MUITO MAIS DO QUE PARECE
A ELEIÇÃO DOS EUA HOJE pode nos trazer Barack Obama como presidente. Alguns estão céticos
quanto à sua futura presidência (exemplo de Marcos Nobre, hoje, na FSP), outros nem tanto. Confesso que, se eleito, deposito em Obama uma esperança monstruosa.
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Há dois anos atrás li pela primeira vez, no blog do Pedro Dória ainda no NoMínimo, sobre um senador negro de nome Barack Hussein Obama que se credenciava para a Presidência dos EUA. Parecia engraçado, pelo "Hussein", "Obama" (quase Osama) e por ser negro e jovem. Pedro, no entanto, já advertia àquela época - e vi o vídeo - que o discurso era de gênio político. Hoje, Obama é favorito, depois de desbancar a favoritaça Hillary Clinton e superar, sem entrar em jogo sujo e fazendo poucas concessões, o fortíssimo discurso neocon.
Obama, para mim, pode significar uma volta dos EUA à condição de "América", terra dos direitos civis, o local de gente como John Dewey, William James, Thomas Jefferson, John Rawls, Richard Rorty e Hillary Putnam. Literalmente, e seguindo o próprio slogan de Obama, um local onde a "esperança" está acima do "medo".
Rorty certa vez escreveu que o que difere direita e esquerda é que a direita vê a América como algo a ser "conservado", mantido sob rígida tradição, enquanto a esquerda vê América como algo em permanente construção, jamais estagnado no tempo. Isso me parece ser a "esperança" que Obama defende. Tudo contraposto aos EUA pós-Reagan, quando se implementou uma "cultura do medo" que coloca todos em posição defensiva, fechados nas suas mônadas e votando no melhor "xerife", resultando no desastre que foi a gestão George W. Bush - fim de um processo que começa no "Tolerância Zero" e "Guerra contra as Drogas", gerando uma criminalização da pobreza e intolerância geral, até o seu produto final, a "Guerra contra o Terror", que desarticulou todos os direitos civis e permitiu a formação de campos de concentração geridos pela tecnocracia do "complexo industrial-militar" norte-americano.
Obama pode significar um retorno à "América" de Rorty (uma pena ele estar morto hoje, tão pessimista que terminou...), na sua plataforma que, ao contrário dos "democratas conservadores", jamais aderiu ao discurso do medo, jamais fez o jogo político que se vinha jogando no EUA. Deposito nele essa esperança messiânica, essa capacidade de romper (sem necessariamente romper com instituições) com todo quadro político que vinha se formando e apodrecendo a democracia dos EUA até o ponto de se transformar em uma plutocracia, com testemunhávamos. Boto fé em Obama porque ele arriscou desde o início, sempre foi claro na sua distinção com o status quo, questionou fundamentos da política interna e externa e tem um histórico de lutas (basta ver seus projetos no Senado) contra a putrefação a que vinha sendo submetida a democracia norte-americana.
Se Obama se elege, não sei. Mas a minha esperança, caso eleito, é muito grande.
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