Nova época
A partir do ano que vem, acho que vou começar a dar um tom mais introspectivo [e até literário] para os posts. Vou escrever um pouco menos sobre música, que é o assunto dominante deste blog, e mais sobre a vida que se arrasta. Uma parcela disso se deve ao fato de que estou novamente solteiro, e nesses casos os momentos melancólicos e, por isso, reflexivos, acabam se multiplicando. Incrível o vazio que se torna a vida nesses tempos. Tempos difíceis virão.
2005, de um modo geral, foi um ano bem agradável, repleto de desafios e mudanças. Teve um início tumultuado, exigindo uma série de adaptações e ajustes na minha vida, mas que, na metade do ano, já haviam sido devidamente digeridos. O final do ano, contudo, está sendo bem chato e ameaça estragar o que veio antes. Ao que parece, para ganhar algumas coisas terei que ser um pouco menos eu mesmo, um pouco menos contundente.
Madrid
Terminamos melancolicamente o ano. Uma série de resultados negativos e a incapacidade do Madrid de enfrentar qualquer adversário qualificado [Valência, Barcelona, Lyon], perdendo para todos, revelam a extrema fragilidade do time, devido a uma política completamente equivocada de contratações e dispensas.
Para o ano que vem, Lopez Caro foi efetivado como técnico, Cicinho vem e Cassano é a promessa. Mais uma vez equivocado. O Madrid aposta em treinador inexperiente e "da casa", contrata mais um atacante, quando há pouco tempo tinha Owen e Morientes à disposição, mantém medalhões [renovou contrato com Helguera] e não contrata jogadores para as posições que está mais carente [defesa e volantes].
Só com uma renovação da espinha dorsal do time, contratação de um treinador qualificado e a dispensa de alguns medalhões poderíamos melhores. Excelentes jogadores como Roberto Carlos, Iván Helguera e medianos como Michel Salgado e Pablo Garcia deveriam sair, já, do time. Com Cicinho, o Real Madrid poderia rearmar a sua defesa contratando um zagueiro de primeiro escalão [Nesta, Canavarro, Campbell, Hyppia, etc.] e um novo lateral-esquerdo com bom potencial marcador, como Ashley Cole, reformulando sua linha defesa: Cicinho, Nesta, Ramos e Cole. Depois, dois volantes de grande marcação e boa saída de bola, como os do Chelsea, Makelele e Essien, ou apenas um, com mais um meia que saiba marcar bastante, desde que Beckham cumpra funções defensivas. Assim, por exemplo, Makelele e Gerrard, ou Juninho Pernambucano. Outra coisa: um reserva jovem e promissor para Zidane, que se machuca muito facilmente, e que deve jogar bem próximo dos atacantes. Teríamos, então: Makelele, Gerrard, Beckham e Zidane, com Van Der Vaart, por exemplo, no banco do último. Ronaldo deve ficar apenas se deixar bem claro que quer e, além disso, concordar em diminuir seu peso. Caso contrário, Adriano é o centroavante que deve vestir a 9 em Madrid. Robinho deve continuar entrando aos poucos, porque é um jogador fora-de-série e todos os problemas que vem enfrentando enfrentou exatamente iguais no Brasil, e superou. Júlio Baptista deve se adaptar novamente a jogar mais atrás, podendo até entrar na segunda função do meio campo, desde que se proponha a jogar como tal. Com Raúl machucado, é preciso trazer um novo atacante. Um técnico de pulso forte, capaz de boa motivação para forte marcação é necessário. O melhor nome, sempre, é Luiz Felipe Scolari. Esse arrumaria a casa. Dispensados seriam Roberto Carlos, que não tem mais a energia necessária, Salgado e Helguera [e eu gosto do Helguera], pois ambos exercem liderança negativa e não vêm resolvendo há tempos o problema defensivo. Pablo Garcia poderia ficar no banco e só, assim como Gravesen.
As jogadas midiáticas têm sido fundamentais para o Madrid retomar o título de maior clube do mundo. Nesse ponto, o projeto de Florentino foi correto e enriqueceu novamente o clube. Se isso for ainda necessário, trazer Kaká como sucessor de Zidane seria a jogada de mestre. Por uma temporada, jogariam juntos, se alternando, e no ano seguinte já acaba o contrato do gênio francês. Além de Makelele, Emerson e Vieira, p. ex., seriam o tipo de volante que o Madrid precisa.
Sem um meio campo bem marcador, com três jogadores marcando o campo inteiro, reforços no plantel, para suprir os titulares, e um técnico com pulso firme e motivação, remodelando o time, o Madrid não sai de onde está.
Melhores livros
Os três melhores livros que li esse ano foram todos técnicos, então me desculpem pela chatice, mas foram os que li. Em terceiro lugar, "Direito Penal Brasileiro", adaptação de Nilo Batista ao original de Zaffaroni, uma obra-prima que deveria ser lida em todas as faculdades de Direito para espancar mitos que existem e teimamos em acreditar. Um mito: o Direito Penal. Em segundo lugar, "Globalização", de Zygmunt Bauman, um trabalho breve em que o polonês genial analisa a condição da pós-modernidade, com pessimismo, é verdade, e os impactos do mercado mundial na dimensão humana. Sem linguagem marxóide. Por fim, o melhor livro do ano, um dos tantos bons que li dele, mas a coletânea de papers de Richard Rorty, "Objetivismo, Relativismo e Verdade", onde são abordados temas de ordens diversas, desde a verdade, o conhecimento científico, até a esquerda, as políticas de gênero e a diferença cultural. Esse norte-americano brilhante me converteu para o seu liberalismo, embora com uma certa divergência, e me fez ver com outros olhos os EUA. Além disso, "dissolveu" a maioria dos problemas filosóficos que eu pesquisava, abrindo novas perspectivas. Para quem se interessa, ele é o bicho.
Faltou um: "A Sociedade dos Indivíduos", de Norbert Elias, eliminou a distância entre o indivíduo e a sociedade, um dilema bem próprio do Direito e da Sociologia, que uma forma que me convenceu totalmente, obrigando-me a fazer re-leituras das minhas posições sobre outros autores-ídolos, como Foucault, Deleuze e Guattari.
Filmes
Alguns bons filmes ficaram de fora, como o brasileiro Casa de Areia, e Ray, Sydeways, Batman Begins.
Para a lista de piores, poderia colocar alguns como De-Lovely, Guerra dos Mundos e, no topo, o mais chato do ano: BE COOL.
Bright Eyes
Nesse dias de melancolia, "Poison Oak" e "Oul Soul Song (for the new world order)" são lindas, perfeitas, baladas com alma, praticamente inigualáveis. Aliás, em termos de baladas, raramente elas são sinceras, na maioria são meras composições mais-do-mesmo de roqueiros para suavizar a barulheira dos seus discos e ter uma certa esperança de sucesso. Nem mesmo monstros desse ano, como o Black Rebel Motorcycle Club ou o Oasis, ou, por exemplo, outra banda de sucesso recente, como o Jet, escapam à regra.
Alter Ego
O último show teve várias novidades apresentadas, e mostrou uma banda segura de si, certamente capaz de provocar na platéia sentimentos agradáveis. Os acréscimos de Verve e Jumpin' Jack Flash, por exemplo, foram estupendos. A banda bêbada é legal sim, mesmo que alguns pequenos errinhos tenham rolado nos solos, porque --- já afirmei isso aqui uma centena de vezes --- a essência do rock é o espírito, e não a técnica.
O Brasil está aguardando que a banda realmente mostre a cara, colocando o seu disco nos canais de divulgação do mainstream e nos independentes. Peligro e London Burning, por exemplo, são boas pedidas.
Por sinal, escrevi mais uma resenha - desta vez sintética, pelo estilo do site, lá no Plugitin.
Trilha sonora do post: Bright Eyes, "We are nowhere and it's now".