O auto-engano do homem-médio
Não é que exista tal coisa. Sabemos que a nossa sociedade pós-moderna é fraturada em tribos, distantes e conflituais entre si. Mas imaginemos que exista: quem sabe de bigode, suspensório, revólver na gaveta e Bíblia sobre o bidê, cartão da amante no bolso, dois filhos, missa aos domingos. O auto-engano desse senhor (vejam: homem-médio é mais do que um mero capitalista, é tb patriarca e cristão - redes de poder) é acreditar que existe uma força-motriz que orienta a história e que os diferentes - os estrangeiros - são um impeditivo para esse progresso.
O estrangeiro, assim, é a ameaça à integridade das tradições e da estabilidade. É somente através da reprodução do poder - no caso, o poder serializante, igualizante - que se mantém a "ordem", e, com isso, "progredimos" (se tu está pensando em positivismo, acertou). Nada mais enganoso, prezado senhor.
São exatamente os estrangeiros que borram as fronteiras entre o certo e o errado e, por isso, nos fazem crescermos diferentemente. Sem eles, o mundo seria uma reprodução infinita do mesmo, em direção ao nada, estagnado na história. Talvez vivessemos na escravidão, talvez no puritanismo vitoriano. O fato é que somente o estrangeiro permite à vida algo como uma "cor" (o filme "Pleasantville" é o mais fantástico nesse sentido), que lhe traz um dose de risco e, por isso, de modificação. Eliminar o risco do estrangeiro é eliminar a própria possibilidade de mudança.
O senhor-de-bigode, esse homem-médio, é incapaz de ver que sem consciências diferentes nem o filminho de violência que satisfaz suas pulsões de morte no sábado à noite irá passar na tevê, só haverá missa e monotonia. Ninguém quer essa vida. Nem mesmo o homem-médio. Ele precisa do estrangeiro, ao menos, para ter em que bater.
Não é que exista tal coisa. Sabemos que a nossa sociedade pós-moderna é fraturada em tribos, distantes e conflituais entre si. Mas imaginemos que exista: quem sabe de bigode, suspensório, revólver na gaveta e Bíblia sobre o bidê, cartão da amante no bolso, dois filhos, missa aos domingos. O auto-engano desse senhor (vejam: homem-médio é mais do que um mero capitalista, é tb patriarca e cristão - redes de poder) é acreditar que existe uma força-motriz que orienta a história e que os diferentes - os estrangeiros - são um impeditivo para esse progresso.
O estrangeiro, assim, é a ameaça à integridade das tradições e da estabilidade. É somente através da reprodução do poder - no caso, o poder serializante, igualizante - que se mantém a "ordem", e, com isso, "progredimos" (se tu está pensando em positivismo, acertou). Nada mais enganoso, prezado senhor.
São exatamente os estrangeiros que borram as fronteiras entre o certo e o errado e, por isso, nos fazem crescermos diferentemente. Sem eles, o mundo seria uma reprodução infinita do mesmo, em direção ao nada, estagnado na história. Talvez vivessemos na escravidão, talvez no puritanismo vitoriano. O fato é que somente o estrangeiro permite à vida algo como uma "cor" (o filme "Pleasantville" é o mais fantástico nesse sentido), que lhe traz um dose de risco e, por isso, de modificação. Eliminar o risco do estrangeiro é eliminar a própria possibilidade de mudança.
O senhor-de-bigode, esse homem-médio, é incapaz de ver que sem consciências diferentes nem o filminho de violência que satisfaz suas pulsões de morte no sábado à noite irá passar na tevê, só haverá missa e monotonia. Ninguém quer essa vida. Nem mesmo o homem-médio. Ele precisa do estrangeiro, ao menos, para ter em que bater.
Bicho
Há pouco tempo, umas duas semanas, realizei a extração de um canino que estava preso na gengiva e não tinha como ser salvo. Sentei-me na cadeira e, depois de cerca de meia hora onde uma anestesia percorreu todas as cavidades laterais do meu rosto, inclusive o nariz e o olho, anestesiado em uma situação sufocante próxima à asfixia, finalmente minha gengiva foi partida ao meio e, com isso, extraído o dente desde a sua raiz.
O que eu vi foi a prova real e incontestável da minha animalidade: um dente de quase dez centímetros, contingência de um processo em que apenas aqueles que detinham as presas afiadas, prontas para a alimentação do rival na cadeia alimentar, sobreviviam à ferocidade do ambiente. Prova do bicho que está dentro do mim. Bicho inseparável do humano que, todos os dias, pensa integrar a civilização enquanto, covardemente, alimenta-se de bois abatidos e conservados sem que tenhamos que sujar nossas mãos, pedaços de carne sangrentos que percorrem nossas presas prontas para mastigá-los e dar vazão às imposições da natureza. Papini já havia dito que comer deveria ser tão vergonhoso quanto defecar.
Esquerda perdida
O PT, infelizmente, a cada dia mais se encaminha para não ser o que deveria. Assim, pessoas como eu vão perdendo o seu referencial de engajamento e aderindo a um niilismo patético, sarcástico e cruel. Silvinho Pereira e sua Land Rover, Delúbio e seus charutos cubanos, Dirceu e seu stalinismo caricato e, quem sabe, grampos nos filhos-da-puta da oposição que, também pateticamente, desrespeitam o Presidente da República ao ameaçá-lo de agressão.
De um lado, o descompromisso total, o sarcasmo político, voto nulo, uma espécie de narcisismo também; de outro, temos que defender essa gente e seus atos lastimáveis ou, pior, ver avançar uma esquerda mais radical (de dentro e de fora do PT), marxista e sem qualquer estima por democracia, perdida no tempo, perigosamente vermelha.
Minha sugestão é que, daqui pra diante, façamos o contrário do que a esquerda fez durante tantos anos: ao invés de jogarmos fora todos os pensadores de esquerda liberais, que se opunham ao marxismo, que joguemos fora todo pessoal que cita o alemão e seus ideais comunistas, infestando-se com esse ranço ultrapassado e descabido, que levou - mais uma vez - ao stalinismo, hoje na figura de Zé Dirceu.
Mais uma temporada desperdiçada
É provável que, diante do crescimento do futebol do Barça (meteu dois 5 a 0 seguidos), o Madrid venha a perder, novamente, a Liga Espanhola. O que é incrível é a repetição dos mesmos erros, temporada após temporada, sem que se tome uma atitude [dinheiro há]. É evidente que o plantel é pequeno demais e, lesionado ou mal um jogador, não tem substituto à altura. Fora Woodgate, Guti e Robinho, não há reservas qualificados no Madrid. Basta ver os elencos de Milan, Chelsea, Inter e Juventus para ver que não são só 11 jogadores que fazem um time. Igualmente, Pablo Garcia e Diogo, embora não comprometam, acrescentaram pouco. Como na temporada passada, ao invés de trazer um volante qualificado, preferiu-se investir em um atacante (Owen, Robinho), contratando medianos para a posição (Gravesen, Garcia). Sem um volante de qualidade, como Makelele, Vieira, Emerson, Gilberto (boa dica), Essien, Davids, não há como formar um meio-campo consistente. Sem mais um atacante de qualidade, pelo menos, e mais um ou dois meias (Zidane se lesiona muito facilmente), será difícil fazer frente ao Barcelona de Ronaldinho. Por que não Alex, por exemplo? Cairia como uma luva no plantel. Luxa o conhece bem. Opções existem aos montes para um time como o Madrid.
Trilha sonora do post: Death Cab for Cutie, "Soul meets body".