Mox in the Sky with Diamonds

terça-feira, novembro 04, 2008

MUITO MAIS DO QUE PARECE

A ELEIÇÃO DOS EUA HOJE pode nos trazer Barack Obama como presidente. Alguns estão céticos Justificarquanto à sua futura presidência (exemplo de Marcos Nobre, hoje, na FSP), outros nem tanto. Confesso que, se eleito, deposito em Obama uma esperança monstruosa.
Há dois anos atrás li pela primeira vez, no blog do Pedro Dória ainda no NoMínimo, sobre um senador negro de nome Barack Hussein Obama que se credenciava para a Presidência dos EUA. Parecia engraçado, pelo "Hussein", "Obama" (quase Osama) e por ser negro e jovem. Pedro, no entanto, já advertia àquela época - e vi o vídeo - que o discurso era de gênio político. Hoje, Obama é favorito, depois de desbancar a favoritaça Hillary Clinton e superar, sem entrar em jogo sujo e fazendo poucas concessões, o fortíssimo discurso neocon.
Obama, para mim, pode significar uma volta dos EUA à condição de "América", terra dos direitos civis, o local de gente como John Dewey, William James, Thomas Jefferson, John Rawls, Richard Rorty e Hillary Putnam. Literalmente, e seguindo o próprio slogan de Obama, um local onde a "esperança" está acima do "medo".
Rorty certa vez escreveu que o que difere direita e esquerda é que a direita vê a América como algo a ser "conservado", mantido sob rígida tradição, enquanto a esquerda vê América como algo em permanente construção, jamais estagnado no tempo. Isso me parece ser a "esperança" que Obama defende. Tudo contraposto aos EUA pós-Reagan, quando se implementou uma "cultura do medo" que coloca todos em posição defensiva, fechados nas suas mônadas e votando no melhor "xerife", resultando no desastre que foi a gestão George W. Bush - fim de um processo que começa no "Tolerância Zero" e "Guerra contra as Drogas", gerando uma criminalização da pobreza e intolerância geral, até o seu produto final, a "Guerra contra o Terror", que desarticulou todos os direitos civis e permitiu a formação de campos de concentração geridos pela tecnocracia do "complexo industrial-militar" norte-americano.
Obama pode significar um retorno à "América" de Rorty (uma pena ele estar morto hoje, tão pessimista que terminou...), na sua plataforma que, ao contrário dos "democratas conservadores", jamais aderiu ao discurso do medo, jamais fez o jogo político que se vinha jogando no EUA. Deposito nele essa esperança messiânica, essa capacidade de romper (sem necessariamente romper com instituições) com todo quadro político que vinha se formando e apodrecendo a democracia dos EUA até o ponto de se transformar em uma plutocracia, com testemunhávamos. Boto fé em Obama porque ele arriscou desde o início, sempre foi claro na sua distinção com o status quo, questionou fundamentos da política interna e externa e tem um histórico de lutas (basta ver seus projetos no Senado) contra a putrefação a que vinha sendo submetida a democracia norte-americana.
Se Obama se elege, não sei. Mas a minha esperança, caso eleito, é muito grande.

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