MÍDIA: VALE A PENA COMPRAR ESSA BRIGA?
O blog do Paulo Henrique Amorim -- Conversa Afiada -- parece estar cada vez mais ganhando dimensão. Isso se deve, afora os próprios (de)méritos do jornalista, ao fato de que o portal Ibest tinha um dos melhores sites nacionais -- o NoMínimo -- que acabou extinto por ausência de investidores. Viúvas do NoMínimo, como eu, ainda costumam acessar o site do Ibest, mas acabam se dirigindo ao PHA, que lá está situado.
Paulo Henrique Amorim resolveu comprar a briga contra a "mídia golpista". Usa como bordão em todos os seus artigos que "Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil".
Ora, em primeiro lugar a afirmativa é no mínimo contestável. Os EUA e a Grã-Bretanha, por exemplo, estão absolutamente REPLETOS de jornais de baixa -- quiçá baixíssima -- qualidade, que tem sim importância por lá. Basta ver, por exemplo, o papel da FoxNews na Guerra do Iraque, quando, apesar de todo o Mundo saber do contrário, conseguiu convencer os americanos de que havia armas de destruição em massa na terra de Sadam.
Esses jornais, ao contrário do que prega Paulo Henrique e grande parte do jornalismo "de esquerda", funcionam livremente. É o preço da liberdade de expressão e de imprensa.
Mas vamos ao conteúdo. Vale a pena comprar a briga com a mídia brasileira?
Em parte, eu diria que as reivindicações de PHA são corretas. De fato, a mídia é totalmente anti-petista e pega pesado em demasia com o Governo. O caso do "relaxa e goza", um simples desatino verbal de Martha Suplicy, mostra que a mídia superlativiza os erros e relativiza os acertos do Governo. Comparar a fala de Martha -- uma feminista conhecida -- com o ato de estupro, como alguns fizeram, é mais do que um absurdo anti-ético; é agressão pessoal que deveria gerar indenização civil à Ministra.
Essa covardia da mídia, que repete bordões como "espetáculo do crescimento", "chefe da quadrilha", "relaxa e goza", "dólar na cueca" e outros, alimentando estereótipos sobre o Governo, é de fato repulsiva e merece ser denunciada. As piadas sobre Freud Godoy [do tipo "Freud explica"], que foi inocentado e NADA foi publicado em retificação, a não ser uma coluna do Elio Gaspari, são, sem dúvida, um reflexo desse comportamento irresponsável e anti-ético da mídia, que tem SIM um certo teor persecutório aos governos do PT.
Não vou falar, no entanto, das condenações antecipadas e linchação pública, porque o PT usou e abusou disso quando não estava no Governo. É puro jogo político reclamar agora. No entanto, todos sabem o que penso sobre o tema e o quanto a imprensa DESINFORMA, se pegarmos, por exemplo, o tratamento que é dado ao tema da prisão durante o processo criminal, que é exceção, e não regra, mesmo que a mídia queira parecer o inverso.
Também certas "invasões de privacidade" vem se mostrando eticamente inaceitáveis. Os casos do Marco Aurélio Garcia e o seu "top top" e dos Ministros Ricardo e Carmen, do STF, falando pela rede interna, revela uma cultura "Big Brother" que passou do ponto.
Tudo bem, até aí concordamos. Mas não dá para comprar uma briga unilateral, como fazem Paulo Henrique e Marilena Chauí. Isso vai acabar gerando posições ridículas, como quando dizem que há "golpismo" na história do mensalão. Todos sabemos que houve circulação de dinheiro ilícito [caixa 2] entre partidos para financiamento de campanha [isso não é, de fato, mensalão], chegando a soar alucinatórias as reclamações desses ortodoxos.
A mídia realmente tem um pensamento "próprio": pede higidez e equilíbrio nas contas públicas, transparência nos gastos, liberdade de informação, combate à corrupção, eliminação de partidos fisiológicos, práticas imorais, etc. Ora, embora às vezes exagere a seu favor [no caso da liberdade de informação, sem dúvida], são bandeiras, via de regra, justas.
Ser crítico em relação à mídia é não satanizar. Satanizar é emburrecer. Isso vale para tudo. Satanizar impede de pensar. Que o Governo seja crítico da mídia, é um dever moral, já que é constantemente atacado injusta ou irrazoavelmente; daí para dizer-se que a mídia é "inimiga" é algo não apenas equivocado, mas perigoso para a democracia.
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ESPECIFICAMENTE, SOBRE O CONVERSA AFIADA
As bobagens escritas por Paulo Henrique Amorim sobre o Ministro Marco Aurélio de Mello mostram que não dá para levar muito a sério um jornalista que escreve "não coma gato por lebre" e tem como princípios atacar FHC, São Paulo [o Estado] e o Ronaldo.
Na realidade, nem merecem resposta seus comentários que Marco Aurélio "desestabiliziria" a república. Isso só para quem não leu a Constituição e é metido a sabichão.
O que dá um desconto ao "esquerdista" Paulo Henrique Amorim é que ele pelo menos ADMITE e deixa claro quais são suas preferências e implicâncias. O problema de jornalecos como a Veja e o Estadão é POSAR DE IMPARCIAL. Nesse sentido, é preciso dar o braço a torcer: Caros Amigos, Conversa Afiada e Carta Capital não fazem esse papel. Se assumem como esquerdistas; ao contrário desse jornalismo de direita que pretende se confundir com "os fatos" e finge dar palavra ao "outro ponto de vista". Não fosse a pose, o jornalismo da Veja e do Estadão teria o mesmo valor que o Conversa Afiada e a Carta Capital: quase nenhum.
Não acredito em jornalismo neutro, mas acho que é possível a existência de bom senso. Isso significa não cavocar inimigos e procurar seu "anti".
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INFORMANDO -- POR DEVER DE OFÍCIO
Já que esse blog deve ser lido por pessoas que não me conhecem -- talvez por acidente -- preciso prestar um serviço de informação geral.
A mídia -- v.g.: os jornalistas -- NÃO APRENDERAM [literalmente] que a regra processual sobre a prisão não é como eles costumam noticiar. O cidadão leigo lê o jornal e vê: "X é preso em flagrante e depois liberado pela Justiça", de forma que, pelo teor da notícia, parece que a REGRA é que o sujeito fique preso e um destemido, pervertido, liberal e maluco juiz resolveu soltá-lo.
A prisão durante o processo -- ao contrário - segundo as normas processuais e especialmente a Constituição, é EXCEÇÃO, pois existe um princípio chamado presunção de inocência, que significa que ninguém pode ser considerado culpado antes da sentença condenatória final. O que significa isso? Que, uma vez que o cidadão é considerado inocente até o fim do processo, não pode ser mantido preso, a menos que existam razões ESPECÍFICAS para isso. Que razões? Pôr em risco o processo [ex., ameaçar testemunhas, fugir]. O cidadão não pode ser mantido preso durante o processo pelo crime que [supostamente] cometeu; do contrário, teríamos uma antecipação da pena, jogando no vazio a presunção de inocência.
Entenderam? Mas as notícias saem ao contrário.
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Trilha sonora do post: Supercordas, "Fotossíntese".