Quando leio isso, dá vontade de desistir.
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a identidade social daqueles com quem o indivíduo está acompanhado pode ser usada como fonte de informação sobre sua própria identidade social, supondo-se que ele é o que os outros são. O caso extremo, talvez, seja a situação em círculos de criminosos: uma pessoa com ordem de prisão pode contaminar legalmente qualquer um que seja visto em sua companhia, expondo-o a prisão como suspeito.
(GOFFMAN, Erwin. Estigma, p. 58).
Eles (Caetano Veloso/Gilberto Gil)Em volta da mesaLonge do quintalA vida começaNo ponto finalEles têm certezaDo bem e do malFalam com franquezaDo bem e do malCrêem na existência do bem e do malO florão da AméricaO bem e o malSó dizem o que dizemO bem e o malAlegres ou tristesSão todos felizes durante o NatalO bem e o malTêm medo da maçãA sombra do arvoredoO dia de amanhãEis que eles sabem o dia de amanhãEles sempre falam num dia de amanhãEles têm cuidado com o dia de amanhãEles cantam os hinos no dia de amanhãEles tomam bonde no dia de amanhãEles amam os filhos no dia de amanhãTomam táxi no dia de amanhãÉ que eles têm medo do dia de amanhãEles aconselham o dia de amanhãEles desde já querem ter guardadoTodo o seu passado no dia de amanhãNão preferem São Paulo, nem o Rio de JaneiroApenas tem medo de morrer sem dinheiroEles choram sábados pelo ano inteiroE há só um galo em cada galinheiroE mais vale aquele que acorda cedoE farinha pouca, meu pirão primeiroE na mesma boca senti o mesmo beijoE não há amor como o primeiro amorComo primeiro amorQue é puro e verdadeiroE não há segredoE a vida é assim mesmoE pior a emenda que o sonetoEstá sempre à esquerda a porta do banheiroE certa gente se conhece no cheiroEm volta da mesaLonge da maçãDurante o NatalEles guardam dinheiroO bem e o mal
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CLÓVIS ROSSIOs talibãs de São Paulo
PARIS - Antes de escrever, preparo a mala para o retorno ao Brasil. Aterrorizado. De perto, o país -ou pelo menos a parte em que me toca viver, a cidade de São Paulo- sempre me pareceu primitivo, bárbaro. Com as óbvias ilhas de luz ou de sentido comum, mas, no essencial, selvagem. O caso da menina Isabella parece ter levado a um mergulho ainda mais acentuado na barbárie. A reportagem de Laura Capriglione e Ricardo Westin sobre os tipos que se acotovelavam diante da delegacia em que o pai e a madrasta da menina estavam depondo é um compêndio completo sobre o regresso à selva, à lei da selva mais exatamente, de uma fatia dos paulistanos. O texto é um desses momentos em que a essência básica do jornalismo, que é ver, ouvir e contar, joga luz nos subterrâneos da alma de uma cidade que se tornou crescentemente inóspita. Talvez a reação fosse a mesma em qualquer outra cidade do mundo, mas parece evidente que São Paulo e sua selvageria cotidiana atiçam, cutucam, os piores demônios que se escondem nos recônditos da alma. O pior é que viajei após um texto em que criticava a condenação antecipada do pai e da madrasta pela polícia, sem que tivesse havido, naqueles primeiros momentos, qualquer investigação séria que permitisse acusar ou inocentar quem quer que fosse. Dizia, então, que, se o casal fosse culpado, acabaria sendo condenado cedo ou tarde. Mas, se fosse inocente, teria sido condenado irremediavelmente, sem provas, sem julgamento, sem investigação. Vinte dias depois, volto diante de um cenário ainda mais selvagem: o casal foi preso, julgado, condenado e linchado (simbolicamente, mas quase literalmente) a cada dia. Já não apenas pela polícia, mas pelo público ou, ao menos, a parte dele que vai à porta da delegacia ou pela massa que se cala diante da vitória dos talibãs
de São Paulo.CLÓVIS ROSSIUm certo gosto de sangue
SÃO PAULO - Duas ou três cartas sobre o caso Isabella me horrorizaram. Leitores aparentemente alfabetizados decretavam a culpa do pai e da madrasta da menina só com base nas informações que a polícia libera para o jornalismo. Jogam no lixo o devido processo legal, um dos principiais pilares da civilização. Pensei que fosse reação restrita a exóticos de diferentes origens, atraídos pelos holofotes da TV, mas verifico, horrorizado, que há muito talibã solto por aí. Na maioria das cartas, chovem críticas à mídia, apontada como única responsável pelo circo armado em torno do caso. Responsável, sim; única, não. Sem que as autoridades -as ÚNICAS que detêm informações sobre o caso- alimentem o circo, não há circo, ou o circo é menos nefasto. O pecado original é, portanto, do delegado, que, em vez de apenas investigar, atua simultânea e indevidamente como promotor, juiz e alto-falante, condenando o casal desde o início, antes mesmo das primeiras investigações. Se se pretende civilizar um país talibanizado, é preciso primeiro que a polícia se comporte com a discrição indispensável. A polícia portuguesa, por exemplo, não acusou os pais no caso da menina inglesa Madeleine, muito parecido com o de Isabella. Quando o fez, a mídia foi atrás e teve que pedir desculpas publicamente, na primeira página, e ainda doar uma baita grana para um fundo criado pelos pais para procurar a filha. E o fizeram sem saber se os pais são de fato inocentes. Quanto à mídia, não vejo nenhum capanga armado obrigando o telespectador (ou leitor) a ficar sintonizado nos programas policialescos ou, agora, no noticiário sobre a menina morta. Há público -e grande- para isso. Alguns são apenas portadores da normal curiosidade humana. Outros têm gosto de sangue na alma, não nos iludamos.
FERNANDO DE BARROS E SILVATeatro dos vampiros
SÃO PAULO - Perto do fim de "Budapeste", José Costa (ou Zosze Kósta), o narrador do romance de Chico Buarque, descreve a sensação de estar dentro de uma ficção em seus passeios pela orla do Rio:"As pessoas que eu topava (...) não me pareciam afeitas ao ambiente. Às vezes eu as via como figurantes de um filme que caminhassem para lá e para cá, ou pedalassem na ciclovia a mando do diretor. E as patinadoras seriam profissionais, ganhariam cachês os moleques de rua, ao volante dos carros estariam dublês, fazendo barbaridades na avenida."Embora distante, essa passagem de mestre veio com força à memória na última sexta, diante da imagem da multidão aglomerada e disposta a linchar o casal suspeito pelo assassinato de Isabella.Aqueles tipos pareciam figurantes, coadjuvantes, dublês involuntários num filme B de horror. Um "popular" se exibe fantasiado de Bin Laden; outro vem de Cuiabá, 12 horas na estrada; um terceiro surge com um bolo de aniversário, devorado em segundos pelos "curiosos".A novidade, porém, não está na atuação desses zumbis sociais; o que agora espanta não é apenas a fúria carnavalesca deste lúmpen da sociedade do espetáculo.Quando o programa da Record coloca, no meio da tarde, uma cama no palco para reproduzir, no estúdio, o quartinho da menina, a apelação abjeta desse teatro parajornalístico é muito evidente.E quando a Rede Globo decide transmitir ao vivo, durante três horas, sem intervalos, as imagens do casal acossado no dia dos depoimentos -o que devemos pensar?Não excluo, evidentemente, a mídia impressa -nem a Folha- dos comentários. Mas é a TV, como se sabe, quem chega às massas, ainda mais neste país. A morte de Isabella já se tornou um capítulo de uma guerra desembestada por audiência. E o jornalismo dito "sério" está a reboque dessa escalada bárbara.Ou, quem sabe, William Bonner seja apenas um ator da novela das oito representando um locutor que nos narra uma tragédia grega...
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O longo processo de desgaste de Ronaldinho Gaúcho – algo, aliás, que me parece vem orquestrado por todas as partes envolvidas – está chegando ao fim, com o desfecho previsto desde o fim do ano passado: o craque no Milan. É que, no Barça, até outro dia, Ronaldinho era rei, senão deus – duas vezes o melhor do mundo e tal e cousa e lousa e maripousa. Negociá-lo, nessas condições, seria uma temeridade para qualquer diretoria. Mas, agora, não. A torcida catalã já até torce para o negócio sair.
Com Berlusconi, então, de volta ao poder, na Itália, nas asas de uma maioria absoluta, quem há de segurar a investida do Milan? Curioso isso: enquanto Berlusconi anuncia o fechamento de suas fronteiras para os imigrantes e sugere aumento de acampamentos (campos de concentração?) para os que lá estão ilegalmente, importa a peso de ouro um negro brasileiro, malabarista da bola. É que circo não conta, né?
16/04/2008 - 10h04
Nove morrem em ação do Bope; coronel diz que PM do Rio é "o melhor inseticida social"
Em operação classificada por coronel da Polícia Militar como "inseticida social", nove supostos traficantes foram mortos ontem durante incursão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) na Vila Cruzeiro, na Penha (zona norte). Quatorze homens foram presos e seis ficaram feridos no confronto.
A operação com 180 homens foi comandada pelo Bope, que manteve parte do efetivo na favela.
"Amanhã [hoje] o pau na vagabundagem continua", disse o comandante de policiamento da Capital, coronel Marcus Jardim. "A PM é o melhor inseticida contra a dengue. Conhece aquele produto, [inseticida] SBP? Tem o SBPM. Não fica
mosquito nenhum em pé. A PM é o melhor inseticida social", disse, rindo.
Um dos objetivos da operação, segundo a PM, era destruir barricadas feitas pelo tráfico. O 16º Batalhão da PM (Olaria), responsável pelo patrulhamento da área, teria recebido queixas de moradores que encontraram dificuldades para levar familiares a hospitais para tratar de doenças como a dengue.
"O objetivo era desobstruir esse acesso principalmente em razão da dengue. As pessoas estão com dificuldade para procurar ajuda no Hospital Getúlio Vargas e na tenda de hidratação", disse o comandante-geral da PM, coronel Gilson Pitta.
A polícia tinha ainda como objetivo cumprir "cerca de" 15 mandados de prisão e localizar pontos de venda de drogas. O Comando Vermelho comanda as bocas de fumo na região.
O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, afirmou que os nove mortos na operação não se renderam e reagiram à ação da PM.
"Quem quiser se render --e deve se render-- é preso. Aqueles que resistiram de maneira injusta à atuação da PM, aconteceu o que aconteceu [foram mortos]", disse.
Foram apreendidos na Vila Cruzeiro uma metralhadora, cinco pistolas, três fuzis, uma submetralhadora e cinco granadas, além de drogas.
A operação começou por volta das 9h com cem homens do Bope com rostos pintados de preto.
Segundo a polícia, foram retiradas barricadas em cinco ruas. Oito escolas foram fechadas durante a troca de tiros.
Quatorze homens foram presos no depósito de um supermercado na região. Entre eles está um homem identificado pela polícia apenas como Chininha. Segundo agentes, ele seria o responsável pela morte do policial do Bope Wilson Santana, em maio do ano passado.É incrível que esse sadismo nazista do BOPE possa ser gritado em praça pública, haja vista o atual respaldo social [rectius: da classe média e elite brasileiras] que ganhou a partir do discurso do Tropa de Elite.
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Do: "Presidente Eleito"Serra aprova lei de pulseira eletrônica para presos de SP
PAULO R. ZULINO - Agencia Estado
SÃO PAULO - O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), sancionou ontem a lei que prevê o monitoramento de presos em regime semi-aberto por meio de pulseiras eletrônicas. A lei estadual foi publicada no Diário Oficial do Estado de hoje e será implementada de forma gradativa. Segundo informações do governo, trata-se da primeira experiência no País. A lei, que teve origem em projeto de lei do deputado estadual Baleia Rossi (PMDB), permite o monitoramento dos presos condenados por tortura, tráfico de drogas, terrorismo, crimes decorrentes de ações praticadas por quadrilha, entre outros crimes, com direito ao regime semi-aberto. Caso o preso viole as normas de uso da pulseira, pode ter revogada a condicional, a saída temporária e o recolhimento em estabelecimento penal comum.
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08/04/2008 - 07h58
Perícia descarta sangue no carro do pai de Isabella
São Paulo - Exames do Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo praticamente afastaram a hipótese de que exista sangue no Ford Ka do consultor jurídico Alexandre Carlos Nardoni, de 29 anos, pai da menina Isabella, que morreu após cair do 6º andar do prédio onde mora o pai, na zona norte de São Paulo. Os resultados dos primeiros exames ficaram prontos ontem à noite. Pouco depois das 20 horas, ainda faltavam algumas provas para serem examinadas, mas os peritos consideravam improvável que o teste desse positivo para sangue. "As primeiras manchas eram aquelas em que a gente tinha uma esperança muito grande. O que sobra agora deve ser mancha de graxa ou de óleo", afirmou um dos peritos que trabalham no caso.
Ainda falta o exame do material colhido no corredor do 6º andar do prédio onde o crime ocorreu e das manchas achadas no interior do apartamento. Um especialista em exame de DNA e de exames hematológicos foi destacado pela direção do IC para cuidar dessa análise. No começo da noite de ontem, peritos do Instituto de Criminalística retornaram ao apartamento para nova perícia complementar. O objetivo era fazer mais medições do lugar para o laudo sobre a cena do crime. Eles aguardam ainda a definição da causa da morte da menina para resolver algumas das dúvidas. De acordo com o diretor técnico do Instituto Médico-Legal, Hideaki Kawata, Isabella morreu em decorrência da queda. Para ele, os sinais encontrados no pulmão e no coração da menina podem sinalizar uma parada cardiorrespiratória, e não o resultado de uma tentativa de asfixia ou esganadura. Os legistas do IML, no entanto, não descartam que a morte de Isabella tenha sido motivada por asfixia.
O instituto aguarda a conclusão do exame toxicológico e patológico de Isabella para divulgar o laudo final. A polícia ainda busca fitas de vídeo com imagens do sistema interno de um supermercado de Guarulhos para saber com que roupa Alexandre estava no dia do crime. Eles querem confirmar se o consultor estava vestindo a camisa e a camiseta com manchas de sangue encontradas no apartamento de sua irmã, Cristiane Nardoni. Ela é dona de um imóvel no mesmo andar em que ocorreu o crime. Cristiane diz que as roupas pertencem a pedreiros. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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Os sem-palavra, por Moysés da Fontoura Pinto Neto*
Na quarta-feira, Zero Hora publicou reportagem em que trata do "constrangimento" causado pelos moradores de rua. A reportagem foi seguida de debates sobre o tema, partindo-se de uma série de perguntas sobre o que fazer em relação ao "problema".O que chama atenção na reportagem é que nenhum morador de rua teve a palavra. Nenhum morador de rua foi tratado como sujeito. Os "técnicos" que falaram sobre o tema tiveram oportunidade de fazer a abordagem que entenderam adequada, "contra" ou "favorável" aos moradores, mas jamais foi dada, em instante algum, a palavra a algum morador de rua.Isso sinaliza um aspecto: para nós, o morador de rua simplesmente não existe. É como se ele não existisse. Nós não lhe damos a palavra porque ele simplesmente não está ali como alguém, mas como um "problema", e portanto um objeto. O filósofo Emmanuel Levinas, judeu que foi prisioneiro dos campos de concentração e viu sua família dizimada pelo nazismo, propôs, como resposta à catástrofe, um modelo de ética que chamamos de "ética da alteridade". A essência dessa proposta consiste em sempre tratar o outro como alguém, na sua plena diferença, sem que objetivemos esse outro. Levinas viu a si mesmo na condição de representação (o "judeu") e percebeu que a violência nasce quando deixamos de considerar o outro alguém pelo qual somos responsáveis. Todos lutam para definir o papel dos moradores ("pedintes", "bandidos", "vagabundos", "vítimas"), mas ninguém concede a eles o direito de falarem por si mesmos.
Preocupantes são manifestações que trataram conjuntamente o problema dos moradores de rua e da criminalidade: além de preconceituosas e desinformadas (apesar de se reivindicarem "realistas"), instigam o medo, pois, "em estado de preconceito, não existe mais indivíduo, grupo, multidão e nem mesmo, em sentido estrito, massa: apenas existe o Medo", e o medo "é o pai acolhedor que perdoa todos os filhos de sua insensatez" (Timm de Souza). É, na realidade, o combustível do fascismo.
*Professor do Departamento de Ciências Penais da UFRGS, especialista e mestre em Ciências Criminais.
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