Mox in the Sky with Diamonds

sábado, maio 31, 2008

O NAZISMO

O Nazismo é um emaranhado de doutrinas que foram surgindo no século XIX e confluíram para o nacionalismo alemão. As idéias sobre raça da antropologia evolucionista, a caça à periculosidade dos positivistas da criminologia, o anti-semitismo reagindo contra a resposta ambivalente dos judeus à assimilação, o anti-comunismo, as teorias jurídico-políticas que garantiam a exceção soberana e, simultaneamente, a interpretação obediente do texto legal [leia-se: Schmitt + Kelsen] e a visão biologicista e orgânica da sociedade, ressaltando a "unidade" social, são elementos que compuseram o mosaico terrível de idéias capaz de legitimar um dos maiores genocídios da história.
Do ponto de vista criminológico, o que caracteriza o nazismo é a transição do "tratamento" do "anormal" -- coisa que preocupava Ferri, Lombroso e Garófalo -- para o seu simples extermínio. O Direito Penal da época do nazismo se preocupa, tanto quanto o "trio mosqueteiro", com a patologia e anormalidade do delinqüente, só que resolve a equação com o simples extermínio. O que caracteriza o nazismo, portanto, sob o ângulo da Criminologia, é a transição do tratamento [já ruim] ao extermínio da diferença, legitimado por um discurso de higienização social. A condição do criminoso, nessa caso, é traduzida na expressão de Benjamin e Agamben, "vida nua", ou seja, vida descartável, eliminável, que vai morta como inseto, e não como gente. É preciso entender a diferença entre uma execução pessoal baseada em um julgamento [pena de morte nos EUA, p.ex.] e a simples eliminação por um recurso industrial [ex. Shoah].
É nesse contexto que deve ser lida a seguinte reportagem do jornal O Dia:

O relator das Nações Unidas para Execuções Sumárias, Arbitrárias e Extrajudiciais, Phillip Alston, chamou de "extermínio" e criticou o "modelo" das ações de segurança pública no Rio de Janeiro. Na próxima segunda-feira, durante a abertura do 8º Período de Sessões do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra, Suíça, Alston divulgará o relatório preliminar sobre a visita que realizou ao Brasil em novembro de 2007. O relatório definitivo deve ser apresentado até o início de julho.
Phillip Alston destaca em seu relatório os assassinatos cometidos pela polícia nas favelas do Rio de Janeiro e diz que, apesar da megaoperação policial realizada no Complexo do Alemão em junho de 2007 ter resultado na execução de 19 pessoas, "autoridades do governo do Estado declaram ser esta operação um modelo para as ações futuras da polícia".
"De fato, parece ter se tornado um modelo de ação: em 30 de janeiro de 2008, seis pessoas foram assassinadas pela polícia em uma grande operação; em 03 de abril, 11 foram mortas; e em 15 de abril, mais 14 assassinatos. Após a última operação, um alto oficial da polícia comparou as pessoas mortas a insetos, referindo-se à polícia como 'o melhor inseticida social'", completa.
Com críticas ao modelo adotado pelas autoridades fluminenses, o relator da ONU diz que apesar dos responsáveis pela operação no complexo do Alemão terem comemorado, os resultados não foram significativos, assinalando que os chefes do tráfico não foram presos, a apreensão de armas e drogas foi ínfima. Por outro lado, diz o relator, nenhum policial foi assassinado e poucos foram feridos, o que não sustenta a justificativa de autoridades de que encontram "resistência" e por isso 19 pessoas foram assassinadas.
Para Alston, o modelo de Segurança Pública adotada no Rio de Janeiro é politicamente motivado e baseado em policiamento pelas pesquisas de opinião. "Mas é popular entre aqueles que querem resultados rápidos de demonstrações de força. A ironia é que é contra producente."
O relator também faz uma crítica aos autos de resistência, afirmando que recebeu informações contundentes de que homicídios por resistência são de fato execuções extrajudiciais e que relatórios de autópsias a que teve acesso comprovam isso. Assinala ainda que o número surpreendentemente elevado de autos de resistência em 2007, 1.330, representou 18% do número total de homicídios no Rio de Janeiro.

Para Alston, a "razão chave para a ineficiência da polícia em proteger cidadãos é que muito freqüentemente ela envolve uma violência contra-produtiva e excessiva enquanto desempenha o seu trabalho e participa em parte do crime organizado quando não está trabalhando."
Durante a visita ao Rio de Janeiro, Phillip Alston se encontrou com diversos familiares de vítimas da suposta violência policial, testemunhas, vítimas, ONGs de direitos humanos e movimentos sociais. O relator também teve uma agenda governamental com integrantes do Executivo, Legislativo e Judiciário.
Ao final, o relatório preliminar traz uma série de recomendações sobre vários temas, entre eles, investigação dos homicídios cometidos pelas polícias, remuneração dos policiais, perícia técnica, proteção a vítimas e testemunhas, ouvidorias e sistema prisional.
O Dia

Sob aplausos da classe média e elite, a política de segurança no Brasil é exterminar os "anormais". Há pouco num blog vizinho pudemos testemunhar a força do "bandido bom é bandido morto". Um dos participantes de intitulou "Massacre" e citou exemplos para defender o extermínio. Por ato falho, uma moça ainda disso: "Apoiado, Massacre", o que só mostra como anda a discussão.
Nada de novo. O Nazismo foi apoiado em massa pelos alemães. Por isso ratifico integralmente as palavras de Ricardo Timm de Souza, quando parece nos fazer um desafio hiperbólico, mas na verdade apenas relata o que ocorre no nosso mundo real:

“Culminância lógica dos Totalitarismos, a Guerra é também a culminância da lógica do Ocidente. O que é o Nazismo: a menos hipócrita das doutrinas, ao afirmar que o Ser é o Mesmo, o Bom, a Totalidade, enquanto o que a isto não pertence, o Não-ser, o Outro, o Diferente, é ou deve ser Nada. (...) No Holocausto, como na Bomba Atômica, o ser foi e o não-ser não foi: pertencem ambos, grande extermínio e bomba, ao mesmo tempo, embora uma certa história tente ensinar o contrário. A grande Razão que culmina no grande Irracionalismo: dois lados de uma mesma moeda totalizante, dois momentos do metabolismo de um mesmo e único modelo trófico hegemônico”.

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ELA NOS VOCAIS



A canção é "Falling down", do álbum "Anywhere I lay my head", de covers do Tom Waits cantados pela musa desse blog, Scarlett Johansson.
A música é bem interessante e o vocal ficou bom. Mas paramos por aqui. O restante do disco é totalmente desnecessário e aborrecedor.

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NOVIDADES?

Fala-se de Mourinho na Inter de Milão, que demitiu Roberto Mancini, de Felipão no Chelsea e Cristiano Ronaldo no Real Madrid.
Alterações que poderiam, certamente, mudar o cenário europeu para a próxima temporada.

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quarta-feira, maio 28, 2008

JULGAMENTO DAS CÉLULAS-TRONCO É HISTÓRICO, MAS NÃO PELOS MOTIVOS QUE A MÍDIA NOTICIA

O julgamento agora suspenso do STF sobre a constitucionalidade das pesquisas em células-tronco é histórico, mas não por ser uma luta entre obscurantistas fanáticos contra cientistas esclarecidos, do atraso religioso contra o progresso "iluminado". É histórico por ser uma oportunidade de o STF marcar posição contra o automatismo do progresso.
Não significa que eu seja contrário às pesquisas. Até sou favorável. Mas é hora de deixar claro que o "progresso" da ciência não é algo neutro, insuscetível de problematização e incontestável. Experimentos com cobaias humanas, aquecimento global, bomba atômica e armas químicas são exemplos de "progressos" científicos.
O que nós deveríamos ter aprendido é que o "progresso" é simplesmente um mito. Um mito que reduz a experiência humana ao mundo técnico, confundindo a aptidão de "controlar" e "predizer" com a totalidade existencial do homem no mundo. O humano não se reduz ao científico. A dimensão ética, sem referir outras, é independente da ciência. É bem possível que argumentemos contra a ciência sem argumentos científicos, e isso nada terá de irracional. A ciência não esgota a totalidade da experiência do homem no mundo, repito. Heidegger, Adorno, Derrida e Rorty eram filósofos que não cansavam de advertir isso. Não há nada de especial no científico que o coloque acima de qualquer outro patamar, que não seja simplesmente o fato de que o técnico serve a alguma coisa, mas não tudo.
O "progresso" científico não é neutro; busca valores. Entre eles, o domínio da natureza -- ou o controle e a predição, para falar com Rorty. Esse "domínio" não justifica qualquer coisa. Isso não pressupõe -- nem seria o meu caso -- a crença em um ente sobrenatural que governaria nossa existência. Significa apenas fazer, como diz Edgar Morin, "ciência com consciência".
O julgamento do STF é histórico apenas nesse sentido: pode estancar a hegemonia automatizada do discurso científico ou apenas confirmá-la. O momento mostra que esse domínio estratégico do discurso [científico] é simplesmente uma questão de poder, e Foucault cai como uma luva para provar como a verdade tem seu regime de poder. Os cientistas querem uma explicação "científica" para não pesquisarmos. Não há. Nem pode haver. A ciência não dá essas respostas. Não pertence à sua racionalidade de predizer e controlar.
De qualquer forma, o julgamento já é histórico por marcar um momento de burrice da mídia em geral. A oposição obscurantista-atrasado/cientista-iluminada é o único esquema binário que permeia todas as análises do caso. O que não explica porque o placar está empatado. Todos viraram carolas?

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RENATO, QUERIDO, SOMEPILLS ESTÁ CONTIGO.
Boa sorte hoje.

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segunda-feira, maio 26, 2008

SEGURANÇA PÚBLICA? SIM, VAI TUDO BEM.

Do jornaleco gaúcho:


Dossiê denuncia guerra entre BM e Polícia Civil no Vale do Sinos
Suposto abuso de autoridade e conflito de atribuições geraram desconforto entre os órgãos

Roberta Pschichholz, Novo Hamburgo roberta.pschichholz@zerohora.com.br

A relação conturbada entre Polícia Civil e Brigada Militar no Vale do Sinos tomou a forma de um dossiê, entregue esta semana pela 3ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana, de São Leopoldo à Secretaria da Segurança Pública do Estado. O documento, assinado pelos 14 delegados da região, denuncia excessos de autoridade cometidos por PMs e confusão entre as atribuições de cada corporação.
Autoridades temem um confronto armado entre os órgãos. O estopim da guerra entre BM e Polícia Civil foi a descoberta de uma quadrilha de PMs, em setembro do ano passado, encabeçada pelo soldado José Luiz Ramires da Rosa, encontrado morto no porta-malas de um carro com placas clonadas. Em fevereiro deste ano, uma guerra de blitze levou o comando da BM a Novo Hamburgo, na tentativa de apaziguar a relação entre as forças policiais. O conteúdo do dossiê está sendo avaliado pela chefia de polícia, BM e Secretaria da Segurança Pública do Estado. Nenhuma ação foi definida. O subcomandante-geral da BM, coronel Paulo Roberto Mendes, diz não ter recebido o documento, mas baseado em informações extra-oficiais, afirma que a BM não tem qualquer dificuldade de atuação no Vale do Sinos.

Acabei de ver na TVCOM informações sobre o Capitão Nascimento de Nóia (esse é o apelido). Inclui nudez de menor, colocação de menino de 04 anos em camburão, etc.
Sob aplausos da classe média.

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MAIS UMA VEZ O BOCA

Os brasileiros continuam com a mesma análise: o Boca é perigoso na Argentina, os brasileiros não podem se amedrontar.
Armadilha: o Boca ganha aqui, sempre.

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HOJE NO RÁDIO

Ouvindo junto com a minha empregada a rádio Farroupilha:

- Parabéns ao senhor pelas perguntas ao Lair Ferst.
- Obrigado. A gente não pode julgar, acusar, né? Nossa obrigação é fazer perguntas. Perguntas de objetividade objetiva. "Objetividade objetiva": pode parecer dicotomia, mas é assim mesmo.

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O DESASTRE AMBIENTAL DO GOVERNO LULA


KENNEDY ALENCAR disse tudo:

Quem conhece de perto Carlos Minc diz que ele é muito mais pragmático do que Marina Silva. No cargo de secretário do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, ele viabilizou grandes projetos econômicos exigindo compensações ambientais, como replantio de árvores, recuperação de áreas devastadas, de lagoas e por aí foi. Ganhou a simpatia de grandes empresas. Em troca, ele obteve investimentos privados em projetos ambientais.
Beleza pura.
Pode ser uma boa política para o Estado do Rio de Janeiro.
Essa política servirá à Amazônia?
Quem entende da floresta mais importante do mundo acredita que não. A autorização de uma exploração econômica "sustentável" (palavrinha bem surrada e que serve de Blairo Maggi ao Greenpeace) tende a comer a floresta. Pode ir comendo aos poucos, mas vai comendo.
O ideal seria uma espécie de congelamento da Amazônia no tamanho atual. Alguns grandes projetos estratégicos, para geração de energia, por exemplo, deveriam ser autorizados. Mas não existe exploração que combine pecuária e soja com mata em pé. E a grande pressão sobre a Amazônia vem dessas duas atividades. Hoje, a pecuária seria uma ameaça maior.

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domingo, maio 25, 2008

FOLHA DE SÃO PAULO: UM JORNAL DECIDIDAMENTE SERRISTA


Costumo dizer aqui que, apesar de ser decididamente o melhor jornal do país, a Folha é completamente serrista. Além de aumentar estratosfericamente o peso político do Governador de São Paulo, sempre o tendo como favorito para qualquer coisa, o jornal evita sempre investigá-lo, como faz com os outros. Comparem a notícia que saiu na capa do caderno "Brasil", de política, sobre o Lula, e aquilo que narra o Ombusdman do próprio jornal. Qual das duas é mais importante?

PT pagou conta privada de Lula com dinheiro público
Recursos do fundo partidário bancaram condomínio de apartamento no ABCTSE constata que R$ 4,5 mil dos recursos públicos para o partido foram gastos em 2006 com apartamento usado pela família de Lula

Leandro Moraes/Folha Imagem
Edifício Hill House, no qual o presidente possui uma cobertura

LEONARDO SOUZARANIER BRAGON DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O PT bancou, com recursos públicos do fundo partidário, taxas condominiais de uma cobertura usada por familiares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em São Bernardo do Campo. O imóvel, de número 121, é no mesmo andar e fica de frente para a cobertura 122, comprada por Lula em 1996, no condomínio Hill House.Em análise da prestação de contas do PT de 2006, ano de reeleição do presidente Lula, a equipe técnica do Tribunal Superior Eleitoral constatou que o PT gastou R$ 4.536,70 com taxas de condomínio do apartamento 121, "não justificado pelo partido a utilização e finalidade em área residencial". O partido arcou com despesas desse apartamento desde 2003.

Três anos depois da revelação do chamado "caso Okamotto", em que o hoje presidente do Sebrae, o petista Paulo Okamotto, assumiu a paternidade do pagamento de uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula, uma vez mais despesas relacionadas à vida privada do presidente são bancadas por terceiros -desta vez diretamente pelo PT.

A lei (9.096/95) que rege o funcionamento dos partidos políticos não permite a utilização do fundo partidário -dinheiro público repassado mensalmente aos partidos- para custear despesas de caráter pessoal dos dirigentes das legendas.Por causa dessa e de outras observações, os técnicos sugeriram a rejeição das contas do PT de 2006, o que pode resultar na suspensão do repasse do fundo ao partido. A previsão em 2008 é que o PT receba cerca de R$ 28 milhões dos cofres públicos.A recomendação da área técnica do TSE serve de embasamento ao ministro que relata o processo, Marcelo Ribeiro, que ainda não tem data para levar seu posicionamento à votação em plenário. Ribeiro pode seguir ou não essa orientação.O Palácio do Planalto confirmou, por meio da assessoria, que o apartamento é "frequentado por pessoas da relação" de Lula, incluindo familiares. Acrescentou, sem informar os valores, que o PT bancou os custos do imóvel de 2003 a 2007 porque a cobertura era usada para guardar arquivos que o presidente doou à legenda quando foi eleito.O Planalto também admitiu que familiares do presidente podem ter pernoitado eventualmente no imóvel, mas afirma que nunca foi moradia fixa de nenhum parente do presidente.O partido teria retirado os arquivos de lá em 2007. Agora, o apartamento é bancado pela Presidência da República, sob o argumento de que isso "preenche necessidade de segurança" de Lula.

O presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), e o secretário de Finanças do partido, Paulo Ferreira, disseram que só iriam comentar o caso após o parecer do ministro do TSE.

Sob a condição de não ter seus nomes revelados, dois funcionários e dois moradores do Hill House, um condomínio de classe média, com dois blocos e 48 apartamentos, concederam entrevistas à reportagem, que esteve em São Bernardo do Campo. Os quatro confirmaram à Folha que o imóvel 121, de 186 m2 de área útil (mesma metragem da cobertura 122), é usado por familiares do presidente.Os funcionários contaram que os filhos de Lula usam bastante a cobertura 121. Testemunharam vários pedidos de entrega no apartamento, como pizzas e pastéis.Os dois apartamentos ocupados pela família Lula da Silva estão no bloco "A", também chamado pelos moradores de bloco "1". Contudo, na documentação do imóvel, o edifício é identificado como conjunto "E". Os moradores não souberam explicar porque o primeiro bloco é identificado na escritura como "E", uma vez que só há dois blocos no condomínio.

Neste ano, a Presidência da República reservou R$ 8.721 para "locação de imóvel para atender às necessidades da equipe de segurança" do presidente no condomínio Hill House, sem no entanto identificar qual seria o imóvel.Os funcionários do prédio ouvidos pela Folha disseram que os seguranças ficam numa sala no térreo do edifício. Questionados se não ocupariam também o apartamento 121, disseram que não, reiterando que são os familiares do presidente que usam a segunda cobertura.De acordo com a declaração de bens de Lula enviada ao TSE em 2006, o apartamento 122 foi comprado por R$ 189 mil. Tem sala com dois ambientes, três dormitórios (uma suíte), um quarto reversível, copa, cozinha, lavanderia e uma escada em caracol que leva a um salão de festas privativo. Lula comprou-o em junho de 96, de Luiz Roberto Satriani, inadimplente, a ele apresentado pelo advogado Roberto Teixeira, amigo de longa data do presidente. Lula morou durante anos numa casa em São Bernardo emprestada a ele por Teixeira.

Comentando em tese sobre o uso de dinheiro do fundo partidário para fins particulares, dois ex-ministros do TSE afirmaram que isso é motivo para rejeição das contas. "É descumprimento da lei e é motivo para rejeição das contas. Eventualmente, pode resultar em uma cobrança de ressarcimento do valor usado", disse Fernando Neves. "O fundo partidário é um grande privilégio que os partidos têm. Ele [o partido] não pode desviar os recursos oriundos do fundo para atividades outras que não aquelas especificadas. O partido político é a entidade, dentro do regime democrático, da maior importância, talvez a mais relevante de todas. Qualquer violação a um preceito por parte dos partidos políticos tem que ser severamente punida", afirmou Pedro Gordilho.

Essa a reportagem sobre o Lula. Agora vamos ao que o Ombusdman diz:
O caso Alstom
Em 6 de maio, o "Valor" revelou, com reportagem do "Wall Street Journal", que a multinacional Alstom é investigada por denúncias de corrupção em negócios com o governo do Estado de São Paulo. Tenho cobrado na crítica interna e nesta coluna que a Folha melhore na cobertura do caso.Além de poucas notas em colunas, o jornal publicou oito textos sobre o assunto. Em vários, não disse que as empresas envolvidas (como Metrô) são estatais. Em nenhum, ouviu ou disse ter tentado ouvir o governador José Serra ou os secretários de Estado a que estão subordinadas as empresas.Em 16 de maio, mencionou que o PT fez uma pesquisa no site do Tribunal de Contas do Estado, segundo a qual há 139 contratos no valor de R$ 7,6 bilhões entre o governo estadual e a Alstom. Mas o próprio jornal não fez pesquisa nenhuma.
A Folha não se pronunciou em editorial sobre o tema e, exceto na coluna de Elio Gaspari (11 de maio), não deu uma análise das conseqüências políticas do tema, coisa que até o "Wall Street Journal" já fez.
Dispensa comentários, não?

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sábado, maio 24, 2008

O JOGADOR QUE FALTA

Se Cristiano Ronaldo for mesmo para o Madrid, como diz a imprensa espanhola, é definitivamente o jogador que falta à equipe. Um craque de primeiro escalão, pronto para completar o meio campo e torná-lo estelar.
Duvido, no entanto. Apesar da cidade de Manchester não ser lá dos solos mais agradáveis para se viver e de o Madrid ser o maior clube da Europa, Ronaldo está na melhor equipe do mundo e atualmente parece ser de impossível compra. O ManUnt, clube riquíssimo, não o venderia por qualquer valor. Por que o faria?

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quarta-feira, maio 21, 2008

RAZÃO INCONTESTÁVEL DO GARANTISMO

O processo penal é um incompreendido. Sua função é precisamente ser mal-visto. O processo penal não existe apenas, como escreviam nossos antigos "doutrinadores", como um meio de o Estado descobrir a verdade. Porque, se fosse, não seria absolutamente necessário. É perfeitamente possível fazer uma investigação sem contraditório, presunção de inocência e vedação de provas ilícitas. Daí que aparece a principal função do processo penal: é garantir ao inocente que não seja condenado injustamente. E em nenhum caso o processo penal serve a esse objetivo que naqueles de "grande comoção". É para esses casos, justamente, que existe processo penal.
Pagamos um preço caro por ele: muitos culpados saem inocentes. É o preço de manter o princípio kantiano de que todo homem é fim em si mesmo. Quer dizer: mais vale absolvermos vários culpados do que condenar apenas um inocente. Este não pode pagar o preço das condenação. Na ponta do processo, existe esse princípio ético.
Mas a população "comovida" não quer esperar. Não quer saber de Kant. As pessoas querem sangue e vingança, coisas que os psicanalistas já haviam identificado na análise da punição. Por isso, a impopularidade do processo penal é algo bastante lógico; ele está aí para isso. No dia em que gostarmos do processo penal, ou atingimos um estágio civilizatório impensável, ou o que temos não é mais processo penal. O processo penal cobra seu preço: alta taxa de injustiça [soltar culpados] para evitar um injustiça maior [prender inocentes]. Remédio amargo, mas necessário.
O caso dos Nardoni, no entanto, preocupa. Os julgadores envolvidos não tiveram coragem de enfrentar o povão. Não honraram à sua toga. Foram covardes.
A prisão preventiva não serve, em hipótese alguma, para antecipar a condenação. Isso seria passar por cima da presunção de inocência. Portanto, as razões que os julgadores invocaram -- provas fortes da autoria e crimes graves -- são razões para a condenação futura, não para a prisão processual.
O que esses julgadores não mediram são os efeitos das suas decisões. De agora em diante, o precedente "Nardoni" será usado ad nauseam como argumento para prender pessoas durante o processo. Se o juiz citou precedentes do STF fora do contexto, imaginem o que se fará com essas ementas. Com isso, o processo penal vai aos poucos enterrado: a regra da presunção de inocência, que sofre das qualidades e problemas que já falei, vai ser soterrada por juízes rigorosos que não estão preocupados com nada.
O garantismo é incontestável por isso: abrindo-se a torneira das garantias para um caso, abre-se para todos. A gota se transforma em enchente.

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HLEB?

É um bom jogador o meio-campista bielorruso, dono de boas assistências, mas não justifica o investimento do clube madrilenho. Para os merengues, o único jogador interessante do Arsenal é Cesc Fabregas, jogador que pode desempenhar a função de termômetro do meio campo, posição que faz falta ao elenco [desde Zidane]. Fabregas, como Lucas e Gerrard, é jogador que arma e marca com igual competência, sendo um forma mais completa do tradicional volante. Pode entrar tranqüilamente ao lado de Diarra e Gago, formando um meio robusto, marcador e com boa saída ao ataque. Hleb, não.

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MANGABEIRA UNGER É UM DÉBIL MENTAL

Mangabeira defende pecuária intensiva em áreas devastadas Ministro elogia governador mato-grossense e diz que "Amazônia não é apenas coleção de árvores", mas grupo de 25 mi de pessoasMangabeira se diz favorável à ampliação de mecanismos de fundos internacionais para financiar preservação e ações de desenvolvimento

RODRIGO VARGASDA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

O ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), responsável pela coordenação do PAS (Plano Amazônia Sustentável), defendeu ontem a necessidade de um "plano estratégico" para a Amazônia que incluiria a "intensificação da pecuária" nas áreas já desmatadas da região e o uso de financiamentos internacionais para a preservação. A manifestação do ministro foi feita logo após seu encontro, em Cuiabá, com o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PR)."A Amazônia não é apenas uma coleção de árvores, mas um grupo de pessoas. Nela vivem mais de 25 milhões de brasileiros. Se essas pessoas não tiverem oportunidades econômicas, serão impelidas a uma atividade desordenada que levará ao desmatamento", disse o ministro, cuja nomeação para o PAS foi apontada como um dos motivos da saída de Marina Silva da pasta do Meio Ambiente.

Sobre Maggi, Mangabeira disse que o encontro mostra o "compromisso sagrado" de ambos na busca pela "reconciliação entre desenvolvimento e preservação". "É preciso lembrar que Mato Grosso não é apenas Amazônia, é também Centro-Oeste. E desempenha um papel exemplar na construção da agricultura brasileira. É um dos dínamos agrícolas, não só do Brasil, mas do mundo."Segundo o Inpe, Mato Grosso foi o Estado que mais devastou a Amazônia nos últimos cinco meses de 2007 -na lista dos 36 municípios que mais desmatam a floresta, 19 são mato-grossenses. Para o ministro, porém, não é hora de "atribuir culpas ou medalhas".

Ao enumerar os pontos principais de seu plano para a região, citou a regularização fundiária. "A partir daí será possível estabelecer um grande zoneamento econômico e ecológico para a região, definindo estratégias para a Amazônia com floresta e sem floresta."Nas áreas "sem floresta" -definidas por ele como "áreas de transição entre a Amazônia e o cerrado"-, defendeu o incentivo a uma agricultura "moderna e democratizada". Ele se disse favorável à ampliação dos mecanismos que prevêem fundos internacionais para financiar preservação e projetos de desenvolvimento.

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segunda-feira, maio 19, 2008

MEU PERFIL POLÍTICO


Testezinho: http://www.politicalcompass.org/test.




Por que isso?

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“Pensa na escuridão e no grande frio Que reinam nesse vale, onde soam
lamentos.” Brecht, Ópera dos três vinténs

Fustel de Coulanges recomenda ao historiador interessado em ressuscitar uma época que esqueça tudo o que sabe sobre fases posteriores da história. Impossível caracterizar melhor o método com o qual rompeu o materialismo histórico. Esse método é o da empatia. Sua origem é a inércia do coração, a acedia, que desespera de apropriar-se da verdadeira imagem histórica, em seu relampejar fugaz. Para os teólogos medievais, a acedia era o primeiro fundamento da tris-teza. Flaubert, que a conhecia, escreveu: “Peu de gens devi-neront combien il a fallu être triste pour ressusciter Carthage”. A natureza dessa tristeza se tomará mais clara se nos perguntarmos com quem o investigador historicista estabelece uma relação de empatia. A resposta é inequívoca: com o vencedor. Ora, os que num momento dado dominam são os herdeiros de todos os que venceram antes. A empatia com o vencedor beneficia sempre, portanto, esses dominadores. Isso diz tudo para o materialista histórico. Todos os que até hoje venceram participam do cortejo triunfal, em que os dominadores de hoje espezinham os corpos dos que estão prostrados no chão. Os despojos são carregados no cortejo, como de praxe. Esses despojos são o que chamamos bens culturais. O materialista histórico os contempla com distanciamento. Pois todos os bens culturais que ele vê têm uma origem sobre a qual ele não pode refletir sem horror. Devem sua existência não somente ao esforço dos grandes gênios que os criaram, como à corvéia anônima dos seus contemporâneos. Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie. E, assim como a cultura não é isenta de barbárie, não o é, tampouco, o processo de transmissão da cultura. Por isso, na medida do possível, o materialista histórico se desvia dela. Considera sua tarefa escovar a história a contrapelo.

8
A tradição dos oprimidos nos ensina que o “estado de exceção” em que vivemos é na verdade a regra geral. Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade. Nesse momento, perceberemos que nossa tarefa é originar um verdadeiro estado de exceção; com isso, nossa posição ficará mais forte na luta contra o fascismo. Este se beneficia da circunstância de que seus adversários o enfren-tam em nome do progresso, considerado como uma norma histórica. O assombro com o fato de que os episódios que vivemos no séculos XX “ainda” sejam possíveis, não é um assombro filosófico. Ele não gera nenhum conhecimento, a não ser o conhecimento de que a concepção de história da qual emana semelhante assombro é insustentável.

9
“Minhas asas estão prontas para o vôo, Se pudesse, eu retrocederia
Pois eu seria menos feliz Se permanecesse imerso no tempo vivo." Gerhard
Scholem, Saudação do anjo


Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus.
Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés. Ele gostaria de deter-se para acordar os mortos e juntar os fragmentos. Mas uma tempestade sopra do paraíso e prende-se em suas asas com tanta força que ele não pode mais fechá-las. Essa tempestade o impele irresistivelmente para o futuro, ao qual ele vira as costas, enquanto o amontoado de ruínas cresce até o céu. Essa tempestade é o que chamamos progresso.

(WALTER BENJAMIN, "SOBRE O CONCEITO DE HISTÓRIA").

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FALTA

Acho que Lula vem fazendo um bom governo, provavelmente dos melhores da nossa história, considerando que foi antecedido por militares e que o nosso suposto maior foi de inspiração fascista. Mas vai pagar um preço caro por alguns erros graves.
O primeiro e mais importante é, sem dúvida, o ambiental. Lula cai em contradição no seu discurso ambiental que prega para fora quando demite Marina Silva e claramente dá razão à ideologia desenvolvimentista de alguns dos seus ministros. Não dá para aceitar mais gente dizendo: "é para trabalhar", etc. Não. Não é não. Não dá para trabalhar onde destruímos o planeta. Não dá mais. A suposta solidariedade dos esquerdistas com os sujeitos envolvidos no processo cai quando olhamos os fatos no tempo, transformando-se em indiferença com os cidadãos do futuro. Não há bons argumentos. Empregos, trabalho, renda e desenvolvimento são bem-vindos; não, porém, a custa do meio ambiente. Não tem desculpas. Não tem mais "ponderação" de interesses. Os recursos naturais são finitos; a ponderação uma hora irá fazer desaparecer. A lógica jurídica é insuficiente para o problema. Não há mais conciliação. Não há mais tempo.
Não me ofendo nem acho má idéia a internacionalização da Amazônia. Depende, claro, de qual internacionalização. O Brasil, ultimamente, está pondo em risco a humanidade. Nacionalismo é uma bobagem, o problema é mais urgente. Não há mais tempo para entregar terras para grileiros, autorizar o desmatamento e piorar ainda mais a situação do mundo.
O Brasil precisa aderir de vez ao desenvolvimento sustentável. Estradas, ferrovias e outras obras são boas, mas com cautela. O discurso de gente como Dilma Rousseuf ou Blairo Maggi me assusta. São incapazes de olhar alguns centímetros além da sua visão no tempo.
Segurança pública, corrupção, educação e reforma política são outras áreas de desleixo do Governo Federal, que foi bem na economia e nos programas sociais. O tempo irá cobrar seu preço por tudo isso.

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domingo, maio 18, 2008

BREVE EXPLICAÇÃO

Tenho postado muito pouco porque meu tempo está realmente escasso. Me revezo entre a preparação de aulas, reuniões de preparação de um curso de especialização, atendimentos a alunos e grupos de estudos. Nada tem sobrado em tempo. É uma questão de equilibrar as coisas, acho que o tempo irá dizer a resposta.
De qualquer forma, peço desculpas aos leitores pela ausência de assunto. Até minha tradicional diversão pelos lançamentos musicais tem ficado de lado; esse ano, apenas Portishead, MR8 e Fleet Foxes receberam alguma atenção. Falta bastante coisa.
Espero poder postar um pouco mais essa semana. Mas duvido...

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quinta-feira, maio 15, 2008



HOMEM DE FERRO [IRON MAN, 2008, JOHN FAVREU]
Não chegando ao nível das melhores adaptações da Marvel [Sin City, Homem-Aranha, X-Men], mas também não estando entre os piores [Quarteto Fantástico, Demolidor], o filme fica nesse limbo: é divertido, mas não consegue transcender a diversão. Downey Jr. é convincente no papel de Tony Starkey, Patrow vai razoavelmente bem, enfim... Falta um pouco de sal, embora bem feitinho o filme, o que talvez seja culpa da falta de sal do próprio personagem.



O SONHO DE CASSANDRA [CASSANDRA'S DREAM, 2008, WOODY ALLEN]
Mais uma variação de Woody Allen sobre o tema do "Crime e Castigo", obra magistral de Dostoievsky. [Spoiler: não leia] Impossível falar do filme sem se atentar ao final: como em "Match Point", fica clara a influência de Kierkegaard e de toda filosofia existencialista em torno do tema da decisão, do instante que rompe a continuidade inócua da vida e muda todo seu rumo. A diferença é que "Match Point" é uma visão "pós-moderna" e cínica do tema, bastante niilista e hedonista, enquanto que O Sonho de Cassandra traz o mesmo tema olhado sobre o ângulo trágico e fatal. Bem inferior ao co-irmão, mas ainda assim vale a pena.




A ERA DA INOCÊNCIA [L'ÂGE DE TÉNÈBRES, 2008, DENYS ARCAND]
Deliciosa terceira película que compõe a trilogia de Denis Arcand que começa em "O Declínio do Império Americano" e passa por "Invasões Bárbaras" [ainda o melhor dos três], "A Era da Inocência" [título horrível que substitui "A Idade das Trevas" no original] é uma crítica mordaz à sociedade contemporânea, especialmente na sua ansiedade pela velocidade, no seu vazio existencial, no fanatismo tecnológico e indiferença geral. É o menos intelectual de toda trilogia. Lembra, em alguns aspectos, o filme "Beleza Americana", por uma formação doentia de família, mas prefere uma crítica mais abrangente da sociedade em detrimento de uma visão mais aprofundada dos personagens. Crítica, em todo caso, absolutamente pertinente.
Belo filme, o melhor dos três em cartaz.

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SOBRE A SAÍDA DE MARINA SILVA


REITERO post que escrevi aqui sobre o tema há alguns meses:

BRASIL NA CONTRAMÃO
Quando parece que finalmente as grandes potências mundiais -- à exceção da China, é claro -- parecem se conscientizar que, a continuar dessa forma, iremos destruir o mundo em menos de 100 anos, eis que parece que o Brasil paga o preço por ter atrasado sua democracia em pelo menos 20 anos.
O assunto crescimento econômico, que é o mantra repetido à exaustão como ÚNICO termômetro de medição da competência dos Governos, especialmente pela imprensa, empresariado e sindicatos, ofusca completamente o assunto ambiental no Brasil.
Não é por coincidência que acontece A MESMA COISA no Governo Federal e no Estadual, embora com partidos e tendências opostas: há um "foco de resistência" dentro dos próprios Governos, vinculado à área do meio ambiente, que vem sendo sufocado por tecnocratas com forte acento desenvolvimentista e que simplesmente não querem saber de ambiente.

Fico preocupado porque, em nível federal, correm boatos de exploração de petróleo no Acre [o link é esse, mas o colunista não é muito confiável; está permanentemente contrário ao Governo, o que tira um pouco sua credibilidade, mas não de todo], o que poderia causar danos ao ecossistema; Lula admitiu, ainda, utilizar e desenvolver energia nuclear; além das costumeiras e já públicas brigas entre as Ministras Dilma e Marina. Aquela, de viés marxista tradicional, parece carregar a bandeira do industrialismo alucinado.

O mais preocupante é que no RS, com o partido de oposição no poder, com uma Governadora completamente anti-lula, ocorre exatamente o mesmo. Recentemente, surgiu um termo de ajustamento de conduta assinado pela Secretário do Meio Ambiente com o Ministério Público e, surpresa, eis que cai a Secretária. Os mesmos tecnocratas, na matriz ideológica inversa, cujo nascedouro é o mesmo.
O pior foi a forma de abordagem: falou-se apenas dos 4 bilhões que o Estado perderia de investimentos. Não tenho condições de opinar se era ou não viável ambientalmente; certamente, há problemas, do contrário não estariam os dois órgãos do Estado mais envolvidos com meio ambiente [Executivo e MP] a cuidar do problema. A cobertura, contudo, foi monolítica: só se enfatizava o obstáculo ao "crescimento" do Estado.
Quando França e Alemanha elegem Governos de direita e, mesmo assim, aceitam o tema do aquecimento global; quando os EUA, mesmo sendo devastadores do ambiente, começam, de baixo para cima, a reagir; enfim, quando o tema finalmente entra na agenda global, estamos atrasados a ponto de ignorá-lo! Queremos estar ao lado da China com seu crescimento compulsivo e devastador?
É verdade que a Europa já alcançou um grau de desenvolvimento social capaz de entrar nesse tipo de discussão. Mas é também verdade que as lições de quem chegou lá podem nos impedir de cometer os mesmos erros. Justiça social? Sim. Mas sem devastação do meio ambiente. De que adianta alcançar boas condições de vida agora se, daqui a três gerações, o planeta irá sumir?

É necessário voltar a perceber a Terra enquanto oikos, nossa casa. A natureza, tal como a concebeu Francis Bacon, era um território a ser explorado e dominado pelo homem, que seria o seu senhor. Vontade de domínio levada ao extremo pela ciência e pela técnica, até chegarmos ao estado de desequilíbrio em que estamos. É nessa matriz epistemológica que foram construídas nossas ideologias políticas -- frutos do Iluminismo, tanto o marxismo quanto o liberalismo vêm da mesma raiz -- na qual a natureza era uma escrava a nosso dispor. Hoje, testemunhamos o fracasso. É por isso que os Governos Lula e Yeda, embora com atores e matrizes totalmente distintas, se encontram nesse ponto: é lá, no nascedouro das concepções modernas, com Descartes e Bacon, que se inaugurou essa idéia de trazer "felicidade" ao homem mediante domínio da natureza.
O que mais me preocupa é a ausência total de vozes a denunciar isso: nem mesmo a imprensa, que pode ser independente, tem vozes que saiam do tom monolítico do crescimento. Como se o Brasil não tivesse a imensa responsabilidade de carregar o pulmão do mundo [Amazônia], responsabilidade que ele não pode renunciar, além de uma biodiversidade incrível que todos nós sabemos que o nosso país dispõe.
Desse jeito, aquele discurso irônico e bem articulado de Cristovam Buarque -- que todos gostamos, à época -- acerca da internacionalização da Amazônia, vai ficar cômico, senão trágico. Ou reagimos, ou seremos soterrados por um crescimento com data para acabar.

Erro vertiginoso e preocupante do Governo Lula. E, para piorar a situação, a empresa que gerava debates no RS, com projeto de monocultura, foi instalada sob aplausos do Governo e a reportagem mais visivelmente comprada dos últimos anos da imprensa gaúcha. Vergonhoso.
Será que Lula quer acrescer ao seu legado a devastação da Amazônia?

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quarta-feira, maio 14, 2008

ESSE FILME PODE TER A MELHOR CENA DE TODOS OS TEMPOS...




Adivinha qual é?

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segunda-feira, maio 12, 2008

RIDÍCULO

Tem alguns que gostam de ironizar as críticas à mídia se intitulando "mídia má, feia e bobona". É verdade que alguns petistas passam quilômetros do ponto, mas nada é mais ridículo do que essa agenda da mídia em relação ao Dossiê. Querem saber? FODA-SE O DOSSIÊ. Ninguém está nem aí para essa merda. O comentarista de chapeuzinho aquele da revista aquela -- um baita fascista -- reclama do "ESTADO POLICIAL". Quá-quá-quá. Estado Policial? Ok, só quando é contra Serra/FHC, né? Quando é Estado Policial contra chinelão ou contra Nardoni não tem problema. RIDÍCULO.
A população está cagando para o Dossiê. A mídia internacional fala a dar com pau do Brasil. O tal "BRIC" está bombando, para desespero do PSDB [que eu preferiria ter como aliado, mas enfim...]. Falava-se muito que o Brasil não acompanhava China, Índia. Apesar de ridícula a comparação [a China tem trabalho escravo], hoje o país surfa no contexto mundial como acompanhante desses países. Com a melhor [única] democracia.
Apesar disso, jornais e blogs de política não conseguem sair do seu assuntinho pequeninho, ficando nas futricas políticas, incendiando o moralismo e sem qualquer capacidade de debater a sério os grandes assuntos.
O mantra da indignação e do cinismo, como eu já disse aqui, é absolutamente invulnerável. Mas também não se expõe. Negam-se a debater o que deve ser feito. É mais fácil falar de Dossiê, não é?
Menos mal que, enquanto isso, a popularidade de Lula vai à estratosfera. Quem é simplista não consegue enxergar um salto qualitativo, não apenas mais um fenômeno de populismo latino-americano. Podem chorar à vontade. Os fatos estão aí.

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sexta-feira, maio 09, 2008

ESPECIAL SONIC YOUTH

Nada menos que genial. Algumas palhinhas:

"Kool Thing" (Goo) - Tremenda ironia da malvada Kim Gordon.

"Youth against fascism" (Dirty) - Estamos perdendo essa guerra, Thurston.

100% (Dirty) - A melhor música comercial deles.

Incinerate (Ratter Ripped) - O melhor momento pop do último álbum.

Silver Rocket (Daydream nation) - Tosqueira dos primeiros tempos.


Superstar (cover dos Carpenters) - cover genial.

Sem paciência de postar coisas mais complexas que isso.

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quarta-feira, maio 07, 2008

ARMADILHA DO BOCA

Terminou, o Boca bateu o Cruzeiro: 2 a 1. Não vi o jogo. Mas impressiona que, nos últimos anos, o Boca tenha matado Palmeiras, Santos, Grêmio, Inter, Cruzeiro e Paysandu [ok, esse não conta]. Na maioria das vezes, bateu os brasileiros -- cheios de esperança -- em casa. A doce ilusão que o Boca usa como armadilha é fazer acreditar que, vencida a Bombonera, tudo dará certo. Pura artimanha. O Boca é tão perigoso fora quanto em casa. Esses dias comentava justamente isso com um amigo. O aparente "bom" resultado do Cruzeiro ignorava que o time argentino venceu quase todas as disputas no Brasil.
Perguntinha: que brasileiro vencerá o Boca?

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terça-feira, maio 06, 2008

"ESTOU SÓ TRABALHANDO"

Lendo a desculpa dos arrozeiros de Roraima para atirarem em índios no território Raposa/Sol, que recentemente fez ressurgir o discurso milico-autoritário que há tempos não se manifestava [exceto na questão das indenizações], não pude deixar de refletir sobre a frase "estou apenas trabalhando". Os arrozeiros, invadindo as terras, alegaram que só queriam trabalhar.
Você está dirigindo tranqüilamente quando um ônibus, uma lotação ou um táxi bate no seu carro, em manobra imprudente. O motorista se vira e diz: "só estou trabalhando". Você está sendo explorado em serviços que o maltratam como cliente: "só estou trabalhando". Etc.
O "só estou trabalhando" é uma versão para o "pay the mortgate", que tantas vezes aparece no bom filme "Obrigado por fumar". É uma das justificativas que é aceita para qualquer coisa.
Certamente os soldados que cuidavam dos campos de concentração também "só estavam trabalhando". Eichmann só queria cumprir suas suas obrigações. Os carrascos que torturam prisioneiros em Guantánamo também "só estão trabalhando". Os médicos que faziam experimentos humanos também estavam trabalhando.
Quer dizer: trabalhar não isenta alguém de ser um canalha e estar fazendo uma canalhice. Se existe uma razão para a podridão em que vivemos, é essa idéia de autoconservação [para falar com Adorno] que se justifica a qualquer preço. Posso tudo, desde que seja para minha sobrevivência. Ou da minha família [algo bem burguês, no sentido cultural do termo]. Estou fazendo publicidade para um produto cancerígeno, mas preciso pagar minhas contas. Estou fazendo reportagem paga para empresa produzir devastação ambiental, mas preciso manter meu emprego.
Esse apego e essa isenção do juízo da canalhice são as razões que, em última instância, mantém a estrutura podre como está.

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segunda-feira, maio 05, 2008

TIBET E O ESPIRITUALISMO BOVINO
Lendo hoje sobre a história do boicote às Olimpiadas na China protestando contra o Tibet não posso deixar de achar o assunto um tanto quanto bobagem. Aceitaria apenas se os jogadores da NFL e NBA deixassem de jogar para protestar contra Guantánamo.
Não posso deixar de concordar com Zizek, quando ele faz um paralelo entre a defesa do Tibet e o "espiritualismo oriental" das palestras motivacionais, da boa gestão e da "paz interior" em geral. Diz o Zizek:

Ideologia "new age"8) Uma das principais razões por que tantas pessoas no Ocidente tomam parte nos protestos contra a China é de natureza ideológica: o budismo tibetano, habilmente propagado pelo dalai-lama, é um dos pontos de referência da espiritualidade hedonista "new age", que está rapidamente se convertendo na forma predominante de ideologia nos dias atuais. Nosso fascínio pelo Tibete o converte numa entidade mítica sobre a qual projetamos nossos sonhos. Assim, quando as pessoas lamentam a perda do autêntico modo de vida tibetano, não estão, na verdade, preocupadas com os tibetanos reais. O que querem dos tibetanos é que sejam autenticamente espirituais por nós, em lugar de nós mesmos o sermos, para continuarmos a jogar nosso desvairado jogo consumista.
O filósofo francês Gilles Deleuze [1925-75] escreveu: "Se você está preso no sonho de outro, está perdido". Os manifestantes que protestam contra a China estão certos quando contestam o lema olímpico de Pequim, "Um mundo, um sonho", propondo em lugar disso "um mundo, muitos sonhos". Mas eles devem tomar consciência de que estão prendendo os tibetanos em seu próprio sonho, que é apenas um entre muitos outros.

Há tempos atrás, escrevia, com base em Nietzsche, que esse papo de "paz interior" é equivalente a uma boa digestão. Quem quer virar gado, cheio de paz interior, que compre esse papo-baboseira.

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UMA BREVE HOMENAGEM AO TÍTULO DO MADRID

Foi um campeonato bem insosso, com intensos tropeços do Barça e do Madrid. Mas, ao final, prevaleceu a equipe de Schuster, apesar de ainda não ter onze titulares nem uma espinha dorsal clara. No campeonato, no entanto, prevaleceu a recuperação de Raúl, o crescimento ao final de Robben e Sneijder e os lampejos de Robinho, Julio Baptista e Guti.
Para a próxima temporada, deve haver apenas um objetivo: vencer a Champions. Para isso, é preciso pequena mudança: não mais trazer dez bons jogadores, mas apenas UM, um para completar o meio de campo que seja CRAQUE. Um Lampard, Ballack, Gerrard, Kaká ou Fabregas. Um grande jogador para consertar o meio de campo é o suficiente para organizar o time, que já conta com boa defesa, dois volantes confiáveis, boas opções na meia e bons atacantes.
Por enquanto, vamos a Cibeles! HALA MADRID!!!

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NO ETÉREO DO CÉU


Nunca tinha ouvido falar do M83, banda de origem francesa que já está no terceiro álbum e havia encontrado boa recepção nos seus primeiros trabalhos. A recorrência a dicas de terceiros sobre os [bons] lançamentos me fez conhecer seu último trabalho, "Saturdays = Youth", lançado esse ano.
O álbum, com uma simpática capa meio hippie/pastoril, meio esquizo, traz uma reverbação de elementos que vão do shoegaze dos My Bloody Valentine e Slowdive até ambiências mais suaves como o Air, navegando nas terras celestiais do etéreo perpassam o dream pop, algum pós-rock e a música eletrônica mais ambient. Estão, com algumas diferenças, na mesma praia dos Blonde Redhead, dessas bandas que compõem com a cabeça nas nuvens. Tudo se dá como uma conjugação entre as texturas densas e encorpadas do shoegaze tocadas em linhas mais suaves, não por gigantescas e ensurdecedoras paredes de guitarras, mas por discretos arranjos recheados de teclados possantes, desviante da agressividade para a dispersão e psicodelia. Doses homeopáticas de melancolia, bem dosado em elegância francesa.
Disco bastante interessante, é dos poucos lançamentos que venho ouvindo esse ano. Me acompanha, até agora, com o Portishead e os Fleet Foxes. Aí vai uma pitada do trabalho dessa banda para abrir a semana com boa música:



"Graveyard girl" (ligeiramente mais agitada que o resto do álbum).

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sexta-feira, maio 02, 2008

POPULISMO PENAL > GARANTISMO

Pedido de prisão dos Nardoni alega 'comoção social'
Sex, 02 Mai, 08h46
O principal argumento usado pela polícia para pedir a prisão preventiva de Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá é que, caso fiquem em liberdade, podem atrapalhar a investigação do caso. Eles foram indiciados pela morte de Isabella Nardoni, em 29 de março. Entre os argumentos, a polícia menciona ainda que o crime "provocou imensurável comoção social".

O jornal O Estado de S. Paulo apurou que a representação com o pedido de prisão preventiva - enviada anteontem ao Ministério Público Estadual (MPE) juntamente com as provas recolhidas pela polícia e com o relatório que conclui o inquérito policial - mistura uma abordagem emocional com o caráter técnico que o dcumento deveria ter. A prisão foi pedida, em resumo, para preservar a ordem pública, impedir a fuga dos indiciados e garantir a aplicação da lei penal.
A negativa de autoria do crime, por parte de Alexandre e Anna Carolina, é vista pela polícia como uma encenação. A comoção social, diz o documento, explica-se porque Isabella era uma menina feliz, saudável, inteligente e cheia de sonhos.
Alexandre, que deveria protegê-la, nas palavras da polícia, é descrito como "um pai capaz de atirar a filha da janela de seu apartamento, preocupado em limpar o chão sujo de sangue ao invés de socorrê-la, preocupado em encenar juntamente com sua esposa, ao invés de chorar a morte da filha, um pai inerte e abobalhado diante da fúria de Anna Carolina, que asfixiava a pequena Isabella na sua presença".
Na representação, o crime é classificado de hediondo, e afirma-se que o casal, caso permaneça livre, encontrará outras formas de atrapalhar a aplicação da lei penal, o que causa prejuízo à ordem pública. O pedido será apreciado pelo promotor Francisco Cembranelli, que deve pronunciar-se no início da próxima semana. Em seguida, o caso vai para o juiz Maurício Fossen, do 2º Tribunal do Júri. É ele quem vai decidir se decreta a preventiva e se aceita a denúncia contra Alexandre e Anna Carolina. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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CAI O BAYERN

Vinha anunciando, há algum tempo, que o Bayern, reforçado com Zé Roberto, Luca Toni, Klose e Ribery, ganhava nova força -- depois do fracasso monumental da temporada passada --e venceria a tríplice coroa, mas parece que a equipe da Baviera ficará apenas com os títulos locais. A equipe caiu diante do surpreendente Zenit, do técnico holandês Dick Advocaat. Do outro lado, outra zebra: Rangers bateu a Fiorentina.

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