Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, fevereiro 29, 2008

PAZ NO FINAL DO DIA - UMA RECOMENDAÇÃO

Eles vêm da Suécia e tem dois álbuns no catálogo, do qual só ouvi o primeiro homônimo, datado de 2005. Na realidade, acabo de conhecê-los, foi hoje mesmo pela manhã, ouvindo no last.fm uma rádio com artistas parecidos com Sonic Youth [semelhança que, "data venia", inexiste]. Chamam-se pelo estranho nome Sambassadeur.
Fazem "indie pop", como seus conterrâneos Peter, Bjorn & John, por exemplo, e aproveitam para surfar nas diversas referência que saltitam sob esse rótulo que não significa absolutamente nada. Seu disco parece surfar bem próximo do twee pop dos Belle & Sebastian, mas com um recheio maior, próximo ao dream pop que, por exemplo, os Blonde Redhead abusaram no ano passado. Pelo que ouço no seu myspace, investiram em camadas mais sintéticas, algo próximo de New Order, no segundo álbum. Variam.
Fosse apenas isso, não me chamaria atenção. Mas é que essa música, cuja audição é possível clicando logo abaixo [não há clipe disponível no youtube], cheira até os ossos Jesus and Mary Chain [fase "Darklands"], ainda que mais etéreo, e me impressionou.
Vale a pena ouvi-la.



SambassadeurStill Life Ahead

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QUAL É O MAIS FORTE?

O Blog do Wianey propõe um exercício interessante de comparação entre as equipes do Grêmio do ano passado e desse ano. Basta escalarmos as três equipes desde então:
Saha; Patrício, Teco, William e Lúcio; Gavilán, Lucas, Tcheco, Diego Souza e Carlos Eduardo; Tuta. Técnico: Mano Menezes.
Saha; Bustos, Léo, William e Hildalgo (Telles ou Pico); Eduardo Costa, Sandro, Tcheco e Diego Souza; Tuta e Jonas (Marcel). Técnico: Mano Menezes.
Victor; Paulo Sérgio, Léo, Jean e Hidalgo; Eduardo Costa, William Magrão (Júnior), Dos Santos e Roger; Soares e Perea. Técnico: Celso Roth.
Saha era um goleiro apenas mediano. Victor talvez o supere. Paulo Sérgio não deixa a desejar em relação a Bustos e é melhor que Patrício. Aliás, a lateral-direita é uma posição escassa [basta ver que o melhor lateral-direito do mundo atualmente não é da posição, Sergio Ramos]. Jean vai ter que comer bastante feijão para chegar ao William. A conferir. Pelo pouco que me lembro dos seus tempos de São Paulo, William era superior. Segue Hidalgo. Ou seja, a defesa mais ou menos se equivale, com um prejuízo razoável pela perda do William.
No meio campo, as coisas ficam um pouco mais complicadas. Eduardo é melhor volante, indiscutível. Mas William Magrão não é melhor que Sandro, muito menos que Lucas. Dos Santos será tão bom quanto Diego Souza ou Tcheco? O certo é que o time mudou um pouco a características, porque os dois últimos, oriundos da segunda função do meio campo, marcavam bastante, enquanto Roger marca bem menos. Nada, porém, que não possa ser arrumado com um esquema adequado, em que os três jogadores do meio compensem.
Por fim, o ataque é muito melhor. Pelo pouquíssimo que mostraram Perea e Soares, já estão na frente de Tuta, Marcel e Jonas, ressalvado o Carlos Eduardo, que teria vaga de alguma forma aí.
Conclusão: o time é bom?
Com ligeiras perdas no meio campo e na defesa e melhora no ataque, a equipe se mantém num patamar razoável, estando mais ou menos no mesmo patamar.
A questão é: eu insisti o ano passado inteiro para o fato de que a equipe do Grêmio não era muito forte como gostaríamos. Estar no mesmo nível significa, em outros termos, que temos time para a Sul-Americana.
É pouco. O Grêmio precisa de time para disputar o título ou, no mínimo, conseguir vaga para a Libertadores. Dois ou três grandes reforços seriam suficientes para formar uma equipe capaz de disputar frente a frente com São Paulo, Palmeiras e outros times que se reforçaram bastante.

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DESINTERESSE

Até eu mesmo estou estranhando meu desinteresse pelos lançamentos desse ano. Já ouvi algumas vezes o novo da Cat Power, mas seu repertório de covers [incluindo uma versão bacana de "New York, New York"] é bem inferior aos dois últimos álbuns de composições próprias, "The Greatest" (2006) e o meu querido "You are Free" (2003), que entra entre os melhores da década feito por calcinhas, junto com "Carbon Glacier" (2004), da Laura Veirs, e "White Chalk", fenomenal lançamento do ano passado da PJ Harvey.
Mas aí você vê as outras opções. Tem um tal de Vampire Weekend, que mistura post-punk com África. Não, obrigado, eu nem gosto de Talking Heads. The Raveonettes não sabia que era vazado, até achava que era do ano passado. O álbum é bom, mas absolutamente mais do mesmo. Parece um "Chain Gang of Love" (2003) versão 2.
Tem o novo do Destroyer, que andam elogiando. O cara -- que integra também a banda de powerpop canadense The New Pornographers -- já não me convenceu no seu aclamado álbum anterior. Então, está pegando uma má vontade. British Sea Power, outra com lançamento, é uma banda que considero xarope. Não consegui gostar de uma musicazinha sequer. E tem o Elbow. Pessoas, tem coisa mais chata que o Elbow? É uma banda do tiozões que parece um Coldplay tocando rock progressivo. Já falei mal deles aqui e aqui.
Resta alguma coisa? Sim, baixei o novo das Breeders. Mas só ouvi uma vez, e meio destraído, então fico devendo um conceito mínimo. Como tem pesos pesados que prometeram discos esse ano -- dentre os quais os gigantes My Bloody Valentine e Portishead -- vamos aguardar. Sem falar na disputa que ocorrerá entre Franz Ferdinand e Arctic Monkeys, que será pelo título de melhor banda Libertines-generation britânica.
Até lá, sigo ouvindo coisas mais antigas, que vão desde Bob Dylan [especialmente "Highway 61 Revisited" (1965) e "Desire" (1976)] até Built to Spill, Pavement e Spoon.

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quarta-feira, fevereiro 27, 2008

IRONIA E CINISMO


A ironia, em alguns contextos, pode ter uma função extremamente criativa. Ela pode demonstrar o absurdo dos sectarismos, a hipocrisia, o desligamento do mundo, etc. Os caras do Monty Python, se bem que se possa dizer que são mais que irônicos, são sarcásticos, exploraram isso isso até o último rasgo de energia. Fizeram uma das críticas mais incisivas da sociedade inglesa -- comparável à mordacidade de um Oscar Wilde. Certamente, trouxe inúmeros benefícios para eles.
Mas é preciso cautela com a ironia. Porque, muitas vezes, ela é simplesmente cinismo. Fico impressionado como os conservadores utilizam a ironia. Tudo é ironizado. Tudo está na sensação que fica entre o ceticismo, o pessimismo, o conservadorismo e uma pitada de piada. O que vence não é quem tem o melhor argumento, e sim quem faz rir mais. Leio em alguns lugares que X venceu o debate porque foi mais hábil, mais engraçado, mais capaz de despertar empatia que Y, mais "técnico" ou mais preocupado com seriedade nos argumentos.
Nada contra o humor. Mas não esqueçamos que o nazismo era super bem-humorado. O humor, muitas vezes, pode ser suporte de extrema crueldade.
Por isso, numa discussão o que vale não é a melhor ironia. É o melhor argumento. Gostaria de perguntar, por compromisso ético, o que gente como Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi tem a dizer sobre aqueles que vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil, que nasceram longe de qualquer oportunidade e não conhecem alguém que tenha saído dessa situação. Esses que exibem o limite de qualquer meritocracia liberal, porque jamais poderão ocupar aquela queridíssima posição de "sujeito racional que contrata". Provavelmente eles me ironizariam. De algum jeito. Porque, no final, a ironia é um escudo imbatível.

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INJUSTIÇAS

A mídia detona o Governo Lula quase todos os dias. Até certo ponto, com absoluta razão. Primeiro, por uma função, digamos assim, institucional, quer dizer: cabe a imprensa fiscalizar, criticar, evitar idolatrias. Por outro lado, o Governo Lula não deixou de manter relações fisiológicas no meio político, cooptando grande parte do arsenal podre que descansa em Brasília e incrementando os cofres dos dirigentes sindicais pseudo-socialistas [ou do tipo: socialismo para o meu bolso].
É incrível, no entanto, a falta de reconhecimento pelas iniciativas boas que vem tomando o Governo. Como eu já repeti por aqui mais de dez vezes, basta ler os posts de 2002, 2003 e 2004 para vocês verem que o "Bolsa-Família", antigo "Fome Zero", era tratado como fracasso absoluto. Sem nenhum dado. Puro chute. Escrevia por aqui seguidamente que precisávamos de dados para avaliar o sucesso ou fracasso do programa. Quando a mídia viu, Lula já estava reeleito pelo sucesso da iniciativa.
Acredito que Lula investe corretamente nas prioridades do país. Sem grande choque político ou econômico, ele toma medidas em focos que são exatamente os prioritários: aqueles que estão abaixo da linha da cidadania. Nenhum país decente pode tolerar essas condições. A Europa já resolveu isso há muito tempo; desde T. H. Marshall, pelo menos. Na realidade, há bem mais tempo. Podemos ler a Revolução Francesa como um cortar-de-cabeças daqueles que queriam a perpetuação dessas condições. Da mesma forma, os EUA já nasceram sob uma visão contratual de sociedade, o que tornou a integração mais fácil.
Leio hoje na FSP, coluna de Melchiades Filho, mais uma versão desse jornalismo pasteurizado que consiste em basicamente adotar uma posição de ceticismo e pessimismo, sem analisar concretamente o que acontece. Ele fala sobre o "Territórios da Cidadania", que pretende levar benefícios (Farmácia Popular, Luz para Todos, etc.) para a população rural. Seu tom é igualzinho aquele que tinha a mídia em relação ao "Fome Zero".
Espero que, mais uma vez, a mídia engula suas críticas. Não para o bem de Lula; mas para o do Brasil. É preciso de vez que sejamos um país decente, e isso significa que precisamos eliminar condições de pobreza absoluta como prioridade número um.

CUBA
Eu já disse tudo que tinha a declarar sobre a renúncia de Fidel. Mas Idelber Avelar, mais uma vez, conseguiu reproduzir em uma coluna tudo que há para ser dito sobre o tema. Cliquem aqui e leiam.

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terça-feira, fevereiro 26, 2008

O CAÇADOR DE PIPAS ("THE KITE RUNNER", 2007, EUA)



Filme que se baseia em romance best-seller homônimo, narra a história de um membro de elite afegã que, com invasão dos russos, ainda menino, se vê obrigado a fugir com o pai e ir morar nos EUA. Passado em dois momentos -- na respectiva infância, quando tem como amigo um servo da sua idade que é seu escudeiro nas competições de pipas e, posteriormente, sofre terrível crime -- e, posteriormente, na sua vida adulta, quando traça uma "reparação" ao mal que viu e foi conivente.
Sinceramente, com já duas semanas de distâncias, considero o filme realmente fraco. No início, fiquei chocado com algumas cenas, achei algumas coisas bem retratadas; mas, bem refletido, o filme é pastelão e tudo se encaixa nas categorias do Bem e do Mal. Os russos são maus, os talibãs são malvadões; os EUA são a "Terra da Felicidade". Aplausos! "Viva nossa Guerra!". "Salve George W. Bush e suas bombas!". Tudo muito ingênuo e bobo. De "bom" caiu para "regular".


INFÂNCIA ROUBADA ("TSOTSI", 2005, ÁFRICA DO SUL/REINO UNIDO)



Conhecido como o "Cidade de Deus" africano, na realidade me lembrou mais "Falcão: Meninos do Tráfico", do MV Bill, embora sem ser documentário e baseado em uma (boa) história. Tsotsi carrega toda ambivalência desses adolescentes da classe baixa: ao mesmo tempo que demonstra requintes de extrema crueldade e desprezo pela vida, mostra, de vez em quando, extrema fragilidade e imaturidade, recheado de traumas e vivências cruéis ao seu redor.
É um filme que dá muito o que pensar pela semelhança com a situação brasileira, na qual é mais fácil demonizar esses adolescentes [a torrencial reivindicação da redução da maioridade penal é prova de que esse é o discurso majoritário] do que tentar entender de onde eles são, produto do que são e como, dentro desse "mundo" em que habitam, há de fato poucas oportunidades. Exigir um herói a cada dois nascidos é no mínimo algo hipócrita. Infelizmente, é o que pensa pelo menos 70% da classe média conservadora brasileira.
O filme venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006.

JUNO ("JUNO", 2007, CANADÁ/HUNGRIA/EUA)



É um filme bacana. Divertido, cativante, dessas comédias em lugar que transitam para o drama. Mas é um filme para quem gosta de Belle and Sebastian. Tipo, o filme é o Belle and Sebastian.
Como eu acho os escoceses banda de bundão, o filme não marca muito. :-)
Aliás, tem uma coisa interessante: o bacanão que depois caga pro lance e vira meio malzão (egoísta, talvez) é um cara que gosta de Sonic Youth.
Nada mal: indie bom (B&S) vs. indie mal (SY).

OSCAR
Sinceramente, hoje em dia o Oscar para mim é quase totalmente irrelevante. Quando vejo que "A Vida dos Outros" ["melhor filme estrangeiro"] perdeu, ano passado, para "Os Infiltrados" ["melhor filme"], e é pelo menos 10 vezes melhor, não dá para levar a sério essa cerimônia apologética de Hollywood.

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DISSE TUDO

Peço licença aos meus leitores para reproduzir mais uma coluna do Juremir Machado da Silva, que resume muito do que penso atualmente sobre direita/esquerda e, como ultimamente vem acontecendo irresistivelmente, vai na ferida:

IMAGENS DA ÁFRICA

Pousada boa é assim: tem mais de mil filmes em DVD à disposição, gratuitamente, dos hóspedes. Chega a ser um atentado contra os costumes nacionais desta estação. Não sobra tempo para ver o 'BBB8', o mais chulo, brega e rasteiro programa de televisão já inventado. Sei disso por ter visto, nos intervalos do 'Jornal Nacional', as chamadas da maior atração global de verão. Mas essa é outra história. Pousada boa tem biblioteca com clássicos e bons livros recentes, entre os quais o espetacular livro de fotos de Sebastião Salgado sobre a África. É o presente que eu daria a cada pessoa que critica as políticas de inclusão social e a obrigação de reparar os erros históricos cometidos contra povos africanos.

É por isso que, mesmo sem grandes ilusões, já tenho candidato para presidente. Nos Estados Unidos. Vou de Barack Obama. Ele é Democrata. Logo, em termos europeus, um republicano. Um republicano europeu é um sujeito que quer o máximo de um Estado mínimo para todos. No Brasil, temos dificuldade para entender isso, pois os nossos democratas são, no sentido norte-americano, republicanos. No popular, um republicano norte-americano e os democratas brasileiros são pessoas que não acreditam, acima de tudo em qualquer circunstância, em República nem em democracia, mas apenas em interesses privados. Para eles as ideologias estão mortas, o que já é um atestado da boa saúde das ideologias, e esquerda e direita não existem mais, salvo a esquerda como inimigo a ser combatido. Um republicano brasileiro é alguém que quer um Estado mínimo para quase todos e máximo para o momento em que a sua empresa estiver à beira da falência. Viram como é claro, simples e transparente? Vamos de novo: republicano é um sujeito de direita para quem só existe a esquerda como um vestígio da era ideológica. Elementar!

Segundo várias pesquisas as maiores resistências ao negro Obama encontram-se entre brancos pobres e latinos. Isso só prova o quanto esses latinos foram bem educados. Mesmo tendo migrado para a 'América', em busca do El Dorado, continuam fiéis ao patriarcalismo da América Latina. Deve ser por saudades de casa, assim como os brasileiros no exterior sentem saudades de feijão, de farinha de mandioca, do Roberto Carlos, da Regina Duarte, do Tony Ramos e de um genuíno guaraná Antarctica de qual multinacional mesmo, da Coca-Cola? Eu vou de Obama. Nem que seja por implicância. Adoro ver a indignação 'universalista' dos velhos donos de todos os tipos de poder social com as novas formas de resistência das, como diria o impagável Décio Freitas, 'classes infames'.

Não é que agora todo mundo pegou a mania de se defender! O mundo de hoje está muito tedioso para as elites sem limites de tempos atrás. Não se pode mais insultar tranqüilamente um serviçal afro-descendente nem mantê-los à margem sem que comecem reclamar. Faz pensar no lamento repugnante de um pedófilo da narrativa libertina e sadomasoquista, 'Um romance sentimental', de Alain Robbe-Grillet, membro da Academia Francesa e 'papa' do Novo Romance. O personagem queixa-se de que tudo o que é divertido se tornou proibido, por exemplo, 'descer antes da parada completa, fazer amor antes da idade legal, excitar seu papai esfregando-se nele peladinha...'. Eu vou de Barack Obama. Ele é capaz de conhecer imagens como as de Salgado e querer tomar alguma providência.

juremir@correiodopovo.com.br

(Publicada no Correio do Povo de 24.01.2008)

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sexta-feira, fevereiro 22, 2008

DESATAR OS ÚLTIMOS NÓS

O Brasil parece finalmente estar caminhando para frente. A economia parece estar totalmente estabilizada: ritmo de crescimento sustentável, reservas capazes de pagar a dívida externa, resistência a turbulências externas, inflação controlada, juros em queda, aumento permanente e persistente, ao longo dos últimos anos, do nível de emprego e da renda, exportações batendo recordes. Ao mesmo tempo, surge um programa de renda mínima sólido, capaz de promover a inclusão de milhares de pessoas que não viviam apenas à margem da cidadania, mas à margem da condição humana.
Podemos atribuir esses méritos aos dois últimos Presidentes. FHC deu um passo inicial, Lula fez a máquina andar sozinha. Queira-se ou não, foram dois Governos muito acima da média nacional, capazes de enfrentar problemas complexos numa era de Globalização em que a maioria das pessoas não sabe bem para onde ir.
Dá para sentir que, de alguma forma, paira um otimismo inevitável em grande parte das pessoas. A espetacular aprovação de Lula, batendo quase na casa dos 70%, é prova disso.
A mídia apenas finge não entender isso, com seu discurso de que a corrupção não "cola" no Presidente. Sabemos qual é o alvo dessas opiniões. É o cidadão de classe média, indignado com tudo, conservador e individualista, que prega todo aquele discurso do "cidadão de bem que paga seus impostos". Posso estar sendo bastante radical nesse momento, mas esse "pensamento que não pensa", essa indignação "Cansei!", sem rumo, sem reflexão, é de certa forma o que impede a maioria dos meios de comunicação de admitir o bom rumo das coisas, preferindo falar de cartões corporativos.
Falta, para o Brasil realmente começar a se desenhar como um país melhor, desatar dois grandes nós que ainda estão longe de solução.
O primeiro nó que eu vejo é o nó de esfera política. Como já escrevi por aqui [ver aqui ou aqui], o PT definitivamente falhou em formar uma esfera pública. Em vez disso, rendeu-se a cripto-comunistas [ou fascistas, como queiram] e deixou pessoas ligadas ao movimento sindical corruptíveis tomar o poder, falhando no seu "projeto ético", que até hoje é tão incessantemente cobrado. Com FHC também não foi diferente.
O Poder Político ainda continua corrompido e invulnerável à lei. Isso é ausência de democracia.
A única forma que vejo de corrigir isso é por meio da própria democracia. Não vejo como possível, por exemplo, que um número significativo de anulação de votos leve à formação de novos líderes. Pelo menos por enquanto. É preciso mais pragmatismo que isso. Também não vou aderir ao niilismo político, como alguns dos blogs linkados aí do lado fazem, porque isso na verdade serve apenas aos partidos conservadores. Nada melhor, para eles, do que neutralizar a política.
Como já venho sugerindo por aqui há muito tempo, a única forma que vejo de resolver isso é, e tenho Renato Janine Ribeiro do lado dessa idéia, a partir de uma aliança entre PT e PSDB que isole os grandes chefões da política nacional até seu definhamento. Isso, inclusive, com o PMDB, hoje nada mais que um emaranhado fisiológico e incoerente, com o perdão dos bons políticos [não são muitos, mas existem] ligados ao partido. PT e PSDB têm os melhores quadros do país -- apesar das respectivas maçãs podres -- e sua união ajudaria a isolar os coronéis da política que torna ela mais propícia à corrupção. Que PT e PSDB tenham também políticos corruptos é inegável, mas acredito que, apesar disso, eles agregam mais que os outros partidos.
O outro nó é o da segurança pública. O nível de criminalidade vem subindo em nível avassalador, e a única coisa que temos feito contra isso é piorar as leis penais. É preciso começar a discutir violência com quem estuda violência, não com quem tem melhor retórica. A reação passional, simbólica e vingativa não tem nos levado a lugar nenhum.
Uma política de segurança, a meu ver, só vai funcionar se mudarmos de paradigma: primeiro, é preciso ver que a violência no Brasil é tão enorme em comparação com a França ou a Itália por causa do déficit de justiça na nossa sociedade. O sucesso do tráfico é o sucesso da oportunidade e do empreendimento nas populações de classe baixa. Mas isso não significa que só se controle delitos com medidas sociais. Longe disso.
É preciso medidas de segurança mesmo. Mas, para começar, para implementar isso temos que ter polícias sérias. Bem remuneradas, bem treinadas, bem equipadas e com controle rígido. O modelo "Tropa de Elite" é o modelo daquela piada em que tem um agente da Scotland Yard, um da CIA e um da Polícia Civil Brasileira. Todos em busca de um coelho. O da CIA traz o coelho em 15 min, o agente da Scotland Yard, em 5min. O brasileiro traz em 1min um porco confessando: "eu sou um coelho, juro". Polícia que dá porrada e tortura é polícia sem método, sem utilidade e sem controle, principalmente.
Sabemos quem são os principais "clientes" do sistema penal e, simultaneamente, as vítimas de guerra civil que está em andamento. São jovens negros pobres de 16 a 25 anos, que morrem como se fossem vida matável na disputa pelo tráfico de drogas. Se o Poder Público não retomar esses espaços, ocupando-os com serviços públicos e policiamento comunitário, e investir forte em educação e oportunidade para esses jovens, tudo vai continuar piorando.
Precisamos de políticas sérias para combater no foco, mas pragmaticamente, sem discursos de bem contra o mal, que só desconhecem a ambivalência de que detém o status de nada menos que vida descartável -- vida indigna de ser vivida -- no nosso país. A violência é também compatível com o grau de revolta.
Desatar esses dois nós tornará o Brasil melhor. Porém, para isso, temos que escapar da tentação do discurso populista conservador.

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quinta-feira, fevereiro 21, 2008

NÃO SÃO APENAS OS ESQUERDISTAS QUE VÃO CHORAR

Com a saída de Fidel Castro do poder em Cuba, é óbvio que muitos "esquerdistas" como Emir Sader e Oscar Niemayer vão chorar. O último resíduo do "sonho comunista" vai desabar. Mas não apenas eles.
São inúmeros os conservadores que ganham dinheiro só para falar de Cuba. Eles vivem ainda na Guerra Fria, ultrapassados e corroídos pelo tempo, acusando seus adversários políticos de rezarem a cartilha marxista. Eles estão tão impregnados pelo anti-comunismo que inclusive utilizam, talvez sem prestar muita atenção, a mesma terminologia marxista. Muitos são marxistas arrependidos ou frustrados [a espécie mais perigosa]. Usam conceitos como "ideológico" numa acepção que só faz sentido para quem aceita o aparato conceitual de Marx. Vêem um tudo disputa classista ou econômica, acusando seus rivais de quererem o comunismo. Não conseguem sair dessa dimensão da disputa, para ver que, hoje em dia, a maioria das pessoas lúcidas não está nem aí para esses conceitos, que de tão gastos já perderam sua utilidade. De tanto tentaram revalidar o Karl Marx, a verdade é que hoje em dia é simplesmente mais fácil deixá-lo de lado. Todo mundo -- inclusive gente diferente entre si como Lênin, Mao, Stalin e Foucault, Althusser, Deleuze e Derrida -- tentou interpretá-lo. Marx já teve sua chance.
A palavra "comunista", que começou como substantivo mas termina como adjetivo, desempenha na nossa linguagem cotidiana o mesmo papel que desempenhava a palavra "bruxa" no Medievo. Não faltarão lágrimas daqueles que perderam seu último adversário, no seu mundo onde o tempo não passa. Falarão mal de quem? Da China? Do Islã?
Talvez. Provavelmente. O fato é que, pela falta absoluta de idéias, tudo que esses conservadores conseguem é apenas isso: falar mal e espalhar o medo.

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terça-feira, fevereiro 19, 2008

OMBUDSMAN

Tenho percebido que, nos últimos tempos, o número de comentários diminuiu bastante por aqui. Apesar disso, o número de acessos não caiu e fico sabendo, por meio de contatos pessoais, que várias pessoas acessam o blog.
Não estão gostando?
Esse é o espaço para sua manifestação. O assunto é cortesia do leitor.

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A BLINDAGEM DO FUTEBOL
Às vezes irrita a implicância que a imprensa tem com os dirigentes de futebol. Mas, reconheça-se, boa parte das críticas são totalmente procedentes.
O futebol movimenta rios de dinheiro. No entanto, chovem cartolas eleitos autocraticamente, conselhos omissos, transações escusas, medo da democracia. No Grêmio, recentemente, tivemos um Presidente gagá eleito por aclamação por um conselho omisso.
Chamo atenção para isso diante da notícia que Joseph Blatter ameaça a Espanha de sanções graves -- como a exclusão da Eurocopa e dos clubes espanhóis das competições continentais -- caso o Governo permaneça pressionando a Federação para que realize novas eleições.
Visualizem: o Governo pressiona por novas eleições; ou seja, simplesmente quer a democratização, algo que o Brasil deveria fazer também.
A pressão na FIFA mostra, entretanto, que o futebol já se blindou como máfia internacional.

CELSO ROTH
Os defensores de Celso Roth que me perdoem, mas ainda tem muito a provar. É um treinador com longa trajetória e, até hoje, possui apenas títulos não-significativos: campeonatos regionais e uma Copa Sul [pelo Grêmio]. Depõe contra ele a ausência de qualquer título nacional, coisa que Tite, por exemplo, ou o próprio Vagner Mancini, tinham. Roth, além disso, não pode reclamar: treinou alguns dos maiores times do país. Apesar disso, eu mesmo o elogiei recentemente.
Fora isso, surpreende que alguns dirigentes do Grêmio falem de "ofensivismo" ou de estilo "faceiro". É surpreendente, aliás, que as pessoas permaneçam presas nesse dualismo burro entre ofensivismo e defensivismo.
Equipes vencedoras são equipes compactas; equipes perdedoras, desorganizadas. O caráter mais ou menos ofensivo de uma equipe é dado pela qualidade dos jogadores de ataque. Se o técnico dispõe de opções, deve usá-las. O que caracteriza uma equipe como vencedora não é se é "defensiva", mas se ela está bem compactada. Felipão, tido por muitos como defensivista, venceu a Copa do Mundo jogando praticamente em um 3-4-3, tendo escalado, até as quartas, Juninho Paulista na segunda função do meio campo. Mourinho, outro tido como retranqueiro, jogou com três atacantes suas duas primeiras temporadas no Chelsea, até a chegada de Ballack. O Barcelona, recentemente, venceu a Championsleague derrotando de forma esmagadora Chelsea, Milan e Arsenal, jogando numa formação com apenas um volante e três atacantes. O Manchester United, que atualmente vem jogando o melhor futebol do mundo, joga com Anderson de segundo volante, e, dali para diante, com quatro jogadores extremamente agressivos na frente [Ronaldo, Giggs, Tevez, Rooney]. Falam, por fim, da "tradição" do Grêmio, como se Paulo Nunes, Jardel e Arílson não tivessem sido absolutos protagonistas naquela equipe de 1995 pra frente.
A antinomia futebol ofensivo versus futebol defensivo é coisa de quem não vê as possibilidades no futebol. As possibilidades, como fez Tite em 2001 e Mano em 2006, de montar uma equipe compacta, que saiba se defender, de preferência desde o primeiro atacante, e saia com velocidade e muitos jogadores para o ataque.
Mais uma vez a "Assessoria de Futebol" mostra que não entende do riscado.

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segunda-feira, fevereiro 18, 2008

CONTINUA A POLÊMICA DOS ADOLESCENTES PESQUISADOS

Leio no blog Notícias da Corte, que tem ótimos artigos, mais uma manifestação sobre a pesquisa a ser realizada na PUCRS em adolescentes infratores, visando a identificar raízes neurológicas para os delitos.
Como a coluna do Hélio Schwartzman, que referi por aqui esses dias, é bem articulada e não simplifica o tema. No entanto, permanece presa no paradigma etiológico.
É preciso ver que aqueles que discorreram sobre o crime, até a década de 60, percorreram diversos caminhos em torno da pergunta: "o que torna o criminoso um criminoso?" Ou, em outros termos: qual é a causa do delito?
Percorreu-se, dali em diante, variados caminhos, que passaram por causas antropológicas [à moda da antropologia do século XIX, por todos, Cesare Lombroso], sociologia, psicologia, psicanálise, economia, biologia, etc. Até se descobrir o óbvio: o crime é um fenômeno multifatorial, ou seja, inúmeras "causas" determinam o delito. É a resposta-limite que se pode chegar diante da pergunta.
O que mudou realmente, diante do caráter supérfluo da pergunta, foi efetivamente o paradigma de investigação: quer dizer, depois do labelling approach, que inicia na década de 60 com obras de gente como Howard Becker, Erwin Goffman e Harold Garfinkel, a pergunta pela "causa" do delito passa a ser superficial, porque se descobre que o delito é praticado pela maioria das pessoas, mas punidos são apenas alguns. Não é possível, assim, atrelar natureza ["causa"] a um fenômeno social contingente, como a punição. Descobre-se que o criminoso é uma figura comum [como escrevi aqui, basta pensar em abortos, sonegação fiscal, violência familiar, receptação], e que a figura "pesquisada" por toda criminologia etiológica [que David Garland chama, com propriedade, de "The Lombrosian Project"] é, na realidade, o criminalizado, aquele que, por questão de estereótipos e decisões burocrático/sociais, caiu nas malhas do sistema penal.
O problema não está, portanto, em quais são as causas do delito. Não dá para estabelecer a disputa entre "causas biológicas" contra "causas sociais". Essa é uma disputa dentro do paradigma etiológico. É como fazer pesquisas na física com base na física aristotélica. Não se trata de contrapor causas, tornando a disputa ideológica, mas de um recuo de paradigma, o que é gravíssimo de um ponto de vista epistemológico.
Assim, para quem já deu o giro epistemológico, olhar para a pesquisa, desde o ponto de vista do paradigma da reação social, significa, em outros termos, analisar o estudo como uma contribuição para a estigmatização dos adolescentes pesquisados.
Por isso, ela esbarra em imperativos éticos -- entre eles o principal de todos: a não-violência em relação ao Outro, ao diferente.

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sexta-feira, fevereiro 15, 2008

MAIS UMA DICA

Dois blogs de brasileiros que estão nos EUA cobrem a grave crise na democracia norte-americana causada pelo Governo Bush. Toda tradição liberal dos EUA, que serviu de anteparo contra avanços fascistas, parece estar indo água abaixo com o Governo Bush e seu militarismo incontrolável. Os argumentos de Bush são os típicos argumentos de um fascista. Duvida? Pegue o livro de Enrico Ferri, criminólogo responsável pelo discurso de defesa social que terminou ligado ao fascismo, e compare.
Aqui você acessa o texto de Idelber Avelar, do Biscoito Fino e a Massa, sobre a lei que tentou vetar a espionagem telefônica procedida por Bush.
Aqui você acessa o texto do Fabs, do Get Personal with Fabs, sobre a posição dos norte-americanos em relação à tortura.
Uma vergonha.

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DICA QUENTÍSSIMA

Diariamente, desde mais ou menos o início do carnaval, JUREMIR MACHADO DA SILVA vem enfrentando os argumentos contrários às cotas raciais e sociais na Universidade. É impressionante sua sagacidade e voracidade de argumentos, capazes de desmontar muitos sabichões de argumentos fraquíssimos na disputa.
Esse acirramento já era previsto pela quase totalidade dos defensores das cotas. É a aposta de que é melhor explícito que por baixo dos panos.
Não tenho a senha agora do Correio do Povo para acessar textos antigos, mas reproduzo aqui um deles que recebi por e-mail. Vale conferir, vá atrás dos seus exemplares antigos.
MALDADES MERITÓRIAS
Continua a polêmica das cotas. Recebi muitos e-mails contra e a favor das cotas. Eu sou totalmente contra a reserva de vagas para uma classe social ou para uma etnia. Não posso aceitar que um mesmo grupo social reserve para si 99% das vagas de certos cursos. É o que acontece com os brancos ricos, que, desde sempre, têm reservadas para si a quase totalidade das vagas em cursos da Ufrgs como Medicina, Direito, Odontologia. Quantos negros e pobres estudam Medicina na principal universidade pública do Rio Grande do Sul? A originalidade brasileira é esta: os brancos ricos podem estudar inteiramente de graça nas melhores universidades públicas. Faz sentido. Afinal, eles precisam economizar para ir à faculdade pilotando um carro do ano.
De onde saiu a idéia estapafúrdia de que a universidade tem de ser reservada aos 'melhores'? Como se faz um 'melhor'? A universidade deve receber todos aqueles que atingirem um rendimento mínimo que possa ser chamado de aprovação. Ela deve estar aberta aos melhores e a todos aqueles que possam ser melhorados. O vestibular para disputar um número específico de vagas, segundo uma ordem de classificação dos candidatos, foi uma das maiores maldades inventadas pela ditadura brasileira. Significou a reserva quase total das universidades públicas para os brancos ricos, especialmente nas faculdades de ricos, como Medicina. Existem as faculdades de pobres (Pedagogia, Ciências Sociais, as licenciaturas em geral), onde se pode encontrar um número maior de pobres e de negros, o que serve para melhorar as estatísticas do escandaloso e discriminatório ensino público brasileiro. Os brancos ricos são os vampiros da universidade pública brasileira. Mamam nas tetas estatais e depois, se duvidar, passam a defender o Estado mínimo.
Se entendi bem, entraram na Ufrgs, graças à política de cotas, 21 negros (em mais de 4 mil vagas). É extraordinário. Uma terrível ameaça para a hegemonia branca. A introdução de cotas para escolas públicas esqueceu-se de considerar que existem escolas públicas de brancos ricos (Aplicação, Colégio Militar). Resultado: alguns maus alunos brancos ricos desses estabelecimentos ganharam vagas como cotistas. Como sempre, houve um efeito perverso e os brancos ricos levaram a melhor. O Brasil precisa de universidade para todos, não de cotas. Essa é a segunda grande maldade depois do vestibular. Tivemos a maldade da direita. Agora temos a da esquerda. É a operação Pilatos. Os adversários das cotas citam a Constituição brasileira. É um sofisma. A igualdade de acesso, constitucionalmente prevista, nunca foi cumprida, visto que a reserva para brancos ricos, sob cobertura de um pretenso mérito, predomina. A universidade pública brasileira é um sistema de reprodução da desigualdade.
Não se trata de um jogo de futebol. Só pode haver decisão por mérito quando há igualdade de condições na preparação para a disputa. Uma idéia razoável seria fazer os brancos ricos da Ufrgs pagar pelos estudos. Sobraria dinheiro para abrir novas vagas para negros pobres. Negro bom para as nossas elites continua sendo aquele que não tenta cobrar qualquer indenização pelo que os brancos lhes fizeram no passado. Somos racistas universalistas. Não queremos políticas que alimentem o ódio racial. Preferimos que ele continue sendo alimentado pela exclusão que gera um universo negro dos sem-futuro.

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CARTA AO PRESIDENTE

Prezado Presidente Paulo Odone:

O senhor tem uma história absolutamente respeitável no Grêmio. Depois de ter nos trazido nossa primeira Copa do Brasil, retornou ao comando do Tricolor e enfrentou o desafio mais difícil que um dirigente poderia enfrentar: pegar um clube totalmente quebrado, desmoralizado e na segunda divisão.
Reconheço que o legado dos seus antecessores não poderia ter sido pior: Guerreiro deixou um caminhão de dívidas, fazendo uma administração perdulária e que até hoje sofre contestações [incluído até processo criminal]; Obino, embora reconheça-se sua boa vontade, foi um desastre completo: defasado, fez tudo errado. Depois de um primeiro ano lastimável, em que nos envergonhou com suas declarações do fundo-do-armário, quase nos rebaixando, repetiu o erro, até conseguir nos rebaixar.
A equipe que o senhor pegou era uma lástima. Aliás, nem existia equipe. E, aos poucos, com escolhas certas, o grupo foi montado, com o grande mérito de ter eleito um técnico de grande quilate: Mano Menezes.
Em 2006, depois da grande Batalha dos Aflitos, que parece ter lavado a alma dos gremistas após tanta humilhação na era Obino, para nossa surpresa o Grêmio foi montando uma equipe forte e, com um bom organizador, formou o time mais consistente desde a poderosa equipe de 2001, campeã da Copa do Brasil.
A partir daí, classificados para a Libertadores, mas já sem contar com Renato Moreira, fomos cada vez mais perdendo jogadores e nos enfraquecendo. O time de hoje, que conta com jogadores que são TODOS apostas [incluindo Roger], não é nem sombra daquele time que tinha Galatto; Patrício, Evaldo, William e Wellington; Jeovânio, Lucas, Léo Lima, Tcheco e Hugo; Rômulo, com opções como Rafinha, Herrera, Maidana e Sandro Goiano no banco.
O que aconteceu?
Naquela época, tinhamos apenas o acréscimo da verba de televisão e o dinheiro do Anderson. Hoje, temos as mesmas verbas e vendas de Cássio, Carlos Eduardo e Lucas. Será que não dá para trazer três jogadores do nível de Hugo, Léo Lima ou William? Não dá para, com uns 8 milhões dos 32 que recebemos, contratar três grandes jogadores?
Senhor presidente, estou preocupado. Preocupado porque acho que a Direção está perdida. Demitir Vagner Mancini mostrou apenas que estamos bem desorientados. Se era para apostar, que se apostasse. Apostar é demitir um técnico sem derrotas?
O problema do Grêmio não é Vagner Mancini, é ausência de TIME. E quem é responsável pelo time? O Pelaipe.
Presidente, Pelaipe está perdidão. Fala mal de Roger -- mais do que é recomendável a um dirigente -- e depois o contrata. Anuncia D'Alessandro, Sobis, Rochemback e traz Peter, Tadeu, André Luiz e Julio dos Santos. Quem são esses jogadores? É por esses motivos que Mano Menezes -- em pouco tempo o MELHOR treinador do Brasil -- deixou o Grêmio. Cansou. Cansou de esperar por reforços. Cansou de ver os títulos no horizonte e perdê-los porque traziam Jonas, Marreta e mais ninguém. Não arriscou perder Tcheco, Sandro e, mais tarde, ainda ter que ver saírem William e Diego Souza.
Pelaipe é quem está mais perdido que cego em tiroteio. Está apequenando o Grêmio.
Presidente, por favor, DEMITA Pelaipe, ou pelo menos o transfira para cargo de menor importância.
É agora ou nunca.

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quinta-feira, fevereiro 14, 2008


ROMÁRIO FOI MAIOR
Pode parecer crueldade escrever o que vou escrever no dia de hoje, depois da lesão de Ronaldo. Mas, como Ronnie não deve ler esse blog, tudo bem.
A lesão de Ronaldo deve encerrar sua carreira. Não sei nada de medicina, mas imagino que o desequilíbrio entre os joelhos, um bem mais frágil, e o peso elevado do centroavante nos últimos anos deve ter causado a lesão. Aliás, Ronaldo há muito tempo, no mínimo uns três anos, não joga 7 ou 8 jogos consecutivos. Sua forma física não permite. Escrevi muitas vezes por aqui, como hincha do Madrid, que queria sua saída [ver aqui ou aqui]. Não por duvidar das suas qualidades, mas porque era "maçã podre" no vestiário e não compensava a relação custo-benefício.
Pimba, o Madrid contratou Nistelrooy [o maior acerto de Capello] e, desde então, não sente saudades do seu "pichichi".
Ronaldo teve uma carreira fantástica. Lembro-me até hoje daquele jogo em que ele marcou 5 [se não me engano] na vitória do Cruzeiro sobre o Bahia. Lembro das suas explosões, do seu futebol fantástico no Barcelona e depois na Inter de Milão, além da Copa de 1998, e de como ele soube explorar esse talento em 2002, ainda que sem o mesmo grande futebol -- para se consagrar definitivamente e entrar para o rol de grandes atacantes de todos os tempos. A velocidade que ele arrancava e deixava para trás os zagueiros, seu estilo de chutar num mínimo espaço para o gol e conseguir colocar a bola onde o goleiro não estava, tudo isso torna ele o segundo melhor centroavante brasileiro que vi jogar.
O melhor foi Romário. Ponto.

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TRISTE
É a melhor palavra para a exibição de ontem do Grêmio. Sinceramente, cortou todo meu otimismo, que já era forçado.
Victor; Paulo Sérgio, Jean, Leo e Anderson Pico; Eduardo Costa, Júnior, Julio dos Santos e Roger; Soares e Perea. Técnico: Vagner Mancini.
Esse é o time que a Direção nos entregou para esse ano. Sinceramente, alguém imagina que essa equipe possa ganhar um título brasileiro? Ou será que o Grêmio se apequenou?
A pergunta que não quer calar é: ONDE ESTÃO OS 32 MILHÕES QUE O GRÊMIO RECEBEU? Supondo que tenhamos gastado 25 milhões pagando dívidas, será que não dá para investir os outros 7 e trazer dois ou três grandes jogadores? GRANDES mesmo, não simples aposta, como TODOS os trazidos [inclusive Roger].
Sobre isso, o falastrão Pelaipe nada diz.

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quarta-feira, fevereiro 13, 2008

RECEPÇÃO GRINGA DO FILME EFUSIVAMENTE APLAUDIDO (INCLUSIVE EM PÉ, NO CINEMA) PELOS BOVINENSES

Notícias do Festival de Berlim, da Variety:

Tropa de elite (Brazil)
A Weinstein Co., Zazen Producoes, Posto 9, Feijao Filmes production, in association with the Latin American Film Company, Costantini Films, Quanta, Universal. (International sales: The Weinstein Co., New York.) Produced by Marcos Prado, Jose Padilha. Co-producers, Eliana Soarez, James D’Arcy. Executive producers, Maria Clara Ferreira, Bia Castro, Genna Terranova, Scott Martin, Eduardo Costantini. Directed by Jose Padilha. Screenplay by Padilha, Rodrigo Pimentel, Braulio Mantovani. Capitain Nascimento Wagner MouraAndre Matias Andre RamiroNeto Caio JunqueiraWith: Milhem Cortaz, Fernanda Machado, Maria iberlo, Fabio Lago, Fernanda de Freitas, Paulo Villa, Marcelo Valle, Marcello Escorel, Andre Mauro, Paulo Hamilton, Thogun, Rafael d’Avila, Emerson Gomes, Patrick Santos, Erick Maximiano Oliveira, Bruno Delia, Andre Santino, Ricardo Sodre.
By JAY WEISSBERG Brazil’s powerful military police are elevated to Rambo-style heroes in “The Elite Squad,” a one-note celebration of violence-for-good that plays like a recruitment film for fascist thugs. Weinstein coin was injected on the basis of the script only, but after editing was over, tyro features helmer Jose Padilha decided a rewrite was in order, tacking on an omnipresent narration that’s meant to strengthen identification but instead will alienate intelligent viewers. Though pic was Brazil’s top grosser of 2007, arthouse auds elsewhere won’t coddle to the inescapable right-wing p.o.v.
Boffo biz at home was accompanied by major debates over the glorification of brutish police methods, especially since Brazilian cops already have a reputation for
Dirty Harry-style vigilantism. On the one hand, “Elite Squad” is an honest picture of violence in the favelas, or slums, of Rio de Janeiro, and the rampant official corruption that sustains it. But pic presents its case by celebrating police
psychopaths and ridiculing any attempts at social activism, or even emotion. Charges of fascism by pic’s critics aren’t merely knee-jerk liberal reactions, but an unimpeachable statement of fact.
BOPE is the elite squad in question, a small tactical force sent into the favelas to kill without thinking (not coincidentally, black uniforms and the group’s skull symbol recall the SS Death’s Head Brigade). Capt. Nascimento (Wagner Moura) is getting ready to pass the baton of command to someone else. With wife Rosane (Maria Ribeiro) pregnant, he’s feeling a tinge of paternal warmth that could jeopardize the hard-ass heartlessness his job requires.
Parallel to Nascimento’s story is that of a couple honest police rookies, intellectual Andre Matias (
Andre Ramiro) and impulsive Neto (Caio Junqueira). Nascimento’s narration continuously comments on their progress as the two chafe under the police force’s systemic corruption. When their commander sends them into a slum rave, fully expecting their deaths, BOPE comes to the rescue, ending the battle just in time for Nascimento to get a call from his wife telling him her water broke — how’s that for timing?
Neto and Matias are so impressed with BOPE’s righteous dedication they decide to switch forces; after passing them through predictably sadistic basic training, Nascimento considers one of them as his replacement. Meanwhile, Matias tries to reconcile his studies, and relationship with namby-pamby NGO do-gooder Maria (
Fernanda Machado), with the “no emotion” requirements of the elite squad. Neto seems poised for the captaincy, but then a battle with drug dealer Baiano (Fabio Lago) changes the hierarchy.
“Either a cop stays dirty or he chooses war,” intones Nascimento’s incessant voiceover as he explains the way the system works: Regular policemen are simply on the take, social workers are hopelessly ineffectual and naive, and pot-smoking rich kids are as bad as the dealers. Whereas the cops enter the favelas to get heir payoff money, BOPE raids the slums to kill, no questions asked. After all, that’s what these scum deserve, isn’t it?
Script was co-written by Rodrigo Pimentel, himself a former BOPE officer, though Padilha encouraged improvisation throughout the shoot. Braulio Mantovani (“City of God”) was signed as script doctor, but together with the helmer, they changed the entire structure in the editing process, adding the problematic voiceover, presumably in a bid to bring one character’s mindset to the fore.
Perfs are suitably intense but, like the pic itself, lack any kind of nuance.
Lula Carvalho’s camera never stops moving, bouncing and swerving with such unmodulated motion that auds will need to find their sea legs. More tempered lensing would have created a smoother build-up, though “Elite Squad” isn’t exactly out for the subtlety prize. Darkly saturated colors are in keeping with the general air of danger and militaristic cool.

Camera (color), Lula Carvalho; editor,
Daniel Rezende; music, Pedro Bromfman; production designer, Tule Peake; costume designer, Claudia Kopke; sound (Dolby Digital), Leandro Lima; assistant director, Rafael Salgado; casting, Fatima Toledo. (Reviewed at the Berlin Film Festival — competing), Feb. 11, 2008. Running time: 114 MIN.
Era isso.

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terça-feira, fevereiro 12, 2008

O GRÊMIO COM ROGER

Não sofro de "ofensivite", doença própria de jornalistas com mais de 50 anos, mas Wianey Carlet às vezes me deixa cansado dos seus comentários pelo excessivo defensivismo. Vejam as seguintes duas passagens do blog dele:

O GRÊMIO CONSEGUIRÁ SE ADAPTAR AO ESTILO CADENCIADO DE ROGER E A SUA VOCAÇÃO PARA JOGAR, APENAS, COM A BOLA NO PÉ?
Vagner Mancini terá que demonstrar virtudes de um engenheiro tático para não privar o Grêmio da sua principal e tão apreciada característica, a competitividade, e ainda desfrutar a excelência técnica de Roger.
Por suas corretas assistências, Roger centralizará a passagem da bola para o ataque, é a sua vocação. No que diz respeito as tarefas operárias de marcação, será capaz de, no máximo, cercar um dos volantes adversários. Como fará Mancini para que o seu time não seja envolvido e dominado no meio-campo, setor crucial de qualquer equipe?
Sábado, contra o fraco Novo Hamburgo, o treinador escalou três volantes atrás de Roger: Eduardo Costa, Willian Magrão e Adilson. Mesmo assim, quando o Novo Hamburgo modificou o seu esquema tático, povoando o meio com cinco jogadores, o Grêmio perdeu o controle do setor.
Aparentemente, só existe uma saída: acrescentar mais um meio-campista e jogar com Perea, apenas, de atacante. Roger seria, então, o segundo atacante, mais recuado. Esta providência se tornará mais necessária quando a competição for mais exigente. Por enquanto, no Gauchão, é possível jogar com dois atacantes.

Não concordo. Wanderley Luxemburgo já foi campeão inúmeras vezes jogando com um losango no meio-campo e um meia absolutamente livre, aproximando-se dos dois atacantes. Destaco no Cruzeiro, em 2003, que jogava com três volantes e Alex logo à frente, totalmente livre para passar a bola a Aristizabal e Deivid. O Grêmio poderia jogar perfeitamente com Eduardo Costa, William, Adilson e Roger, logo à frente, com dois atacantes.


Foi divulgado ontem, ainda sem confirmação oficial, que Hidalgo substituirá Adilson no próximo jogo do Grêmio.
Presume-se, então, que Vagner Mancini queira testar uma mudança de esquema tático, adotando o 3-5-2. Mas com Anderson Pico e Paulo Sérgio nas laterais? Na hipótese de que esta seja a única mudança na escalação, o Grêmio jogaria com Victor; Pereira, Leo e Hidalgo; Paulo Sérgio, Eduardo Costa, Willian Magrão, Roger e Anderson Pico; Tadeu e André Luiz.
Bem, não cabe aplaudir ou reprovar esta proposta antes de ela ser experimentada. Mas, acho que é válido achar que não dará certo. Com esta formação, Eduardo Costa e Willian Magrão tendem a se exaurir correndo para marcar o adversário, ainda que Anderson Pico saiba se movimentar "por dentro", isto é, pelo meio.
O Grêmio estaria povoando o seu setor defensivo e esvaziando o meio-campo. Conseqüência: o ataque poderá ficar apartado do restante do time e o adversário teria espaços para avançar sobre o sistema defensivo gremista. Reitero que convém esperar para, confirmando-se a informação, ver como Vagner Mancini posicionará o seu time. Porém, é sempre preferível lotar o meio-campo e deixar o adversário longe da própria área defensiva.
Na teoria, é grande a chance de dar errado.

Também não concordo. É bom experimentar o 3-5-2, especialmente para ressaltar as qualidades do Pico e soltar o Roger. Mas o esquema depende fundamentalmente do segundo volante, que deve ter muita movimentação, como foram Tinga, Kleberson e outros.

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FEMINISMO, HOJE

Ótimo artigo sobre a polêmica dos retoques na foto de Simone de Beauviour, publicada em capa de revista francesa Le Nouvel Observateur pelo seu centenário. Leiam clicando aqui.

A reportagem, aqui.

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