Mox in the Sky with Diamonds

quarta-feira, janeiro 28, 2009

LIMITED INC.




APROVEITEI AS FÉRIAS para ler alguns autores dos quais o compromisso profissional e as soluções imediatas me afastaram um pouquinho. Um deles é Jacques Derrida, de quem sou admirador confesso. Peguei "Limited Inc." para verificar a intensidade da surra dada no maior pitbull da filosofia analítica, John Searle. "Surra?". Não poderia ser diferente, considerando a fragilidade e, sobretudo, a absoluta previsibilidade de todos os ataques que Derrida sofreria da pena de Searle.
A impressão que se tem desde a leitura do livro é de que há mesmo um abismo de paradigmas entre as duas filosofias. Mas, mais que isso, há também uma incrível arrogância acompanhada de boba ingenuidade em Searle. Como ele pode acreditar seriamente que Derrida não pensou em todas as obviedades que ele contrapõe? É isso que chama atenção.
É verdade que a resposta - o próprio Derrida admite - é demasiado violenta. Derrida poderia ter sido mais "cortês" e, "gentilmente", desconstruído pedaço por pedaço do castelo analítico de Searle. Enfim, um pouco de vaidade por ali também. É lastimável a dificuldade das pessoas de separar divergências intelectuais da vaidade pessoal. A academia acaba transformando-se num local de repetições e "partidos", sem que se discuta efetivamente as questões. O debate exige o reconhecimento e a abertura à alteridade.
Duas partes me chamaram muito atenção:

"posto que o desconstrutivista (isto é, não é, o cético-relativista-niilista!) é tido como não-crente na verdade, na estabilidade ou na unidade do sentido, na intenção e no querer-dizer, como pode nos pedir para lê-lo, a ele, com pertinência, justeza, rigor? (...) A resposta é muito simples: essa definição do desconstrutivista é falsa (digo bem, falsa: não-verdadeira) e fraca: supõe uma leitura (digo bem, má: não-boa) e uma leitura fraca de numerosos textos e também dos meus, que é preciso ler, se se quer falar deles. Compreender-se-á, aí, que o valor de verdade (com todos os que lhe são associados) nunca é contestado ou destruído, só reinscrito em contextos mais potentes, mais amplos, mais estratificados". (Negrito meu).

Obrigado Derrida. Obrigado por confirmar o que eu afirmei aqui várias vezes [exemplo: aqui]. Entendeu burro? [Burro que afirma que Derrida "não acredita na verdade" com tom de crítica ou elogio]. [Exemplo da má-fé].

"porque Searle ignora essa tradição [da metafísica ocidental] ou pretende não levá-la absolutamente em conta, que permanence cegamente prisioneiro dela, repete seus gestos mais problemáticos, mantém-se aquém das questões críticas, para não dizer desconstrutoras, mais elementares". [Negrito e interpolação por
mim].
É isso que chama atenção nessa corrente arrogante analítica, que tem nomes como Searle e Nagel [e, por extensão, por exemplo, Sokal e Bricmont]. Seu cartesianismo simplório ignora Nietzsche, Husserl, Heidegger, Adorno, etc. [até Kant, talvez]. É como se tudo se passasse num duelo intra-cartesiano entre os "filósofos" e os "sofistas". A maior prova da arrogância é que virou moda se criticar sem ler [logo eles, os tão "rigorosos"].
Como será que eles resolvem essa "contradição performativa"?

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