Mox in the Sky with Diamonds

quarta-feira, outubro 26, 2005

Equívocos sobre o Desarmamento

O Brasil perdeu uma grande chance de avançar. Não só pela própria perspectiva - óbvia e direta - de reduzir as armas de fogo em circulação, mas também por não ter dado o primeiro passo para fugir de soluções políticas maniqueístas e estereotipadas sobre o problema da violência. A dicotomia "cidadão de bem" vs. "bandido" ganhou força, sendo provável que, daqui pra diante, tenhamos um fortalecimento das alternativas mais autoritárias de combate ao crime.
Acho risível - para não dizer ridículo - essas pessoas que votaram dizendo que não aceitam soluções "paliativas". Ora, existem soluções paliativas para a questão da violência. Toda sociedade tem uma parcela de violência, é impossível eliminá-la. Apenas ideologias mentirosas - como o famigerado "tolerância zero", que agora será propagandeado - se propõe a isso. Normalmente, como ocorreu em NY, são apenas formas veladas de segregação social e, especialmente, racial. Lá, 8 em cada 10 prisões são anuladas, e mais de 80% dos presos são negros pobres. Hum?
Além disso, essa idéia de rejeitar o paliativo é, por si só, besta. A menos que ainda sonhemos com utopias comunistas, o jeito de fazer política, numa democracia liberal, é assim mesmo: passo-a-passo. Soluções reformistas são as melhores e devemos apostar nelas. Por isso, desarmamento não resolve nem resolverá a violência. Era uma solução meramente ocasional, realista, da mesma forma que dar maconha para um viciado em heroína fumar, tentando evitar danos maiores. O velho Nietzsche já falava dessa dimensão trágica do real: tentamos dizer, apolineamente, que não podemos admitir que sejamos assaltados com facas ao invés de pistolas - devemos não ser assaltados. A realidade, entretanto, não permite essa idealização: o trágico existe, o melhor a fazer é tentar reduzir os seus danos.

Editors, "The Back Room" (2005).

Image Hosted by ImageShack.us

É verdade que o Editors soa como o Interpol, porque ambos soam como Joy Division e Echo. Cheguei a chamar o Editors de redundância. Bandinha formada nos campos britânicos, lançou seu disco de estréia esse ano.
Pra quem acha que pouca coisa tem a ser inventada, o Editors, entretanto, vai soar legal. Enquanto o Interpol do primeiro disco é um emissário das sombras, te lançando numa atmosfera quase noir, e o do segundo é uma mistura dos riffs suculentos, linhas de baixo pesadas e do vocal soturno do primeiro disco com rock de verdade, o Editors parece apostar numa fórmula mais simples. Some boas melodias, vocal Ian Curtis e músicas cantáveis, sem o lado sombrio, e verá que é um álbum que vale a pena. É, digamos assim, mais "pop". Bem melhor que Kaiser Chiefs e Bloc Party, os hypes do ano. Basta conferir as duas primeiras - "Lights" e "Munich" - que tu já verá isso.
Não é dançante, nem tosco. É um álbum com guitarras milimétricas e às vezes até viajantes, baixo forte, arranjos simples, mas bem montados, atitude roqueira e uma certa dose de alternativice que o torna bem bacana. Em suma: ficam atrás do Interpol, mas vale a pena experimentar.

The Rolling Stones, "A Bigger Band" (2005).


Image Hosted by ImageShack.us

Todo mundo sabe que os Stones já deveriam ter se aposentado. Ou, pelo menos, parado de gravar, tocando só os clássicos dos seus discos mais geniais (e são muitos). Chega uma época que a banda tem duas opções: ou faz apenas shows figurando como lenda (caso do The Who, p.ex.), ou começa a emular a si própria e parecer caricatura (caso adivinha de quem?). O U2, hoje indiscutivelmente a maior banda do mundo, já está entrando nesse dilema. É como o Romário, tchê.
Não estou dizendo que o disco seja ruim. Nem que não tenha músicas excelentes. No way. Mas o que dizer de "Streets of love" para uma banda que gravou "Andie" ou "Wild Horses"? Acho que sou meio ortodoxo. Mas se tratam dos STONES, pôrra!
A tão falada "Sweet neocon", por exemplo, vale pela letra, mas a música, como eu disse, parece uma banda ruim emulando Stones. "She saw me coming", idem. É como imaginar o Oasis daqui a vinte anos emulando "Some might say". Ai. Além disso, o disco é looooooooooongo.
Para os fãs, entre os quais me enquadro, não há dúvida que haverá boas músicas e pronto. Isso nos basta. É o caso de "Rough Justice-Daw", "Let me down slow", "Back of my Hand" (blues envenenado) e outras. Os conservadores, que acham que o rock bom é só o antigo, vão dizer: "taí, os velhinhos ensinando a garotada". Deixa assim.

O SHOW
Às 19h30, lá estava eu com uma garrafinha de ceva, ouvindo "Room on Fire" no meio de uma multidão de assuntos cruzados num apartamento pequeno. Preocupado. Ninguém queria sair. Forcei a barra e finalmente fomos - pôrra, me fizeram perder os segundos essenciais da primeira música do show antológico do Arcade Fire. Filho, tu não pode dizer que foi falta de aviso: eu disse que eles eram demais. Eu disse que eram oito. Eu disse que eles tocavam um monte de instrumentos. Tá certo: não sabia que eles iriam fazer "rotação", mostrando dotes inimagináveis de talento. Mas sabia que o show seria pura inspiração, recheado de construções apocalípticas de canções sentimentais, cantadas por oito estranhos e malucos. Isso foi demais.
Bem bêbado, vi os caras do Strokes entrarem e derramarem rock'n'roll do melhor estilo: suja, cheio de riffs, com alma e tocado às mil maravilhas. As músicas foram tocadas tal qual no álbum, sua execução deixou o surpreendente público - desta vez menos provinciano, sabia as músicas - totalmente enlouquecido. Tocaram músicas de todos os discos, me permitindo uma satisfação imensa, satisfação essa que unicamente foi maltratada pela figura bêbada que me acompanha, que ficava insistindo TODO O TEMPO: "vamos subir na parede, vamos subir na parede", como se, depois de 4666788890 mil latinhas, eu conseguisse ficar trepado numa porra durante mais de vinte e cinco segundos. Bosta.



Trilha sonora do post: The Rolling Stones, "Biggest Mistake".