Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, outubro 06, 2008

SOBRE AS ELEIÇÕES (II) - PORTO ALEGRE - QUANTO CEDER PARA VENCER?


É POSSÍVEL QUE A PERGUNTA sobre a relação entre meios e fins tenha se tornado a mais clássica de todas na filosofia política, pelo menos desde "O Princípe" de Maquiavel. Os fins justificam os meios? Não pretendo dar uma resposta ao dilema, embora tenha minha opinião a respeito, mas tecer algumas considerações sobre o segundo turno em Porto Alegre ponderando se vale a pena arriscar tudo para obter nada.
Contra a "onda roxa" de Manuela (PC do B, PPS), que parecia inexorável e em crescimento, o PT foi bem sucedido em estancar o movimento e chamar sua base ao voto. Eu mesmo, confesso, votei em Maria do Rosário porque temia um segundo turno em que votaria nulo. Ou seja, fiz voto útil. Pelo amadurecimento político que mostrou nessa eleição e pelas mesmas razões que me levariam a votar em Gabeira (post abaixo), teria votado em Luciana Genro (convido quem me acha purista e xiita e verificar os artigos antigos do blog e ver quantas vezes critiquei as posturas de Luciana e o PSOL nos últimos anos).
O problema é que a dificuldade do PT em dialogar com outros partidos (especialmente no RS) acabou cindindo a base política e não haverá transferência automática dos votos do PC do B (significativos 15%), que normalmente pertenciam ao PT. Agora, ao contrário, a polarização do primeiro turno poderá ocasionar o deslocamento dos votos de Manuela para Fogaça, que com sua apatia desperta uma espécie de voto também apático, uma espécie de voto na "neutralização da política".
Não é possível que as pessoas não enxerguem a total nulidade que foi o mandato de Fogaça, o quanto a cidade ficou girando no vazio sem direção alguma. O que protegeu Fogaça foi uma mídia complacente e a própria antipatia com o esquerdismo da política da capital. O eleitores da direita, no entanto, foram suficientemente tímidos para recusar a projeto petista sem acatar a alternativa realmente conservadora (Onyx - éca!), preferindo ficar nessa espécie de "meio termo" onde nada acontece.
Creio que a primeira decisão de Maria do Rosário foi sábia no segundo turno: afastar qualquer possibilidade de participação do PPS na chapa. Para quem não se lembra, o PPS é aquele partido composto por Britto, Proença, Berfran, Odone e Busatto (maiores informações, favor acessar o NovaCorja). Maria do Rosário aposta na cisão da aliança e adesão de Manuela ao projeto petista (coisa que deveria ter acontecido desde o início, com uma aliança costurada em nível federal que colocasse Maria na cabeça e Manuela de vice, chapa de poderia derrotar Fogaça). Os votos da Luciana Genro naturalmente se deslocarão, a maioria pelo menos, para o PT.
A disputa, no entanto, se anuncia cruel. A apatia é muito grande. O cansaço dos 16 anos de PT gerou uma cidade com alergia à política. Conquistar esses votos será muito difícil. O PT perdeu mais que imagina em Porto Alegre com o escândalo do mensalão. Aqui realmente (esse estudo está para ser feito - favor algum jornalista ou cientista social) os escândalos do Governo Federal produziram significativos efeitos (lembram que Lula perdeu para Alckmin?) e geraram um descontentamento com o PT. É provável que não se consiga reverter.
É possível reverter? É. Mas acredito que não vale a pena embarcar em canoas furadas (p.ex., associar a campanha ao Onyx) para vencer de qualquer jeito. É melhor perder dignamente e se apresentar como projeto viável para 2012. Com o término do Governo Lula e uma certa "pax" que se anuncia, estará aberto o caminho para o PT retomar a prefeitura, desde que costure bem alianças, não cometa significativos tropeços e se apresente nesse segundo turno como um partido que está preocupado fundamentalmente com as questões sociais profundas, marcando espaço político numa polarização de esquerda. Não é, no entanto, o que prevejo. Acho que a campanha vai continuar estimulando o debate "administrativo-social", como se escreveu na Folha hoje, sem a devida polarização, e tudo isso vai esfriando a verve política porto-alegrense.
Espero, no entanto, estar errado.
Sobre o meu voto, posso dizer que surpreendentemente concordo com o insuspeito NovaCorja.

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