SILÊNCIO
A ARTE SEMPRE FOI AQUILO QUE tentou escapar da Totalidade, aquilo que procura se contrapôr e abrir novos sentidos à existência. A auto-referência e explicação integral do mundo, a estagnação do tempo e o conformismo apático ou cínico, tudo isso sempre encontrou como rival a arte. Por isso, talvez, todos os meus grandes filósofos são apologetas dos poetas, pintores, músicos, cineastas, prosadores, contistas, escultores e assim por diante. Eu próprio provavelmente nada mais sou que um artista frustado (fracassei na poesia e prosa).
O que a arte tem a dizer na nossa época, quando estamos diante da estetização geral da existência? A estetização da política, que Benjamin identificou com o fascismo, hoje se ampliou a congelamento geral da vida numa plataforma que transforma o sujeito em uma espécie de superfície de "perfomance", como se ele próprio vivesse como espetáculo. Tudo se perdeu na representação pura que se hiper-realizou e agora toma o lugar do real. Como o conto de Borges que Baudrillard refere: um dia, um governante resolveu traçar um mapa exato de seu território, mas o mapa era tão perfeito que cobriu todo país. Ficamos apenas com o mapa.
O que resta à arte? O puro e simples silêncio. Da destruição da representação da arte contemporânea até o mais radical silêncio, um vazio que mimetiza o vazio da nossa realidade-hiper-real como se, em um espelho, pudessemos parodiar a a esperatura vítrea (e por isso fria e transparente) da nossa época. É nesse sentido que leio a iniciativa da Bienal paulista que contará com um andar absolutamente vazio de obras.
Vazio, como nós.
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