Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, novembro 28, 2008

A QUESTÃO DA VERDADE COMO NÃO DEVE SER COLOCADA

ESSES TEMPOS ANDEI escrevendo por aqui que a luta contra a verdade de certo pensamento "pós-moderno", especialmente aquele que segue uma linha Marx-Nietzsche-Foucault-Lyotard, era uma luta equivocada. Que metáforas de caráter científico só atrapalham o projeto real de Nietzsche e Heidegger - seguidos por outros como Foucault e Derrida - trataram de definir. A questão para esses filósofos não é afirmar a indistinção absoluta entre o verdadeiro e o falso, a indeterminação geral e um relativismo epistemológico, mas sim contestar a miopia técnica da Modernidade. Ou seja, não se trata de contestar afirmando que "não existe a verdade", mas sim que a verdade é algo preso dentro de determinadas coordenadas de sentido, sendo impossível, por isso, aprisioná-la dentro do esquema sujeito-objeto de Descartes. Em nível geral, essa contestação não desacredita a ciência nem a filosofia, mas apenas as colocam no seu devido lugar.
Nietzsche, por exemplo, jamais afirmou "não existir" a verdade, como certos críticos e [pior] seguidores colocam na sua boca. O que Nietzsche queria era avaliar o valor da verdade para a vida. E, nesse caso, referia-se à verdade da ciência, à verdade "objetiva". Heidegger foi mais adiante mostrando que há uma dimensão aquém dessa relação "sujeito-objeto", nomeada "ontologia fundamental", na qual a verdade não se reduz à "correspondência". Heidegger jamais disse que o pensamento técnico é "errado"; apenas afirmou que ele tem o seu devido lugar. Foucault identificou as relações de poder que permitem a um discurso assenhoriar-se sobre outros, sem contestar que, dentro de cada jogo discursivo, existam "verdades". Derrida mostra com a desconstrução uma espécie de disseminação absoluta do sentido, que jamais consegue ser contido numa única totalidade fechada. As leituras que o aproximam a Levinas enxergam aí espécie de aproximação da alteridade no próprio texto. Mas o filósofo franco-argelino jamais disse que "vale tudo" ou que só existem relações de poder.
Todos esses filósofos não afirmaram "não existir" a verdade, nem uma espécie de relativismo epistemológico. O que estão fazendo é penetrar em outras camadas que não as do pensamento técnico - que acaba abocanhando todo sentido da existência na Modernidade. Nietzsche o "moral"; Heidegger, o "ontológico" ou "meditativo"; Foucault, o "político"; Derrida, o "plural" e assim por diante.
Isso não tem nada a ver com uma bobajada "pós-moderna" de estudantes fracos que acabam afirmando coisas como "dizer que há verdade é não respeitar a diferença", "não existe verdade, só interpretações", "a própria ciência não traz verdade", "a ciência é puro exercício de poder", "dizer a verdade é autoritarismo" e assim por diante. Toda a crítica de gente como Searle, Nagel, Sokal e Bricmont ataca essa meia dúzia de gente que leu mal as obras e não compreendeu que esses autores estão "pulando fora" do pensamento técnico, e não tentando mostrar seu "erro", incidindo em contradição performativa. Nada a ver. Em comum, ambas as partes [crítica e entusiastas] têm o fato de não ter lido nenhum dos autores; ou não ter entendido.
Digo isso quando leio esse post no blog legal de Carla Rodrigues. Ele fala de Gödel como o "avô" dos pós-modernos. Está totalmente equivocada, pelo menos no que eu considero "pós-moderno". Vejam nos comentários como a questão da verdade está mal-colocada e, no fim das contas, a discussão acaba ficando autoritária do tipo "ok, se não concorda, não leia". Dizer que "só há interpretações" é uma coisa; afirmar, por outro lado, espécie de equivalência geral entre as interpretações é outra. É por aí que NÃO devemos caminhar na discussão, sob pena de entrarmos em um beco sem saída.

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quinta-feira, novembro 27, 2008

AUTOLUX, "FUTURE PERFECT" (2004)




É BACANA QUANDO DESCOBRIMOS bandas que surgiram nos últimos anos e, por descuido, deixamos passar. Descobri o Autolux numa rádio do last.fm e achei muito boa a canção "Angry Candy". Depois de baixá-la e ouvi-la com atenção, resolvi baixar "Future Perfect" todo. Não me arrependi.
O trio de Los Angeles é formado por Eugene Goreshter (vocais, baixo), Greg Edwards (guitarra, backing vocals) e Carla Azar (bateria, backing vocals). "Future Perfect" é o primeiro trabalho como álbum, antecedido por um EP ("Demonstration" - 2000).
As influências da banda são as melhores possíveis: uma espécie de misto de Sonic Youth, My Bloody Valentine, The Breeders e Pavement. Remetem, no cenário contemporâneo, ao Silversun Pickups, porém em vez da influência do Smashing Pumpkins, que deixa o Silversun mais melódico, há influências das Breeders e do Pavement, que deixam o som mais quebradiço e climático. Dessas bandas surge certa indisciplina melódica e harmônica que torna as canções um pouco mais "improvisadas" e "caóticas" ("Robots in the Garden" parece mesmo um dos elétricos começos de tema da banda de Kim Deal).
O disco é pesado, denso, encorpado, cheios de riffs desordenados e cortantes, combinado com um vocal agudo que muitas vezes beira ao etéreo, aproximando-se levemente da fronteira entre o shoegaze e o dream pop. No entanto, a influência máxima é mesmo dos Sonic Youth, no seu peso e violência estridentes, ainda que mais contido e menos jazzístico. Assim como a banda de Thurston Moore, combina guitarradas ensurdecedoras e sem piedade com outras climatizações mais leves e harmônicas, que, por sua vez, apenas preparam a porrada que vem a seguir, e assim por diante.
Uma banda que vale à pena ser ouvida, pois executa uma série de influências com competência ímpar, tornando-se alegria para os adoradores do estilo (as I).
Fiquei ansioso pelo novo trabalho da cuidadosa banda, previsto para ainda esse ano.

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GARANTISMO x ANARQUISMO

POR INSTIGAÇÃO DESTE BLOGUEIRO, o amigo Chrysantho, do Paraná, escreve uma resposta ao post do blog vizinho, Túnel no Fim da Luz, que deu origem à discussão e agora a segue. O post está aqui. Fica Chrysantho devendo agora um comentário ao meu post abaixo. Confiram ainda aqui a resposta do Louco.

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segunda-feira, novembro 24, 2008

QUEREMOS DE FATO DESTRUIR O SISTEMA PENAL?

CREIO QUE UMA DAS PRINCIPAIS virtudes das nossas discussões vem sendo o fato de que há uma salutar resistência a nos "unificarmos" em uma espécie de "militância". Não há só pontos de convergências, mas divergências profícuas e dúvidas sobre que caminhos devemos seguir.
Uma primeira distinção é imperativa: é necessário diferenciar aquilo que colocamos no âmbito das idéias gerais, do pensamento, da prática profissional de alguns. Dentro desta, os limites são delimitados e não dá para ir muito além. O exercício da resistência é salutar. Por outro lado, quando temos liberdade para ir além, no caso do pensamento, acho que devemos ir sim. Então, são coisas distintas.
A questão que se coloca é sobre o papel do garantismo e da Constituição. Temos, de um lado, os céticos que se negam a dar qualquer importância a isso; de outro, os que acreditam na possibilidade de "redução de danos". Não sei qual é a minha posição. Mas, atualmente, estou mais inclinado para a primeira. Explico. Leiam o comentário a seguir:

A REPÚBLICA DE WEIMAR - A BOA...
Eles têm os leitores deles, aquelas coisas... Eu tenho os meus, como Weimar. Ele escreve e eu sempre "subscrevo embaixo", reproduzindo uma graça do próprio.
*
Vou tentar ser Claro.
Não o Claro, coisa que jamais poderia ser; apenas ser CLARO.É realmente verdade que uma boa parte da população esteja percebendo as críticas ao delegado e ao juiz como defesa de privilegiados. É verdade, lamentável e preocupante que assim se pense.Agora, vejamos por que a garantia dos direitos individuais, velha questão, torna-se mais urgente e preocupante quando o mal chega a parte da elite.A história da civilização (queremos acreditar que assim seja, mas há controvérsias) vem, de modo geral, num crescendo de justiça, liberdade e democracia. Sabemos que esta nossa sociedade, a brasileira, tem graves deficiências nessas áreas, mas sabemos também que já foi pior, muito pior. Os direitos individuais que só atingiam uma pequeníssima parte da população passaram a chegar a novas faixas, ou classes. E isso nos dava esperança de que, em breve, estariam garantidos os direitos individuais a todos os cidadãos.
Nesse caso de D.D. e outros elementos (vai aqui uma concessão aos linchadores, já que mais correto seria dizer “cidadãos”), o que se vislumbra é que a tendência
inverte-se: em lugar de direitos o que avança é uma perigosa nuvem negra de ilegalidades, injustiças e tirania. O que não muda, em relação aos piores tempos, é que a alteração ocorra em benefício de outra, pequeníssima, parte da elite, dos privilegiados, dos donos do poder.
Não há como deleitar-se com o fato de que injustiças, ilegalidades sejam cometidas contra quem quer que seja. Na há como alegrar-se com o pensamento doentio de: “Agora, sim, estamos todos sob o império do arbítrio!” Faz-se justiça com esse jeito torto? Não! Beneficia-se a democracia? Não, ela contrai-se! Até porque, é claro, lógico, natural, incontroverso, sabido pela história que para haver tirania é preciso que haja tiranos, sempre intocáveis pela lei. Lei que será deles. A estes a lei não ameaça. Não se acaba o arbítrio com mais arbitrariedade. O remédio que resta, doloroso, fica por conta da bala do fuzil ou da forca. Remédio sempre terrível, com enormes efeitos colaterais.
E por que parte da população vê com maus olhos essa luta pela defesa dos direitos individuais? Em grande parte, pelo trabalho da imprensa vendida e da imprensa covarde, formadas, por sua vez, pelo desastre que são nossas universidades.A briga aqui não é por privilégios; é pelo processo civilizatório.WeimarPublicar Recusar (WEIMAR) 12:2-
Creio que a maioria dos garantistas (eu mesmo, até pouco tempo) concordaria com essa afirmação. E, no entanto, ela está no blog do Reinaldo Azevedo - o divulgador do pensamento neocon no Brasil e, hoje em dia, ponta de lança da extrema direita nacional - o que deveria nos dar o que pensar.
No meu último artigo sobre os direitos humanos defendi, com Giorgio Agamben, que os direitos humanos estão sempre vinculados a uma cidadania, que necessariamente não é compartilhada por todos. Como dizia Arendt, os direitos humanos sempre falham quando são realmente necessários. Isso porque a teoria que subjaz - teoria compartilhada pelo garantismo - é a do contrato social. Sempre há os "outros" que ficam de fora do contrato e não têm a mesma luz que têm os "civilizados". Essa franja de exceção, como notava Benjamin na oitava tese sobre a história, é a verdadeira regra. A vida dos "outros" é sempre a vida na mira do estado de exceção: da violência policial, da discriminação sutil, do preconceito, da exclusão mascarada e assim por diante. As leis são feitas, literalmente, para os "cidadãos". E os "outros" nunca serão cidadãos - porque é seu destino não ser.
Esses dias vi o filme "Panther". Antes de os negros se armarem e enfrentarem a polícia nos EUA, as leis eram simulacros que só serviam aos "cidadãos". Em "Mississipi em Chamas", não era necessária uma lei que separasse negros e brancos. O que separava é a pura violência do estado de exceção (e olhem que nos EUA, por particularidades históricas, a teoria do contrato social pode funcionar porque não é puramente metafísica). Os "outros", toda vez que reinvidicam direitos, até aqui no RS atualmente, sentem a espada da exceção. Essa exceção é que mantém vivas sociedades injustas e desiguais, apesar da beleza de algumas Constituições que garantem não apenas igualdade perante a lei, mas também a "redução da desigualdade social". Constituições vigentes a alguns séculos mas que, na prática, não passam de "folhas de papel", como um jurista crítico certa vez afirmou e a ferida jamais cicatrizou no Direito.
O jurista precisa acreditar no seu discurso e trata isso como desvio, como uma "falta". "Faltam" direitos lá, "faltam" garantias. Maravilha. Deve fazer bem ao estômago pensar assim. Talvez isso não dê gastrite, como a minha. No entanto, o seu temor é que definamos POSITIVAMENTE em que consiste esse fenômeno da "falta", porque aí seu narcisismo jurídico é atingido na veia: trata-se de um vazio de direito, de uma indiferença plena à lei e à constituição, esse fenômeno que chamamos estado de exceção e que escapa do controle do jurista. Entrem com habeas corpus preventivos contra incursões do BOPE no Complexo do Alemão. Entrem com mandados de segurança para garantir direitos da LEP ao seu preso. Reclamem dos "direitos humanos" quando a Brigada enche de porrada o pé-de-chinelo. Sabem o que vocês ganham como resposta? Sabem, até melhor que eu. Um sincero "desculpe, mas não é comigo", como as burocracias de Kafka que são inatingíveis e por isso comparáveis à teologia. Mas vocês conseguem algo? Conseguem, sem dúvida. Na maioria, para os "cidadãos" que agora podem não ser mais algemados, nem grampeados, nem estigmatizados por câmeras de tevê e nomes de operações.
Será que isso não é um trabalho tremendo de relegitimação do sistema punitivo? Não estamos diante de um simulacro tremendo que esconde o que interessa - o pé-de-chinelo continua tomando botinada de BM enquanto o empresário agora tem sua "dignidade" preservada e não é mais algemado? Esse simulacro não poderia levar o nome de metafísica e essa metafísica é justamente a teoria do contrato social (base do garantismo)? Vamos continuar considerando os "outros" como os "futuros destinatários" (de um futuro que nunca chega e jamais chegará) dos nossos benefícios da civilização? Vamos dar razão ao Reinaldão e dizer que, "é isso mesmo, vou defender o sistema penal para os 'cidadãos' e quem sabe um dia ele chegue - na sua versão 'civilizada' - aos 'outros'"? Querem chamar isso de "redução de danos", chamem. Até posso concordar. Mas que fique claro que é redução de danos "para alguns". E que, no nível macro, mantém tudo como está. Ou será que alguns precedentes do STF vão mudar alguma coisa na intervenção da BM no Rubem Berta ou do BOPE no Complexo do Alemão?
A pergunta que todos nós temos que responder é a seguinte: o que nós queremos com o sistema penal? Queremos sinceramente destrui-lo? Se a idéia é essa, bem, então Benjamin ensinou que a "tradição dos oprimidos é a de estado de exceção" e que a forma de combatê-lo é "fazendo-o acontecer no real". Se isso nos aproxima de algo "revolucionário"? Pode até ser, mas não necessariamente no sentido de "revolucionário" do século XX. Talvez como coloca Agamben, como a piscadela de olho do gênio de Nietzche que, propondo o eterno retorno, muda tudo em um único instante.

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VERGONHA!

DESDE QUE TOMEI CONHECIMENTO da tabela do Grêmio nas últimas rodadas, previa a possibilidade de derrota para o Vitória como plausível. O Grêmio não podia era ter perdido pontos para Goiás e Figueirense dentro de casa, 5 pontos que hoje nos colocariam na mesma pontuação que o São Paulo e, portanto, em primeiro. Esses foram os tropeços indesculpáveis do ano.
Não dá, no entanto, para admitir o que aconteceu em Salvador. Fui o primeiro a escrever que o Grêmio deve renovar com Roth - e reitero. Acredito que a campanha superou as expectativas e fomos, de regra, muito bem. E acredito que a equipe tem - fielmente - a CARA do técnico, para bem e para mal.
Para bem porque, quer queira-se ou não, o Grêmio é um time estruturado, chegou nas cabeças ao longo de todo campeonato, tem boa defesa e é disciplinado. Todas boas características de Roth. Ao contrário do que prega o senso comum, Roth não é (mais) defensivista, não joga recuado e nem tem paixão por volantes brucutus e zagueiros toscos. O Grêmio joga ofensivamente, com dois volantes técnicos e o 3-5-2 é para atacar. Roth por diversas vezes fez substituições quase malucas para atacar, quase nunca para defender. Quem diz que Roth é defensivista é burro ou, no mínimo, vesgo. Até o insuspeito - e genial - Tostão afirmou que o Grêmio joga no 3-5-2 para atacar. Roth tem o mérito de levar times tecnicamente limitados (o Grêmio tem apenas 2 jogadores com técnica acima da média, Souza e Tcheco) ao topo da tabela.
No entanto, o Grêmio também é Roth "para mal". É um time que, como o técnico, não luta, se deprime, se deixa cair. Não teve sequer uma partida "heróica" no ano. Contra o Palmeiras, ocorreu uma superioridade técnica e tática, nada de heroísmo e superação. O Grêmio foi melhor equipe mesmo. Como seu treinador, que parece depressivo e sem indignação nas entrevistas, o Grêmio, quando sofre gols, se abala e deprime. Aconteceu ontem e no Gre-Nal. Não tem poder de reação. Não tem a tradicional fibra tricolor. Não é capaz de transformar o jogo em "batalha". Seus volantes são técnicos, mas apáticos. Não são capazes de dar uma botinada no adversário para parar o jogo e fazer correr sangue nas veias dos demais. Tcheco, o grande Tcheco, fica nervoso e muitas vezes vai para cima do árbitro, mas raramente pega e bola e xinga os companheiros, chamando a responsabilidade para si. E é ele que comanda a equipe - de forma absoluta. O Grêmio é um time "caído", que ou se impõe tecnicamente, ou se abate conformado com a derrota. O time é resignado demais. Depressivo. Não é capaz de fazer brotar aquela energia sobrenatural que às vezes aparecia com Mano - como nos Aflitos, nos 4 a 4 com o Fluminense e em algumas outras ocasiões.
O que acontece com Celso Roth que - como Felipão - consegue levar times limitados ao topo da tabela, mas quando está prestes a abocanhar o sucesso acaba entregando o ouro? Por que Roth não se solta mais, não xinga mais, não fica mais vermelho de raiva? O semblante dele é sempre de uma tristeza resignada, de uma espécie de conformismo com um fracasso trágico que se anunciava desde o início. Como pode? O que falta de motivação e psicologia para ele aprender a agarrar o sucesso? É um técnico bem superior a Abel Braga, Joel Santana, Oswaldo de Oliveira, Geninho e outros medalhões que andam por aí; no entanto, esses já tem o título nacional que ele ainda não tem no currículo. Por que Roth não sabe ganhar? Não sei. Acho que uma terapia faria bem ao treinador.
Mantenho que o Grêmio deve renovar com Roth, que ergueu o time e com dois ou três reforços pode fazer outra bela campanha ano que vem. No entanto, não acredito em título. Só vi o Grêmio ganhar o título com superação - atitude que a equipe de Roth definitivamente não tem. Acho que faremos mais uma boa campanha na Libertadores e no próximo Brasileirão, mas não creio em títulos. Falta a "Hora H" para esse time do Grêmio e seu bom treinador, que se encolhem diante da adversidade, ao invés de crescer e fazer o sangue explodir nas veias. A derrota foi vergonhosa porque o Grêmio perdeu uma quantidade imensa de gols (o que talvez sinale que o técnico deva treinar mais o ataque também), inclusive uma jogada lastimável de André Luiz no segundo tempo que, tendo Marcel sozinho no meio da área, resolveu enrolar e driblar (?) até perder a bola. O jogo era nosso. A vitória era fácil. No entanto, a depressão e resignação entregou a vitória, numa atitude de perdedor. Se eu fosse técnico ou dirigente, teria quebrado todo o vestiário e xingado de todos os palavrões do mundo os jogadores CAGÕES que se entregaram a esse timeco do Vitória.
Aliás, que coisa feia a mágoa e o ressentimento de Mancini, que atitude pequena. Sua declaração "fiquei feliz pela vitória, não por ter tirado o título do Grêmio" não esconde nada de quem crê minimamente em psicanálise e sabe que, nesse tipo de situação, o "não" simplesmente inexiste - ele simplesmente nega para afirmar. Não dá para acreditar que entregamos o jogo para um ressentido desses.

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sexta-feira, novembro 21, 2008

EU GOSTO MUITO DESSES CARAS

"Atomic Heels", a mais suave do álbum.



E eis o porquê de Josh Garza ser o meu baterista favorito na nova geração.


(Gravação bem ruim, a música tá cortada). "The walls are starting to crack".

Secret Machines em estúdio:



Mais Josh Garza:

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terça-feira, novembro 18, 2008

NENHUMA?

SERÁ QUE ESTE ANO não haverá UMA estréia que valha a pena? No meu topten projetado tenho 10 discos de artistas consagrados, gente como Oasis, Portishead, Coldplay, Verve, Kings of Leon, Mercury Rev e outros menos bajulados, mas também não-estreantes, como Secret Machines, Ladytron, M83 e Deerhunter (a ordem desses discos todos fica para depois). Será o primeiro ano desde que comecei a fazer toptens em que não haverá uma estréia?
Para comparar, em 2006 tive uma estréia no topo - os Guillemots - e o Silversun Pickups em terceiro (poderia ter sido segundo ou quiçá primeiro). Depois de Killers, Strokes, Franz, Libertines, Interpol, Black Rebel, Trail of Dead, Arcade Fire, Art Brut, Raveonettes, Grizzly Bear, Keane (eca), LCD Soundsystem e The Rapture, será que novatos não darão mais as caras por aqui?
A estréia que mais se aproximou da meta foram os Fleet Foxes, banda da turma do Wilco, Band of Horses e My Morning Jacket, que são bem bacanas, mas não tanto assim.



Fleet Foxes - a melhorzinha...

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O QUE A ORTODOXIA MARXISTA E A LIBERAL TÊM EM COMUM?

NA REALIDADE, poderia arrolar uma série de pontos para responder à pergunta. Por exemplo, a idéia de um sujeito centrado na consciência, racional e abstrato; ou a dominação da natureza, expressa na fórmula baconiana que ligar poder ao saber, tudo refletido na noção sagrada de "crescimento"; ou ainda a idéia linear de "progresso", que enxerga a história como um continuum em direção à "civilização".
Bem, me interessa apenas um: a impossibilidade de diálogo. Marxistas ortodoxos e liberais ortodoxos [que não são a mesma coisa que "direita" e "esquerda"] nunca estão errados. O que está errado são os fatos. Quando se diz a um marxista, "Olha lá, Cuba não é legal, e a China... bem, nem vou falar da URSS e, por exemplo, do massacre em Praga", o cara sempre responde: "não, é que eles não leram direito, não aplicaram direito". De alguma forma, o socialismo é sempre um projeto que jamais foi implementado, que permanece vivo na sua solidez suprema, sem jamais ser atormentado pelos fatos. Stalin foi apenas um acidente. Se Lênin tivesse vivido, o socialismo teria seguido o rumo correto. Vamos reler Trotsky! O que aconteceu nesses países nada tem a ver com o escrito por Marx, não importa que tenha se repetido mais vezes -- e assim por diante.
Com os liberais é a mesma coisa: "a quebradeira aconteceu porque não houve liberdade de mercado suficiente", como se vê alguns blogs chorando por aí. "A crise só se resolve com menos regulamentação", "o mercado deve corrigir os problemas", "o problema foi a política intervencionista de Bush [hihihi]". Refiro-me à "ortodoxia" liberal como aquela que bate o pé por Adam Smith até a morte. Esses que antigamente citavam a Islândia como padrão a ser adotado por todos os países [e agora, José?] ou que sempre acham que "falta capitalismo" [estão tão quietinhos sobre o assunto, ultimamente, né?].
Quer dizer: não adianta argumentar com liberais e marxistas ortodoxos que os FATOS desmentem suas metanarrativas. Com os liberais, que não existe essa tal de "mão invisível" e que os agentes econômicos são gananciosos e imorais, juntando-se em aglomerados econômicos que tolhem todas as possibilidades de liberdade por parte do consumidor (a sagrada - e meio ridícula - liberdade econômica) e, de outro lado, não indenizam custos que advêm dos seus "serviços" (meio ambiente, saúde, etc.). Não adianta argumentar que isso só deixa os ricos mais ricos e os pobres mais pobres, e que a "falta de real competitividade" no mercado não é um ACIDENTE do capitalismo, mas a sua tendência natural.
Para os marxistas, não adianta argumentar que não existe o tal "espírito do proletariado", que a maioria da massa tem espírito pequeno-burguês, que a aposta do marxismo é na mediocridade e acaba formando as burocracias totalitárias que testemunhamos, exterminando seus "inimigos", que essas burocracias não são ACIDENTES, mas destinos desses regimes.
Moral da história: FUJA dessa discussão que nem rato de gato quando a vislumbrar. Os dois lados disputam nas suas teologias e, como teologias que são, não são passíveis de discussão. Têm pressupostos metafísicos e não aceitam discutir as coisas no plano da faticidade. A faticidade é interpretada como uma mera "ausência da boa metafísica", e não a metafísica é produto da faticidade (como a boa filosofia contemporânea tenta pensar). Não adianta dizer que "mercado" é algo que não pode aprisionar a política e nem servir de objeto de adoração, nem que autores canônicos e maniqueísmos não resultaram historicamente em bons regimes.
A política é um experimento. Como experimento que é, deve ser avaliada lançada no mundo, pelos resultados que põe. Instituições e ideologias políticas devem existir enquanto sugestões de experimentos, jamais como metanarrativas que procuram totalizar os fatos e funcionar como "Bíblia" invocável contra a realidade. Não perca tempo discutindo com fanáticos.

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segunda-feira, novembro 17, 2008

NO RESTAURANTE

Ele gostava de tocar teclado. Trabalhava duro, dia após dia, alimentava bem seus filhos e terça-feira à noite lecionava catequese para pequeninos da sua cidadezinha. Beijava na testa a mulher quando saia todas as manhãs para trabalhar na sua loja de materiais de construção, dizendo “até a noite, mãe!” e levando, logo em seguida, seus filhinhos para o colégio.
Aos domingos, pra relaxar, tocava teclado no restaurante da estrada, quase sempre lotado. Na maioria do tempo, nem precisava pressionar as teclas, uma vez que o som vinha daquelas musiquinhas que ficam na memória do aparelho. Alternava canções para louvar a Deus e agradecer pela vida boa com algumas mais safadinhas, até quem sabe um bom Roberto Carlos, quando queria realmente aprontar.
No final, conversava no microfone com os amigos da cidade, alertando para os perigos que sofrem os jovens de hoje e como é importante a família educar bem seus filhos. Essa juventude que se mete com drogas e velocidade precisa de educação dos pais, de fé em Deus, de pais mais atuantes. Suas duas filhas (tinha dois meninos também), ao final, vestidas com um bonito vestidinho branco com rendas nas pontas, com os cabelos trançados e bochechas ruborizadas dirigiam-se até ele e davam dois beijinhos, recebendo palmas de toda platéia que, enquanto isso, comia suas carnes e massas. Ele até se oferecia para tocar seu teclado de graça em festas de família.
A comunidade aplaudia feliz e todos voltavam para casa mais unidos, prontos para a semana estafante que se seguiria.
Ninguém entendeu porque, naquele dia, ele jogou o teclado no chão e começou a chorar.

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sábado, novembro 15, 2008

O DESAFIO
ELAS SE ENTREOLHARAM e acharam engraçado ele dançando meio avoado, olhando para baixo e para cima e cantalorando o refrão da música. Derramou um pouco de cerveja sobre a camisa e viu, à sua frente, que elas sorriam. Entrou entre as duas e começou a se mexer, olhando para os lados. Ela piscou o olho para a amiga, como que combinando um truque qualquer. Aproximaram-se dele e falaram qualquer coisa -- ele nem ouviu, mas respondeu igual, elas também não ouviram a resposta.
Ficaram próximos. Ele era bom de papo. Duas piadinhas e elas riram. Foram para o bar. Três cervejas, Jack duplo, mais cerveja. Enquanto ele pedia, a piscadela se repetia e uma encenação era combinada.
Uma delas acendeu um cigarro. Depois da primeira tragada, preferiu dizer:
- Então, com quem vai ser?
Ele sorriu. Não gostava da pressa. Era difícil decidir.
- Na real, pode escolher. A única condição é que gostamos de fio-terra.
Ele hesitou. Estão brincando? Não? Como assim? Por quê? "Porque sim", resposta tão desagradável quanto previsível. Não valia a pena, mas também não valia a pena perder uma delas para o resto da noite. Respondeu de forma esperta, com a melhor sacada que poderia ter no momento:
- Topo, mas só se for com as duas juntas.
Elas se olharam. Valia continuar a brincadeira?
- Ficamos as duas contigo, mas contanto que façamos tudo.
Duvidou. Pediu para que elas se dessem um selinho para confirmar. Elas se olharam. Nunca tinham feito coisa do gênero. Foi pela piada. Um selinho rápido e fugaz, inofensivo. Ele delirou. Duvidou novamente. Disse que selinho assim não era nada. Queria ver um beijo. Timidamente, elas se aproximaram e, só pela gozação e para ver até onde ele ia, juntaram as bocas. Não tocaram as línguas. Apenas fingiram. Mas foi estranha a sensação de sentir lábios macios, diferentes do habitual.
Dilema terrível. E agora? Não eram as mais lindas da festa, mas eram duas e bem gostosas. Ficaria tranqüilamente com qualquer das duas. As duas! Mas que desagradável. Teve que desperdiçar.
- Foi mal gurias, mas tô fora.
- Sério?
- Pois é, não curto isso.
- Ok.
Olharam-se vitoriosas. Quando ele saiu, gargalharam. Mas, segundos depois desse instante, tiveram que desviar o olhar uma da outra, sentindo um frio na barriga. Alguma coisa estranha acontecera.

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sexta-feira, novembro 14, 2008

DOIS CLÁSSICOS ABSOLUTOS PARA UM FIM-DE-SEMANA MAIS LEVE



(Spiritualized, "All of my thoughts") (não tinha clip, filho, use your imagination).


(Slowdive, "Allison").


PORQUE são bons demais.
PORQUE são loucos demais.
PORQUE psicodelia é sempre permitida.
PORQUE sempre vale a pena ouvir.
PORQUE quem gosta de rock não tem como não gostar.


Então vai meu amigo. Vai sem erro.

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VAZIO, CHEIO OU CHEIO DE VAZIO?

UMA DAS COISAS BOAS de ter amigos inteligentes é poder discutir sem que as partes saiam abaladas da discussão. Aliás, qualquer academia séria deveria funcionar dessa forma: debates são não apenas normais, mas absolutamente fundamentais para que as questões cresçam em volume e complexidade. Infelizmente, apenas engatinhamos nessa tradição.
"Sopa de Moscas" e "Cartas de um Louco" são blogs vizinhos e travam uma discussão fundamental. Não creio que tenha a resposta final - e a discussão instiga justamente por ser de difícil solução - acerca da interpretação de contemporaneidade.
Vivemos a "era do vazio"? Autores distintos como Maffesoli e Bauman parecem concordar a respeito, mas as conclusões que tiram disso são opostas. Enquanto o primeiro "festeja", o segundo vê tudo com restrições e críticas.
Hoje em dia, estou mais próximo de Bauman. Autores como Agamben, Adorno e Levinas têm me tornado bastante crítico em relação à subjetividade contemporânea. Creio que, para usar expressão benjaminiana que Agamben se apropria, vivemos a era da "destruição da experiência". A experiência só pode ser experiência da diferença, senão é mera repetição. Viver significa experimentar nesse sentido; quer dizer, se deixar traumatizar pela alteridade. Um trauma que, no entanto, não é negativo: é essa experiência que nos constitui, que nos permite ir adiante, que nos "alimenta".
O homem pós-moderno parece não "experimentar" mais. Narcisismo e espetáculo, como constata Joel Birman, são ingredientes que impossibilitam a experiência da alteridade. O espetáculo transforma a representação em vida, fazendo-a hiper-real. Como o conto de Borges que Baudrillard certa vez cita: um dia um rei quis fazer um mapa tão perfeito que acabou cobrindo todo território. Ficamos apenas com o mapa. Admiramos as mulheres das revistas, mas sabemos que são "fabricadas" por photoshop. Então as moças deixam de comer para imitar o espetáculo (photoshop), até fazê-lo hiper-real. Olhamos Big Brother e acreditamos que aquilo é a "vida real", ainda que saibamos que não é. E, no fim das contas, nos esforçamos para transformar a realidade em BBB. A representação se realizou e tomou o lugar da vida.
De outra parte, vidros escuros e carros blindados fazem o narciso ignorar qualquer coisa que se interponha ao próprio gozo, perdendo a sensibilidade com a vida real. Vive em um mundo infantil em que a superfície especular do olhar do Outro é a única coisa que preenche seu "vazio" interior. Como uma estátua de vidro, absolutamente transparente e plenamente vazia, "cheia de vazio", vivendo exclusivamente em exibir-se como espetáculo. Se o gozo é interrompido, uma droguinha (lícita ou ilícita) resolve.
Tudo isso se funde na idéia de "performance": o sujeito se torna superfície do espetáculo a partir de metas narcisistas. É a figura do burocrata contemporâneo, incapaz de sentir a alteridade dos colegas de trabalho, flexível e new age, cheio de "motivação" e sugado por um binômio de trabalho/consumo. Ou ainda da "celebridade", uma espécie de exibição do nosso supremo vazio em carne-e-osso, que não tem nada a oferecer a não ser o "espetáculo", é um "nada" ambulante e festejado.
Perdemos a capacidade de "brincar", como afirma Agamben, pois além de narcisos espetaculares não sabemos sequer usar nossos brinquedos (carros, celulares, etc.), uma vez que o mundo do espetáculo é o mundo do "museu", onde as coisas são exibidas enquanto plataformas de "sucesso" e não mais usadas como brinquedos. A figura mais representativa do nosso tempo é o "turista", que, como bem ironiza o filme "A Praia" (do ótimo de Danny Boyle), quer ir viajar mas ficar no exato mesmo lugar, observando a cidade que visita como museu (incapaz da "experiência" de viajar).
Hoje abro o jornal é vejo duas notícias: 89% dos professores da rede escolar de SP foram agredidos por alunos, três jovens estupram menina, filmam e colocam na Internet. Como não enxergar os efeitos deletérios desse vazio? Estão "repletos de vazio", e ele produz algo. Uma cultura narcisista que não convive com a diferença e que impõe o gozo como imperativo. Uma cultura incapaz de dizer o que é o bem, como vem advertindo Jurandir Freire Costa. Ninguém deseja dar razão aos neocons da "tradição" e voltar atrás na história, mas sim estabelecer novos parâmetros. O vazio vem produzindo seus efeitos. É um vazio que "enche". Mas a sua substância é tão fria, transparente e frágil quanto o vidro. Pode existir algo mais gélido, frágil e perigoso que uma cidade de vidro?

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quinta-feira, novembro 13, 2008

THE SECRET MACHINES, "THE SECRET MACHINES" (2008)



TODO MUNDO SABE que o Secret Machines é das preferidas da casa. Como sempre, seu álbum sai sem muito estardalhaço e divulgação e conta com uma recepção moderada da crítica. Preocupava a ausência de Benjamin Curtis, que abandonou a banda, quando ouvi o álbum pela primeira vez.
A praia do Secret Machines é difícil de definir. "Definir é limitar", certa vez escreveu Oscar Wilde, mas para uma resenha é necessário, sob pena de o leitor ficar navegando no vazio das palavras. No primeiro álbum, o espetacular "Now Here is Nowhere" (2004), as influências das Máquinas estavam demarcadas no Pink Floyd, Sonic Youth, My Bloody Valentine, Built to Spill, Spiritualized e no pós-rock em geral (Mogwai, Explosions in the Sky). Combinando riffs agressivos com longas melodias, o álbum era tecido nessa rede ampla que poderia ser resumida na palavra "espacial". Poderíamos até chamar de "space rock". "Ten Silver Drops" (2006), lançado logo após, tinha alguns contornos diferentes, mergulhando mais na praia do "dream pop" dos Flamings Lips, Mercury Rev e Grandaddy e no pós-punk de Echo and the Bunnymen e do Interpol. Os riffs eram agora engrandecidos em tom de "arena", menos repetitivos e martelantes (a repetição era proposital) e mais melódicos e grandiosos. Ambos são discaços.
Nesse terceiro álbum, desta vez simplesmente "The Secret Machines", eles voltam mais parecidos com o NHiN, apostando em riffs mastigados e pesados, sonoridades psicodélicas e peso grandioso. Não é um disco fácil. Demora algumas audições para incorporar definitivamente ao ouvinte. É um som monumental, apocalíptico, gigantesco. Os arranjos são ambiciosos, recheados de teclados e sons diversos, preenchidas por meio de um clima espacial. Definitivamente, os Machines apostam em ser o Pink Floyd do século XXI (um século que já não tem mais paciência - ou tempo - para o Floyd): um Pink Floyd melancólico e grandioso, mas depois de uma clivagem do rock alternativo, que "limpou" os excessos (até a voz rouca e sussurrada lembra um pouco Roger Waters). Algo que estava mais claro que nunca no EP "September 000", um EP que todo fã de Floyd deveria dar uma chance.
Não há grandes solos, mas grandes repetições, as músicas vão ganhando em camadas e mais camadas de complexidade; não há refrões, mas melodias difíceis, quebradiças, cheias de desvios e permeadas pela batida furiosa de Josh Garza, o baterista mais parecida com Bonzo desde o próprio. Da mais fácil "Atomic Heels" à monstruosa "Have I run out" (maior momento floyd é "The walls are starting to crack" - fantástica), tudo se passa em um clima psicodélico de uma viagem conturbada ao mundo do espaço, recheando nossos ouvidos de temas enigmáticos propensos apenas para os bons ouvidos.
Mais violentos, os Secret Machines continuam pisando fundo no acelerador.

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quarta-feira, novembro 12, 2008

SEM INSPIRAÇÃO - MÚSICA



Oasis, "The shock of lightining"


The Verve, "Rather be"


The Dodos, "Fools"


TV on the Radio, "Dancing choose" (bem melhor nesse disco)


The Magnetic Fields, "California Girls"

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NEOCON, NADA DE LIBERTÁRIO (MUITO MENOS LIBERAL)

PARA QUEM TINHA dúvidas se o Chapeuzinho (não escrevo para não dar prestígio no Google) daquela Revista é NEOCON, como George W. Bush e Sarah Palin, e não um "neoliberal" naquele sentido que tentei expor há algum tempo, dêem uma olhada aqui. E, claro, para quem agüentar a disenteria verbal do próprio, que vá ao blog e confira os últimos posts sobre Guantánamo e a defesa do "Direito Penal do Inimigo" [chegou a dizer que Cuba é divida entre a que come (Guantánamo) e a que não come]. Enfim assumiu: é fascista cool mesmo.

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domingo, novembro 09, 2008

O LUGAR DO ATIVISMO

ESSA SEMANA o Supremo Tribunal Federal decidiu, por 9 votos a 1, manter a decisão de concessão de liberdade a Daniel Dantas. O juiz Fausto de Sanctis, que atuou em primeira instância, foi severamente criticado. A imprensa saiu em sua defesa.
Não conheço o caso a fundo e nem tenho elementos suficientes para opinar, mas me parece que era caso sim de decretação de prisão preventiva. Dantas mergulhou profundamente no Poder Público brasileiro e pode influenciar diversas instituições. Além disso, tentou subornar o delegado durante a Operação. Não é preciso ser "conspiratório" para ver que toda parafernália contra o "Estado Policial" dirigida pela mídia começou a partir do caso Dantas. Não é necessário ser tão esperto para estranhar, como estranha Elio Gaspari na sua coluna hoje e há algum tempo também Marcos Nobre, a verborragia do Ministro Gilmar Mendes e "coincidências" com temas defendidos por certa imprensa neocon. Eu, sinceramente, hesitaria antes de dizer que a liberdade de Dantas é uma "afirmação do Estado de Direito", como alguns mais empolgados diriam.
Falo isso embora seja um adversário ferrenho da preventiva: o Brasil prende preventivamente demais, cerca de 1/3 dos presos ainda estão sendo processados. O próprio STF colabora para a questão quando decide, por exemplo, que o tráfico de drogas não é suscetível de liberdade provisória, ainda que seja óbvia a diferença que existe nas condutas que possam ser enquadradas no dispositivo legal. Quando olhamos a questão sob o ângulo criminológico, as coisas ficam mais claras - e talvez vergonhosas. O sistema penal brasileiro não é uma ordem jurídica igualitária que protege a "paz pública" - como os penalistas escrevem nos seus manuais (e de fato acreditam) - e sim um conjunto de agências (algumas dentro da lei, outras fora) que visam a deter a população marginalizada naquilo que ela mais incomoda aos do "asfalto". Uma comparação entre preventivas injustificadas para traficantes e liberdades provisórias para grandes empresários não deixaria qualquer margem de dúvidas.
No entanto, a crítica do STF ao juiz foi justa. Lendo uma entrevista dele ao Globo, há alguns meses atrás, fiquei horrorizado. Todas as garantias asseguradas - por exemplo, defesa prévia - eram interpretadas como "benesses" que colaboram com a "impunidade". Como podem esquerda e direita ser tão semelhantes atingindo alvos opostos? Há uma confusão aqui de uma geração de esquerda que usa meios equivocados para fins justos (combater a desigualdade social), potencializando, na realidade, o discurso de Lei e Ordem (que, DE FATO, só atinge os marginalizados) no Brasil.
A "ação política" do juiz, ou simplesmente o "ativismo", é algo quase inevitável e de fato não há juiz neutro. Todo juiz carrega consigo uma decisão política que não se esgota no texto da lei. A confusão é no papel do juiz no processo penal e o que significa "ser de esquerda" nesse papel. "Ser de esquerda" não pode ser colaborar para um Estado Policial, a menos que essa esquerda não tenha aprendido nada com os fracassos homéricos do século XX.
Moral da história: o lugar do juiz no processo penal não é neutro, mas politicamente orientado. Essa orientação, no entanto, deve ser a da GARANTIA, ou seja, o juiz deve ser o garantidor dos direitos fundamentais previstos na Constituição, um "dique" contra o "maremoto" que vem como poder punitivo sobre ele. O ativismo judicial é o ativismo das garantias.

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quinta-feira, novembro 06, 2008

MUITO MAIS QUE RAÇA

JOHN MCCAIN, apesar de pertencer ao partido de gente desprezível como George W. Bush e Dick Cheney, canalhas que fabricam guerras, usam métodos fascistas, revertem dinheiro dos cofres públicos para os mais ricos e incentivam um pensamento tacanho e provinciano, além de violento, sempre me pareceu um cara de bom caráter. Mais digno que seus colegas, apesar da tropeçada (ou nem tanto) que foi a nomeação da fanática-débilóide Sarah Palin. McCain mostrou classe no seu discurso de despedida. Mas enfatizou demais a questão racial.
É claro que há sim questões raciais importantes. Um país que tinha leis racistas há só 50 anos e continua com representantes da mentalidade KKK nos grotões eleger um candidato negro é algo especial. E também resultado das ações afirmativas, que muito atrito geraram, mas agora parecem sinalizar o seu final em uma era "pós-racial". Para isso, entretanto, foi necessário desequilibrar a forma para corrigir o conteúdo, que era de desigualdade. Um dia, quem sabe, chegamos lá no Brasil.
O que Obama representa, já escrevi isso aqui embaixo, é a decorrada do pensamento neocon e, sobretudo, UMA REAÇÃO CONTRA O CINISMO POLÍTICO. O cinismo é, hoje em dia, a principal estratégia do poder. Um poder que não se mascara; antes, ri grotescamente de si mesmo. Um poder que consegue fazer o cinismo dilacerar as mais inteligentes mentes numa espécie de indiferença absoluta, uma "risada da Totalidade" na interpretação menos caridosa do "amor fati" de Nietzsche.
O lema de campanha era "YES, WE CAN". Poderia ser completado: sim, nós podemos vencer o cinismo. Nós podemos eleger alguém decente. Nós podemos sair da apatia. Nós podemos ir além de Clinton e Bush. Nós podemos voltar a ter aquela ingenuidade infantil da esperança, sem a qual a vida de torna uma tragédia opaca em que a vida é "danificada", a vida sem sentido dos personagens de "American Beauty". Foi esse assenhoramento do tempo que significou ""Yes, we can".
Because we can.

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quarta-feira, novembro 05, 2008

YES, WE CAN.

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terça-feira, novembro 04, 2008

BLOC PARTY, "INTIMACY" (2008)



DE TODAS AS BANDAS do "novo rock" (pós-2000), creio que o Bloc Party é a mais superestimada. Depois, por exemplo, de receber nota altíssima de uma revista chata como a Pitchfork com seu "Silent Alarm" (2004), a banda é sempre elevada a patamar de "quase genial" que, em momento algum, alcança. Se o primeiro disco é um torpedo que tem um dos "Lados A" mais poderosos da década - e tem -, o "Lado B", assim como seu segundo álbum "A Weekend in the City" (2007), são fracassos vertiginosos. Tentam atirar em um experimentalismo com toques de pós-punk e só acertam o saco do ouvinte, de tão entediante que são as músicas (à exceção de uma ou duas que seguem a dinâmica guitarra-pegada dos bons momentos).
"Intimacy" é mais uma ousadia dessa banda que se superestima. Será que o Bloc Party acha que pode ser o Radiohead dos anos 2000? Talvez. Não são. Nem provavelmente serão. Mas, vamos lá, o disco até que vale a pena.
Se a fórmula antiga era revezar entre riffs dançantes com vocais agressivos de estourar a pista(melhores momentos: "Hellicopter", "She's hearing voices", "Like eating glass", "Banquet", "Song for clay (disappear here)") com modorrentas imitações do Joy Division, Interpol e Echo and the Bunnymen ainda mais experimentais (todas as outras), agora a fórmula parece se concentrar em um recurso pouco utilizado: a música eletrônica. Já presente perifericamente nos outros álbuns (embora "Silent Alarm" tenha ganho uma versão "remixed" quase tão boa quanto o original), aqui ela é o elemento principal utilizado.
E vai bem o Bloc Party nesse aspecto. "Ares", "Mercury", "Trojan Horse" e outras são ótimas canções de rock eletrônico, bebendo nos Chemical Brothers até não poder mais (o loop de bateria de "Ares" poderia gerar processo de plágio). Trocando a confusão instrumental e perda de foco do último álbum por uma decisiva incursão na cozinha eletrônica (acompanhada de riffs rasgantes que lembram o DFA79), o Bloc Party convence mais do que antes. Pelo menos é menos entediante. Assim, o álbum tem apenas poucos momentos chatos (são poucas as baladas e nem todas ruins) e vários de pilhadeira geral, o que significa potencializar as qualidades e restringir ao mínimo os maus momentos (sempre presentes).
Pode ter o Bloc Party encontrado um novo caminho? É bem possível. Mas, apesar disso, a banda de Kele Okereke está longe da genialidade uma vez profetizada.



Bloc Party, "Mercury"

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MUITO MAIS DO QUE PARECE

A ELEIÇÃO DOS EUA HOJE pode nos trazer Barack Obama como presidente. Alguns estão céticos Justificarquanto à sua futura presidência (exemplo de Marcos Nobre, hoje, na FSP), outros nem tanto. Confesso que, se eleito, deposito em Obama uma esperança monstruosa.
Há dois anos atrás li pela primeira vez, no blog do Pedro Dória ainda no NoMínimo, sobre um senador negro de nome Barack Hussein Obama que se credenciava para a Presidência dos EUA. Parecia engraçado, pelo "Hussein", "Obama" (quase Osama) e por ser negro e jovem. Pedro, no entanto, já advertia àquela época - e vi o vídeo - que o discurso era de gênio político. Hoje, Obama é favorito, depois de desbancar a favoritaça Hillary Clinton e superar, sem entrar em jogo sujo e fazendo poucas concessões, o fortíssimo discurso neocon.
Obama, para mim, pode significar uma volta dos EUA à condição de "América", terra dos direitos civis, o local de gente como John Dewey, William James, Thomas Jefferson, John Rawls, Richard Rorty e Hillary Putnam. Literalmente, e seguindo o próprio slogan de Obama, um local onde a "esperança" está acima do "medo".
Rorty certa vez escreveu que o que difere direita e esquerda é que a direita vê a América como algo a ser "conservado", mantido sob rígida tradição, enquanto a esquerda vê América como algo em permanente construção, jamais estagnado no tempo. Isso me parece ser a "esperança" que Obama defende. Tudo contraposto aos EUA pós-Reagan, quando se implementou uma "cultura do medo" que coloca todos em posição defensiva, fechados nas suas mônadas e votando no melhor "xerife", resultando no desastre que foi a gestão George W. Bush - fim de um processo que começa no "Tolerância Zero" e "Guerra contra as Drogas", gerando uma criminalização da pobreza e intolerância geral, até o seu produto final, a "Guerra contra o Terror", que desarticulou todos os direitos civis e permitiu a formação de campos de concentração geridos pela tecnocracia do "complexo industrial-militar" norte-americano.
Obama pode significar um retorno à "América" de Rorty (uma pena ele estar morto hoje, tão pessimista que terminou...), na sua plataforma que, ao contrário dos "democratas conservadores", jamais aderiu ao discurso do medo, jamais fez o jogo político que se vinha jogando no EUA. Deposito nele essa esperança messiânica, essa capacidade de romper (sem necessariamente romper com instituições) com todo quadro político que vinha se formando e apodrecendo a democracia dos EUA até o ponto de se transformar em uma plutocracia, com testemunhávamos. Boto fé em Obama porque ele arriscou desde o início, sempre foi claro na sua distinção com o status quo, questionou fundamentos da política interna e externa e tem um histórico de lutas (basta ver seus projetos no Senado) contra a putrefação a que vinha sendo submetida a democracia norte-americana.
Se Obama se elege, não sei. Mas a minha esperança, caso eleito, é muito grande.

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sábado, novembro 01, 2008

SILÊNCIO

A ARTE SEMPRE FOI AQUILO QUE tentou escapar da Totalidade, aquilo que procura se contrapôr e abrir novos sentidos à existência. A auto-referência e explicação integral do mundo, a estagnação do tempo e o conformismo apático ou cínico, tudo isso sempre encontrou como rival a arte. Por isso, talvez, todos os meus grandes filósofos são apologetas dos poetas, pintores, músicos, cineastas, prosadores, contistas, escultores e assim por diante. Eu próprio provavelmente nada mais sou que um artista frustado (fracassei na poesia e prosa).
O que a arte tem a dizer na nossa época, quando estamos diante da estetização geral da existência? A estetização da política, que Benjamin identificou com o fascismo, hoje se ampliou a congelamento geral da vida numa plataforma que transforma o sujeito em uma espécie de superfície de "perfomance", como se ele próprio vivesse como espetáculo. Tudo se perdeu na representação pura que se hiper-realizou e agora toma o lugar do real. Como o conto de Borges que Baudrillard refere: um dia, um governante resolveu traçar um mapa exato de seu território, mas o mapa era tão perfeito que cobriu todo país. Ficamos apenas com o mapa.
O que resta à arte? O puro e simples silêncio. Da destruição da representação da arte contemporânea até o mais radical silêncio, um vazio que mimetiza o vazio da nossa realidade-hiper-real como se, em um espelho, pudessemos parodiar a a esperatura vítrea (e por isso fria e transparente) da nossa época. É nesse sentido que leio a iniciativa da Bienal paulista que contará com um andar absolutamente vazio de obras.
Vazio, como nós.

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