Mox in the Sky with Diamonds

domingo, abril 27, 2008

NIETZSCHE, HOJE

Estávamos sentados enquanto ele tocava um órgão gigante, de vez em quando passando o dedo por uma ou outra tecla enquanto aquele som infernal MIDI atolava nossos ouvidos. Falava de drogas, dos nossos adolescentes perdidos na balada, da fé em Jesus, sorria aos clientes do restaurante, cantalorava músicas antigas. Ele tem respostas para tudo. Ele vive uma vida inquestionável.
Nietzsche foi o primeiro a ter coragem de enfrentar isso de frente: foi o primeiro a recusar a "moralina", combustível dos melhoradores da humanidade. Já enfrentei por aqui os limites da libertação nietzschiana e a necessidade de fixarmos um novo padrão de moralidade, baseados na transcendência do Outro, sem qualquer apoio metafísico ou teológico. Mas o discurso de Frederico teima em ser atual: os moralistas continuam na linha de frente.
Eles nos governam. Eles -- "essas pessoas da sala de jantar". Enquanto sentia vontade de rir pelo ridículo do nosso tocador de órgão, sentia também um profundo mal-estar: seria cômico, se não fosse trágico.
Resta-nos cantar com Caetano:
Eles (Caetano Veloso/Gilberto Gil)
Em volta da mesa
Longe do quintal
A vida começa
No ponto final
Eles têm certeza
Do bem e do mal
Falam com franqueza
Do bem e do mal
Crêem na existência do bem e do mal
O florão da América
O bem e o mal
Só dizem o que dizem
O bem e o mal
Alegres ou tristes
São todos felizes durante o Natal
O bem e o mal
Têm medo da maçã
A sombra do arvoredo
O dia de amanhã
Eis que eles sabem o dia de amanhã
Eles sempre falam num dia de amanhã
Eles têm cuidado com o dia de amanhã
Eles cantam os hinos no dia de amanhã
Eles tomam bonde no dia de amanhã
Eles amam os filhos no dia de amanhã
Tomam táxi no dia de amanhã
É que eles têm medo do dia de amanhã
Eles aconselham o dia de amanhã
Eles desde já querem ter guardado
Todo o seu passado no dia de amanhã
Não preferem São Paulo, nem o Rio de Janeiro
Apenas tem medo de morrer sem dinheiro
Eles choram sábados pelo ano inteiro
E há só um galo em cada galinheiro
E mais vale aquele que acorda cedo
E farinha pouca, meu pirão primeiro
E na mesma boca senti o mesmo beijo
E não há amor como o primeiro amor
Como primeiro amor
Que é puro e verdadeiro
E não há segredo
E a vida é assim mesmo
E pior a emenda que o soneto
Está sempre à esquerda a porta do banheiro
E certa gente se conhece no cheiro
Em volta da mesa
Longe da maçã
Durante o Natal
Eles guardam dinheiro
O bem e o mal

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