Mox in the Sky with Diamonds

sexta-feira, agosto 21, 2009

A MÍDIA NÃO É ESFERA PÚBLICA

MANCHETES E MANCHETES sobre José Sarney e Dilma Roussef (bem menos sobre Yeda Crusius). A mídia, defensora da "moralidade" e da "ética", ridiculariza os políticos, chamando-os de cafajestes e reclamando do apoio do PT a políticos corruptos. Já escrevi e reitero, no entanto, que todo movimento em cima de Sarney é estritamente político e revela perda parcial da cobertura, em face da ofensiva em favor de Serra que começa (para a próxima eleição presidencial) e do protagonismo do fisiológico PMDB. Os atos que Sarney praticou e hoje escandalizam não começaram ontem, mas a campanha sim. Para contribuir e fechar a cena ridícula, os defensores da moral, Arthur Virgílio e Pedro Simon, encontram-se em maus lençóis. O primeiro teve a coragem de declarar que seu ato de mandar um assessor estudar teatro na França não era nepotismo (?); o segundo, enquanto vocifera contra Sarney, é o principal eixo político de Yeda e sua organização criminosa, segundo o MPF, aqui no RS (Simon, se quiser ser paladino da moral, pelo menos SEJA).
Esse festival bizantino é agora complementado pelo factóide da reunião entre Dilma e Lina, funcionária da Receita. Desde o início, vi que a polêmica era ridícula, desproporcional e visivelmente eleitoreira. Dilma mandou "apressar" o processo contra o filho de Sarney, e disso foi deduzido que a função era "engavetar" (aliás, o brilhante FHC, grande defensor das instituições no Brasil, é que havia nomeado um engavetador na PGR -- sobre o quê, claro, nada se comenta...). Mais tarde, a assessora, chamada a depor, revelou que sim, falou com Dilma, mas foi pedido apenas celeridade. Morreu o factóide, mas agora fica a polêmica se Dilma é "mentirosa". Ei, isso é irrelevante no momento! O fato não existiu e, mentindo ou não, Dilma não fez nada de errado. Portanto, há coisas melhores para se discutir.
E, no entanto, segue a pauta única. Reitero: o problema da corrupção não é casuístico, não é mau-caratismo apenas. É mais fundo. O problema é a privatização da esfera pública, o fato de que o Brasil, como seus vizinhos da América Latina, é ainda governado por oligarquias, das quais a Sarney é apenas uma mais arcaica e menos fashion. E, se o problema é esse, é preciso dizer: a mídia não constitui uma esfera pública. A mídia não é o lugar adequado para discutir corrupção porque ela própria faz parte do jogo. Assim como as oligarquias que dominam o Congresso Nacional, há tempos a mídia é dominada por oligarquias e faz interesses privados pautarem a discussão pública. Os donos das redes midiáticas têm interesse na eleição de José Serra e farão de tudo para conseguir elegê-lo. Por isso, toda discussão moral é sempre seletiva. Por isso também jamais se discute o fundo do problema. E por isso ainda a discussão fica em torno de bodes expiatórios.
Reitero mais uma vez: tenho asco de Sarney e o PMDB. Mas não caio no moralismo da mídia. A estratégia é simplesmente udenismo: denunciar, denunciar e denunciar até conseguir atingir mortalmente Lula e Dilma, para eleger José Serra. Simples e rasteiro. Um olhar quantitativo e qualitativo sobre as tendências editoriais, o destaque das matérias, os títulos e abordagens torna nítido, transparente, óbvio que há dois pesos e duas medidas. A mídia não é esfera pública porque ela própria faz parte do engodo que coloca o privado no lugar do público, fazendo de grande parte da população massa de manobra de uma jogada política esperta.
Nem sei se tão esperta assim. O povo não é mais tão bobo. E Lula investe na economia como principal plataforma, que é algo quase invencível. O Brasil não parou na crise. O desemprego continua caindo. Bolsa-família e salário-mínimo, dois benefícios distributivos que são palpáveis para o pobre (ao contrário da boa gestão -- hihihihi -- tucana), continuam subindo e dando esperança. Isso o udenismo não atinge. Quando Danuza Leão vira bandeira da direita, é porque a coisa está feia.
Independente da tática falha, fato é que hoje a Internet se aproxima mais -- no seu anarquismo explícito -- do que seria uma esfera pública. Na Internet, é possível buscar opiniões duelando, informações variadas e não o funil seletivo e ideológico que impregna a grande -- e quase finada -- mídia. Enquanto Globo e Record duelam na lama, o futuro se avista e o fim do poder televiso dessas oligarquias se aproxima. Aproveitemos, enquanto o estado de exceção não se apresenta por aqui.

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