O tal cartaz colado nas ruas de Brasília em que Jorge Bornhausen aparece como Hitler foi merecido. As forças que ele representa, no fundo, estão vinculadas à Ditadura Militar, regime que - incrivelmente ainda respeitado hoje em dia - torturou e matou milhares de brasileiros. Além disso, ter se referido à "raça" petista não foi apenas um deslize verbal: no fundo, é a sanha contra os "esquerdistas", essa raça insuportável que fica contestando as coisas. Pessoas que votam em Bornhausen podem ser trabalhadores honestos, pais de família e religiosos: os mesmos que, na sua patetice crônica, foram as urnas para criar o III Reich na Alemanha. Os mesmos maria-vai-com-as-outras.
Esquerda burra - Parte II
O artigo sobre o Estatuto do Desarmamento escrito pela Luciana Genro na ZH bem reflete o cheiro de mofo que reveste essa esquerda marxista brasileira. Ainda bem que eles se mandaram do PT. A irresignação contra o "monopólio da força" pelo Estado, por exemplo, reflete que não têm qualquer apreço pela democracia. Estado constitucional, pelo jeito, é vocabulário "burguês". Continua aquele projeto socialista. Essa gente, pra mim, é igualzinha à Direita - quer criar "gulags" no Brasil.
Aliás, foi exatamente a mesma coisa na questão da política universitária. Ao enxergarem o Estado com sua visão leninista, esse pessoal só vê uma solução para o problema da universidade: expandir o elefante branco. Aproveitar os incentivos tributários dados para as privadas, cobrando a contrapartida com vagas gratuitas, é "exigência do FMI". Santa burrice.
Sem sentido
A rivalidade acirrada nos últimos dias entre PSDB e PT nada mais espelha do que uma disputa pelo poder. Esses são, claramente, os dois partidos que deveriam se unir e construir um governo centro-esquerda reformista, capaz de modificar as estruturas patrimonialistas do Estado sem, com isso, se aliar a setores políticos inorgânicos (sem ideologia) e, por isso, corruptos.
Ambos os lados dificultam: o PT, com seu discurso de pureza e auto-suficiência, e o PSDB, com vinculação excessiva ao empresariado e aliança com a extrema direita.
Foo Fighters, "In Your Honor" (2005).
Dave Grohl hoje é uma das figuras mais requisitadas no rock. Tocou com o Queens of the Stone Age, Nine Inch Nails, Garbage, Cat Power, montou um projeto paralelo ao Foo Fighters (Probot, pra tocar metal) e agora vem com esse duplo. O disco tem as várias caras de Ghrol. Flerta com o metal ("In your honor", "Free me"), repete os anteriores ("Best of You" lembra "Times Like These", "No way Back" dá um déja-vu), há alguma coisa de Nirvana ("The Deepest Blues are Back"), encaixa riffs suculentos com uma pegada forte de bateria, com refrões empolgantes ("DOA", "The Last Song"), enfim, todo talento desse grande músico vai ali despido em pancadas, uma atrás da outra, onde a raiz punk-nirvânica combina com uma certa dose pop - a fórmula do sucesso do Foo Fighters, afinal. Tem algo que, com certeza, permeia todo disco: energia. Da grossa. Todas as músicas são cantadas apaixonadamente, como se fosse a última canção do mundo.
Acabou? Não. Segue um disco de músicas acústicas. Ghrol ainda acerta a mão diversas vezes, com baladas consistentes. "Still" abre com uma calmaria e silêncio que me lembrou "Something in the way". "What if I do?" é fantástica, belíssima, uma das melhores baladas dos últimos anos. "Miracle" desce bem, "Another Round" tem uma gaitinha de boca country (aliás, esse é o ano do country, Black Rebel e White Stripes confirmam), "Friend of a Friend" retoma o fluxo Nirvana, "Over and Out" e "On the Mend" são discretas. "Virginia Moon" é a surpreendente bossa nova tocada com Norah Jones, uma revolução no som dos Fighters. Belíssima - e demonstra que o talento de Ghrol transcende o rock. 3/4 dos músicos brasileiros deveriam ouvir para se inspirar, quando resolver tocar bossa. "Cold Day in the Sun" tem Ghrol na bateria e o baterista canta, a música se inspira nas tradições folk/country americanas, "ensolarando" um pouco o segundo disco. Tem a cara do Wilco. Pra terminar, a dedilhada e tensa "Razor". A moral da história só pode ser o óbvio: "In your Honor" sofre do mal do disco duplo, uma série de faixas levemente dispensáveis, mas consegue uma consistência impressionante, composta por excelentes hits como "What if I do", "Virginia Moon", "Best of You", "No way back" e outras.
Trilha sonora do post: Alter Ego, "Épico".