Esvaziamento da política
Quando eu digo que não se discute política no Brasil, mas só politicagem, estou, na realidade, chamando ao debate as questões grandes. Isso significa robustecer a democracia.
Vejamos dois exemplos.
A lei de biossegurança. Hoje em dia, poucos temas são tão polêmicos quanto os tratados ali. As questões envolvem meio ambiente, bioética, biopolítica e cruzamentos entre religião, política e moral. Deveríamos ter assistido um debate aceso. Argumentos contrários - com base em biopolítica e bioética - às pesquisas de células-tronco, por exemplo. No entanto, a discussão se restringiu aos "carolas que se opõe à pesquisa", tida como óbvia, por um lado, e à capacidade do Governo de aprová-la.
Ora, no momento em que a imprensa não coloca o tema em pauta, não traz a discussão para a esfera pública, o que interessa aos parlamentares? Nada, a não ser o "cachê" que o Governo lhe dá, de empurrãozinho. Já que a pauta é apenas se o Governo aprova ou não, a questão se resume a isso.
Outro: a regulamentação do Conselho Federal de Jornalismo.
Em pouco tempo, a questão, que deveria ser colocada em termos da (des)necessidade de um órgão regulatório para a atividade jornalística numa democracia, passou a ser: X é fascista/ comunista, logo quer amordaçar a imprensa. Passou-se a uma caça às bruxas. Não houve, realmente, debate.
É preciso, de vez, alimentar a nossa democracia com debates. Esse é o papel da imprensa, que não tem o feito. Acompanhar o Governo não é fazer comentário político; é empobrecer a democracia em uma mera descrição da máquina administrativo-governamental. O que se exige é o debate, efetivo, sobre temas que interessam a todos. Sem bruxas.
Creio que, com um debate mais qualificado, no qual possam ser ouvidos todos os setores da sociedade, inclusive os marginalizados, poderíamos ter uma forma de vida mais qualificada. Tudo isso é escondido em páginas e páginas vazias sobre nomes, quóruns e partidos.
Discos
Tenho ouvido bastante coisas, mas pouco tem me realmente tirado do sério. Diria que as bandas britânicas Twilight Sad e Fields, que colocaram os primeiros trabalhos na praça, são bem interessantes, merecem ser ouvidas. A primeira, mais densa e estranha; a segunda, beirando ao dream pop. Ambas utilizam exaustivamente do recurso das guitarras postas em muros, à moda shoegaze.
Do outro lado do oceano, temos os Rosebuds, bandinha bem bacana de indie pop, oscilando para um power pop. A coisa mais interessante dos últimos tempos foi o disco da banda americana Low, um rock lo-fi apelidado de "sadcore", minimalista ao extremo, que parece uma faca cravada no teu abdomen te dilacerando.
O último disco dos Manics Street Preachers está bem bonzão. Mas não encosta no calcanhar dos grandes discos do ano passado -- Thom Yorke, Guillemots, Secret Machines e Silversun Pickups. Esses, quando ouço, continuam soando maravilhosamente.
Enfim, vamos aguardar. Talvez Radiohead e Interpol iluminem um pouco o ambiente.
Enfim...