O ANTI-MACUNAÍMA
Lendo uma brilhante tese de doutorado sobre nosso mestre Emmanuel Levinas, filósofo franco-lituano, em que o autor tece comparações de alguns aportes fenomenológicos de Levinas com passagens da literatura brasileira -- em um deles mencionando Macunaíma, de Mário de Andrade -- me ocorreu uma lembrança nada a ver com a tese.
Não encontrei o link, mas durante o Vestibular da UFRGS li uma reportagem sobre a redação na qual se elogiava o novo modelo adotado, da comparação de um personagem da literatura com o "brasileiro". Ali, a maioria falou de Macunaíma, de Mário de Andrade. Um dos jovens disse que "gostou muito" e que tinha facilidade para escrever "textos críticos ou negativos".
O que tinha para comentar é essa mentalidade pseudo-crítica que começa a se tornar monstruosamente dominante. Esse guri -- que daqui a pouco deve estar comprando a passagem para a Austrália -- tende a achar que o brasileiro é Macunaíma, que não presta, é desonesto, preguiçoso, etc.
Se bem que a população brasileira tenha dificuldade efetivamente com a lei formal, é uma forma de estigmatização que a elite estilo Cansei cada vez mais impõe, especialmente pela Internet por meio de e-mails "indignados", a maioria deles "assinados" pelo Arnaldo Jabor [vai saber por que quase sempre ele...], à chamada "ralé estrutural" do país.
Nem parece que existem dois tipos de brasileiros: os que vivem na Casa-Grande e os que vivem na Senzala. Certamente o gurizão deve se achar mais australiano que brasileiro.
Me preocupa como vão se formar essas mentalidades "pós-Internet" que vão ter a sua formação recebendo esse tipo de e-mail "indignado", que nada mais é que máscara do conservadorismo.
Trilha sonora do post: Sigur Rós, "Svo Hljótt".
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