Mox in the Sky with Diamonds

quarta-feira, setembro 10, 2008

FAZENDO UM BREVE EXERCÍCIO DE OBSERVATÓRIO

Alguns cronistas da Folha destacam-se pelo absoluto vazio de idéias e análise superficial do meio político. É como se fosse a revista Caras adaptada ao noticiário político.
Esse artigo é irônico porque trata do "fim do neoliberalismo". É claro que eu sei que nunca existiu neoliberalismo no Brasil, simplesmente porque não pode existir "neo" onde não houve liberalismo. Houve, isso sim, a desistência de um projeto de Welfare State (determinado pela Constituição) que, por seu anacronismo, acabou nunca implementado, provocando um discurso de defesa do "mercado" de fachada.
Bueno, vamos ao artigo:
09/09/2008
Bush faz a festa do PT
Acredite. O presidente dos Estados Unidos, George Bush, provocou um clima de festa entre os petistas reunidos ontem para comemorar o aniversário de 200 anos do Ministério da Fazenda. Ministros, assessores e economistas ligados ao PT não se continham de felicidade ao comentar a decisão do norte-americano de soltar um megapacote de ajuda financeira de US$ 200 bilhões a duas instituições falidas do setor imobiliário. "Colocaram o último prego no caixão do neoliberalismo", era o que mais se ouvia nas rodinhas de conversas antes, durante e depois do evento realizado aqui em Brasília.
Dilma Rousseff, ministra da Casa Civil e a candidata presidencial do presidente Lula, fazia questão de dizer que os Estados Unidos nunca praticaram o neoliberalismo puro. Não só eles, mas também a Europa e Japão, afirmava ela, acrescentando que sempre recomendaram que os países em desenvolvimento seguissem essa receita econômica. Mais ou menos na linha façam o que digo, não façam o que faço. Ou, nas palavras literais da ministra, que defendeu a medida do governo norte-americano: "Essa história de neoliberalismo só vale para nós. Nunca houve neoliberalismo no mundo capitalista desenvolvido". A satisfação era tanta que havia petista fazendo uso de algo que sempre criticaram no passado para alfinetar os Estados Unidos. Foi o caso da economista Maria da Conceição Tavares. "Enterraram o neoliberalismo de uma maneira trágica.
Custou uma fortuna. O nosso Proer foi mais baratinho", ironizou, recordando o programa lançado no governo Fernando Henrique Cardoso para socorrer bancos falidos. Programa semelhante ao lançado pelos Estados Unidos agora e tão bombardeado pelo PT naquela época no Brasil.
Engraçado foi ouvir de petistas não só ironias, mas também elogios ao governo norte-americano. Na verdade, elogios irônicos. "É o pragmatismo responsável", destacou o ministro Guido Mantega (Fazenda), quando foi questionado sobre o socorro às duas gigantes do mercado imobiliário norte-americano. "Desmistifica a idéia de que mercados livres sempre levam ao melhor resultado", acrescentou o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa.
Nas rodinhas do evento, apesar dos comentários irônicos, todos defendiam a medida sob a justificativa de que seria um desastre para o mundo se as duas gigantes Fannie Mae e Freddie Mac quebrassem. É isso aí. Nada como um dia depois do outro. Ou melhor, nada como chegar ao poder depois de ter sido oposição. O que ontem era criticado aqui, hoje é elogiado ali. Não sem boas alfinetadas.

Valdo Cruz, 46, é repórter especial da Folha. Foi diretor-executivo da Sucursal de Brasília durante os dois mandatos de FHC e no primeiro de Lula. Ocupou a secretaria de redação da sucursal e atuou como repórter de economia. Escreve às terças.
Vejam: não estão lendo errado. O artigo consegue dar uma reviravolta para dizer que "O PT DEFENDE BUSH", que "o tempo muda o PT" e daí por diante. Sim, é a coisa mais burra já vista (sem contar manifestações de pittbulls de revistas neocons) na história, pois OS PRÓPRIOS FATOS narrados no artigo indicam que "Bush aderiu ao PT", e não o oposto (ou seja: os republicanos desistiram de deixar o mercado por si só (neolib) e resolveram dar de keynesianos).
É assim que funciona uma estratégia quase goebbelsiana de inverter os fatos na cara do leitor. Uma vergonha.

Marcadores: , ,