Mox in the Sky with Diamonds

sábado, novembro 10, 2007

NO BRASIL, TUDO ESTÁ DE CABEÇA PARA BAIXO

Costumamos afirmar, com base na constatação do sociólogo francês radicado nos EUA Loïq Wacquant, que, a partir da década de 80, houve um recuo do Estado Social [Welfare State] em direção a um Estado Penal. Ou seja, que a política de integração e inclusão dos pobres foi substituída por uma política dura de encarceiramento massivo. Wacquant está falando das transições ocorridas nos países do Primeiro Mundo: do Estado Liberal ao Estado Social, deste ao Estado Penal.
Vou desenvolver isso melhor por aqui depois, mas posso adiantar que, no Brasil, nada disso se aplica.
É a referência ao filósofo Giorgio Agamben que nos importa. O Brasil não viveu nenhum dos três estágios: o que há é uma estrutura da cidadania distribuída a uma parcela da população e um grande estado de exceção, no qual a lei é suspensa e não existe cidadania.
Diante dessa confusão, que decorre da importação de modelos de análise que estão distantes da realidade brasileira, tudo que se quer é algo que explique o que está acontece.
Tropa de Elite é uma tentação ao fascismo. Quando, depois da exibição de filme, uma sucessão de assassinatos e torturas é aplaudida pela platéia, algo está errado. Quando, depois de vermos o Ônibus 174, o major do BOPE declara que não se arrepende de ter matado o jovem, cuja trajetória de vida acompanhamos, algo soa estranho. Ou, ao contrário, quando um traficante é aplaudido por ter assassinado um PM, tudo parece estar fora do lugar.
Alguma coisa está profundamente errada no RS e no Brasil. Está tudo de cabeça para baixo. Constatar isso - Sr. Cidadão de Bem -- é o primeiro passo para que possamos crescer.
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Quem quiser obter a minha explicação sobre o diagnóstico dessa conturbada situação está convidado a comparecer na PUCRS, quarta-feira à noite (14/11/2007), onde estarei participando de um seminário. Minha palestra tratará das relações entre o Direito Penal do Inimigo e dois pensadores que, se houver tempo, tentarei articular: Giorgio Agamben e Emmanuel Levinas.