COBERTURA RASTEIRA
É uma lástima que, como disse aqui tantas vezes, a imprensa continue com essa cobertura rasteira da política nacional. Podem dizer: é um reflexo do que é a política brasileira. Certo, mas o inverso também é verdadeiro. Os dois principais temas da imprensa atualmente são o dossiê que revelaria gastos da Presidência FHC e o terceiro mandato de Lula.
É por essas e outras que eu entendo a implicância dos petistas com a mídia. Primeiro, se o dossiê existiu, é grave, mas não suficiente para cobrir 10, 15 dias das principais páginas políticas. Deve ser investigado, porém há outras coisas para se falar. Não digo que é factóide porque se baseia em um fato real (provavelmente), mas a insistência e relevância que é dada ao tema é absolutamente desproporcional. Aliás, como já disse no caso do Dossiê do Serra, é incrível como quando o Dossiê é contra os tucanos o que importa é a forma, e não o conteúdo (que, dizem, incluí inclusive pênis de plástico nas compras presidenciais -- imagina se fosse do PT). Há, visivelmente, dois pesos e duas medidas. Reitero: nada contra a investigação da imprensa, nada contra a contestação das versões oficiais, nada contra discursos que condenam o uso da máquina pública. A cobertura é desproporcional ao fato, só isso. Razão? É desfavorável ao Governo. E a mídia precisa bater no Governo, uma mais; outras menos. O assunto é tão chato que ninguém comenta nada nas ruas, nos ônibus, em lugar algum.
Já a notícia do terceiro mandato é puro factóide. A mídia insiste, polemiza, uns escrevem colunas detonando Lula (!) e o Presidente já negou mais de dez vezes que vai concorrer novamente. Aqui sim, dá vontade de mandar tudo à puta que pariu. No entanto, seguem páginas e páginas de "jornalismo" sobre o tema.
Não sou adepto de teorias persecutórias que falam do "PIG" ou da "mídia má", como escrevem por aí. Mas que a mídia fabrica factóides, fabrica. Que favorece o PSDB e especialmente José Serra, favorece. Isso qualquer pesquisa séria que fizesse levantamento de dados poderia constatar sem absolutamente nenhuma dificuldade.
Minha pergunta é: não tem coisas mais importantes? O que os governos fazem da segurança pública? Vamos discutir modelos de polícia? Educação, precisamos, né? Vamos debater que tipo de educação? Vamos atrás dos programas e investimentos para criticá-los ou elogiá-los? Vamos debater os assuntos ambientais que envolvem o PAC? Falta "alta política" não só para o Governo; a pobreza dos debates midiáticos está diretamente relacionada com isso.
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