O DÍPTICO DE CLINT EASTWOOD
Clint Eastwood já atingiu o status de um dos melhores diretores da atualidade, com seus recentes e ótimos "Sobre Meninos e Lobos" (2003) e "Menina de Ouro" (2004). Longe da pieguice típica de pelo menos 70% do que vem de Hollywood, seus filmes costumam ter um conteúdo humano autêntico, algo fora da produção massiva, um certo transpirar de realidade.
"Cartas de Iwo Jima" (Letters from Iwo Jima) e "Conquista da Honra" (Flags of our fathers), ambas produções de 2006, formam um díptico que aborda o conflito EUA/Japão durante a II Guerra Mundial, abordando, sob as duas lentes distintas, a batalha de Ilha de Iwo Jima.
Cartas de Iwo Jima é detalhista, respeitoso, perfeitamente adequado ao que imagino tenha sido o cenário nipônico naquela ocasião. O conflito intercultural de certos "assimilados", encantados com a cultura ocidental que mais tarde irá integrar a cultura japonesa, a delicadeza das descrições -- evitando o reducionismo --, o impacto da visão dos milhares de navios norte-americanos que traziam a certeza da morte, assim como, em um cenário de guerra total, o vislumbre do Rosto do Outro*, aquém de todos estereótipos, que desperta a relação humana e mostra a brutalidade estúpida da guerra -- tudo isso é tratado com maestria pela direção lenta, cautelosa e paciente de Clint Eastwood, que não deixa escapar nada. Assim como Sergio Leone, que o dirigiu tantas vezes, Clint não acelera o que não deve ser acelerado, deixa transcorrer calmamente a película exibindo as veias e vísceras do conflito.
A Conquista da Honra não tem o mesmo brilho de seu co-irmão japonês [é, até agora, a película mais fraca de Clint]. Enquanto Cartas expõe a nu a preparação para batalha, A Conquista não se prende em demasia na Guerra propriamente dita, passando mais pelo drama psicológico de "heróis" de guerra que não conseguem se ver como "heróis". O desenvolvimento lento -- e propositalmente cansativo -- parece querer passar ao espectador a sensação de tédio, repetição e artificialidade da turnê que os soldados são obrigados a percorrer em busca de recursos para a Guerra.
Ambos filmes, no entanto, formam um díptico cujo tema principal é de que a guerra não é algo belo, o vencedor não é um herói e o perdedor não é um inimigo. A todo momento, os retratos desenhados cuidadosamente por Clint parecem sinalizam uma imagem que transborda dessas classificações, formando um todo humano de angústia e drama. O evento guerra e seus protagonistas são, por isso, constantemente empurrados contra a banalização.
* Aliás, depois lendo que o roteiro co-escrito por Paul Haggis, vejo como essa temática do encontro humano que transcende os esterótipos está arraigada nesse roteirista, algo de que havia falado no seu Crash (2005).
EU AVISEI
Há poucos posts abaixo, avisei que havia acendido a luz vermelha em relação ao Tricolor. As derrotas perante Atlético-PR e Figueirense tornaram a classificação à Libertadores praticamente impossível. O que deve fazer o Grêmio?
Antes de tudo, não incorrer no mesmo erro dessa Temporada. É preciso planejar, de antemão, quem será o time. Contratar pelo menos dois meias e dois atacantes é, desde já, imperativo. Conversar com os descontentes na Europa -- é olhar os Brasileirões de 2004, 2005 e 2006 e ver quem foram os destaques -- e já iniciar a negociação. Contratar mais um zagueiro -- com Teco, William e Léo estamos bem servidos. Os laterais vamos ter que refletir: Bustos não vem dando boa resposta, mas Patrício não é solução; e talvez apostar nos garotos Bruno Telles e Anderson Pico na temporada que vem seja uma boa. Volantes estamos bem servidos: Eduardo Costa, Sandro, Gavilán e Labarthe. Temos ainda Tcheco e Diego [que acho que não fica] para as funções. Os reforços devem vir do meio pra frente.
E também um goleiro. Saja é um grande cara, de ótimo caráter, excelente para o grupo, mas deixa a desejar. Falha muitas vezes, embora não tome muitos frangos, parece ter os braços curtos. Não dá.
É investir para a Copa do Brasil do ano que vem que nos coloca, desde o primeiro semestre, direto na Libertadores 2009.
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SIGUR RÓS
Primeira impressão [primeira mesmo] de "Hvarf/Heim" (2007): não ata a botina de "Takk" (2004).
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Trilha sonora do post: Sigur Rós, "Heysátan" (live).