preta, calça jeans e tênis allstar. Enfim, festa de gente legal.

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HOLANDA E ITÁLIA, PRIMEIRO GRANDE JOGO

Se não vinha sendo jogado grande futebol na Euro até agora, certamente o clássico Itália e Holanda abriu o ciclo. Atuação devastadora do time de Van Basten, explorou com perfeição os contra-ataques a partir de arrancadas súbitas de Van Bronckhorst, soube infriltrar-se e segurar a bola com três meias próximos aos atacantes, as promessas Sneijder e Van der Vaart e o eficiente Kuyt, que fez bela partida com bons lances. A defesa foi equilibrada e eficiente. O time italiano simplesmente não jogou, carente de criatividade [que falta faz Totti!], por ter usado os meias do Milan [cuja temporada deveria ter provado não valer a pena].
Aliás, para não ficar dizendo toda hora, sugiro ao leitor consultar o arquivo do blog e ver quantas vezes Van der Vaart foi citado como grande promessa, e há quanto tempo.
Se mantiver o nível, a Holanda se credencia à candidata ao título, ao lado das fortes Itália [que sempre cresce ao longo da competição], Alemanha [sempre], França [de atuação lastimável], Portugal e Espanha [será que dessa vez vai? Com Fabregas e Torres, de repente o time embala].

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domingo, junho 08, 2008

SADISMO

Admito meu gozo sádico enquanto a casa cai aqui no Sul. A situação chegou a um patamar que nem o jornal chapa-branca pode esconder o assunto.
Sinceramente, pelo que tenho ouvido falar do caso, a coisa pode esquentar ainda mais.
De minha parte, desejo que toda essa corja política que (venho escrevendo isso aqui há tempos!) governa o RS há muitos anos vá para o inferno.

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quarta-feira, junho 04, 2008

MAIS GÁS PARA AS PISTAS

Depois do Hercules and Love Affair, é hora de uma palhinha da deliciosa banda de Liverpool, o Ladytron, que continua a sua saga de música suja e dark para as pistas de dança. Para embalar qualquer pista em que as pessoas vestem predominante preto, têm cabelos estranhos e gostam de sentir guitarras pulsando ao ouvido.



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VALE A PENA LER

Coluna do ELIO GASPARI hoje, publicada em diversos jornais:

ELIO GASPARI

O homem da ONU ganhou um Caveirão

A marquetagem da "guerra" e uma polícia com um pé no crime envenenam a segurança pública


O CORONEL PM Marcus Jardim, chefe do 1º Comando da Área da Capital do Rio de Janeiro e rotundo quindim da política de segurança do governador Sérgio Cabral, gosta de gracinhas. Em novembro de 2007, quando comandava um batalhão em Olaria, anunciou que "este ano será marcado por três pês: Pan, PAC e pau". Em abril passado, depois que morreram nove "supostos traficantes" numa operação policial contra um morro, o coronel informou que a PM é "o melhor inseticida social". Numa cidade onde a manipulação da histeria produziu a maldita e inexplicável figura do "suposto traficante", fazia-se necessário um coronel engraçado.

Seu melhor momento deu-se em novembro, quando recebeu no quartel o professor Philip Alston, fiscal das Nações Unidas para questões relacionadas com execuções sumárias. Diante da imprensa, presenteou-o com uma miniatura do "Caveirão", aquele blindado que dá aos coronéis da PM do Rio a sensação de comandar os tanques do general George Patton na Itália. Dando voz à inteligência de sua piada, anunciou: "Quem não gosta do Caveirão gosta de maconha. Quem não gosta do Caveirão gosta de cocaína". Ou ainda: "O que nós vivemos é uma guerra urbana".

O coronel desperdiçou valentia, pois Alston não estava sob sua jurisdição. Nascido na Austrália, ele é professor da New York University, já passou uma temporada em Harvard e há poucos dias concluiu a versão preliminar de seu relatório sobre o Brasil. Não fez referência ao mimo que recebeu, mas mencionou a filosofia pesticida do coronel Jardim. Parece até que Alston coordenou seu trabalho com a milícia da favela Batan. Disse o seguinte, referindo-se ao Brasil, não apenas ao Rio:"Uma das principais razões da ineficiência da polícia na proteção dos cidadãos diante das gangues está no fato de freqüentemente aplicar violência excessiva e contraproducente quando está de serviço. Fora do serviço, participa daquilo que resulta no crime organizado".

Alston visitou o Rio depois da ocupação militar do Complexo do Alemão, onde morreram 19 pessoas. Relatou que ninguém lhe mostrou uma só prova de que essas mortes tenham sido investigadas. A crítica de Alston vai ao coração da política do governador Sérgio Cabral e da cenografia do coronel Jardim:"No Rio, muitos funcionários consideraram a operação do Complexo do Alemão um modelo para iniciativas futuras. Seus resultados reais são dignos de nota: os maiores traficantes não foram presos nem mortos, e poucas drogas ou armas foram capturadas. (...) Na medida em que a operação do Complexo do Alemão reflete a estratégia central do governador do Rio, ela é orientada politicamente e resulta em policiar de acordo com as pesquisas de opinião. Ela é popular junto àqueles que buscam demonstrações de força e resultados rápidos. É irônico que seja contraproducente. Vários policiais experientes com quem eu falei mostraram-se muito críticos dessa idéia de "guerra'".

Quem não lembra da figura de Anthony Garotinho em 2004 cantando vantagem depois que sua polícia matou cinco na Maré? Dizia assim: "O papel da polícia não é fugir do bandido, é enfrentá-lo". Era a tal da linha do enfrentamento reciclada pelo doutor Sérgio Cabral. Afinal, no combate ao crime, Cabral e Garotinho sempre estiveram juntos.

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terça-feira, junho 03, 2008

HERCULES AND LOVE AFFAIR

Eles estão bombando nas críticas mundiais e se introduzindo nas pistas para ser o Justice de 2008. As batidas são bem embaladinhas e o vocal segue uma linha soul, tudo bastante divertido.


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NO FRIO, NADA MELHOR QUE UM BOM CAFÉ.

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segunda-feira, junho 02, 2008

SEGUNDA-FEIRA COM MÚSICA

Gravação bastante ruim (certamente amadora) do encontro das bandas queridas da casa Blonde Redhead e Interpol, tocando a magnífica "23". (Essa é a versão com melhor áudio das que estão no youtube).




Saudades de Londres... onde rolam essas coisas.

Para quem quer ter uma idéia da bela música no original, aí vaí (VALE A PENA CONFERIR):


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