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sexta-feira, novembro 30, 2007
quarta-feira, novembro 28, 2007
Vejam o seguinte artigo publicado na Folha de São Paulo:
O seqüestro do espírito
MILTON R. MEDRAN MOREIRA--------------------------------------------------------------------------------
Quem disse que o espírito é propriedade da religião? Antes desse apossamento, a filosofia cuidara dele com melhor competência
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A QUESTÃO do aborto é tormentosa porque mexe com uma profunda angústia humana: não temos ainda um conceito definitivo de vida.
É verdade, não faz muito tempo, realizamos grande façanha, mapeando os genes humanos. Deciframo-nos biologicamente, mas ainda não fomos capazes de decifrar o enigma da vida.
Seu conceito reclama um enfoque multidisciplinar e, se uma síntese um dia for possível, necessariamente será fruto de amplo acordo entre a ciência e a filosofia. Um feito bem mais importante do que o festejado mapeamento do genoma humano.
Podemos dizer que todas as nossas inquietações em torno da vida e da morte derivam desse vácuo, do fosso de ainda não nos havermos decifrado.
Dois mil e quinhentos anos pós-Sócrates, não fomos capazes de atender sua conclamação de conhecermos a nós mesmos.
O início e o fim do que convencionamos chamar vida, para efeitos biológicos e jurídicos, nem sempre têm fechado com aquilo a que nossas experiências e perquirições filosóficas nos têm conduzido. Legitimamente, permitimo-nos ajuntar outros fatores ao conceito de vida que extrapolam o campo da biologia e não são levados em conta pelo direito positivo.
Faz bem em desconhecê-los o direito. Não lhe restou outro caminho. A modernidade colocou-nos num terrível dilema. Tendo ela sucedido a um longo período em que a filosofia se tornara serva da teologia, o homem moderno precisou optar entre o conhecimento científico, provisório e mutável e os dogmas impingidos como definitivos e imutáveis. A vida, assim, se dicotomizou no sagrado e no profano. Nesse partilhamento, as questões do espírito passaram ao domínio da religião, e as da matéria, em que aparentemente se situa a vida, foram confiadas à gestão da sociedade politicamente organizada.
Estavam demarcados os dois campos em que se movimenta a modernidade: a visão religiosa e a secular. Mas quem disse que o espírito é propriedade da religião? Muito antes desse apossamento, a filosofia cuidara dele com melhor competência.
Há na história do pensamento uma rica tradição filosófica, iniciada com Sócrates e Platão e que fluiu, na modernidade, com o pensamento de filósofos idealistas. Nela, cuida-se da realidade humana justamente a partir do espírito e se sintetiza nele a mais íntima e ampla identidade humana. Aí estão Kant, Schopenhauer, Leibniz, Espinosa e tantos outros. Na literatura, fizeram-lhes coro Shakespeare, Victor Hugo e muitos mais.
Por que desprezar essa contribuição? Por que a falta de coragem de enfrentar o materialismo científico pós-moderno, permitindo-nos indagar sobre o homem a partir daquilo que lhe é mais real, vivo e concreto: o espírito? Comodamente, tachamos tudo o que a ele se refere como coisas da religião, pertencentes aos imperscrutáveis domínios da fé. No século 19, atento a essa tendência, um pedagogo francês propôs a realização dessa síntese no que denominou espiritismo. No Brasil, a proposta encontrou excelente ressonância, mas não deixaria de sucumbir à avassaladora dicotomização a que se submeteu toda a realidade humana.
Como tinha de escolher um lado, assumiu a condição de religião. Perdeu com isso. Sempre que temas tão importantes, como o do aborto, vêm à baila, é levado de roldão a associar-se às atitudes mais retrógradas e fundamentalistas na suposição de que essa é a melhor companhia para seus postulados filosóficos em defesa da vida.
Não é. O espírito, como realidade fundamental, sugere atitudes de humanismo que não se compatibilizam com os dogmas religiosos. Leva, por exemplo, a admitir que, no processo de gestação da vida biológica, podem se contrapor direitos naturais de diferentes sujeitos, como a gestante e o nascituro. E que não é justo sacralizar os de um em detrimento dos do outro.
Como o faz a fé.
Não só entre os espíritas, mas disseminadas pela sociedade toda, pessoas orientam suas posições diante da vida a partir da realidade fundamental do espírito como entidade preexistente à vida física. Defendem que essa condição, diversamente do dogma religioso da criação da alma no momento da concepção, conduz a atitudes mais tolerantes e humanistas. Vislumbram no fenômeno da vida um processo dinâmico, teleológico, que, em qualquer circunstância e malgrado acidentes de percurso, conduzirá a um estágio de felicidade e plenitude a que todo indivíduo tem direito.
Mas os que assim pensam restaram condenados ao silêncio. Não são chamados a opinar sobre as grandes questões da vida. Porque o espírito foi seqüestrado pelo formidável conluio pós-moderno materialismo/religião.
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MILTON R.MEDRAN MOREIRA, 66, procurador de Justiça do Rio Grande do Sul aposentado e jornalista, é presidente da Confederação Espírita Pan-Americana. É autor de "Direito e Justiça, um Olhar Espírita".
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terça-feira, novembro 27, 2007
Alguns certamente vão achar excessiva minha tese sobre o estado de exceção e a vida nua no Brasil. Mas vejam essa reportagem. Percebam que a polícia -- que está se incumbindo, de antemão, em inocentar a Delegada que prendeu L. -- continua exclusivamente preocupada com o fato de L. ser, ou não, menor de idade. Ora, a questão é absolutamente irrelevante. Uma mulher, independente da idade, não pode ser colocada em uma cela com 30 homens. Com 15, 20, 25 ou 50 anos. Não importa.
Quando eu falo de vida nua, basta ver que L. passou pelo Ministério Público e pelo Poder Judiciário e, no entanto, mesmo assim continuou presa. Presa em uma prisão de homens. Contra todas as regras jurídicas. Regras expressas. Detalhe: L. cometeu furto.
Percebam que o Estado "está providenciando" solução para o problema das mulheres presas com homens. É incrível. Que cidadã é essa? Nada, vida nua exposta ao poder em um regime de exceção. A única solução digna de um Estado de Direito é liberar imediatamente toda e qualquer mulher presa com homens, se não houve cela feminina. Mas, no Brasil, algumas vidas valem menos que outras.
Delegado diz que menina presa com homens no PA mentiu a idade
Dois delegados envolvidos na prisão de uma adolescente de 15 anos em uma cela com homens em Abaetetuba (PA) prestaram depoimento nesta segunda-feira. Eles disseram desconhecer a real idade da menina e afirmaram que ela já havia sido presa outras vezes, como maior de idade. Segundo a delegada Liane Martins, responsável pelo inquérito administrativo que vai apurar a responsabilidade dos policiais, o delegado Celso Viana disse que foi a própria menina quem apresentou a informação sobre a data de nascimento. A delegada não soube informar o motivo pelo qual a garota mentiria sobre a idade."Isso é difícil a gente saber. E vai ser mais difícil ainda porque já que ela foi colocada nesse Programa de [Proteção à] Testemunha nós dificilmente vamos ouvi-la novamente. Então isso dificulta as investigações, mas não podemos fazer nada, temos que apurar com os dados que a gente tem", disse. Viana disse que ao ser detida, a menina estava sem documentos. Segundo ele, a jovem foi encaminhada para coleta de digitais, mas o Instituto de Identificação da Polícia Civil em Belém não enviou nenhuma resposta sobre o exame. O superintendente da Polícia Civil na região, Fernando Cunha, disse ter informado a Justiça sobre a prisão e afirmou que manteve o flagrante porque também não sabia que ela era menor de idade, já que ela havia sido presa outras vezes como maior, informou a delegada. "O fato é que já havia processo na Justiça contra ela, ela tinha sido ouvida por juízes e promotores e ninguém suscitou que ela era menor de idade". "Ela já tinha dois processos na Justiça, já tinha participado de audiências, o Ministério Público já tinha visitado a carceragem e visto que tinha uma mulher junto com os homens. Ela diz que avisou para o promotor que era menor de idade, mas ainda vai ser investigado porque o promotor não desconfiou que ela era menor", afirmou a delegada. A jovem foi presa por furto em 21 de outubro, e o caso foi denunciado às autoridades pelo Conselho Tutelar da cidade no dia 14 de novembro. Aos conselheiros tutelares, ela disse ter sofrido abuso sexual dos cerca de 20 presos da cela, que teve que fazer sexo com eles em troca de comida e que foi agredida --apresentava hematomas e marcas de queimadura de cigarro pelo corpo. A secretária-adjunta da Subsecretaria dos Direitos da Criança e do Adolescente, Márcia Ustra Soares, afirmou na semana passada que denúncias de que outras mulheres também sofrem com irregularidades nas cadeias da região serão apuradas.
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Uma ameaça no horizonte
A mesma Assembléia Legislativa que negou o aumento de receita pretendido pela governadora Yeda Crusius com o pacote que aumentava o ICMS está para aprovar uma elevação das despesas de pessoal. Se o Palácio Piratini não conseguir recompor sua base na Assembléia, é iminente a aprovação dos quatro projetos que instituem a remuneração por subsídio para o Judiciário, o Ministério Público, a Defensoria e a Procuradoria-Geral do Estado. Mesmo que o partido do governo, o PSDB, não dê acordo para colocar os projetos em votação, o plenário pode aprovar requerimento pedindo prioridade às propostas. A mobilização do Judiciário e do Ministério Público na Assembléia assustou o governo, que prevê aumento de R$ 293 milhões nos gastos com pessoal pelo efeito cascata da implantação do subsídio. Além dos quatro projetos que estão prontos para ir a votação, outras categorias vão pressionar para ter isonomia. Entre elas, os servidores da Fazenda, os delegados e os oficiais da Brigada Militar.
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segunda-feira, novembro 26, 2007
Eu só gostaria de saber se eles também vão mapear o cérebro de quem comete sonegação fiscal, violência intra-familiar, evasão de divisas, corrupção no serviço público ou "gateia" a net do vizinho. Também vai ser engraçado explicarem a diferença entre homicídios no Brasil, na Espanha e na Suécia por problemas cerebrais.
É o problema de todas as perspectivas etiológicas: recusam enxergar a seletividade do controle penal e continuam procurando o "gene" do crime. Biólogos, ultrapassem a década de 70!
Estudo vai mapear cérebro de homicidas
Foto Jefferson Bernardes/Preview. com
M.C.Z., 18, com cinco passagens pela Fase, no seu alojamento
Grupo vai analisar aspectos genético, psicológico, social e cerebral de adolescentes; secretário da Saúde do RS é um dos mentores do projeto
RAFAEL GARCIAENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
domingo, novembro 25, 2007
Moradores dizem que jovem aproveitava proximidade da cela com a rua para pedir ajuda
Da rua em frente à delegacia de polícia de Abaetetuba, 130 km de Belém, tem-se visão ampla da carceragem, um galpão de 80 metros quadrados, três banheiros minúsculos e uma cela de segurança, separados da cidade livre apenas por um portão de grades enferrujadas.
quarta-feira, novembro 21, 2007
LADIES AND GENTLEMEN, I present you THE NATIONAL.
"Apartment Story", a melhor do magistral "Boxer".
terça-feira, novembro 20, 2007
Kings of Leon, "Fans"
Caribou, "Melody Day"
domingo, novembro 18, 2007
Para começar, a rainha do pop-cabaré, Alison Goldfrapp, cantando seu electro "Oh Lah Lah".
Cat corta-pulsos Power, cantando a magnífica "Werewolf".
A geóloga nerd de Colorado, Laura Veirs, diamante do folk americano, cantando "Magnetized".
Um pouco de rock com Kim Deal, tocando "Divine Hammer" com as Breeders.
E, claro, não poderia faltar a melhor de todas: Beth Gibbons, cantando a música mais portisheadiana do seu álbum solo, "Funny time of year", em versão apocalíptica.
BÔNUS:
A bad girl britânica, que tocou terror até nos desbocados do Oasis, Amy Winehouse, destilando seu soul de raiz com "Back to Black".
sexta-feira, novembro 16, 2007
sábado, novembro 10, 2007
quarta-feira, novembro 07, 2007
segunda-feira, novembro 05, 2007
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quinta-feira, novembro 01, 2007
FOLHA DE SÃO PAULO, 01/11
Sete foram absolvidos no julgamento de muçulmanos que explodiram trens suburbanos em 11 de março de 2004, matando 191
Um dos absolvidos era visto como cérebro da operação, mas juízes derrubaram uma prova baseada em tradução ruim de conversa em árabe
DA REDAÇÃO
A Justiça espanhola condenou ontem três terroristas islâmicos a 42.924 anos de prisão pelo atentado de 11 de março de 2004, em que a explosão de trens de subúrbio em Madri matou 191 pessoas e deixou 1.800 feridas. Sete réus foram absolvidos, e 18 outros condenados a penas menores, de no máximo 23 anos.As sentenças superlativas têm um valor apenas simbólico, já que a legislação penal espanhola limita a 40 anos o período em que um sentenciado pode permanecer na prisão.O tribunal também decidiu que os feridos receberão indenizações de 30 mil (R$ 76.500) a 1,5 milhão (R$ 3,8 milhões), dependendo da gravidade das lesões.Um dois absolvidos foi Rabei Osman Sayed Ahmed, também designado como "Mohamed, o Egípcio" e apontado pela mídia como coordenador do atentado. Ele já cumpre na Itália pena de oito anos por filiação a grupo terrorista islâmico.A prova contra Rabei Osman era um telefonema em que ele, da Itália, conversava em árabe com dois outros suspeitos. A primeira tradução da conversa indicava que transmitia ordens precisas. Mas duas traduções posteriores, aceitas pelos juízes, demonstravam que no fundo não era bem assim.O suposto terrorista acompanhou o julgamento por teleconferência, de Milão. Chorou ao saber que fora absolvido."Cérebro" desconhecidoUm dos magistrados que participou da instrução disse à Associated Press ser impossível saber quem foi o verdadeiro "cérebro" da operação, e que esse terrorista provavelmente estava entre os sete homens que se explodiram em suicídio coletivo, num apartamento cercado pela polícia, três semanas depois dos atentados.Os três réus que receberam as penas mais pesadas são os marroquinos Jamal Zougam e Othman Gnaoui e o espanhol Emilio Suarez Trashorras. O primeiro havia sido acusado de colocar ao menos uma das bombas, o segundo, de ser um dos coordenadores da operação, e o espanhol, de ter providenciado os explosivos deixados em 13 mochilas e detonados por telefones celulares.Quatro outros indiciados no processo, Youssef Belhadj, Hassan el Haski, Abdulmajid Bouchar e Rafa Zouhier, foram considerados inocentes de homicídio e culpados por crimes menores. Um deles, Bouchar, teria sido visto num dos trens atingidos pouco antes das explosões, mas nenhuma testemunha confirmou sua presença, e não havia impressões digitais ou provas concretas.O fato de os promotores não terem conseguido a condenação de todos os réus criou entre familiares das vítimas e círculos da oposição conservadora a impressão de impunidade.Protesto dos parentes"As sentenças foram frouxas e não me agrada a idéia de ver assassinos em liberdade", disse Pilar Manjon, cujo filho de 20 anos está na lista dos mortos. "Não sou juíza nem advogada, mas tudo isso é vergonhoso e ultrajante", afirmou Isabel Presa, que também perdeu um filho. "Há bem poucos condenados por um crime tão horroroso", disse Eutequi Gutiérrez, parente de outro morto.No campo político, o premiê socialista, José Luis Rodríguez Zapatero, saiu fortalecido, na medida em que o Judiciário assegurou não existir vínculo entre os terroristas islâmicos e o ETA, grupo separatista basco. A versão do envolvimento do grupo, mesmo em auxílio logístico, era defendida pelo PP, o principal partido de oposição -que na época do ataque estava no governo. Nos últimos três anos, o PP criticou as tentativas de negociação do governo com o braço político do ETA.Reação americanaEm Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, Sean McCormack, disse que seu governo "mantém relações muito fortes com a Espanha no combate ao terrorismo". "Já houve oportunidades em outros países em que a sentença para atos terroristas não foi aquela que desejávamos."
Com agências internacionais
JOÃO BATISTA NATALIDA REPORTAGEM LOCAL
Dependendo do ângulo político, foram dois, e não apenas um, os julgamentos dos indiciados pelo atentado de 2004 nos trens de Madri. Um dos ângulos é representado pelo "El País", de centro-esquerda e que apóia o primeiro-ministro, José Luis Rodríguez Zapatero."Nenhuma prova aponta o ETA", dizia a manchete de sua edição eletrônica, em referência ao grupo separatista basco que, antes do atentado islâmico de 2004, exercia o monopólio do terrorismo espanhol.O ataque aos trens ocorreu às vésperas das eleições legislativas em que o PP (Partido Popular), conservador, era favorito. Os terroristas muçulmanos se vingavam da participação espanhola na invasão do Iraque. O então premiê, José Maria Aznar, tentou envolver o ETA, mas conseguiu apenas por algumas horas. A polícia identificou os simpatizantes da Al Qaeda, e os socialistas de Zapatero ganharam a eleição.O outro ângulo do julgamento foi dado pelo "El Mundo", jornal próximo do PP. Sua manchete era de que o atentado de Madri ficou sem um mentor intelectual, uma crítica à decisão de inocentar o suposto cérebro da operação.Mariano Rajoy, atual líder do PP, disse que apoiaria uma reabertura do processo, diante da não-condenação dos idealizadores da carnificina.Fora da Espanha também surgiram leituras diferentes. Em Paris, o "Le Monde", simpático aos socialistas espanhóis, dá a entender que o Judiciário cumpriu seu papel: "Três principais acusados são condenados à pena máxima".Em Londres, o conservador "Times" exprime a lógica da oposição. Dá título para a absolvição do "cérebro", sem levar em conta que a única prova contra ele era frágil.Nos EUA, o "New York Times" destacou em título que sete réus foram absolvidos. Com o terrorismo incorporado à cultura jornalística, isso é mais importante que a existência de 29 réus e os milhares de anos a que três deles foram condenados. A CNN, na internet, vai na mesma direção. Em texto editorializado, assusta-se porque só três foram condenados por homicídio em massa e cita um especialista espanhol para quem havia evidências para condenar muito mais.A mídia americana tem dificuldades para explicar que a Espanha, como os demais 26 países da União Européia, não tem pena de morte.