Mox in the Sky with Diamonds

terça-feira, novembro 29, 2005

PEARL JAM EM PORTO ALEGRE


Image Hosted by ImageShack.us "O" cara

Há mais ou menos 13 anos atrás, nos idos de 1992, todos os dias às 18h da tarde eu me postava em frente a televisão e me preparava: aí vinha a Astrid e o Disk MTV. E, flutuando entre as primeiras posições, que normalmente dividia com Metallica, Nirvana, Chilli Peppers e Guns'n'Roses, estava o clipe de "Even Flow", do Pearl Jam. Com minha camisa de flanela e bermuda rasgada, quando começava a música já me preparava para subir na escrivaninha e, no lendário salto do Eddie Vedder, me atirar à cama como se estivesse dando um mosh [na época, tinha 12 anos]. Depois veio aquele clipe do gurizinho que estourava a cuca em plena aula, e os caras paparam tudo.

Image Hosted by ImageShack.us Lembra?

Por aí, tu já deduz muito coisa. Entre elas, que a bolacha (vulgo LP) de "Ten" (1991) integrava a minha discoteca, depois ganhando a versão já em CD de "Versus" (1993), o segundo álbum dos caras. Esses, de cabo a rabo, foram escutados milhares de vezes. Na época, Eddie Vedder já era avesso ao sucesso e, depois disso, lançou o hermético "Vitalogy" (1994), seguido do semi-inaudível "No Code" (1996). E, depois, tocando junto com Neil Young em vários concertos, pegou gosto pela barulheira. Vieram "Yield" (1998), "Binaural" (2000) e "Rio Act" (2002), além da coletânea de b-sides "Lost Dogs" (2003) e uma série infindável de discos ao vivo.

Como definir o som do Pearl Jam? Difícil. Porque, ao menos pra mim, "grunge" não significa tanto um som - basta comparar Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden -, mas uma atitude neopunk de recusa a toda e qualquer farofa, maquiagem, solos grandiloqüentes e atitude poser. A aversão ao sucesso [por isso entenda: showbizz, hype, badalação, paparazzis] do pessoal de Seattle representa, por isso, um contraponto a tudo que vinha sendo feito na época. Em suma: o enterro dos anos 80 [só isso já é muita coisa]. Depois deles, maquiagem e calça de couro voltaram para o lugar de onde não deveriam ter saído: boiolice.

Mas o som. Influências, eles têm um monte: Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Neil Young, The Who. O estilo parece um hard rock bem tocado por punks, ou seja, instrumental pesado, mas sem exuberância técnica e veloz [animal, better man, dissident, etc.]. Mas, por horas, parece simplesmente um bando de neohippies tocando música de surfista [alive, oceans, crazy mary, etc.]. Entre hardcores e baladas, a verdade é que definir o Pearl Jam é difícil pela variedade. Enfim, um Led Zeppelin sem o mesmo talento instrumental, mas com um vocalista surfista-hippie-com-cérebro. Porque, a despeito da genialidade de Page, Bonzo e John Paul Jones, todos expoentes nos seus instrumentos, Plant, com grande timbre, era uma de bichice constrangedora, no final das contas, e quem acha ele cool no fundo é boiola. Pronto, falei.

Bem, Eddie Vedder é sobretudo um contador de histórias. Que o digam Jeremy, Crazy Mary, Alive, Elderly Woman. E, contando essas histórias com uma forma toda própria de cantar, se tornou o melhor vocalista dos anos 90. E o mais imitado, infelizmente, graças ao Stone Temple Pilots [que o digam Creed, Nickelback e todos esses lixos]. Isso esteve muito claro no show, onde a sua presença foi decisiva em todos os momentos.

Com uma presença de palco segura, inabalável e totalmente rock'n'roll, o Pearl Jam, após algumas oscilações entre hardcores dos últimos discos, quando soam como o Queens of the Stone Age, sem os riffs [portanto, prejudicados], simplesmente ganharam a platéia tocando uma manada incontrolável de clássicos, ecoados por uma platéia que provavelmente viveu os momentos descritos no primeiro parágrafo. E ainda sobraram alguns (I am Mine, Black, Oceans, Immortality, ou até Hunger Strike, p. ex.).

As aventuras com Neil Young certamente tornaram ainda mais vigorosa a energia de palco que conhecíamos desde o clipe de "Even Flow". E, além disso, a convivência com outros rock stars como Pete Townshend (que se declarou amigo íntimo de Eddie em um show) tornaram eles totalmente seguros para fazer o que quisessem. Incluindo tomar trago no show. E bota trago nisso. O instrumental, embora longe do virtuosismo, esteve bem na maioria dos momentos, sustentando e aprofundando as músicas, com longos solos e desvairio rocker, típicos dos amigos de Eddie.

Obviamente, os momentos mais memoráveis foram as músicas de "Ten", o lendário álbum de estréia da banda, especialmente "Even Flow" e "Alive". Além dessas, eles ainda me brindaram com "Elderly Woman", uma das minhas baladas favoritas, e "Crazy Mary", onde o vocal atingiu o ponto máximo. "Better Man" igualmente foi magnífica, "Jeremy", "Daughter" e as covers de Ramones [com a presença de Marky Ramone*] e Who igualmente emocionaram.

Foi um show para chorar. Lembrar os momentos de uma banda que, negando-se a mudar o seu modo de ser para se adaptar à indústria musical, preferiu permanecer autêntica, roqueira, verdadeira. O Pearl Jam pode ser acusado de tudo, menos de não ter alma.

*A propósito, ele está radicado em POA ou é impressão?

Babyshambles

Publiquei resenha não muito amigável sobre o disco do Babyshambles, lançado esse ano, lá no Plugitin. Deixem seus comentários por lá.

Trilha sonora do post: Pearl Jam, "Black".

Cidade Baixa


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CIDADE BAIXA é um dos melhores filmes do ano. Pronto. Já apresentei. A quantidade de observações diferentes sobre esse filme é ilimitada.


Primeiro, o amor. Não o amor feliz, esse que chega calmamente, com o convívio, a partir de prolongados contatos, que satisfaz a ambas as partes, mas o amor traiçoeiro, aquele que vem como uma flecha involuntária, de um lugar que não sabemos exatamente qual é. Incrível esse amor, sentimento totalmente involuntário, fisiológico, provocado por forças que não fazem parte da nossa consciência e nos jogam na vala dos seres pequenos, escravizados por vontades que não fazem parte da racionalidade. Essa dimensão do humano é surpreendente. Terrível. Temível. Dolorida. Troglodita. Amor que consome o sangue das veias, que tira a saliva da boca, que gela a pele. Não é o amor feliz, já disse, aquele que nos transforma em seres radiantes. É o amor doentio, aquele que nos transforma em vermes rastejantes, esqueletos, carne crua e cabeça vazia. Amor que nos suga. Amor que não queremos, amor que nos toma. Quem já amou assim sabe como é. Não é o amor das lágrimas, é o amor em que as lágrimas não são o bastante. Amor que nos seca. Amor que tira nossa humanidade.


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Um triângulo. Uma tristeza para quem já viu isso acontecer. Dois amigos que compartilham mais do que uma amizade. São, na verdade, irmãos. A amizade verdadeira, essa desprendida da relação custo-benefício, a amizade gratuita, essa que nos faz nos alegrarmos pela felicidade do amigo, como se estivéssemos em parceira contra o mundo. Essa amizade é irmandade, e poucos estão dispostos a ela. E então, uma mulher. Uma mulher que, com sua delicadeza, sua pele, seu cheiro, sua suavidade irresistível própria do sexo oposto, simplesmente faz desabar esses alicerces. Porque, se a amizade é um ato voluntário de entrega constante, o amor é involuntário e perturbador. A amizade é decisão; o amor se impõe. E, nesse mar de sentimentos, a água vira sangue. E tudo que construímos pode ir para o saco. Nesse conflito, ninguém sai vencedor. É o amor, que cristianamente tentamos ver como algo positivo, que funciona como elemento destrutivo - e irresistível - a devastar todo o horizonte. Esse amor é o amor do terremoto, da erupção vulcânica, do furacão - um amor em que ninguém é vencedor. Mas eu falava da mulher, com a força que Nietzsche, ressentidamente, havia indentificado: sua passividade, sua delicadeza, sua suavidade é exatamente uma força irresistível. Por isso os homens são tão brutais em estados islâmicos. É necessário dilacerar a mulher, esconder o rosto, desumanizá-la, para que possamos resistir à sua força. Do contrário, o homem sucumbe.

Por fim, o fio-da-navalha. A extrema pobreza retratada sem caricatura, mais ou menos como no belíssimo "Jardineiro Fiel", de Fernando Meirelles, de um povo miscigenado, vivendo num ambiente escuro, doloroso, desalentador. O povo baiano explorado por coronéis que se perpetuam no poder - e hoje vemos a ascendência de uma nova geração no Congresso Nacional -, deixando os cidadãos de segunda e terceira categoria em constante situação de fio-da-navalha, prontos para o crime, para a prostituição, para a violência. Um constante desafio é a vida dessas pessoas, sem perspectiva, vivendo um presente constante, terminantemente proibidas de sonhar. Um Brasil do que vivemos, esmagado pela corrupção, pela cobiça, pelo egoísmo e a indiferença, onde nada é indesculpável. Sinceramente.

Rostos cobertos de sangue por um sentimento transcende a todos eles. A tragédia. Disso, só nos restam olhares. Palavras seriam excrescências.

Superioridade gremista
Vou escrever um textinho sobre o jogo, mas aqui e agora só fica o comentário: impressionante o reconhecimento de toda imprensa nacional da raça e força do Grêmio. Finalmente o verdadeiro espírito tricolor ultrapassou os limites do preconceito e agora já é visto e respeitado por todos, como uma imortalidade insuplantável e mágica. Algo nunca visto antes.

Pearl Jam
O fantástico show do Pearl Jam será resenhado no próximo post.

Brasil e Argentina
Lendo sobre a queda do poderoso ministro Lavagna, fico pensando até quando Brasil e Argentina seguirão sendo tão infantis, usando uma lógica futebolística para negociar. Um mínimo de leitura sobre a globalização aponta para que somente mercados fortes, integrados e transnacionais serão capazes de resistir à selvageria do mercado global, especialmente se considerarmos competidores desonestos como a China (combinação de socialismo, capitalismo e escravismo, no que cada um tem de pior).
Ou o Mercosul se integra de vez, e isso exigiria uma postura mais humilde nossa também, sem a idéia de protagonismo e liderança, ou vamos sucumbir. Precisamos aceitar alguns prejuízos e construir uma América do Sul forte e capaz de enfrentar o mercado mundial. Porque, a meu ver, não adianta ficar choramingando contra o Palocci, sabe-se que hoje o poder do Estado Nacional sobre a economia é próximo ao nulo. Palocci não inventa nada. É somente por uma regulação do mercado mundial, similar à que ocorreu com o Welfare State em relação ao Estado liberal, que poderemos avançar.
Do contrário, as perspectivas são sombrias.

Mais uma
A prisão da ex-bóia-fria Iolanda, em São Paulo, agora comentada pela imprensa porque, aos 80 anos e pesando 40kg, está próxima à morte aguardando julgamento por tráfico de entorpecentes, é apenas mais um exemplo do draconianismo de quem já perdeu o sentido do humano. Os repressivistas, com sua vontade punir violenta, não conseguem enxergar o Rosto, enxergam a sociedade como uma guerra permanente, exigindo a barbárie, como ocorre com a Lei dos Crimes Hediondos.
Curiosamente, a prisão já é obrigatória antes do julgamento, como se todos aqueles que sofressem acusação fossem culpados.
E o juiz, infelizmente, não teve culhões para soltar a pobre velha, embora ela diga que "só quer morrer com os filhos" e tenha um artiguinho, lá naquele livrinho promulgado em 1988, mas sem relevância, que preveja o princípio da humanidade das penas.

Por sinal
Após um estudo para o Mestrado, sentamos no sofá e, num calor insuportável, ligamos a televisão. E, sem saber o contexto, apenas ouvimos a última frase dele, Faustão, dizendo que "apenas no Brasil é assim, o cara é acusado e o Estado é que tem que provar sua culpa".

E depois tu tenta explicar.

Alfinete
Recebi um desses e-mails dizendo "Bah gaúcho tchê", em que os gaúchos se exaltam como donos das melhores coisas do mundo (modelo, jogador, técnico, etc.). É típico da mentalidade provinciana se achar o centro do mundo. Nós, porto-alegrenses, costumamos achar estranho quando amigos dizem que vão voltar para o Interior, que não gostam da cidade, etc. É a mesma mentalidade pequenina que faz os gaúchos se acharem o centro do mundo. Isso aqui é tão província, tão província, que Manderley, em menos de duas semanas, só passa em um cinema, às 13h45 e de segunda à quinta. Vão pra puta que pariu.



Trilha sonora do post: Pearl Jam, "Better Man".



sábado, novembro 26, 2005

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NADA pode ser maior.

(post abaixo, favor lerem).





Querem saber como foi minha viagem à Ferrugem?

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Fora de moda
Esse blog anda meio fora de moda. Nos negamos a seguir as tendências do jornalismo atual - rectius: afetação gay. Nos deixamos emocionar, gostamos de, vez por outra, derramar elogios a cantigas, filmes ou situações que nos despertem sentimentos profundos, mas afetação, com a sua licença, não é o nosso forte. Deixo ela pro cara lá da Folha e seus filhinhos que se espalham por aí.
Não é homofobia, é estilo.

Os mais pedidos da casa
Me esqueci de dizer que, além do Wilco e do DCFC, o Flaming Lips está entre os mais pedidos da casa. Para a tristeza do véio, esses não vieram pra POA. "Clouds Taste Metallic", disco já resenhado pelo porco que vos fala, cada vez soa melhor. Ainda mais quando "Christmas at the zoo" me lembra o nosso zoológico do dia-a-dia.
Óia o cara aí:

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Nada a ver, mas tudo a ver
"Paperbag writer", uma brincadeira com "Paperback writer", do quarteto de Liverpool, é o nosso Radiohead sinistro, sombrio e hermético de cada dia. Como diz o colega G.D., citando um livrinho sem importância: Glória a Vós Senhor.

Só mais uma...
Se "Nirvana" não fosse um dos melhores nomes de banda possíveis, eu diria que "Fecal Matter", o nome embrionário da banda do gênio-Cobain (de agora em diante, a grafia será assim), seria um nome excelente.

Eros Grau
Eu comemorei quando Eros foi para o STF. Disse que ganhávamos um "galáctico" no tribunal. Não posso falar de decepção porque, simplesmente, não venho acompanhando as suas decisões. Quanto à reforma da previdência, o julgado mais polêmico dos últimos anos, que envolvia o "direito adquirido" e, na minha opinião, uma interpretação "aberta" da Constituição, acho que ele votou corretamente. Mas não estranharei nem um pouco se ele for mesmo capacho do governo, porque, lá no fundo do seu livro sobre a ordem econômica na Constituição, ele admite usar Marx, e isso prejudica tudo. A "fidelidade canina" (expressão curiosamente utilizada por quem?) dos marxistas ao Pensamento faz com que todas as convicções pessoais desmoronem, em prol de um provável fluxo da história que nos empurraria para o comunismo.
Tudo isso pra mim é nonsense. Mas eu sou, afinal, um liberal, no sentido norte-americano.
Só comentei isso porque o post no "Cuidado Tinta Fresca" me lembrou a histeria em torno do assalto. O tom alarmante da notícia, uma pesquisa realizada esses dias sobre a pena de morte, um colega defendendo prisão perpétua: tudo isso me faz ver, em nós, bichos selvagens loucos pela violência. Como um ouvinte que sugeriu que ligássemos os incineradores e jogassem os criminosos vivos por lá.
Sempre disse e direi: o criminoso, nosso inimigo de cada dia, representa uma válvula de escape nas sociedades atuais, onde a pessoas podem depositam seus instintos mais perversos e selvagens.
Nesse momento, se o Céu existisse, Foucault estaria chorando. Não serviu pra nada, véio.


Image Hosted by ImageShack.us Antas!!!!




Trilha sonora do post: Louis XIV, "Paper Doll".

quinta-feira, novembro 24, 2005

Prova
Acredito que fiz uma boa prova na seleção para o Mestrado. Para quem leu minha resenha de "Crash", o tema que escolhi foi mais ou menos as idéias do filósofo Emmanuel Lévinas. Depois, Barranco, lombinho com queijo, polentinha, chopp. Entretanto, sei que como o chopp da Caverna do Ratão não existe: cremoso, leve e puro. Pela quantidade tomada, certamente era aguada a cerveja, já que a sensação dionisíaca, a bebedeira libertadora, demorou um montão para chegar mais-ou-mé.

Agora é momento de planejar o mês de fevereiro, bom para longas e merecidas férias, garantindo um total desprendimento de obrigações e deveres. Não. Eu preciso, em certos momentos, me sentir totalmente desprovido de qualquer objetivo na vida, entregue ao momento, presenteísta, vivendo mil anos em minutos. Por isso, muitas vezes encho a cara até demais. É que preciso me sentir excedendo. Excesso benéfico, libertino, que me coloca numa morada paradoxal de onde as pessoas vêem como é possível conciliar divertimento sem burrice. Ou, simplesmente, loucura e idéias.

Esse ano
O ingresso no mundo acadêmico me fez ler e reler muita coisa nova, personagens que estiveram na minha vida assim como meus amigos. Nietzsche, Foucault, DaMatta, Renaut, Rorty, Maffessoli, Elias, Lévinas, Derrida, Habermas, Morin, Wacquant, Bauman, Baudrillard, Virilio, Zaffaroni, Boaventura, Putnam, Davidson, Larrauri, Jakobs, Mouffe, Laclau, Timm, todos foram lidos com dedicação.
Horizontes se ampliando.

PLUGITIN
Agora, além desse blog, escrevo também para o site "Plugitin!", deixando algumas resenhas.
Vão lá o confiram a minha primeira, sobre o lendário "A Northern Soul", clássico do The Verve imprescindível em qualquer discoteca básica que se preze.

Ouvindo...
Dei uma ouvida, daquelas de Lúcio Ribeiro, no Art Brut, Giant Drag, Maximo Park, Hard-Fi, We are Scientists e no Babyshambles. Não curti muito nenhum. Esse ano não tem sido, pra mim, pródigo em revelações. Mas o Arctic Monkeys, banda passando um hype interessante sem sequer ter lançado disco, parece ser a melhor dessas.
O que estou ouvindo, realmente, de forma totalmente viciada é o Death Cab for Cutie, nos seus álbuns perfeitos, e o Wilco, no magnífico "A Ghost is born". Esses são os mais pedidos.

Sobre a política nacional
Poucas vezes vimos um governo tão encurralado pela imprensa, e não se entenda como "complô" o que estou falando. São páginas e páginas de denúncias, diariamente, sem que isso reflita, propriamente, em uma discussão. O PT está sendo queimado em fogo baixo, aos poucos. Os assuntos que circulam são apenas nesse tom, inviabilizando enxergarmos qualquer coisa para além disso. A questão é: qualquer outro partido passaria por um processo igual, até pior, se fosse submetido a uma marcação tão cerrada.
Não estou defendendo, nem justificando, nem mesmo pedindo a "suavização". Somente constato que, no afã de queimar o PT, a imprensa vem impedindo a circulação de assuntos de interesse de todos nós, inclusive temas importantes como a legalização do aborto, políticas de segurança, energia, etc. Podemos tentar conciliar, se o que interessasse fosse, de fato, realmente contribuir para um país melhor.




Trilha sonora do post: Art Brut, "Stand down".

domingo, novembro 20, 2005

Hal, "Hal" (2005).

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Hal é uma banda britânica (irlandesa), cujo primeiro disco é desse ano, composta por dois vocalistas (embora tanto falsete faça parecer que há uma mina no meio) que tocam baixo e guitarra, um tecladista e um baterista. Antes do disco propriamente dito, algumas elocubrações.
Nesse ano, ao lado do saturadíssimo revival dos anos 80, que levou a simplesmente deixarmos de lado bandas ruins como Bloc Party eThe Bravery, algumas bandas foram buscar influências bem distintas, especialmente com harmonias vocais não-beatles em um quase soft-rock altamente retrô. Dessas, eu poderia dizer que a única que acertou - e foi em cheio - foi o Raveonettes, com um disco poderoso em que se revezam momentos Elvis Presley-balada com guitarras surfísticas altamente cools, vocal sexy e riffs incríveis, tudo em clima de garagem. Outro é o caso do Magic Numbers, que já andei comentando por aqui, e do Hal. A busca por elementos retrôs, que bem parece música para ser tocada em reunião dançante na igreja (daquela época, mesmo), torna o álbum monótono, invariável e, sobretudo, bunda mole. Sorry. Eu não nasci pra agradar. Mas, enfim, a repetitiva influência dos Beach Boys (Beatles, ao contrário do que diz o AllMusic, nem pensar. Aliás, o site chegou a colocar referência dos Flaming Lips. Onde?), faz com que o som fique tedioso e não-ousado. Pra quem acha que ousadia é requisito primeiro, como eu, cai por aí. Você não pode chegar em 2000, depois de Beatles, Floyd, Stones, Sex Pistols, Portishead, Mogwai, Radiohead, e simplesmente fazer um som como se NADA tivesse acontecido nos últimos cinqüenta anos. Se o Hal tivesse investido no folk, mais ou menos como o Turin Brakes, talvez tivesse feito algo melhor.
Embora a banda seja britânica, vejo muito mais influência do rock americano por ali. Mais ou menos como os igualmente irishs The Thrills. Só que o Thrills acerta. Aqui, nem pensar.

A panacéia de todos os males
INCRÍVEL a proposta do Ministro Carlos Velloso, Presidente do TSE, para o problema do "caixa 2": 10 anos de cadeia. Quando tudo aperta, nós usamos o Direito Penal e tudo fica mais fácil.
A pena, além de totalmente desproporcional ao crime cometido, é desnecessária, porque a mera quantidade de anos previstos não impede a prática do crime. O Direito Penal é insuficiente para tratar do tema. Ao invés de o Ministro propor investimentos nos setores de investigação, encontrando uma solução para o problema de que todas as campanhas, embora usem "caixa 2", sejam aprovadas pelo tribunal, como se nada acontecesse, apostou na fórmula universal: populismo penal. A cassação dos direitos políticos é absolutamente suficiente para equacionar o problema. O que permite a prática é a ingenuidade do TSE que homologa SEMPRE.
Imaginem uma pessoa presa por 3.600 dias da sua vida por "caixa 2". Pobre bode expiatório. Achas que não é muito tempo? Então diz: o que tu fazias há dez anos atrás? O que tu serás daqui a dez anos? É tempo pra burro. Mas, para os outros na cadeia, tudo vale, né?

Quem é bom, é bom
Não sabia que George Harrison, além de integrante da maior banda de rock de todos os tempos, ainda teve tempo de ser o produtor de "A Vida de Brian", o filme mais conhecido do Monty Phyton, presente em quase todas as listas de melhores comédias de todos os tempos. Descobri nessa interessante coluna.

Quem sabe?
Amanhã farei a minha prova de Mestrado. Se tudo der certo, ano que vem será extremamente tumultuado, com um monte de tarefas, mas, afinal, é o que eu quero pra mim. O que importa é que, depois de amanhã, começarei um período espetacular de festa e loucurada, pra me preparar para um ano corridíssimo que virá.




Trilha sonora do post: Arctic Monkeys, "Bet you look good on the dancefloor".

sábado, novembro 19, 2005

Impressionante falta de assunto
Escrevi em um post há longo tempo dizendo que faltava assunto para a imprensa depois da crise. Essa semana foi um exemplo claro disso. Não levei mais que quinze minutos para ler qualquer dos jornais que leio - Correio do Povo, Zero Hora e Folha de São Paulo. Aos poucos, fui abandonando as notícias, sendo que nas últimas semanas lia apenas as colunas, já que as reportagens apenas reproduziam temas que já havia lido na Internet antes. Mas, agora, até as colunas dizem apenas a mesma coisa. Essa semana foi o Palocci. Cai, não cai, cai, não cai. Um blá-blá-blá sem fim em torno de uma questão que todo mundo já sabia a resposta.
Será que não temos alguma outra coisa para discutir? Na (até certo ponto legítima) ânsia de ser fiscal das CPIs, a imprensa acabou se enredando no monotema, e parece que o Brasil se restringe a isso. Não podemos discutir também educação, cultura, nossas leis, iniciativas novas, como andam os projetos sociais?
Pelo jeito, vamos continuar discutindo se o Palocci cai ou não.

Entretanto...
Me esqueci de fazer o comentário principal sobre a história da "surra". O véio Lula, jogador de futebol e metalúrgico, simplesmente CAGARIA A PAU o tal do ACM Neto, um bostinha que ameaçou o surrar. Isso é FATO. Pois não é que Ciro Gomes, com sua língua excelente, mandou bala. Olha a declaração do Ministro:

"Aquele tampinha, que não tem coragem nem com a mão suja de cocô de bater em ninguém, fala que quer bater no presidente da República porque ele está covardemente aí na televisão protegido por microfone parlamentar".

Pra quem gosta de "pets"
Morreu hoje o cachorro eleito o mais feio do mundo. Dá uma olhada na criança.

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Death Cab for Cutie (2)
Quem ouviu e gostou o DCFC deve ir atrás do seu discaço anterior, "Transatlaticism" (2003), e baixar "Title and Registration", "Expo'86" e a faixa-título. Simplesmente imbatíveis.
Depois dessas, duvido que tu não queira ouvir o disco inteiro.

Ferrugem
Falando em jogos, foi uma coincidência tétrica que ocorreu na pousada lá na Ferrugem, quando nos deslocamos para a área principal para ver o jogo do Grêmio. Entrei e, um minuto depois, a Argentina, que jogava contra a Inglaterra e ganhava por 2 a 1, tomou gol. Os argentinos que viam o jogo me olharam estranho. Logo após, meu amigo se sentou e, um minuto depois, Owen marcou o gol da virada, seu segundo na partida. Os argentinos não agüentaram: "cada gremista que entra a Argentina toma um gol!".
Não adiantou eu dizer que estava torcendo para os hermanos, em retribuição à vitória do Boca e à fraternidade castelhana gremista. Seremos eternizados na memória dos argentinos como os culpados por aquela derrota.

Que é isso - a filosofia?
Não pretendo responder à pergunta. Gilles Deleuze e Félix Guattari escreveram um livro sobre o tema. O que me chama atenção é o distanciamento das pessoas desse espírito crítico. Pode-se até discutir com outro nome, mas é sobre ela que se fala. Porque ela esconde, no fundo, todas estruturas do nosso pensamento, todas as premissas, todos os fundamentos que estão por baixo das nossas convicções.
É preciso ir além de dizer "eu penso isso sobre isso". A filosofia pergunta "por quê?", "por quê?", "por quê?", até tu chegares lá no início, onde as nossas divergências começam.
A filosofia olha para o banal e o desbanaliza. Por isso é tão intitulada "viagem". Por aqueles que não têm tempo de pensar. Mas então têm tempo pra quê?

Perigo
Embora seja apenas um empate que precisamos, é arriscada a situação do Grêmio, que deu azar ao ver o Náutico vencer a Portuguesa. Na verdade, eu apenas reafirmo o que já tinha dito antes: Mano Menezes é um técnico razoável, mas excessivamente tímido, que não permitiu que talvez tivéssemos somado mais pontos fora. Não o amaldiçoarei, mas continuo com a minha posição: não é técnico para a série A. Que venha um bom empate em Recife.

By the way
A propósito, na minha opinião, quando os técnicos vêem craques, só há duas atitudes: a burra e a correta. O bom treinador coloca sempre o craque pra jogar, e fica mentindo pra todo mundo que faz rotações, etc. O burro é que fica enchendo o saco com a idéia de "grupo" e outras tolices. Pensem em Luiz Fernandez (provavelmente a grafia não seja essa, mas o nome é), ex-técnico do Paris Saint Germain que deixou várias vezes o Ronaldinho no banco. Hoje isso se mostra de uma patetice estratosférica. Bons técnicos, como Felipão e Mourinho, colocam sempre os seus craques para jogar. Podem ver: apesar de todo elenco do Chelsea, Terry, Makelele e Lampard jogam todas as partidas. Ou, no Milan, Shevchenko, por exemplo. Rotação? Para os demais. Craques não rotam.




Trilha sonora do post: Wilco, "Too far apart".

sexta-feira, novembro 18, 2005

Foi!
Finalmente consegui completar o meu projeto para concorrer ao mestrado. O tema será o "Direito Penal do Inimigo" e uma crítica filosófica a partir das perspectivas da tolerância, do alemão Jüngen Habermas, e da hospitalidade, do francês Jacques Derrida.

Nesse tempo, obviamente não houve espaço na agenda para postar. Além disso, quatro dias fantásticos na Praia da Ferrugem deixam qualquer um em forma. Simplesmente caipirinha*, birita, praia, sol, mar, beleza feminina e total relax.

Sobre a tortura militar
O problema não é tanto os imbecis que exercem a função de milicos. Uma pessoa que se alista no exército e almeja, quem sabe, matar um dia (numa guerra), só pode ter os miolos moles. Ainda mais quanto entra numa instituição capaz de transformar qualquer um em burro, com sua ideologia tosca e idiota. O problema de verdade são os civis pacanas, punhado de maria-vai-com-as-outras, homens médios e de bem, que colocaram esses energúmenos no poder por 20 anos no nossos país. Não há limites para a estupidez humana.

Death Cab for Cutie, "Plans" (2005).

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Death Cab for Cutie são quatro integrantes dos EUA, liderados por Ben Gibbard, formado em 1998. Lançaram, até este, 04 discos - Something about airplanes (1999), We have the facts and we're voting yes (2000), The Photo Album (2001) e Transatlanticism (2003). Enquadram-se no vaguíssimo termo "indie pop" (praticamente uma contradição em si mesma).

Disco incrivelmente bom esse. O Death Cab for Cutie não traz nenhuma inovação, não reinventa o rock, não usa experimentalismo. Faz, simplesmente, boas canções. E bota boas nisso. Se "Your Heart is an empty room", por exemplo, é irresistível. Duvido, mesmo, que tu encontre por aí fazilzinho uma música que cause as mesmas sensações. Bom ouvido não é feito só de barulho, meu. "Soul Meets Body" é quase um synth-pop, mas um synth-pop extremamente cadenciado, sutil, orgânico. Essa, sinceramente, gruda. Mas GRUDA mesmo. Tenta ainda as maravilhosas "Croocked Teeth", "Stable Song" e "What Sarah said" são a combinação de tudo que o DCFC representa: excelentes vocais, instrumental discreto e sincrônico, refrões, letras interessantes, melodias. 04 músicas indiscutíveis, que são acompanhadas por mais melodias fantásticas. Fiquei pensando meia hora antes de colocar isso, mas, vai lá: me lembra, pela capacidade melódica e naturalidade instrumental, combinada com melancolia, o Grandaddy de Sumday. Tipo: esquece o Keane. Simples, sem mistérios, mas incrivelmente bom no que faz.


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Esse disco não deve te acrescentar nada, a não ser um punhado de emoções. Mas, afinal, não é exatamente essa a função da arte?


Quando os loucos chegam ao poder

Image Hosted by ImageShack.us Homens-médios saudando a insanidade

O filme "A Queda! As últimas horas de Hitler", que trata dos últimos dias de Hitler na Alemanha, não justifica o estardalhaço feito na Alemanha em torno de supostos bons sentimentos que se poderiam nutrir pelo tirano. É preciso ter uma mente muito doente para ver o filme, sabendo tudo que se sabe, e ainda assistir loucura atrás de loucura, absurdo atrás de absurdo, e depois sentir pena. Quem sente pena daquele maluco só pode, no fundo, concordar com suas idéias imbecis.

Ficar com pena de um maluco que agradece o café da secretária (o "lado humano") e depois diz que os alemães, se perderam a guerra, que morram todos, porque deixaram os judeus viverem? Me poupe dessa escrotice.

Forte candidato a pior

Eu tinha tantos candidatos a pior disco do ano! Infelizmente, agora fiquei sabendo que o Twisted Syster lançou um disco. Pelo jeito, não vou ter muita opção. Farofa, pra mim, é aquela coisa em se passa o salsichão quando rola um churras.

Trilha sonora do post: Goldfrapp, "Let it take you".

quinta-feira, novembro 10, 2005

Crash: o conflito de identidades da pós-modernidade e Levinas


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CRASH brinca com a identidade, a inflacionando. Costumamos realçar a identidade de cada um - o rico, o negro, o árabe, o oriental -, através de um multiculturalismo em que cada cultura vai valorizada (e essencializada) em si mesma. Crash é o próprio filme da pós-modernidade norte-americana: conflitos interculturais dentro da própria sociedade, fraturada em tribos. Cultura negra, persa, consumista, política, oriental, etc.

O filme é extremamente similar a Magnólia (outro clássico): situações dramáticas vividas por pessoas diferentes, cuja ligação é extremamente tênue, como um fio de cabelo, levadas ao extremo da tensão. (SPOILER) Um policial que molesta uma negra, cujo marido é um negro com temor da sua própria identidade, mais tarde salvará a vida da sua vítima, que inicialmente o rejeita, depois aceita a ajuda. O persa que não fala inglês vê um sujeito tatuado arrumar a fechadura da sua loja, que mais tarde é arrombada. Vai atrás dele, tentando o matar, até se defrontar com a filha, que o "salva". A ricaça é assaltada por negros e infla seus preconceitos, até cair da escada e se dar conta que a sua única amiga é justamente a empregada, aquela a quem desprezava (FIM DO SPOILER).

Em todas as situações do filme temos situações amplamente delicadas, em que as identidades se chocam de forma violenta, seguindo, praticamente, a lógica do amigo vs. inimigo. O estrangeiro (em sentido amplo) é rejeitado ou rejeita. A explosão de identidades distintas entre si causa rupturas de conversação, dor e sofrimento. Cada um vive em si mesmo e tem a autorização para ser como quiser - o negro que assalta, o persa que compra arma, a rica que despreza os outros. Todos escravos dos estereótipos que se alimentam de si mesmos. Devoram-se. O respeito à diferença não é, a rigor, respeito à diferença, mas simples indiferença. O negro que realiza o crime é a profecia-que-cumpre-a-si-mesma. A flecha do destino está no inconsciente coletivo: todos imaginam que ele irá o fazer, inclusive ele próprio. A expectativa é tão forte que se torna irresistível. A auto-imagem é desenhada socialmente. Não somos sujeitos desvinculados do mundo que nos rodeia.

Crash tem realmente força quando finalmente nos curvamos perante o imperativo ético, de que fala o filósofo Emmanuel Levinas. É somente enquanto percebo o Outro como Rosto, ou seja, como um diferente (e não como um igual) e, com isso, assumo a respectiva responsabilidade pelo nosso encontro (não espero que o Outro seja como eu, o Outro rompe com o eu), com o respectivo trauma, que posso dar um passo adiante em direção a uma nova perspectiva de humanidade.

A solução, assim, não passa pela reafirmação de uma identidade sobre a outra, se sobrepondo ou impondo, mas pelo Olhar ao Outro enquanto Rosto, pessoa, independentemente das suas características culturais ou físicas. Por trás da identidade, um Infinito se apresenta: o Infinito do Outro, que não se restringe ao meu pensamento, rompe com o meu eu na sua diferença. Inflacionar a sua identidade (negros são negros, por isso devem ser tratados assim ou assado) significa, em outros termos, aplicar a ele o Mesmo, impor-lhe o Mesmo que a minha mente concebe, a minha visão acerca da sua condição humana. O Outro, contudo, é sempre rompimento com o eu. É infinito porque, por mais simples que pareça, nunca as minhas categorias intelectivas irão percebê-lo na sua totalidade.

Em todos os momentos em que as identidades desvanecem, o Outro-coisificado (negro, asiático, tatuado, etc.) deixa de ser alguma coisa para ser alguém, ganha um Rosto perante nós, extrapolando aquele estereótipo que lhe conferimos. Crash explora soberanamente o confronto do Outro-enquanto-coisa para o Outro-enquanto-alguém. Não o negro, mas o Outro que está ali, o ser humano que está ali com seu Rosto, perante o qual devemos nos responsabilizar sem querer, nele, ver o Mesmo que nós. Crash, por isso, é, antes de tudo, um filme levinasiano, em que a fratura multicultural americana leva a ambientes de tensão máxima, com as identidades hiper-inflacionadas até a situação atingir o cume de tensão (corrupção), para, em seguida, o Rosto erguer-se como salvação. A abertura para o Outro (hospitalidade) revigora as relações humanas e transforma o filme, antes que uma metáfora da política de identidades enrijecida [e, por isso, débil, à medida que excessivamente ontológica (coisificante)], num espelho da ética do Outro.




Trilha sonora do post: The Departure, "Time".

terça-feira, novembro 08, 2005

Finalmente!
O PT fez bem em ajuizar ação de danos morais contra a Revista Veja. Já debandei há um tempo da defesa irrestrita do PT, mas nenhum órgão de imprensa é de tão baixo nível, fascistóide e apelativo como a Veja. Merece o indicativo "marrom". É uma revista que espelha, de certa forma, a ideologia do PFL. Confiram as capas contestadas:

- Edição nº 1.889, de 26/01/05 ? ?O PT deixou o Brasil mais burro??;

- Edição nº 1896, de 16/03/05 - ?Tentáculos das Farcs no Brasil?;
- Edição nº 1906, de 25/05/05 ? ?Corrupção ? Estamos perdendo a guerra contra essa praga?; ?O Pavor da CPI ? Delúbio Soares e Sílvio Pereira, operadores do PT, não escapariam da investigação?;
- Edição nº 1908, de 08/06/05 ? ?Corrupção ? Amazônia à venda? ? ?Petistas presos aceitavam a propina de madeireiras que devastavam a floresta?;
- Edição nº 1909, de 15/06/2005 ? Quem mais? ? Com uma CPI instalada a outra a caminho, a pergunta agora é qual será o rosto do próximo escândalo?;
- Edição nº 1923, de 21/09/05 ? ?...Era vidro e se quebrou ? A história de uma tragédia política?;
- Edição nº 1927, de 19/10/05 ? ?Um fantasma assombra o PT?;
- Edição nº 1929, de 02/11/05 ? ?Os dólares de Cuba para a campanha de Lula?.

Esperava escrever alguma coisa aqui sobre a entrevista de Lula, mas realmente não tenho nada a dizer. Tudo permaneceu na mesma. As coisas boas e as ruins.

Música boa de doer
Tem uma musiquinha, além das ótimas "Lights" e "Munich", que me fez gostar bastante desse disco do Editors, acho que o melhor de estréia do ano. "Open your arms", depois do 3º minuto, ganha uma interpretação emocionada do vocalista, na qual ele repete a marcante frase "Open your arms and welcome", e é acompanhado por uma linha consistente e empolgante de guitarra, num crescente absurdo. Só essa, já vale muito.

Racismo
Acho engraçado esse pessoal que fala de racismo no Brasil. Essas pessoas que acharam ridícula a condenação do Juventude por atos racistas da sua torcida. Engraçado é que todas as pessoas que dizem que o racismo não existe, que o negro não é discriminado por ser negro, que o problema do Brasil é só social, etc., etc., etc., são BRANCAS. Como afirmar com tanta certeza isso quem nunca sofreu preconceito na pele? No fundo, grande parte das pessoas e argumentos contra as cotas (nem todos, que fique claro), p.ex., são totalmente racistas, denunciam claramente seus interlocutores. Tive um amigo que disse: "não sou racista, mas se a injustiça das cotas passar, vou discriminar os negros". Por favor, né? Quem diz isso é claramente racista.
Eu mesmo, que tenho ódio de racistas, por vezes sou pego no meu próprio contrapé discriminando. Isso me dá nojo (de mim mesmo), mas é só com essa consciência que podemos tratar do problema.

Analogia
Seria como se quiséssemos falar do processo penal brasileiro como algo perfeito, porque está lá na Constituição o direito à defesa e ao devido processo legal. Todo mundo sabe que o pobre, esse que é defendido pela Defensoria Pública, não tem defesa porcaria nenhuma. Os defensores (ou advogados nomeados pelo juiz) muitas vezes não lêem o processo e, alguns, inclusive, acham que lugar de bandido é cadeia mesmo. Que defesa é essa?
Da mesma forma, dizer que não existe racismo no Brasil só pode vir de quem não sofre racismo, quem ignora o que acontece realmente em prol de representações que funcionam como aparato de uma repressão velada, suja e nojenta.

Grêmio
Os gremistas agradecem a contribuição de Mano Menezes, que ajudou a montar um time consistente, utilizou-se de uma estratégia pragmática e provavelmente conseguirá a classificação para a série A ano que vem. Entretanto, seu estilo excessivamente contido certamente nos colocará abaixo da linha da sul-americana, mais ou menos como Botafogo, Fortaleza e Ponte Preta estão. Para o ano que vem o técnico está caindo de maduro: Tite.

Reforços
Tinga, Jadson (ex-Atlético-PR), Nadson (Coréia), Dudu (Dinamo), Capixaba (Coritiba), Triguinho (São Caetano), Roger (sem time), Washington (onde anda? Acho que na Turquia), etc., são alguns dos jogadores que passarei a tentar lembrar para o ano que vem.
Entretanto, ano que vem o Grêmio terá uma base consistente. Quase todos os jogadores atualmente titulares têm condições de formar grupo.




Trilha sonora do post: Clap your hands say yeah, "Clap your hands!".

quinta-feira, novembro 03, 2005

O auto-engano do homem-médio

Não é que exista tal coisa. Sabemos que a nossa sociedade pós-moderna é fraturada em tribos, distantes e conflituais entre si. Mas imaginemos que exista: quem sabe de bigode, suspensório, revólver na gaveta e Bíblia sobre o bidê, cartão da amante no bolso, dois filhos, missa aos domingos. O auto-engano desse senhor (vejam: homem-médio é mais do que um mero capitalista, é tb patriarca e cristão - redes de poder) é acreditar que existe uma força-motriz que orienta a história e que os diferentes - os estrangeiros - são um impeditivo para esse progresso.
O estrangeiro, assim, é a ameaça à integridade das tradições e da estabilidade. É somente através da reprodução do poder - no caso, o poder serializante, igualizante - que se mantém a "ordem", e, com isso, "progredimos" (se tu está pensando em positivismo, acertou). Nada mais enganoso, prezado senhor.
São exatamente os estrangeiros que borram as fronteiras entre o certo e o errado e, por isso, nos fazem crescermos diferentemente. Sem eles, o mundo seria uma reprodução infinita do mesmo, em direção ao nada, estagnado na história. Talvez vivessemos na escravidão, talvez no puritanismo vitoriano. O fato é que somente o estrangeiro permite à vida algo como uma "cor" (o filme "Pleasantville" é o mais fantástico nesse sentido), que lhe traz um dose de risco e, por isso, de modificação. Eliminar o risco do estrangeiro é eliminar a própria possibilidade de mudança.
O senhor-de-bigode, esse homem-médio, é incapaz de ver que sem consciências diferentes nem o filminho de violência que satisfaz suas pulsões de morte no sábado à noite irá passar na tevê, só haverá missa e monotonia. Ninguém quer essa vida. Nem mesmo o homem-médio. Ele precisa do estrangeiro, ao menos, para ter em que bater.
Bicho
Há pouco tempo, umas duas semanas, realizei a extração de um canino que estava preso na gengiva e não tinha como ser salvo. Sentei-me na cadeira e, depois de cerca de meia hora onde uma anestesia percorreu todas as cavidades laterais do meu rosto, inclusive o nariz e o olho, anestesiado em uma situação sufocante próxima à asfixia, finalmente minha gengiva foi partida ao meio e, com isso, extraído o dente desde a sua raiz.
O que eu vi foi a prova real e incontestável da minha animalidade: um dente de quase dez centímetros, contingência de um processo em que apenas aqueles que detinham as presas afiadas, prontas para a alimentação do rival na cadeia alimentar, sobreviviam à ferocidade do ambiente. Prova do bicho que está dentro do mim. Bicho inseparável do humano que, todos os dias, pensa integrar a civilização enquanto, covardemente, alimenta-se de bois abatidos e conservados sem que tenhamos que sujar nossas mãos, pedaços de carne sangrentos que percorrem nossas presas prontas para mastigá-los e dar vazão às imposições da natureza. Papini já havia dito que comer deveria ser tão vergonhoso quanto defecar.
Esquerda perdida
O PT, infelizmente, a cada dia mais se encaminha para não ser o que deveria. Assim, pessoas como eu vão perdendo o seu referencial de engajamento e aderindo a um niilismo patético, sarcástico e cruel. Silvinho Pereira e sua Land Rover, Delúbio e seus charutos cubanos, Dirceu e seu stalinismo caricato e, quem sabe, grampos nos filhos-da-puta da oposição que, também pateticamente, desrespeitam o Presidente da República ao ameaçá-lo de agressão.
De um lado, o descompromisso total, o sarcasmo político, voto nulo, uma espécie de narcisismo também; de outro, temos que defender essa gente e seus atos lastimáveis ou, pior, ver avançar uma esquerda mais radical (de dentro e de fora do PT), marxista e sem qualquer estima por democracia, perdida no tempo, perigosamente vermelha.
Minha sugestão é que, daqui pra diante, façamos o contrário do que a esquerda fez durante tantos anos: ao invés de jogarmos fora todos os pensadores de esquerda liberais, que se opunham ao marxismo, que joguemos fora todo pessoal que cita o alemão e seus ideais comunistas, infestando-se com esse ranço ultrapassado e descabido, que levou - mais uma vez - ao stalinismo, hoje na figura de Zé Dirceu.
Mais uma temporada desperdiçada
É provável que, diante do crescimento do futebol do Barça (meteu dois 5 a 0 seguidos), o Madrid venha a perder, novamente, a Liga Espanhola. O que é incrível é a repetição dos mesmos erros, temporada após temporada, sem que se tome uma atitude [dinheiro há]. É evidente que o plantel é pequeno demais e, lesionado ou mal um jogador, não tem substituto à altura. Fora Woodgate, Guti e Robinho, não há reservas qualificados no Madrid. Basta ver os elencos de Milan, Chelsea, Inter e Juventus para ver que não são só 11 jogadores que fazem um time. Igualmente, Pablo Garcia e Diogo, embora não comprometam, acrescentaram pouco. Como na temporada passada, ao invés de trazer um volante qualificado, preferiu-se investir em um atacante (Owen, Robinho), contratando medianos para a posição (Gravesen, Garcia). Sem um volante de qualidade, como Makelele, Vieira, Emerson, Gilberto (boa dica), Essien, Davids, não há como formar um meio-campo consistente. Sem mais um atacante de qualidade, pelo menos, e mais um ou dois meias (Zidane se lesiona muito facilmente), será difícil fazer frente ao Barcelona de Ronaldinho. Por que não Alex, por exemplo? Cairia como uma luva no plantel. Luxa o conhece bem. Opções existem aos montes para um time como o Madrid.
Trilha sonora do post: Death Cab for Cutie, "Soul meets body".

terça-feira, novembro 01, 2005

Alter Ego, "A Dança dos Edifícios" (2005).


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Alter Ego é mais que um disco. Alter Ego é uma história. Conheci o figura que se esganiça no vocal - Mariano Lorenzon (vulgo Peter Pan) - há mais de dois anos. Desde então, somos mais que meros amigos: irmãos, na verdade. Quase instantaneamente nos demos conta que tínhamos mais de 70% das convicções em comum, e isso significa quase 70% em dissonância com o que a maioria das pessoas pensam sobre as coisas. Desde que ele invadiu a minha sala, no trabalho, e perguntou: "VELHO, ISSO QUE TU TÁ OUVINDO É VERVE MESMO?", construímos uma amizade sólida. Desde que ele me lançou um cd demo com algumas da músicas do disco, que eu me lembre "Apenas Um" (acústica), "Insônia", "Ninfomania" e "Beerman", além de algumas covers, venho acompanhando o som da banda. No primeiro show que vi, eles estavam em formação acústica, e, hoje posso dizer tranqüilo, foi um show mediano. Algum tempo depois eles se mexem e finalmente fazem um show com formação integral, elétrica. AÍ FOI BEM DIFERENTE. Nas palavras da minha namorada: "foi a primeira vez que eu senti a energia integral do rock'n'roll". Tá certo, não foi a minha primeira vez, pois eu simplesmente fui educado por um velho com mais de mil bolachas e, hoje, uns quinhentos cds, que, desde pequeno, foi me ensinando todos os passos do rock desde os Beatles até o The Police (excluindo-se o punk, já que ele curtia os progressivos). Mas, voltando ao ponto: 11 de novembro do ano passado, Vermelho 23, um show LEGENDÁRIO, que recebeu uma resenha nesse blog, em que tudo simplesmente ficou claro na minha mente: os caras são realmente bons. O pequeno espaço foi devastado por um show com covers executadas com maestria e, sobretudo, pela execução de músicas próprias com uma energia chapante. Desde então, nos shows seguintes (mais um no Vermelho 23 e outro no Jeckyll), a dose foi repetida. Ouvi o disco pela primeira vez na Praia do Rosa, no carnavation psicolation, e achei tremendamente bom. SOMENTE agora recebo a minha cópia.

Essa introdução foi HONESTIDADE INTELECTUAL. Pois bem. Vamos ao disco.


Inequivocamente, se tu gosta de rock, desses feitos por gente com testículos e não por "números mágicos", há quatro músicas totalmente incontestáveis no disco: "Apenas Um", "Festa dos Mortos", "Golpe de Estado" e "Tecido Conjuntivo Propriamente Dito". Essas músicas, bem distintas entre si, carregam, ao mesmo tempo, uma energia impressionante (embora "Golpe" seja balada) e uma originalidade sincera; simples, sem experimentalismo ou invencionite, mas extremamente competentes. Vâmo uma-a-uma:

* Apenas Um - O baixo reverbera e dá origem a um riff monstruoso e empolgante de guitarra. Dá vontade de se mexer. "Ontem de tarde um policial me abordou/dizendo o que eu devia e o que não devia fazer", num vocal duplo, cantado pelo vocalista, com tom rouco, e pelo guitarrista, com falsete. Rock, simplesmente. O refrão despeja a fórmula mais usada, repetida e, por isso, tão infálivel quanto sagrada. Há ainda um breve duelo entre voz e riff, para depois desembarcar no mesmo refrão. Rock, véio, rock.

* Me Desculpe foi Mal - O destaque aqui, sem dúvida, é a letra. Um niilismo arreado, desses que dá pra despejar em cima de ideólogos que não sabem que a vida é um pouquinho mais. Multiculturalismo, ecologismo, individualismo. Tudo isso tá ali, de forma simples, no refrão. "Me desculpe, foi mal". Com os versos mais bacanas, e já citados nesse blog, dos últimos tempos: "O homem finalmente encontrou/o seu lugar/na cadeia alimentar/ao perceber que é um predador/se antecipou/ ao seu destino e foi caçar". O som é um powerpop de qualidade.

* Beer Man - um pop/rock de arena, com a cara de Oasis (mais que eu qualquer outro momento do disco), desses pra serem cantados em grandes públicos, com refrão chiclete marcado por riffs discretos e ritmados, ou seja, assoviáveis. Sem dúvida, é a que tem mais possibilidade comercial no disco. Ensina o Skank a importar o britpop sem parecer bunda-mole.

* Festa do Mortos - enterrem os cadáveres, amarrem seus órgãos, tudo isso é perigoso ter na festa dos mortos. Escatologia ao extremo. Mas não é disso que eu quero falar. Aqui o som cresce IMENSAMENTE. Seja pela linha de baixo pulsante, veloz e gorda, seja pela guitarra que, pela primeira vez no disco, parece se impunhar em uma sujeira extrema, quase como as paredes shoegazers dos britânicos. A bateria igualmente - e finalmente - pesa. O vocal se destrói em mil pedaços, se esparramando por todos os lados em rouquidão e sarcasmo. Simplesmente incontestável.

* Ninfomania - novamente o destaque é a letra: "todo mundo pensa em sexo o tempo inteiro / eu estou pensando agora / hoje você já pensou nos momentos que alguém te proporcionou". O som é calmo, batida leve, cadenciado. Grande potencial polêmico.

* A Mais Nova Terapia - outro rock, na linha de "Apenas Um", mas desta vez a guitarra fica brincando com o pedal durante a música inteira, lembrando [a guitarra] levemente o Radiohead/Bends. Baixo e bateria seguem o ritmo um tanto quanto "zap", quebrado. Mantém a energia das anteriores.

* Insônia - clima noir, sombrio, um tanto quanto metálico, com um riff melódico e arrastado. Um pianinho acompanha divagações do um insone, desembocando num refrão enérgico. Vocal rouco como nunca. "Melancolia" não é só a palavra escolhida para uma vida normal: é a própria "Insônia". É quase um Muse desacelerado e substituindo o falsete por vocal rouco.

* Hoje eu não vou sorrir pra ninguém - Bateria pulsante. Vocal bem interpretado, de um desesperado pela mediocridade da existência. O refrão aproxima a banda, pela primeira e única vez, do hardcore. O baixo, no refrão, ganha um destaque e volume intenso, praticamente solando enquanto uma parede de guitarra o sustenta no fundo. A bateria continua pulsante e pesada. Outros versos memoráveis: "ela tinha gel laranja no cabelo / e mesmo impedida de caminhar, dançou / até que a água que bebia virasse veneno".

* Golpe de Estado - O clima vinha pesado, depois da metálica "Insônia" e o semi-hardcore "Hoje eu não...". Aqui o nível sobe. Em princípio, parece uma balada comum, feita pra suavizar o impacto do disco até então. Um vocal bem melódico, instrumentos comportados, chorosos. O que torna "Golpe" incontestável é a virada troglodita no meio, totalmente inesperada, que altera completamente o ritmo, substituindo uma mera declamação de versos por uma linha de baixo veloz e contínua, acompanhada de discretos [um pouco demais] violinos, um crescente totalmente descontínuo com o que vinha antes - algo ausente em 90% das baladas (basta observar que, embora o som cresça, normalmente a velocidade é mais ou menos similar).

* Tecido Conjuntivo Propriamente Dito - A MELHOR. Tentei descrever tecnicamente. É difícil, porque, a rigor, essa música me desperta instintos destrutivos próprios do meu estilo preferido de rock - o "alternativo". O fato é que, depois de um duelo entre os instrumentos, mantendo um ritmo cadenciado, a canção explode em um refrão DEVASTADOR, recheado pela essência do rock, que até me lembrou uma das minhas bandas favoritas [aliás, me abstenho de decliná-la aqui, porque pode parecer loucura].

* Épico - Mais de oito minutos, depois da pancada, de vocal com efeito de eco, violões melancólicos e som a la Pink Floyd, como que nos chamando a uma reflexão longa, demorada e calma acerca do turbilhão que se passou. Excelente desfecho.

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Moral da história: o disco começa estupidamente bom, abrindo com quatro músicas poderosíssimas, caindo um pouco a partir de "A Mais Nova Terapia" e ressurgindo, com um vigor fenomenal, em "Golpe de Estado" para desembocar na melhor música, "Tecido". Fecha com a destensionante "Épico".

Trilha sonora do post: Alter Ego, "Épico".