LULA É O PRÉ-SAL
POUCAS VEZES vi tão claramente a configuração política do momento exposta como está em relação ao Pré-Sal. Advertência: não entrarei, pois não quero nem entendo, em discussões técnicas e econômicas. Interessa-me registrar apenas o aspecto político do fenômeno.
Até certo momento do mandato, Lula era o maior defensor do etanol. Interessava o discurso ambiental, especialmente em relação ao aquecimento global, como forma de impulsionar o Brasil, que era o maior produtor do etanol (nosso álcool) no mundo. A tecnologia brasileira, baseada na cana-de-açúcar, era muito melhor que a norte-americana, baseada no milho. Tudo isso foi deixado de lado quando Lula se viu diante de uma possibilidade astronômica de petróleo no Brasil pela camada do pré-sal. O etanol, então, passou ao esquecimento, dando lugar aos benefícios óbvios da produção petrolífera.
Nada espelha melhor o Governo Lula que isso. A preocupação de justiça distributiva e projetos a longo prazo é típica desse Governo; as medidas para impulsionar a economia e melhorar a condição de vida dos muito pobres são exuberantes. Nesse ponto, Lula bate a oposição com sobras, e sabe disso. É muito provável que, em pouco tempo, Lula venha a ser reconhecido como o melhor Presidente do Brasil desde Getúlio Vargas, pelas medidas de impacto imediato que fizeram o país avançar e, em bloco, superaram com folga o Plano Real, até então imbatível. Entre elas, sem dúvida alguns dos destaques são os índices econômicos fantásticos, como a queda brutal do desemprego, o crescimento estável, a resistência à crise (que, para desespero dos trolls da direita, foi mesmo "marolinha"), a política de crédito que impulsionou a microeconomia e fundamentalmente o Bolsa-Família e a elevação substancial do salário mínimo. Tudo isso chega direto ao bolso do pobre que sente - independente das pancadas que toma o Governo da grande mídia - a justiça distributiva na carne. Nesse ponto, a oposição - completamente perdida na sua plataforma - não consegue sequer articular um discurso, especialmente pelo fato de que no Brasil os partidos de direita não se assumem como privatistas ou elitistas, apenas procuram enrolar para conquistar o poder. Esses, Lula tira de letra.
O problema é que para o Governo Lula a questão ambiental ainda está colocada como estava antes dos anos 60, ou seja, como "um problema" como todos os outros. A própria mídia trata a questão dessa forma, como se o meio ambiente fosse um problema local, mais uma pasta no ministério, capaz de ser resolvida mediante acordo entre ambientalistas e ruralistas. Por isso, a política ambiental de Lula - embora não de todo ruim, como de resto as demais - só pode se orgulhar de "controlar o desmatamento na Amazônia", sem mostrar algum avanço mais substancial que envolva mudança de rumo. O que está na pauta é simplesmente o "crescimento"; com o meio ambiente nós negociamos.
Lula, a oposição e a grande mídia não perceberam que a questão ambiental se alterou substancialmente, ou seja, não é apenas "uma pasta", mas algo que envolve uma nova racionalidade política e econômica. A "sustentabilidade" não é uma bandeira vazia que cabe em qualquer meia dúzia de árvores plantadas; é o pensamento que se articula ponderando em relação à tecnologia as condições de sobrevivência do Planeta diante do sufoco que passa atualmente. Isso não envolve uma decisão "local", mas a própria base de convicções político-econômicas que administram um Governo. A mídia trata Marina como uma candidata "temática", não percebendo que meio ambiente e sustentabilidade são questões transversais que percorrem toda lógica política, rompendo com as ideologias modernas de direita e esquerda que se uniam na matriz baconiana de dominação da natureza. A questão da sustentabilidade é muito mais intensa e não tocada nem de perto na sua essência radical pelo Governo Lula, que só consegue percebê-la como "um problema que depende de boa vontade". Sustentabilidade não é uma questão focada; é um problema radical, de base, de estraçalha sistemas políticos e econômicos inspirados no puro e simples crescimento.
É nesse momento que Marina poderia ser um salto qualitativo sobre o Governo Lula, andando sobre os ombros dos avanços incontestáveis adquiridos durante o período. A direita representa o retrocesso, o fortalecimento das oligarquias e a injustiça social. Dilma, a continuação de um programa de justiça distributiva, mas de natureza reformista e mediante sacrifício do meio ambiente. Marina, ao contrário, poderia significar a formação de uma nova racionalidade política, apoiada realmente na sustentabilidade e capaz de perceber que tudo depende da qualidade da vida (humana e não-humana) conquistada no Planeta -- e não de um ciclo obsessivo de dominação e poder.
Até certo momento do mandato, Lula era o maior defensor do etanol. Interessava o discurso ambiental, especialmente em relação ao aquecimento global, como forma de impulsionar o Brasil, que era o maior produtor do etanol (nosso álcool) no mundo. A tecnologia brasileira, baseada na cana-de-açúcar, era muito melhor que a norte-americana, baseada no milho. Tudo isso foi deixado de lado quando Lula se viu diante de uma possibilidade astronômica de petróleo no Brasil pela camada do pré-sal. O etanol, então, passou ao esquecimento, dando lugar aos benefícios óbvios da produção petrolífera.
Nada espelha melhor o Governo Lula que isso. A preocupação de justiça distributiva e projetos a longo prazo é típica desse Governo; as medidas para impulsionar a economia e melhorar a condição de vida dos muito pobres são exuberantes. Nesse ponto, Lula bate a oposição com sobras, e sabe disso. É muito provável que, em pouco tempo, Lula venha a ser reconhecido como o melhor Presidente do Brasil desde Getúlio Vargas, pelas medidas de impacto imediato que fizeram o país avançar e, em bloco, superaram com folga o Plano Real, até então imbatível. Entre elas, sem dúvida alguns dos destaques são os índices econômicos fantásticos, como a queda brutal do desemprego, o crescimento estável, a resistência à crise (que, para desespero dos trolls da direita, foi mesmo "marolinha"), a política de crédito que impulsionou a microeconomia e fundamentalmente o Bolsa-Família e a elevação substancial do salário mínimo. Tudo isso chega direto ao bolso do pobre que sente - independente das pancadas que toma o Governo da grande mídia - a justiça distributiva na carne. Nesse ponto, a oposição - completamente perdida na sua plataforma - não consegue sequer articular um discurso, especialmente pelo fato de que no Brasil os partidos de direita não se assumem como privatistas ou elitistas, apenas procuram enrolar para conquistar o poder. Esses, Lula tira de letra.
O problema é que para o Governo Lula a questão ambiental ainda está colocada como estava antes dos anos 60, ou seja, como "um problema" como todos os outros. A própria mídia trata a questão dessa forma, como se o meio ambiente fosse um problema local, mais uma pasta no ministério, capaz de ser resolvida mediante acordo entre ambientalistas e ruralistas. Por isso, a política ambiental de Lula - embora não de todo ruim, como de resto as demais - só pode se orgulhar de "controlar o desmatamento na Amazônia", sem mostrar algum avanço mais substancial que envolva mudança de rumo. O que está na pauta é simplesmente o "crescimento"; com o meio ambiente nós negociamos.
Lula, a oposição e a grande mídia não perceberam que a questão ambiental se alterou substancialmente, ou seja, não é apenas "uma pasta", mas algo que envolve uma nova racionalidade política e econômica. A "sustentabilidade" não é uma bandeira vazia que cabe em qualquer meia dúzia de árvores plantadas; é o pensamento que se articula ponderando em relação à tecnologia as condições de sobrevivência do Planeta diante do sufoco que passa atualmente. Isso não envolve uma decisão "local", mas a própria base de convicções político-econômicas que administram um Governo. A mídia trata Marina como uma candidata "temática", não percebendo que meio ambiente e sustentabilidade são questões transversais que percorrem toda lógica política, rompendo com as ideologias modernas de direita e esquerda que se uniam na matriz baconiana de dominação da natureza. A questão da sustentabilidade é muito mais intensa e não tocada nem de perto na sua essência radical pelo Governo Lula, que só consegue percebê-la como "um problema que depende de boa vontade". Sustentabilidade não é uma questão focada; é um problema radical, de base, de estraçalha sistemas políticos e econômicos inspirados no puro e simples crescimento.
É nesse momento que Marina poderia ser um salto qualitativo sobre o Governo Lula, andando sobre os ombros dos avanços incontestáveis adquiridos durante o período. A direita representa o retrocesso, o fortalecimento das oligarquias e a injustiça social. Dilma, a continuação de um programa de justiça distributiva, mas de natureza reformista e mediante sacrifício do meio ambiente. Marina, ao contrário, poderia significar a formação de uma nova racionalidade política, apoiada realmente na sustentabilidade e capaz de perceber que tudo depende da qualidade da vida (humana e não-humana) conquistada no Planeta -- e não de um ciclo obsessivo de dominação e poder.
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