Mox in the Sky with Diamonds

domingo, outubro 29, 2006

A morte da política no RS


Yeda se elege com um gosto amargo na boca de grande parte dos gaúchos. E aqui não vou falar daqueles que votaram em Olívio Dutra desde o primeiro turno. Estou me referindo, na realidade, àquelas pessoas que gostariam de ter visto Germano Rigotto reeleito Governador.

"Vamos acabar com essa raça pelos próximos 20 anos", ou algo parecido, disse Jorge Bornhausen no Congresso Nacional, certa vez. Infelizmente, essa é mentalidade que cresce vertiginosamente no RS, ainda que até pelas próprias palavras utilizadas esteja a sinalizar um ideal totalitário (especialmente o termo "raça", que não preciso nem dizer quem gostava de usar).

O eleitor de Germano Rigotto sente um gosto amargo de vitória nesse pleito. Porque, ao término do primeiro turno, nos deparamos com um fenômeno jamais visto no RS ou em qualquer Estado do país: a transferência de votos para Yeda, apenas para tirar Olívio do segundo turno. Esse eleitor lamenta se arrepende e hoje vê uma candidata que sequer conseguiu se eleger prefeita de Porto Alegre, e se candidatou pelo menos duas vezes, e usa fórmulas vagas como "choque de gestão".

A transferência de votos de Rigotto para Yeda no primeiro turno é o cume de um processo que começou em 1998 no RS, e agora podemos chamá-lo tranqüilamente de "morte da política" no nosso Estado. Naquela época, os ânimos se acirraram e a eleição foi decidida em detalhe, com a vitória do PT. Ali surgiu, de forma clara e nítida, o antipetismo.

Na época, dois fatores contribuíram para isso: de um lado, o acirramento da oposição e a disseminação de ódio político, inclusive com apoio de parte (importante) da mídia gaúcha; de outro, uma radicalização do Governo Olívio em negociar e adoção da política de confronto, com base nos seus ideais de pureza política e democracia direta. Duplo e bilateral erro, que matou a política no nosso Estado.

Infelizmente, hoje o que existe são dois blocos de fanáticos, talvez os petistas agora menos fanáticos (com os casos de corrupção no Governo Federal e a adoção, também por lá, de um ideário de esquerda moderada) e o antipetistas mais ainda. A discussão ficou estéril. Se Olívio tivesse sido eleito, não haveria governabilidade pelos próximos quatro anos.

Com isso, estou dizendo que todos devemos votar no PT, em quem votei? Não, nada disso. Estou dizendo que a redução da política a um 'GRE-NAL' proporcionou monstros bizarros como a eleição de Yeda, quando sabemos que Rigotto teria a vencido com facilidade no segundo turno. Por quê? Porque o eleitor contrário ao PT (não vou usar "de direita" para ninguém ficar bravo, ok?) não vota mais em um candidato, vota contra um candidato.

O resultado foi a eleição de uma candidata sem representatividade, cujo partido sequer tem estrutura para governar o Estado. A descida vertiginosa no segundo turno demonstra isso. É um espantalho a representar o anti.

É isso, exatamente, a morte da política. Orgulhamo-nos de ser o povo mais politizado do Brasil -- mais um mito gaúcho que nos impede de crescer. Somos o povo menos politizado do país. Metade da população sequer sabe o que seu candidato promete; vota contra o outro.

Que os eleitores de Rigotto transfiram seus votos para Yeda no segundo turno tudo bem. O problema é que transfiram no primeiro turno. Isso representa a morte da política: é o ódio político, e não o ideal de administração da polis, que está em jogo, em primeiro lugar.

E com o ódio, amigos, já sabemos o que dá para construir. Em 1964, o maior problema não foi a repressão do comunismo e a hegemonia dos militares, ambos radicais e antidemocráticos. Foi a mentalidade passiva da população que, ao encampar o ideal de ódio gerado pela direita radical, deu prioridade a ele em relação à manutenção dos ideais democráticos. Isso é a primazia do ódio. Vivemos 20 anos de Ditadura.

Querem isso de novo?



Trilha sonora do post: Yeah Yeah Yeahs, "Cheated hearts".

sexta-feira, outubro 27, 2006

Direto do OMELETE:

Thom Yorke diz qual a sua música preferida do Radiohead
Por Luciana Maria Sanches
27/10/2006


Se o vocalista do Radiohead, Thom Yorke, tivesse que escolher apenas um momento na carreira da banda pelo qual gostaria de ser lembrado, qual seria?
Ele ficaria com a faixa 4 de Kid A, a lindíssima "How to Disappear Completely". Por quê? "Porque, na minha opinião, é a coisa mais bonita que já fizemos", disse Yorke ao programa da BBC The Culture Show.
Lançado em 2000, o quarto álbum do Radiohead, Kid A, é um dos mais subestimados da discografia da banda, talvez por ter sucedido
Ok Computer, trabalho realmente difícil de superar. Entretanto, Kid A merece uma ouvida atenta e não só por causa da preferida de Yorke, mas por ser um álbum espetacular, ainda que não tão acessível.
Em agosto deste ano, o semanário britânico New Musical Express perguntou aos leitores qual era a melhor música do Radiohead e a resposta foi "Just", do álbum The Bends, o segundo da banda.
Yorke lança o segundo single de The Eraser, seu primeiro trabalho solo, no dia 06 de novembro. A música escolhida foi "Analyse", e os lados B do single são "A Rat's Nest" e "Lluvya".
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Clique aqui para conferir uma versão sensacional da dupla Yorke/Greenwood:


radiohead - how to disappear completely (live @ mtv)

sexta-feira, outubro 20, 2006

V DE VINGANÇA
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V de Vingança é um filme terrivelmente ideológico. Ultra-politizado. Por trás das supostas banalidades hollywoodianas, ele demonstra que Adorno estava errado em generalizar sobre a indústria cultural: muitas vezes, por trás de um filme pretensamente comercial, esconde-se uma reflexão profunda sobre o nosso tempo.
V de Vingança é Foucault, Baudrillard, Orwell, Huxley, Nietzsche. É um manifesto que explicita o fascismo do que costumamos dizer "senso comum". A "voz" é um sujeito tosco, ignorante, que tece opiniões banais sobre todos os assuntos. O seu vizinho do lado. O governante promete segurança e proteção. O moralismo levado ao extremo, o discurso do pânico, o repúdio ao diferente, o cerceamento da discussão. Alguma semelhança?
É claro que o filme mira nos EUA, mas a narrativa serve para todo mundo. E os dois primeiros diálogos são absolutamente perfeitos. Filmaço, talvez o melhor do ano.
Killers
Que disquinho polêmico, esse! Não há o mínimo consenso entre a crítica se o disco é uma bosta ou muito bom. Como eu disse, esses porcalhões me fazem gostar de tudo que não gosto. "Sam's town", "When you're young", "For reasons unknown", "Read my mind" e "Bones" são balas.
Se o Álvaro Pereira Jr. reclama do naipe de metais no meio de "Bones" parece ter esquecido de fato do que são os Killers: sujeitos caricatos e extravagantes que, mesmo assim, consegue fazem um som POWER.
Revelação do Ano
Depois do Guillemots, a revelação do ano é a banda americana Silversun Pickups. Bom sinal: a banda abandona a chatice anos 80 e vai beber nos anos 90 (finalmente!), cruzando a ensurdecedora barulheira shoegazer [My Bloody Valentine, Slowdive] com o indie rock pancada americano [Smashing Pumpkins, Sonic Youth e até lembranças de Pixies e Nirvana]. Velhinho, vale a pena conferir.
Como eu sou teu amigo, coloquei um clipe dos caras aí, com a cara dos Pumpkins:
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Silversun Pickups - Well Thought Out Twinkles Video

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E, como eu sou mais amigo AINDA, coloque "Carnavas", o disco,Feito! Acabou a bunda molice!

sexta-feira, outubro 13, 2006

Passeio pelos segundos álbuns

2006 foi o ano em que as bandas do "novo rock" passaram pelo teste do segundo disco. A maioria dos estreantes que ganharam popularidade nos idos de 2002-2004 esperou até agora para lançar seu segundo álbum. Vamos dar um passeio por alguns deles.

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Yeah Yeah Yeahs, "Show your bones"
--- Ninguém me convenceu desse disco, e olha que 1) um monte de gente elogiou; 2) eu gostava do primeiro. Karen O deixou de lado seu art-punk troglodita e investiu em canções mais melódicas, com ecos que passam de Breeders até as trilhas do Morriconi, como brincaram em uma comunidade do Orkut [Gordurama].
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Keane, "Under the iron sea" --- Cruz credo. Disco terrível esse. O Keane deixou de lado os bundas-moles do Travis, mas não deixou de ser mela-cueca. Agora a banda investe em um proto-U2 que dá nos nervos. Letras pífias e melodias pobres. Vai ser bundão assim na pqp.
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Kasabian, "Empire" --- Outro fracasso. A banda continua com sua influência madchesteriana, tipo Happy Mondays e Stone Roses, mas as canções não convencem, são previsíveis e entediantes. Leia-se: chatas.
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Secret Machines, "Ten Silver Drops" --- Estupendo segundo álbum de uma banda, infelizmente, pouco valorizada. A combinação do rock progressivo, dream pop e doses de psicodelia continua, e temos belíssimas canções como "Alone, Jealous and Stoned" e "1000...". Entretanto, ganhamos o acréscimo de riffs para entoar rock de arena, especialmente em "Lightning blue eyes" ou "All at once (it's not important)".
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The Stills, "Without feathers" --- Sinceramente, não entendi esse disco. A banda deu um giro de 180 graus, virando de cabeça pra baixo. Cadê os riffs, a melancolia? Fico com "Logic will break your heart", certo.
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Jet, "Shine on" --- O Jet assumiu de vez que seu cérebro se dissolveu na cocaína. A banda não consegue compor mais nada que não seja "yeah", "cool", "rock'n'roll", "oh, yeah". Tem uns vernizes de Beatles e Oasis e aquelas baladinhas a la "Look what you've done", mas bem que eles podiam ter continuado com sua agradável combinação Strokes + AC/DC e já era bastante.
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The Killers, "Sam's town" --- O álbum tinha descido mal na primeira ouvida, mas vai crescendo bastante. O fato do Killers é que eles conseguem me fazrer gostar de tudo que odeio: synth-pop, Queen, Bruce Springsteen. É que eles requentam isso num caldeirão de POWER pop, e por esse power entenda tudo aquilo que veio depois do Nirvana. É esse pequeno detalhe que me faz gostar do som deles, por não ser tão bundão quanto os oitentistas. Ouçam "When you're young" e "For reasons unknown" e entendam.
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The Rapture, "Pieces of the people we love" --- "Echoes" foi o melhor álbum para dançar dos anos 2000. Mas tinha também um toque garageiro infernal, de uma tosquice que fez combinarem os termos dance + punk. Em "Pieces", ficou apenas a primeira parte. A banda investiu no seu lado funk e fez um belo álbum para pistas. E nada mais.

Sintetizando: Os melhores segundos discos continuam sendo "Room on Fire", dos Strokes, e "You could have it so much better", do Franz Ferdinand, sem incluir o Secret Machines nessa leva, já que o tipo de som é totalmente distinto.

Outras bandas, como Razorlight e The Zutons, também mandaram seus segundos, mas esses eu não me pilhei de ouvir, já que sequer gostei dos primeiros.

quinta-feira, outubro 12, 2006

Quinta, 12 de outubro de 2006, 15h09
Alckmin venceu nas áreas com maior desenvolvimento humano; Lula, nas de menor


Nos 104 municípios do país com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o candidato à reeleição para a Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT-PCdoB-PRB), recebeu o voto de praticamente três em cada quatro eleitores no primeiro turno da eleição presidencial. Lula teve 71,28%, contra 24,35% de Geraldo Alckmin (PSDB-PFL). O total de eleitores nesses municípios é de 785,2 mil 377,5 mil votaram em Lula e 128,9 mil, em Alckmin. O candidato tucano, por sua vez, obteve mais votos nos 104 municípios com maior IDH: 48,26%, contra 36,89% de Lula. O número de eleitores nesse universo é bem maior que nos municípios com IDH menor: 26,9 milhões, dos quais 10,2 milhões votaram em Alckmin, e 7,8 milhões, em Lula. O Índice de Desenvolvimento Humano é composto, em partes iguais, de indicadores que acusam o bem-estar da população em três dimensões: expectativa de vida, nível educacional e renda per capita. Os últimos dados disponíveis sobre IDH municipal no país são do Atlas de Desenvolvimento Humano 2002, estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). Dos 15 municípios com maior IDH no país, todos menos Fernando de Noronha (PE) ficam nas regiões Sul e Sudeste a lista é liderada por São Caetano do Sul (SP), com 0,919, numa escala de 0 a 1. Nos 16 com menor desenvolvimento humano, o primeiro da lista é Manari (PE), com 0,467. Todos, excetuando-se Jordão (AC), ficam no Nordeste. Quem tiver curiosidade de comparar estas informações com a distribuição geográfica dos votos do primeiro turno, estado por estado, pode acessar o mapa elaborado pela Radiobrás. Ele mostra que o Acre, onde fica Jordão, é um dos dois únicos estados de todo o Norte e Nordeste onde Alckmin teve mais votos o outro é Roraima. Para elaborar esse levantamento, a Radiobrás usou como referência a obra Atlas da Exclusão Social, do economista Márcio Pochmann. A obra usa como base o Censo de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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A maioria do eleitorado esclarecido recebe essa notícia da seguinte forma: os ignorantes votam em Lula porque são burros, não estão esclarecidos o suficiente. Confundem, basicamente, política com filosofia. Triste legado da Modernidade, controlar a política pela filosofia ou pela ciência. Política não é filosofia. Política é um jogo de interesses, sem que a palavra "interesse" tenha sentido negativo. Interesse, no sentido neutro -- abrange legítimos e ilegítimos. Cada um vota segundo seu interesse. Os ricos votam no seu interesse e os pobres, no seu.

Portanto, para mim, a solução é bastante óbvia: estou com os pobres, faça-se justiça.



Trilha sonora do post: Destroyer, "Your blood" (ouvi ótimos elogios, mas até agora o som é normal e a produção péssima, péssima).

segunda-feira, outubro 09, 2006

Mistérios a serem decifrados

Decidi voltar a ser pária. Em pouco tempo, voltarei à marginalidade. Conquistarei novamente a liberdade da autonomia, do dizer independente.

Em breve, terei meu tempo de volta. Um tempo que faz surgir o pensamento meditativo, aquele que não se identifica com a nossa razão calculadora.

Pretendo abandonar o Texas. Não agüento mais nossos conservadores. Brancos, de armas em punho, conservadores, católicos e de bem.

Viciei em guitarras, de novo. O shoegaze virou alimento diário: Slowdive, My Bloody Valentine, Jesus and Mary Chain, Ambulance ltd, Secret Machines, Silversun Pickups.

Não tenho muito mais coisas para dizer, a não ser que vivo em intensa tristeza e decepção, porém com data de final marcados. Estou agüentando como posso.


Trilha sonora do post: Death Cab for Cutie, "Brothers on a hotel bed".

quinta-feira, outubro 05, 2006

How I wish to be Matt Dillon