Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, outubro 17, 2008

POLÍCIA E POLÍTICA: QUESTÃO DE ESTADO

ONTEM A POLÍCIA civil e a polícia militar paulista entraram em conflito, tendo esta reprimido manifestação política daquela. A questão é deveras preocupante e não está sendo levada a sério por nenhuma das partes envolvidas.
Não foi à-toa que Walter Benjamin certa vez identificou o poder do Estado com a polícia, a verdadeira fonte do monopólio estatal da violência. Eis por que o poder de polícia é o reflexo mais claro do poder soberano e precisa ser limitado na sua infinita possibilidade de violência (até matar sem cometer assassinato, como bem nos ensinou Giorgio Agamben em "Homo Sacer - o Poder Soberano e a Vida Nua"). Para nós, brasileiros, golpeados na nossa democracia em 64 pelo exército, a questão deveria estar ainda mais clara (ainda que a amnésia goebbeliana de alguns queira realmente fazer parecer que o golpe foi "contra-golpe"). Basicamente, a polícia tem armas -- e aqui há muito problema.
Surpreende, por isso, a pouca seriedade da atenção ao problema. Não é apenas uma questão de salários que está em jogo. O Governador José Serra nega-se a negociar e com isso corre um risco muito alto. A oposição aproveita-se politicamente do episódio. É inadmissível. Ambas as partes deveriam reunir-se e negociar com a polícia, sob pena de a crise tomar dimensões muito maiores e inadmissíveis.
Tudo isso reflete uma coisa: a questão policial - que é um dos nervos centrais do Estado de Direito - é subestimada e mal-tratada no Brasil. Deve ser vista como questão de Estado, transcendente aos governos, e lidada de forma conjunta pelos partidos, até para agüentar o tranco da pressão corporativa que virá diante das mudanças. No entanto, tudo fica como está: Governo autoritário joga policiais contra policiais, paga mal e não senta para dialogar; oposição aproveita a inabilidade política e usa o fato como capital eleitoral. Enquanto isso, a população fica sem segurança decente, a polícia é estigmatizada e mal-remunerada e, por outro lado, mantém suas estruturas podres de corrupção e bagunça de gestão.
Um dia, quem sabe, possamos tratar as coisas com a devida seriedade.

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