Falta de criatividadeNADA tem sido mais tedioso nos últimos dias que o noticiário político. Os cadernos de política têm se resumido ao caso Renan Calheiros e, em menor escala, a Roriz. Além de, é claro, a agenda de Lula. Que a imprensa tenha o dever de denunciar a corrupção, é o óbvio. No entanto, que tenha que reduzir a política a isso, é outra história.
Que tal fazer reportagens trazendo especialistas para discutir matérias importantes? Por exemplo: pegar um projeto de lei que já esteja no segundo turno e discuti-lo, com opiniões de pessoas que investigam a fundo? Se o brasileiro se preocupa com segurança pública, porque não debater segurança pública, e não só ficar discutindo a ineficiência do Governo? O Bolsa-Família é, afinal, assistencialismo? Que tal chamar pessoas que recebam para falar? E o debate sobre o aborto, how about? Políticas de saúde, quem sabe trazer reportagens sobre alternativas que tenham sido bem sucedidas? As cotas, vamos debater? E a proteção da Amazônia?
Infelizmente, as colunas políticas hoje parecem um colunismo social adaptado. Enquanto a Contigo debate se Luana Piovani foi ou não à festa, a Folha debate com quem Lula conversou e convidou para o quê. E, se a Contigo às vezes traz manifestações indignadas contra a negligência materna de Britney Spears ou os tragos de Paris Hilton, a Zero Hora empilha colunas contra corrupção de Renan ou Delúbio Soares.
O tema da corrupção é fundamental e necessário. No entanto, ele é, por si só, um desencanto com a política. É preciso que a imprensa desempenhe também um papel pró-ativo na democracia, desencadeando debates e qualificando argumentos. Às vezes, um ponto de vista sólido sobre uma coisa é simplesmente produto de desinformação.
The National, "Boxer" (2007)
A mídia musical tem suas idiossincrasias; algumas exageradas, outras deliciosas. Algumas críticas contra o disco do Interpol têm sido visivelmente injustas, pois o disco é um primor de consistência do início ao fim. O The National já tem apreciação distinta: com notas altas em praticamente todas as publicações, a banda indie americana que já está no seu quarto disco realmente fez um trabalho convincente.
Com um vocal grave e bem postado, cantando e contando, eles fazem belas melodias com elegância sincera. De melancólicas baladas a temas mais agitados, o álbum mantém a consistência íntegra ao longo de toda audição e não baixa, em nenhum momento, do nível muito bom. Particulamente, as canções "Fake Empire", "Racing like a pro" e a melhor, "Mistaken from strangers", são deliciosas.
Blonde Redhead, "23" (2007)Outra banda indie americana, com um catálogo já um tanto quanto extenso, que agora parece estar prestes a obter reconhecimento. Se a influência antiga [seguntam contam: não escutei] era o Sonic Youth, aqui definitivamente a praia é o dream pop. O gênero, que tem parentesco inegável com o shoegaze, traz algumas lembranças, durante o álbum, do My Bloody Valentine e de bandas "nu-gaze" como o Asobi Seksu [especialmente o vocal doce e nipônico]. No entanto, é certamente na esteira do Mercury Rev, Flaming Lips e outras dessas bandas que está a conotação principal desse misterioso e psicodélico álbum.
Composto de belos temas, dos quais destacaria "23", "Dr. Strangeluv", "Heroin" e "My Impure Hair", pairam em atmosfera absolutamente etérea os vocais doces de Kazu Makino, em melodias que variam e diferem, mas mantém a mesma climatização celestial, recortada em guitarras e elementos eletrônicos. Não é repetitivo nem enfadonho: cada tema vai, aos poucos, emergindo do seu hermetismo para conquistar o ouvinte na melodia contagiante.