Esse ano foi bem melhor e bem pior que o anterior. Pior simplesmente porque fiz imensamente menos festas, sai bem menos e acho que alguns amigos já não me procuram mais por isso. Paciência. Tento conciliar o máximo que posso. Melhor porque finalmente minha vida parece que vai seguir um rumo consistente, podendo fazer algo mais próximo do que gosto: estudar. Também estou indo para a seleção do Mestrado e, dando tudo certo, estarei bem encaminhado. Isso já foi um bom avanço. Ano passado passei o tempo inteiro sem objetivos, entre tragos, *** e conversas de bar, o que é excelente, mas um pouco angustiante. Esse ano acho que equilibrei um pouco as coisas. Li um monte. Um monte mesmo, acho que mais de vinte livros. Na real, quase um por semana. É pra isso que eu nasci. Pra ser um imbecil que tenta te convencer de algo que não acreditas. Ou, simplesmente, pra chorar junto contigo pela burrice dos nossos companheiros de humanidade.
TRÊS NACIONAIS
Kid Abelha, "Pega Vida" (2005).
O KID ABELHA é, com certeza, uma das bandas mais injustiçadas no cenário brasileiro. Ao contrário de bandas chatíssimas como o Ira! ou mesmo os Titãs atuais, a proposta deles sempre foi simples e objetiva: aproveitar o vocal sensual da Paula Toller, fazendo pop com letras românticas. A crítica sempre foi imbecil em ridicularizar a banda, especialmente as ótimas letras. Coisa de crítico de tico mole. Acertaram a mão inúmeras vezes, inclusive no Acústico MTV, um dos poucos bons nos últimos tempos. Aliás, a partir do disco solo e do Acústico a voz da Paula vem melhorando um monte. É só comparar com o primeiro acústico, aquele ?Meio Desligado?. A melhora é sensível.
Nesse disco, o Kid acerta na mosca: foi buscar, na música mundial, aquela banda que faz o melhor pop (Coldplay), recheou com certos tecladinhos da década de 80 (outra moda, vide Killers ou Bravery) e fundiu com um vocal sexy e letras altamente PICANTES. Essa combinação produz um disco consistente, conciso, simples e certeiro. Fora a porcaria de ?Mãe Natureza?, canções como ?Pega Vida?, ?Poligamia?, ?Eu tô tentando?, ?Eutransoelatransa? e outras são o ponto exato em que o Kid se propõe a chegar. Pop perfeito (new acoustic) + tecladinhos bacanas ou metais discretos + vocal sexy + letras picantes/libertinas = um dos melhores discos nacionais do ano, BEM melhor que aquele monte de roqueiro decadente chorando as pitangas em programas chatos da MTV. Simples, véio. Tão simples quanto o tesão por uma gostosa.
Pato Fu, "Toda Cura para Todo Mal" (2005).
PATO FU é A banda pop-nerd nacional. É a banda dos sonhos do Wonkavision. Tem alguns bons discos, não tão orgânicos, mas com bons hits. Afinal, todo mundo ouviu, uma época da vida, os caras chatos da Pop Rock de tarde, e as canções do Pato Fu tinham algo de não-convencional, mas, ao mesmo tempo, chiclete.
Só o Pato Fu tem autorização pra nomear uma música ? boa, por sinal ? de ?Uh Uh Uh, Lá Lá Lá, ié, ié?. É. Isso mesmo. Mas também tem ?Amendoim?, ?!? e ?Vida Diet?. Um certo humor bobalhão percorre o disco todo. O problema é que, em certo momento, o negócio se repete tanto que tu fica em dúvida se é uma fina ironia ou chatice mesmo. Enfim. O Pato Fu nunca mudará nossas vidas, mas também não está no mesmo nível que CPMerda ou Charlie Bosta, bandas que eu nem perco tempo escutando. Tá, e o disco? É a mesma coisa de sempre. O vocal blasé da Takai e o pop com riffzinhos meio reggaes, um som pra lá de suave. Sarcasmos, bobeiras, piadas, viagens. Assim, da idiota ?Simplicidade? passamos para a boa ?Agridoce?. Isso é Pato Fu. De novo.
Los Hermanos, "4" (2005).
Incrível eu não ter comentado esse disco antes aqui. Será que eu não comentei mesmo? Enfim. Depois de um disco pop (o homônimo) e dois discos em que flutuavam rock e MPB (os geniais ?Bloco? e ?Ventura?), o LOS HERMANOS decidiu simplesmente chutar (de novo) o balde e lançar seu trabalho mais estranho, diferente. Confesso que me choquei a primeira vez que ouvi. Uma tristeza imensa percorre o álbum. A influência do Wilco referida ? e depois negada ? seria, em todo caso, apenas nisso: o silêncio ectoplasmático de ?A Ghost is Born? percorre o disco.
Moral da história? Os Hermanos continuam sendo a melhor banda nacional e o disco é simplesmente incrível. Dessa vez, a gangorra pendeu para o lado da MPB e os metais (thank?s God) foram deixados de lado, mantendo, simplesmente, arranjos simples, focados em violões e no vocal tristonho das figuras. ?4? não é um disco de rock, é um disco da MELHOR MPB. Ainda sobra um espaço para um certo experimentalismo, como em ?Os Pássaros?, onde eles lembram, de certa forma, um Radiohead/Kid A, pronto para desmontar toda estrutura do arranjo em prol de uma melancolia absurda.
Isso é arte. Inquestionavelmente. A arte não tem compromisso com bandeiras morais ou com movimentos musicais. Por isso, nada de errado em Camelo/Amarante terem abandonado, de um lado, a alegria; de outro, o rock. A duplinha mostrou que seu talento é superior, tem capacidade para lançar músicas simplesmente poderosas como a já citada, ?O Vento?, ?Dois Barcos?, ?Paquetá?, ?Condicional?, etc. ?4? já nasceu para ser clássico.
PS: Atenção, eu finalmente adquiri o cd da Alter Ego. Ouçam antes do próximo post, depois vai vir a resenha e vocês vão ficar choramingando. O site é este aqui. Tem mp3.
Triha sonora do post: Hurtmold, "Música Política para Maradona Cantar".