Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, junho 16, 2008

INTERROGATÓRIO E TORTURA NA CPI

É engraçado a capacidade de rirmos dos nossos direitos e garantias. Ninguém gostaria de ser torturado numa investigação. No entanto, quando é o outro, tudo bem. Nossa sociedade contemporânea é, como bem nota o perspicaz psicanalista Joel Birman, sobretudo narcisista. O sujeito está impregnado de si mesmo na sua mônada e o registro da alteridade é anulado, gerando indiferença e predação do outro. Isso, do ponto de vista político, vem produzindo o que o gênio Eugenio Raúl Zaffaroni chamou, com a precisão costumeira, de "autoritarismo cool". Não é um autoritarismo como o do entre-guerras, estilo fascismo e nazismo, com um forte viés ideológico, frontal, mas um autoritarismo publicitário, moralista e baseado em slogans. Ele se alimenta, propriamente, de uma "greve do pensamento". É proibido pensar. Quem se atreve é mal-visto, pois esse autoritarismo se orgulha de ser rasteiro.
Eu mesmo já admiti meu "gozo" pela demolição desse Governo podre e conservador do Estado, mas é preciso evitar a posição de algoz. Quando nessa posição, normalmente tento estancar a situação e refletir sobre minha conduta.
Um interrogatório é uma cerimônia tremenda. Imagino que o cara naquela posição deva sofrer um bocado, estar realmente em uma posição degradante. Existem estudos criminológicos sobre o tema, inclusive. Por isso, estabeleceu-se em convenção internacional, com toda razão, que mais de 3 horas de interrogatório configura tortura. E configura mesmo. O filme "A Vida dos Outros" mostra bem isso. Ninguém resiste higidamente a um interrogatório de 5, 6 horas. Impossível. Tortura psicológica.
O que estamos vendo na CPI, no entanto, são interrogatórios de 10 ou mais horas. É totalmente desumano e inconstitucional. Inadmissível. Precisa parar. Não é possível que se continue interrogando os envolvidos por 10 horas. Os deputados que dêem um jeito de encurtar as perguntas, para com trelelé e ir direto ao ponto. Que elaborem perguntas por bancada.
G.D. advertia aqui que a questão não era de um partido ou outro, mas de delírio niilista. Até concordo com ele, mas em parte. Me preocupa, no entanto, que essa geração niilista ex-petista se enfia dentro de um moralismo raso, sem substância, e volta e meia quando resolvem opinar sobre alguma coisa é um deus-nos-acuda. Esses últimos posts estão de dar orgulho ao chapeuzinho da Veja. Na saga de se diferenciar os petistas, acabam abraçando os conservadores. Me preocupa esse niilismo.

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