Essas férias não me proporcionam apenas tempo para mais posts. É a alergia ao trabalho que vai me curando. Não suporto burocracia, repetição. Muitas vezes o trabalho é ócio forçado, até. Como um prisão disciplinar, tentando nos enquadrar na rotina do homem-médio, nos aprisionando durante oito horas em instituições orgânicas e prontas para organizar uma lavagem cerebral. Mas semana que vem, para minha decepção, já estarei de volta.
Esses dias têm sido um descanso inestimável, embora prejudicados por uma extrema tensão para escrever o meu projeto de mestrado. O tema será o nosso querido "Direito Penal do Inimigo" e o inimigo como "outro", que não nos identificamos mais.
Spoon, "Gimme Fiction" (2005).
SPOON é uma banda americana iniciada em 1994, que se juntou às típicas adoradas pelas tribos indies - Pavement, Sonic Youth e assim por diante. Os caras têm cinco trabalhos - alguns EPs, é verdade - e lançaram esse ano essa peça: "Gimme Fiction".
O som é simples, básico, mas extremamente competente. Aos poucos, as melodias, simplíssimas, pops, grudentas, vão se apoderando dos teus ouvidos como se chiclete fossem. O som é variado e bem feito, oscilando entre refrões potentes e riffs bacanas. Na verdade, não tenho nada de muito técnico pra dizer: som é tranqüilo, mas infalível. Como Bruce Lee.
Tentem as ótimas "They never got you", "The Beast and Dragon, adored", "Sister Jack", "The Two sides of Monsieur Valentine". Todas diferentes entre si, mas consistentes nas suas pegadas melódicas, com ótimos refrões, tramas instrumentais bem montadas. Soa criativo sem ser experimental. O álbum é de uma precisão milimétrica.
The Magic Numbers, "The Magic Numbers" (2005).
Esse pessoal gorducho lançou seu primeiro álbum esse ano. Foram uma das revelações mais hypadas do Reino Unido, ao lado dos Arctic Monkeys (que ainda não ouvi), Bloc Party (chato) e Kaiser Chiefs (chatíssimo).
Ao que interessa: tu ouve "Mornings Eleven" e acha até legal. Bacana. Um pop simplizão, meio bobão, com algum embalo daquelas bandas mistas dos anos 70. "Forever Lost" até engrena um riff bem interessante, pra depois partir para o mesmo vocal coletivo/misto. O final, contudo, salva a música do repeteco. Chegamos em "The Mule". Pera aí, é a mesma emulação daquelas bandas pentelhas/ensolaradas? Em "Long Legs" tu já se dá conta que o problema não é gordura: é bunda-molice. De fato, tu vai percebendo que se trata de uma real INFLUÊNCIA: quer dizer, os caras realmente fazem um som a la The Mamas and The Papas, Pretenders ou Abba. Pior: isso é o máximo que eles chegam. Não, isso não é um pesadelo. São os Magic Numbers. Parecer essas bandas, por si só, já implica dois pés no freio e freio-de-mão puxados. Imagina isso gravado em pleno 2005. Os gordinhos não viram o tempo passar.
Podem dizer que sou mal-humorado, talvez seja mesmo. Mas se tem algo que eu não gosto são essas músicas "ensolaradas", feitas sob encomenda pra quem curte passar a roupa ouvindo música, tipo "Flowers on the window" (Travis) ou "Shiny Happy People" (REM). Idiossincrasia: prefiro música depressiva (Radiohead) ou simplesmente suja (Oasis). Esse disco tem cheiro de confort.
Manifesto dos petistas burros
Como 'garantista', não posso deixar de concordar que Zé Dirceu tem vários trunfos a seu favor. Pelo que acompanhei até agora, só presunções levam a culpa acerca do mensalão a ele. Certamente, fosse juiz, não o condenaria. OUTRA COISA é o juízo ético-político que pode - e deve - a Câmara fazer sobre a sua conduta.
Está na cara que ele se utilizou de métodos stalinistas que vencer resistências no Parlamento e isso atinge um dos pilares da sôfrega democracia brasileira. Como petista, quero vê-lo expulso, sim, do Congresso, e até do partido. Não nego sua contribuição, sua participação no processo democrático, etc., etc., etc. Entretanto, não precisamos mais dessa gente. Precisamos de democratas convictos, que possam implementar reformas - a partir de uma plataforma negociada - de forma limpa, racional, sem clientelismo e corrupção. O petista que realmente entendeu a que veio o partido vota contra Dirceu.
Trilha sonora do post: The Magic Numbers, "I see you, you see me" (não digam que eu não tentei).