Mox in the Sky with Diamonds

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

IRONIA E CINISMO


A ironia, em alguns contextos, pode ter uma função extremamente criativa. Ela pode demonstrar o absurdo dos sectarismos, a hipocrisia, o desligamento do mundo, etc. Os caras do Monty Python, se bem que se possa dizer que são mais que irônicos, são sarcásticos, exploraram isso isso até o último rasgo de energia. Fizeram uma das críticas mais incisivas da sociedade inglesa -- comparável à mordacidade de um Oscar Wilde. Certamente, trouxe inúmeros benefícios para eles.
Mas é preciso cautela com a ironia. Porque, muitas vezes, ela é simplesmente cinismo. Fico impressionado como os conservadores utilizam a ironia. Tudo é ironizado. Tudo está na sensação que fica entre o ceticismo, o pessimismo, o conservadorismo e uma pitada de piada. O que vence não é quem tem o melhor argumento, e sim quem faz rir mais. Leio em alguns lugares que X venceu o debate porque foi mais hábil, mais engraçado, mais capaz de despertar empatia que Y, mais "técnico" ou mais preocupado com seriedade nos argumentos.
Nada contra o humor. Mas não esqueçamos que o nazismo era super bem-humorado. O humor, muitas vezes, pode ser suporte de extrema crueldade.
Por isso, numa discussão o que vale não é a melhor ironia. É o melhor argumento. Gostaria de perguntar, por compromisso ético, o que gente como Reinaldo Azevedo ou Diogo Mainardi tem a dizer sobre aqueles que vivem abaixo da linha da pobreza no Brasil, que nasceram longe de qualquer oportunidade e não conhecem alguém que tenha saído dessa situação. Esses que exibem o limite de qualquer meritocracia liberal, porque jamais poderão ocupar aquela queridíssima posição de "sujeito racional que contrata". Provavelmente eles me ironizariam. De algum jeito. Porque, no final, a ironia é um escudo imbatível.

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