Mox in the Sky with Diamonds

terça-feira, novembro 29, 2005

PEARL JAM EM PORTO ALEGRE


Image Hosted by ImageShack.us "O" cara

Há mais ou menos 13 anos atrás, nos idos de 1992, todos os dias às 18h da tarde eu me postava em frente a televisão e me preparava: aí vinha a Astrid e o Disk MTV. E, flutuando entre as primeiras posições, que normalmente dividia com Metallica, Nirvana, Chilli Peppers e Guns'n'Roses, estava o clipe de "Even Flow", do Pearl Jam. Com minha camisa de flanela e bermuda rasgada, quando começava a música já me preparava para subir na escrivaninha e, no lendário salto do Eddie Vedder, me atirar à cama como se estivesse dando um mosh [na época, tinha 12 anos]. Depois veio aquele clipe do gurizinho que estourava a cuca em plena aula, e os caras paparam tudo.

Image Hosted by ImageShack.us Lembra?

Por aí, tu já deduz muito coisa. Entre elas, que a bolacha (vulgo LP) de "Ten" (1991) integrava a minha discoteca, depois ganhando a versão já em CD de "Versus" (1993), o segundo álbum dos caras. Esses, de cabo a rabo, foram escutados milhares de vezes. Na época, Eddie Vedder já era avesso ao sucesso e, depois disso, lançou o hermético "Vitalogy" (1994), seguido do semi-inaudível "No Code" (1996). E, depois, tocando junto com Neil Young em vários concertos, pegou gosto pela barulheira. Vieram "Yield" (1998), "Binaural" (2000) e "Rio Act" (2002), além da coletânea de b-sides "Lost Dogs" (2003) e uma série infindável de discos ao vivo.

Como definir o som do Pearl Jam? Difícil. Porque, ao menos pra mim, "grunge" não significa tanto um som - basta comparar Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden -, mas uma atitude neopunk de recusa a toda e qualquer farofa, maquiagem, solos grandiloqüentes e atitude poser. A aversão ao sucesso [por isso entenda: showbizz, hype, badalação, paparazzis] do pessoal de Seattle representa, por isso, um contraponto a tudo que vinha sendo feito na época. Em suma: o enterro dos anos 80 [só isso já é muita coisa]. Depois deles, maquiagem e calça de couro voltaram para o lugar de onde não deveriam ter saído: boiolice.

Mas o som. Influências, eles têm um monte: Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Neil Young, The Who. O estilo parece um hard rock bem tocado por punks, ou seja, instrumental pesado, mas sem exuberância técnica e veloz [animal, better man, dissident, etc.]. Mas, por horas, parece simplesmente um bando de neohippies tocando música de surfista [alive, oceans, crazy mary, etc.]. Entre hardcores e baladas, a verdade é que definir o Pearl Jam é difícil pela variedade. Enfim, um Led Zeppelin sem o mesmo talento instrumental, mas com um vocalista surfista-hippie-com-cérebro. Porque, a despeito da genialidade de Page, Bonzo e John Paul Jones, todos expoentes nos seus instrumentos, Plant, com grande timbre, era uma de bichice constrangedora, no final das contas, e quem acha ele cool no fundo é boiola. Pronto, falei.

Bem, Eddie Vedder é sobretudo um contador de histórias. Que o digam Jeremy, Crazy Mary, Alive, Elderly Woman. E, contando essas histórias com uma forma toda própria de cantar, se tornou o melhor vocalista dos anos 90. E o mais imitado, infelizmente, graças ao Stone Temple Pilots [que o digam Creed, Nickelback e todos esses lixos]. Isso esteve muito claro no show, onde a sua presença foi decisiva em todos os momentos.

Com uma presença de palco segura, inabalável e totalmente rock'n'roll, o Pearl Jam, após algumas oscilações entre hardcores dos últimos discos, quando soam como o Queens of the Stone Age, sem os riffs [portanto, prejudicados], simplesmente ganharam a platéia tocando uma manada incontrolável de clássicos, ecoados por uma platéia que provavelmente viveu os momentos descritos no primeiro parágrafo. E ainda sobraram alguns (I am Mine, Black, Oceans, Immortality, ou até Hunger Strike, p. ex.).

As aventuras com Neil Young certamente tornaram ainda mais vigorosa a energia de palco que conhecíamos desde o clipe de "Even Flow". E, além disso, a convivência com outros rock stars como Pete Townshend (que se declarou amigo íntimo de Eddie em um show) tornaram eles totalmente seguros para fazer o que quisessem. Incluindo tomar trago no show. E bota trago nisso. O instrumental, embora longe do virtuosismo, esteve bem na maioria dos momentos, sustentando e aprofundando as músicas, com longos solos e desvairio rocker, típicos dos amigos de Eddie.

Obviamente, os momentos mais memoráveis foram as músicas de "Ten", o lendário álbum de estréia da banda, especialmente "Even Flow" e "Alive". Além dessas, eles ainda me brindaram com "Elderly Woman", uma das minhas baladas favoritas, e "Crazy Mary", onde o vocal atingiu o ponto máximo. "Better Man" igualmente foi magnífica, "Jeremy", "Daughter" e as covers de Ramones [com a presença de Marky Ramone*] e Who igualmente emocionaram.

Foi um show para chorar. Lembrar os momentos de uma banda que, negando-se a mudar o seu modo de ser para se adaptar à indústria musical, preferiu permanecer autêntica, roqueira, verdadeira. O Pearl Jam pode ser acusado de tudo, menos de não ter alma.

*A propósito, ele está radicado em POA ou é impressão?

Babyshambles

Publiquei resenha não muito amigável sobre o disco do Babyshambles, lançado esse ano, lá no Plugitin. Deixem seus comentários por lá.

Trilha sonora do post: Pearl Jam, "Black".