A morte da política no RS
Yeda se elege com um gosto amargo na boca de grande parte dos gaúchos. E aqui não vou falar daqueles que votaram em Olívio Dutra desde o primeiro turno. Estou me referindo, na realidade, àquelas pessoas que gostariam de ter visto Germano Rigotto reeleito Governador.
"Vamos acabar com essa raça pelos próximos 20 anos", ou algo parecido, disse Jorge Bornhausen no Congresso Nacional, certa vez. Infelizmente, essa é mentalidade que cresce vertiginosamente no RS, ainda que até pelas próprias palavras utilizadas esteja a sinalizar um ideal totalitário (especialmente o termo "raça", que não preciso nem dizer quem gostava de usar).
O eleitor de Germano Rigotto sente um gosto amargo de vitória nesse pleito. Porque, ao término do primeiro turno, nos deparamos com um fenômeno jamais visto no RS ou em qualquer Estado do país: a transferência de votos para Yeda, apenas para tirar Olívio do segundo turno. Esse eleitor lamenta se arrepende e hoje vê uma candidata que sequer conseguiu se eleger prefeita de Porto Alegre, e se candidatou pelo menos duas vezes, e usa fórmulas vagas como "choque de gestão".
A transferência de votos de Rigotto para Yeda no primeiro turno é o cume de um processo que começou em 1998 no RS, e agora podemos chamá-lo tranqüilamente de "morte da política" no nosso Estado. Naquela época, os ânimos se acirraram e a eleição foi decidida em detalhe, com a vitória do PT. Ali surgiu, de forma clara e nítida, o antipetismo.
Na época, dois fatores contribuíram para isso: de um lado, o acirramento da oposição e a disseminação de ódio político, inclusive com apoio de parte (importante) da mídia gaúcha; de outro, uma radicalização do Governo Olívio em negociar e adoção da política de confronto, com base nos seus ideais de pureza política e democracia direta. Duplo e bilateral erro, que matou a política no nosso Estado.
Infelizmente, hoje o que existe são dois blocos de fanáticos, talvez os petistas agora menos fanáticos (com os casos de corrupção no Governo Federal e a adoção, também por lá, de um ideário de esquerda moderada) e o antipetistas mais ainda. A discussão ficou estéril. Se Olívio tivesse sido eleito, não haveria governabilidade pelos próximos quatro anos.
Com isso, estou dizendo que todos devemos votar no PT, em quem votei? Não, nada disso. Estou dizendo que a redução da política a um 'GRE-NAL' proporcionou monstros bizarros como a eleição de Yeda, quando sabemos que Rigotto teria a vencido com facilidade no segundo turno. Por quê? Porque o eleitor contrário ao PT (não vou usar "de direita" para ninguém ficar bravo, ok?) não vota mais em um candidato, vota contra um candidato.
O resultado foi a eleição de uma candidata sem representatividade, cujo partido sequer tem estrutura para governar o Estado. A descida vertiginosa no segundo turno demonstra isso. É um espantalho a representar o anti.
É isso, exatamente, a morte da política. Orgulhamo-nos de ser o povo mais politizado do Brasil -- mais um mito gaúcho que nos impede de crescer. Somos o povo menos politizado do país. Metade da população sequer sabe o que seu candidato promete; vota contra o outro.
Que os eleitores de Rigotto transfiram seus votos para Yeda no segundo turno tudo bem. O problema é que transfiram no primeiro turno. Isso representa a morte da política: é o ódio político, e não o ideal de administração da polis, que está em jogo, em primeiro lugar.
E com o ódio, amigos, já sabemos o que dá para construir. Em 1964, o maior problema não foi a repressão do comunismo e a hegemonia dos militares, ambos radicais e antidemocráticos. Foi a mentalidade passiva da população que, ao encampar o ideal de ódio gerado pela direita radical, deu prioridade a ele em relação à manutenção dos ideais democráticos. Isso é a primazia do ódio. Vivemos 20 anos de Ditadura.
Querem isso de novo?
"Vamos acabar com essa raça pelos próximos 20 anos", ou algo parecido, disse Jorge Bornhausen no Congresso Nacional, certa vez. Infelizmente, essa é mentalidade que cresce vertiginosamente no RS, ainda que até pelas próprias palavras utilizadas esteja a sinalizar um ideal totalitário (especialmente o termo "raça", que não preciso nem dizer quem gostava de usar).
O eleitor de Germano Rigotto sente um gosto amargo de vitória nesse pleito. Porque, ao término do primeiro turno, nos deparamos com um fenômeno jamais visto no RS ou em qualquer Estado do país: a transferência de votos para Yeda, apenas para tirar Olívio do segundo turno. Esse eleitor lamenta se arrepende e hoje vê uma candidata que sequer conseguiu se eleger prefeita de Porto Alegre, e se candidatou pelo menos duas vezes, e usa fórmulas vagas como "choque de gestão".
A transferência de votos de Rigotto para Yeda no primeiro turno é o cume de um processo que começou em 1998 no RS, e agora podemos chamá-lo tranqüilamente de "morte da política" no nosso Estado. Naquela época, os ânimos se acirraram e a eleição foi decidida em detalhe, com a vitória do PT. Ali surgiu, de forma clara e nítida, o antipetismo.
Na época, dois fatores contribuíram para isso: de um lado, o acirramento da oposição e a disseminação de ódio político, inclusive com apoio de parte (importante) da mídia gaúcha; de outro, uma radicalização do Governo Olívio em negociar e adoção da política de confronto, com base nos seus ideais de pureza política e democracia direta. Duplo e bilateral erro, que matou a política no nosso Estado.
Infelizmente, hoje o que existe são dois blocos de fanáticos, talvez os petistas agora menos fanáticos (com os casos de corrupção no Governo Federal e a adoção, também por lá, de um ideário de esquerda moderada) e o antipetistas mais ainda. A discussão ficou estéril. Se Olívio tivesse sido eleito, não haveria governabilidade pelos próximos quatro anos.
Com isso, estou dizendo que todos devemos votar no PT, em quem votei? Não, nada disso. Estou dizendo que a redução da política a um 'GRE-NAL' proporcionou monstros bizarros como a eleição de Yeda, quando sabemos que Rigotto teria a vencido com facilidade no segundo turno. Por quê? Porque o eleitor contrário ao PT (não vou usar "de direita" para ninguém ficar bravo, ok?) não vota mais em um candidato, vota contra um candidato.
O resultado foi a eleição de uma candidata sem representatividade, cujo partido sequer tem estrutura para governar o Estado. A descida vertiginosa no segundo turno demonstra isso. É um espantalho a representar o anti.
É isso, exatamente, a morte da política. Orgulhamo-nos de ser o povo mais politizado do Brasil -- mais um mito gaúcho que nos impede de crescer. Somos o povo menos politizado do país. Metade da população sequer sabe o que seu candidato promete; vota contra o outro.
Que os eleitores de Rigotto transfiram seus votos para Yeda no segundo turno tudo bem. O problema é que transfiram no primeiro turno. Isso representa a morte da política: é o ódio político, e não o ideal de administração da polis, que está em jogo, em primeiro lugar.
E com o ódio, amigos, já sabemos o que dá para construir. Em 1964, o maior problema não foi a repressão do comunismo e a hegemonia dos militares, ambos radicais e antidemocráticos. Foi a mentalidade passiva da população que, ao encampar o ideal de ódio gerado pela direita radical, deu prioridade a ele em relação à manutenção dos ideais democráticos. Isso é a primazia do ódio. Vivemos 20 anos de Ditadura.
Querem isso de novo?
Trilha sonora do post: Yeah Yeah Yeahs, "Cheated hearts".