Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, abril 30, 2007

Corporativismo sujo

Durante muitos anos, especialmente os da Ditadura Militar, o Judiciário se beneficiou da condição de "caixa-preta" para acumular benefícios para os integrantes da carreira, proporcionando uma invejável gama de "prêmios" para o juiz que seguisse a cartilha -- ou seja, não criasse problemas para o Poder. O mecanismo, muito mais inconsciente do que planejado, fazia com que o Judiciário se mantivesse hermeticamente fechado, numa parceira "fraterna" entre juízes que tinham o status de nobreza [inclusive na hereditariedade] na nossa sociedade.
Um dos resultados dessa forma da administração é o que lemos no Portal UOL, quando noticia que o Ministro Paulo Medina, do STJ, caso comprovado seu vínculo com a máfia dos jogos, corre o "risco" de ter decretada, como pena máxima, sua aposentadoria compulsória ganhando parcos 23 mil reais. COMO? É isso mesmo. Na visão dos magistrados conservadores -- a "velha guarda" que está aí desde a Ditadura e jamais causou problemas aos milicos -- um juiz está numa posição em que a aposentadoria seria uma "humilhação" suficiente, funcionando como espécie clássica de "varrida pra baixo do tapete". É incrível, mas é esse tipo de pensamento que faz com que, apesar do absurdo, nenhuma entidade ligada à Magistratura brasileira [por sinal, onde anda a Associação de Juízes para a Democracia para protestar?] tenha reclamado disso.
É no mínimo escalandaloso, e o curioso é que nenhum juiz mexe uma palha não apenas para alterar esse absurdo de levar 23 mil reais para a aposentadoria, tendo regras diferentes do que a maioria dos demais cidadãos, mas de levar POR TER COMETIDO DELITOS. Olhem só que situação confortável -- cometo um delito e sofro a "pena" de aposentadoria compulsória.
Todos que conhecem esse blogueiro sabem que não sou um entusiasta da punição, mas nesse caso estamos diante de um caso de corrupção institucionalizada, legalizada em uma legislação podre que favorece aqueles que "não incomodam" o Poder Político. Não é à-toa, por sinal, que os outsiders que de desviam dos padrões convencionais costumam sofrer esse tipo de represália, a mesma que concedem aos criminosos de toga.
Esses mesmos caras-de-pau de não protestam contra a corrupção legalizada são os mesmos que, em sessões plenárias e discursos de posse, derramam elogios para os Colegas da grande Fraternidade Judiciária.
Por outro lado
Por mais que nos mantenhamos céticos, e com razão, em relação às supostas "operações" da PF, que adora uma pirotecnia, parece que, de certa forma, a palavra REPÚBLICA começa a engatinhar no vocabulário cotidiano do brasileiro. Não há dúvida que esse uso só nasceu porque veio junto com outra palavra fundamental: DEMOCRACIA. As duas caminham juntas, e bem, com o tempo. Re-pública, de res publica, coisa pública, ou seja, começamos, contra nossos instintos habituais [o brasileiro, com a "Lei de Gerson", é o individualista mais pernicioso que pode existir], a perceber que as relações públicas [especialmente as de administração] se dão com outros critérios que não a vaselina e a apropriação do erário, mas a partir do respeito rígido às leis e da impessoalidade.
Katia B
Não sou grande entusiasta da MPB atual. O nepotismo corre solto na MPB, e os casos de Maria Rita e Bebel Gilberto vão nesse sentido. Não que as duas não sejam boas cantoras -- de fato, são -- mas a qualidade de inovação, traço típico da criatividade música popular brasileira, morreu num repeteco insosso daquilo que a geração dos anos 60/70 nos proporcionou. A repetição enfadonha do clássico "Baby" [fantástico, na versão dos não menos fantásticos Mutantes] parece ser a prova mais clara disso.
Álvaro Pereira Jr. mandou bem na semana passada:
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PLAY: MPB Nos EUA, no Chile, em tantos lugares. Você entra numa loja, pega um táxi: está tocando MPB.
PAUSE: MPB Sucesso no exterior é bom, mas vem da pior face da MPB: a de som ambiente, papel de parede musical.
EJECT: MPBNum táxi em Santiago, a caminho de jantar, tocou Seu Jorge com Ana Carolina. Perdi a fome.
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Quando ouvi Katia B, com seu "Só deixo meu coração na mão de quem pode" (2003), senti um certo frescor criativo que anda escasso, numa combinação de um sotaque carioca [um tanto quanto Fernanda Abreu] com ambiência de trip hop, algo inusitado na esterilidade do quadro atual. Enfim, embora hoje o som soe mais fraco do que parecia à época, ainda mantém vigor em relação ao resto do que vem sendo produzido no país.
Dizia isso apenas para anunciar que, em maio, sai o novo álbum de Katia B. Vale a pena conferir.
Wilco
"Sky Blue Sky", como disse o Marcelo Costa, do Scream & Yell, é um disco dos anos 70 perdido em 2007. Jeff Tweddy limou do som todo experimentalismo que ganhou ápice no maravilhoso "A Ghost is born" [preferido da casa -- 2004], onde desfilavam influências que iam de Neil Young ao pós-rock, e parece ter se focado em fazer country songs ainda de inspiração de Young, com forte acento tônico na guitarra, e sutilezas melódicas de primeira linha.
Um álbum que -- embora não "pop" como "Summerteeth" -- vai ganhando aos poucos o respeito do ouvinte, passando cada canção a se energizar mais e mais, até viciar.
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Trilha sonora do post: She wants revenge, "I don't wanna fall in love".

sexta-feira, abril 27, 2007

A MALDIÇÃO DE SILENO



Consta na Mitologia Grega que Sileno era um sátiro, preceptor de Dionísio, deus do vinho, sendo conhecido por seu constante estado de embriaguez e por ser o mais velho e sábio dos companheiros daquele deus.
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O Rei Midas, ansioso por aprender com a sabedoria do sátiro, de tudo fez até capturá-lo: finalmente, com um licor especial, conseguiu embriagá-lo de forma a torná-lo presa de seus súditos, que o levaram até o rei. Perguntado sobre qual seria a melhor das coisas para o homem, Sileno quedou-se silente, até o momento em que a insistência do Rei Midas foi insurportável. Irritado, Sileno proferiu: "Estirpe miserável e efêmera, filhos do acaso e do tormento! Por que me obrigas a dizer-te o que seria para ti mais salutar não ouvir? O melhor de tudo é para ti inteiramente inatingível: não ter nascido, não ser, nada ser. Depois disso, porém, o melhor para ti é logo morrer".
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Essa história foi utilizada por Nietzsche, na sua obra da juventude "O Nascimento da Tragédia", na qual pela primeira vez ganhou contornos a sua célebre distinção entre o apolíneo e o dionisíaco.
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Mais de um século após, o filósofo Emmanuel Lévinas trouxe a noção de responsabilidade pelo Outro. Rebatendo a "perseverança no ser" de Martin Heidegger, noção que trazia a idéia de que o homem deve buscar a sua própria autenticidade a partir da consciência da própria morte, buscando aquilo que constitui sua "minheidade" em detrimento do "medíocre", "banal", do "a gente", Lévinas opõe a idéia de que o meu "eu próprio" só se constitui a partir da responsabilidade pelo Outro. Eu, quando me constituo enquanto Eu, já sou refém do Outro. Como seria possível isso? Como poderia existir uma responsabilidade pelo Outro que anteceda mesmo a minha necessidade de auto-conservação? Antes de sobreviver, existe ainda o dever de ser responsável -- sem álibi ou escusas -- pelo Outro?
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Responsabilidade anterior a qualquer outra. Que chega, no momento em que me constituo sujeito. Já anteriormente à percepção do Outro, da sua presença, essa responsabilidade chegou, numa ordem estranha ao saber. Como podemos explicar o que sentimos quando contemplamos o rosto de um completamente estranho enquanto o vemos sofrer? Apenas empatia? E quando esse Outro é totalmente Outro -- quando vemos que jamais estaremos naquela situação -- mesmo assim não existe um laço de responsabilidade que nos une? Não existe uma responsabilidade que chega antes mesma da sua racionalização, uma responsabilidade pura e simples gravada no Rosto da outra pessoa?
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Lévinas admite isso como algo doloroso. Não promete palavras fáceis. Ele mesmo admite o peso das suas concepções.
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Não é exatamente esse peso que não dá razão a Sileno? Que poderia ser mais conveniente que não ter nascido, simplesmente? Não ter que enfrentar originalmente toda a crueldade dessa vida, todas as desavenças, toda a maldade humana, toda corrupção do nosso mundo... Seria um alívio. Não ter que ler nos jornais que a maioria das pessoas quer jogar adolescentes nas masmorras. Não ter que saber que para a maioria das pessoas a solução para os problemas é, simplesmente, destruir os Outros. Não ter que enfrentar os desafios da vida, o constante não-acontecer daquilo que desejamos... Alívio!
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O próprio sátiro, adverte, contudo, que seria impossível... Mas então por que não a morte, simplesmente? É o peso infinito da responsabilidade pelo Outro, que transcende a minha persistência no ser, que me joga em uma condição onde não estou apenas devedor de mim mesmo e da minha autenticidade, mas sou eleito a carregar o peso de todo o mundo. A partir da minha constituição como eu, não sou mais apenas "eu" que estou em jogo, mas o mundo todo. Eu não dis-ponho de mim mesmo. Eleição indeclinável, que surge quando a responsabilidade toma forma e, a partir de então, jamais de despede.

quarta-feira, abril 25, 2007

CHÔ

Todo fenômeno carrega uma alteridade (de alter, outro) que o torna inapreensível por meio dos nossos conceitos. A grande descoberta da filosofia do século XX -- para a qual convergem a fenomenologia, o pós-estruturalismo [ou "pós-modernismo"] e o pragmatismo -- parece ser exatamente a incapacidade da nossa representação mental esgotar a totalidade da realidade que se apresenta diante dos nossos olhos. Ou seja, a imagem mental que tenho de certa coisa é inequivocamente menor do que ela, brutalmente e de fato, é.
Explicar CHÔ, por isso, é sempre dar uma interpretação -- jamais esgotar as discussões.
A explicação que um americano poderia dar seria, provavelmente, a de que CHÔ era um chamado loser, esses que conhecemos bem por meio dos tantos filmes hollywoodianos que saltam por aí. Chô, provavelmente, era um cara ressentido, fraco, que descarregou seu ódio nos fortes e pretendeu explicar essa brutalidade colocando a culpa nos outros. Essa interpretação, embora não seja descartável, não ameniza outras possíveis.
Como alguém preocupado com a ética e com a alteridade, não posso deixar de pensar o fenômeno Chô como, também, um produto de uma sociedade que se divide em vencedores e e perdedores. A indiferença e a violência com que se dão essas relações parece alimentar um círculo vicioso, onde o diferente (loser) é jogado numa posição humilhante e desprezível.
É esse tipo de relação corrompida que produz monstruosidades como a que ocorreu. É nessa sociedade em que a competição é agravada que aparecem estudantes capazes de cometer atos como os que vimos. Assim como a brasileira também gera os assassinos de João Hélio [notem, crueldades assimétricas e bem distintas em sociedades bem distintas].
Não estou defendendo um determinismo e nem uma "vitimização" de Chô. Estou apenas propondo uma "leitura" dos seus atos. Uma sociedade em que a ética seja a primeira dimensão, em que a hospitalidade [o receber incondicional do Outro, enquanto Outro, sem leis, simplesmente deixando-o chegar e, com isso, se arriscando] seja a regra, dificilmente seria capaz de ter um caso Chô. Jamais eliminaremos psicopatas e o lado violento do ser humano. Mas compreender, a partir de uma abertura de sentido em que a ética seja a primeira das dimensões -- ou seja, compreendendo a exterioridade do Outro às representações que tenho dele -- ajuda a desbanalizar as razões do fato, ampliando a nossa possibilidade de soluções.
Compreender Chô significa inocentá-lo? Jamais. Mas saber que uma sociedade dividida em winners e losers é mais propícia ao surgimento de assassinatos em massa em escolas é, de alguma forma, buscar uma solução mais profunda, que realmente toca o eixo do problema. Se Chô fosse respeitado e recebido com hospitalidade pelos demais colegas, será mesmo que cometeria os atos que cometeu?
Que sociedade queremos? A que divide entre winnners e losers e produz Chôs, ou uma que as relações sejam mais doces, hospitaleiras, capazes de suportar a diferença no seu caráter mais elementar, ou seja, daquilo que não se reduz ao que penso sobre o Outro, mas exatamente sobre o que excede esse pensamento? Talvez esse seja o começa da Educação; e no entanto a tragédia ocorreu em uma escola -- enquanto se ensinava ciências, história e matemática.

sábado, abril 21, 2007

AGORA É DESTRUIR O CERRO

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O GRÊMIO sabe, porque já jogou muitas, que para vencer na Libertadores é preciso dar a vida. Eu ACREDITAVA que era possível reverter o vergonhoso placar de Caxias -- o Grêmio havia amassado, sem grande esforço, o time na fase classificatória -- agora era o momento de repetir tais atuações, com maior afinco. Além disso, o Caxias era visivelmente uma equipe jogando acima dos limites na primeira partida. Isso não iria se repetir.

Agora é ir para cima do Cerro e esperar que, com a entrada de Gavilán, Kelly e Amoroso o time engrene de vez, nos fazendo lembrar a máquina de 2006. A propósito, quem deve perder a posição?

Manic Street Preachers
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Depois do belo "Lifeblood" (2004), a banda de James Dean Bradfield deixou vazar seu novo álbum, "Send away the tigers". Ao que parece, a fórmula do trabalho anterior não foi significativamente modificada: guitarras limpíssimas conduzem as melodias com riffs matadores e o foco está no vocal -- tudo para o crooner JDB.
"Underdogs", que já havia vazado, é um tema espetacular, empolgante, rock. Mas a melhor canção parece ser "Your love alone is not enough", com a participação da voz sempre sexy de Nina Person, dos Cardigans, em belo dueto -- poderia ser uma música mais pesada dos Cardigans, não fosse o riff matador que supera a banda nórdica.
Se o álbum, nas primeiras ouvidas, não parece ter alcançado o status de excelente, trouxe, já desde a primeira impressão, algumas músicas espetaculares. Até agora, a idéia é que "Send away the tigers" está, mais ou menos, como o novo do Idlewild.
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ROCK BRASILEIRO? Do bom...
Os leitores sabem que esse blogueiro não tem grande afeição pelo rock nacional. Afora Los Hermanos, Mutantes e mais meia dúzia, considero todo o restante, e aí incluídos muitos "ídolos" indiscutíveis na imprensa [ex., Titãs e Ira!], um saco.
Não vejo razões para o nacionalismo. E não é diferente na música. Se posso ouvir uma banda britânica ou yankee melhor, não vejo por que razão deveria eu perder meu tempo com Cachorro Grande [que nem é das piores].
Mas eu tenho boas notícias! Gostei muito de "Seres Verdes ao redor: músicas para samambaias, animais rastejantes e anfíbios marcianos", álbum da banda Supercordas. Como parece óbvio, a praia ali é a psicodelia: com um clima altamente bucólico, a banda revive basicamente Mutantes e Raul Seixas, mas não se detém em um retrô chato [defeito de 9 em cada 10 bandas nacionais] que parece não enxergar onde anda o rock. Às influências nacionais é possível acrescentar certo toque de dream pop, leia-se especialmente a duplinha Flaming Lips/Mercury Rev, que reprocessaram os Beach Boys e criaram esse monstro do pop-não-pop.
O Supercordas merece uma chance e espero que cheguem aí para ficar.
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Trilha sonora do post: Manic Street Preachers, "Indian summer".

domingo, abril 15, 2007

Quê?

E se eu dissesse que tem uma música matadora no novo álbum dos ã...... Arctic Monkeys?


"Fluorescent adolescent" é, certamente, a coisa mais legal que eles fizeram até agora e -- poxa vida -- é massa demais. Um tem aque vai conduzido por um riff safado e te deixa com um belo de um sorriso, como se a vida ficasse um pouco mais leve.

Mas o single é "Brianstorm", e, vou ter que confessar, é bonzaço também. O riff é encorpadão e parece beber na mesma fonte que "Juicebox", de uma banda conhecida de todos nós.




The Cinematics



Mais uma banda (porra, mais uma...) que faz revival do pós-punk, mas, como Editors, Interpol e The Stills, é bem legalzinha. "Break" é perfeita para pista de dança.




Falando em bandas que chupam o pós-punk, revivi essa banda inglesa vampiresca -- The Departure. É boa essa "All mapped out", hein? Êta sonzera desgraçada.






A propósito

Não gosto do Governo estadual atual, mas... anotem aí: torço pelo sucesso desse novo Secretário. Finalmente o discursinho do "bandido" e do "cidadão de bem" foi deixado de lado e ele chega com coisas objetivas: perseguir e prevenir o delito, com respeito aos direitos humanos e eficiência policial.
É tão simples!


Por hoje é só.


Trilha sonora do post: Arctic Monkeys, "Brianstorm".

quinta-feira, abril 12, 2007

Enio Bacchi caiu? Ui, que pena...

É claro que a demissão de Enio Bacchi deve mudar pouco na política de segurança atual, pois ela tem tudo a ver com o "jeito de governar" da nossa querida -- e eleita por vocês -- Dama de Ferro. Por que, então, falar disso?

Na verdade, Bacchi não entendia porcaria nenhuma de segurança pública. Quando ele disse que iria "colocar policiamento ostensivo contra o crime organizado" ficou bem claro que seu conhecimento não estava além do jargão jornalístico batido, cheio de máximas do "cidadão de bem" e da "bandidagem", bem ao gosto de grande parcela burra da sociedade que adora opinar sobre o que não faz a mínima idéia [alguém já viu esse blogueiro dissertando sobre economia ou física quântica?], além de ter a desfaçatez de se autointular "A Sociedade". É curioso que essa parcela de "cidadãos de bem" seja tão presunçosa, a ponto de excluir todo restante que não concorda com suas pregações de violência e barbárie institucional. Esses, que não concordam, ganham a insígnia de "pessoal dos direitos humanos".

Mas, se Bacchi não entendia de segurança, o que se passava? Na realidade, como já havia escrito por aqui, o que ocorreu foi um alvará para que as polícias fizessem o que quisessem, inclusive torturar. Digo isso com base em fatos. Ao lado disso, o Secretário ficava reiterando seu discurso vazio, que agradava essa parcela fascistóide com seu palavreado patético e clichesco.

Então, o que comemorar? Ora, ao menos existe a mínima chance de que, com a queda do Secretário, esse discurso lamentável deixe de ser ressoado no âmbito do Poder Público, que deveria ser constitucional. Vai tarde.


LCD Soundsystem -- mais uma menção

O novo disco de James Murphy, com seu LCD Soundsystem, foi aclamado pela crítica mundial. E com razão. Há algum tempo não ouvia tão boa música para dançar, mix de eletrônica e rock. "Sound of Silver" traz minimal techno, um pouco de electro e alguma coisa de rock, diríamos dance punk.

O álbum que, talvez, o The Rapture tenha sonhado, embora "Pieces of the People we love" (2006) não seja exatamente um disco fraco, mas, para seguir o fenomenal "Echoes" (2003), essa seria boa continuação.

Outra dica: nas minhas corridas diárias [yeah, mr. sedentário anda praticando esportes], tenho ouvido 45:33, faixa que ele gravou para a Nike exatamente para o jogging, com ótimos momentos de minimal, electro e até trance. Bacana demais.


The Knife


Pode-se dizer que, se "Ok Computer" representa uma nostalgia anti-tecnológica, bebendo nas críticas heideggeriana e de tantos outros ao domínio da tecnologia sobre o ser humano, "Kid A" representa a abertura de um novo ciclo, onde o Radiohead pontua uma definitiva comunicação com as máquinas.

É como se no mundo negro, frio e gélido de "Kid A" estivessemos diante de uma nova era, onde, sugados pela tecnologia, já pensaríamos a partir dela.

É nesse mundo que habita a dupla sueca The Knife, que lançou ano passado o belíssimo e quase impenetrável "Silent Shout", seu segundo álbum, um ambiente frio e inumano, onde as máquinas parecem ressoar na sua própria linguagem.

"Silent Shout" é um convite a esse difícil caminho, em que os vocais são distorcidos em efeitos que quase esmagam a voz original, os sintetizadores minimalistas ganham eco e pequenos movimentos são traçados ao longo de extensa psicodelia. Um convite ao novo mundo da música eletrônica, desumanizado e gélido, mas belo na sua própria estirpe de diferença.

"Silent Shout" [a música] e "Neverland" são perfeitos synth pops recalchutados, como que banhados por 20 anos de história da música eletrônica, especialmente a IDM. Perfeitos para pistas de dança de ouvidos mais abertos.

Por outro lado, "The Capitan" ou "Na Na Na" são a própria escuridão da psicodelia extrema, desafiadora, atordoante, quase impenetrável. Experimentalismo extremo.

Um belo e desafiador álbum, desses só para os ouvidos mais treinados; mas que, uma vez explorado, mostra uma viagem sem volta.
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Championsleague
Belas partidas da Championsleague mostraram a hegemonia do futebol mais rico do mundo, com três dos quatro classificados. Nada, também, de tão definitivo, visto que a Itália, há poucos anos, colocou também 3 dos 4. Um sinal, no entanto, de mau ciclo dos times espanhóis, especialmente de um Madrid sem rosto e de um Barcelona sem convicção nas suas estrelas, que, à exceção de Messi, não estão em boa fase e, com isso, deixam exposto o esquema quase-suicida da equipe catalã. A participação do Valência esteve de acordo com o seu retrospecto na competição.
Liverpool conta com a tradição e camisa, que pesam muito nessa hora. Tecnicamente, é o mais fraco dos quatro, por contar com apenas um jogador realmente craque -- Gerrard. Entretanto, tem um ótimo técnico e conta com torcida fanática. Do outro lado, o Chelsea conta com o genial Mourinho e, apesar de ter o plantel bastante desfalcado, conta com boas peças de reposição e ótima fase de Drogba, Essien e Ricardo Carvalho. Junto com nomes que podem brilhar em qualquer partida, como Ballack, Lampard, Terry e Shevchenko [cujo desempenho vem crescendo ao longo da temporada], é forte candidato. Fica apenas registrado que é preciso encontrar um lugar para Joe Cole, do contrário o meio campo fica um pouco lento demais.
Na outra chave, enfrentam-se um virtuoso Manchester United, com o melhor jogador da atualidade, o veloz e habilidoso Cristiano Ronaldo. Com Rooney na dianteira e o bom volante Carrick, parece que Sr. Alex Ferguson finalmente conseguiu a desejada renovação da equipe, brilhando novamente nos reluzentes 7 a 1, que dispensam comentários. No seu caminho, contudo, está o bravo Milan -- único palpite que me equivoquei -- que conta com uma camiseta mais pesada e com o jogador mais próximo de C. Ronaldo em forma técnica -- Kaká. Além dele, conta com o excelente distribuidor Andrea Pirlo, mas acredito que Seedorf não tem gás para brilhar novamente, assim como Inzaghi.
Em suma, vou de Chelsea e Manchester.
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Libertadores
Nenhuma palavra.
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Trilha sonora do post: The Knife, "Still life".

quarta-feira, abril 11, 2007

...AND YOU WILL KNOW US BY THE TRAIL OF DEAD é o nome da banda.
Vá lá conferir a resenha do show no

domingo, abril 01, 2007

Sobre os milicos no Brasil

O artigo de Kennedy Alencar é preciso sobre o canetaço dado por Lula na crise dos controladores aéreos. Olhem o que diz o artigo:

Existe até um lado positivo na desautorização do comandante da Aeronáutica. Ainda que não tenha tido esse objetivo, a decisão de Lula quebrou de vez o tabu do fantasma militar numa hora simbólica: véspera do aniversário de 43 anos do golpe que instaurou a ditadura de 1964.Obviamente, não há o menor clima para golpe militar ou crise que leve à contestação da autoridade civil. No entanto, o Brasil gosta de alimentar esse fantasma. Freqüentemente, cientistas políticos, parlamentares e jornalistas dizem que é preciso muito cuidado para não melindrar as Forças Armadas. Registram que o país teve poucos períodos de normalidade democrática etc. O recado é sempre o mesmo: não vamos bulir com quem está quieto.
Muito lúcido. É incrível que, ao contrário da Argentina ou do Chile, no Brasil os políticos continuam cagados de medo dos militares, que não têm mais respaldo social algum. É hora de finalmente o Brasil se emancipar dessa tutela maldita e se colocar os militares no seu devido lugar: o de submissão ao poder civil, democrático e constitucional. Os fantasmas da Ditadura continuam assustando alguns; é preciso enterrar, de vez, qualquer dúvida sobre essa possibilidade e mostrar que entremos para valer no circuito democrático.
Um pouco de história nos mostra que, desde a República Velha, o Exército exerce o papel de "Poder Moderador", aquele que atuava em matérias cirúrgicas e que o Imperador exercia. É preciso enterrar definitivamente essa influência. Os militares, com suas paranóias e baixo Q.I., são perigosos para a democracia.
Arcade Fire, "Neon Bible" (2007)
Poucas são as bandas que justificam um esforço do ouvinte em imergir, verdadeiramente, no seu álbum, vez que coberto por uma crosta inóspita e nada hospitaleira de ruídos e dissonâncias anti-comerciais. Tão certo quanto a verdade dessa afirmativa é que o Arcade Fire é dessas exceções.
"Neon Bible", como seu antecessor "Funeral" (2004), é de difícil "entrada" e requer um certo apuro do ouvinte. Mas, também como o debut, recebeu clamorosa recepção pela crítica mundial [a Q deu cinco estrelas ao álbum, status de clássico]. Facilitado, assim, o trabalho desses excêntricos canadenses.
Não tão coeso quanto o álbum anterior, encontra grandes momentos em "Keep the car running", "Intervention" e "No cars go". Temas fortes e embalados ao estilo neopostpunk, em estilo grandiloqüente e na constante presença de instrumental atípico, como órgãos de Igreja e daí por diante. Um certo toque barroco perpassa o álbum, tornando-o ainda menos comercial. "(Antichrist television blues)", no entanto, traz levada springsteeniana bem tocada.
Com poucas derrapadas ["Neon Bible", "My body is a cage", "Windowsill"], o álbum se mantém em grande nível, embora perca para seu antecessor -- que não tinha falhas -- e esteja despido do excelente vocal de Réginne [salvo em "Black waves/Bad Vibrations", equivocado e posteriormente salvo pela "virada" conduzida por Win Butler].
Black Rebel Motorcycle Club, "Baby 81" (2007)
Uma das minhas bandas favoritas e que ainda tive o prazer de conferi-los ao vivo, na abertura do show dos Killers, este ano.
É por isso com algum desânimo que digo que esse novo álbum não me provocou nenhuma sensação, a não ser certo cansaço, meio repetitivo... Que triste. Depois do excelente "Howl" (2005), o BRMC volta a se plugar e despejar seu som eletrificado e sombrio. Contudo, tudo agora parece sem inspiração, sem um bom gancho que conduza o ouvinte conjuntamente com a música.
Fica a nota, contudo, de que "Cold wind" e "Killing the light" estão entre as melhores músicas de toda história da banda, absolutamente irretocáveis. Há alguns outros bons temas [o single "Weapon of choice", p. ex.], mas que não chegam ao nível de pancadas inesquecíveis protagonizadas por essa banda yankee, como as clássicas "Love Burns" ou "Awake".
Equívoco
Equívoco lamentável desse blog foi ter feito a referência à banda que pretende encarar o rock como se os Beatles não tivessem existido -- The Pippetes --, segundo a referência da coluna do Álvaro Pereira Jr., com o The Fratellis, conjunto que se inspira nessa gente toda do Reino Unido -- Libertines, etc... -- e tem o delicioso single "Chelsea Dagger", cujo vídeo consta nesse blog. Sorry.
Grêmio
Como torcedor fanático, torço até a morte para o tricolor dos pampas. Contudo, estou um pouco cético com essa Libertadores. Com um grupo consistente, o Grêmio conquistou a terceira posição do Campeonato Brasileiro passado, esmagando diversos adversários e não conseguindo o título apenas por causa de um primeiro turno apenas mais ou menos. Tinhamos bons titulares para todas as posições do meio para frente, com um meio campo de luxo, e precisávamos de apenas duas contratações: dois laterais. Não apenas a Direção não foi buscar os laterais, trouxe apenas um mediano Lúcio, como perdeu importantes reservas [Herrera, Rafinha, Maidana, Alessandro], que foram fundamentais em diversos jogos, como também deixou ir embora titulares fundamentais [Jeovânio, Hugo e Léo Lima], sem reposição à altura. Apenas Rômulo e Evaldo foram bem substituídos.
Temos, então, que apostar em jogadores saídos das categorias de base que, conquanto possam ter boas apresentações, podem encolher nas decisões [Carlos Eduardo é exemplo mor], sem falar de alguns que visivelmente não têm mínimas condições de integrar o banco [Aloísio!].
Por mais que Mano Menezes seja um excelente técnico, há limites e, ao que parece, nos deparando com um Riquelme ou Zé Roberto, dificilmente iremos adiante.
Real Madrid
O que se passa no Madrid que nunca mais se endireita?
Provavelmente, a transição para renovação deve ser longa. Aconteceu o mesmo com o Barcelona, poucos anos atrás. Uma sucessão de erros de Florentino Perez, detalhada exaustivamente por aqui, levou à situação caótica atual, de um grupo despedaçado e um punhado de boêmios.
Somado isso à decadência técnica de jogadores como Helguera, Raúl e Roberto Carlos, nem mesmo constantes contratações têm aliviado a situação.
A aposta em Capello não foi de todo equivocada: a equipe realmente precisava de um disciplinador, alguém que pusesse ordem no quintal. O problema é que Capello gosta de um futebol totalmente incompatível com o estilo madrilenho, o que certamente iria gerar tensão e crítica. A sua "vitoriosa" campanha com a Juventus, baseada em scores de 1 a 0, nos últimos anos, devia ter servido de alerta.
Nova bobeada. O Madrid deveria ter apostado em alguém como Rafa Benitez, que é espanhol e sabe montar bem defesas. Robinho, que é um craque em gestação, foi sub-aproveitado, mas também precisa ser mais humilde, pois ainda não teve seqüência de boas atuações na Europa e fala em ser o melhor do mundo. Vamos com calma.
O time nessa temporada deveria ter sido: Casillas; Cicinho, Cannavaro, Ramos e Roberto Carlos; Emerson, Diarra [depois Gago], Guti, Beckham e Robinho; Van Nistelrooy. Um 4-5-1 equilibrado poderia ter resolvido os problemas da equipe, mas sucessivos desastres de Capello prejudicaram o rendimento.
Trilha sonora do post: LCD Soundsystem, "Sound of Silver" [bem melhor que os ultra-hypados Klaxons].