Mox in the Sky with Diamonds

sábado, julho 18, 2009

UM MODELO QUE CAMINHA PARA O COLAPSO

Minha namorada me deu uma carona até minha casa hoje. Ela mora no Bom Fim, e precisamos só andar um pouco pela Protásio Alves para alcançar o destino. Mas fomos surpreendidos por alguns minutos (bem poucos) de espera porque se realizava uma obra em uma pista, causando congestionamento. "É impressionante como qualquer coisa gera engarrafamento", me diz ela. E justamente sobre isso que venho pensando há tempos.
Gilles Deleuze e Félix Guattari escreveram seus "Mil Platôs" com o subtítulo "Capitalismo e Esquizofrenia". Acho interessante a associação entre nosso sistema econômico pretensamente racional e o comprometimento psíquico. Porque, de fato, é evidente, a olho nu, que o mundo que vivemos é insustentável. É evidente que caminhamos para o colapso. O trânsito é só o maior sintoma.
O Governo Federal estimula a indústria automobilística retirando impostos, fazendo com que mais pessoas comprem carros. Diminui os juros para facilitar o crédito. E aí? Temos ruas para todos esses carros andarem? Temos atmosfera para aguentar a emissão de gás carbônico? Temos paciência para aguentar quilômetros de engarrafamentos? Temos hospitais para acolher todas as vítimas de acidentes? Se o princípio dessa fase do capitalismo é o consumo, e não mais a produção, parece que caminhamos lentamente para o colapso do sistema. E isso não é problema de um governo, mas de uma racionalidade que esse governo compactua (já sinalei várias vezes por aqui que a política ambiental do governo, por exemplo, é ridícula).
Em uma passagem pouco notada pelos seus leitores, Ricardo Timm de Souza já mostrava como essa razão totalitária era insustentável, trazendo o único fato bruto da escassez de água que se avizinha no futuro (ler em "Totalidade e Desagregação"). Como podemos continuar caminhando com um modelo político-econômico que, a longo prazo, não nos conduz para outro lugar senão para a nossa destruição? As receitas dos economistas são receitas totalmente irracionais, apesar das suas belas estatísticas e termos técnicos. Como frear isso? Agamben, num parágrafo recentemente lido por mim e Juriká no nosso grupo de estudos, já anotava que a religião capitalista, por não prever esperança ou redenção, mas a culpa, vê como único caminho desesperado a destruição do mundo.
Não sei se um dia o homem será capaz de criar um sistema econômico racional. O capitalismo não foi criado por uma mente, como certa vez anotou o irritante conservador Ferreira Gullar, mas simplesmente surgiu dos fatos. Essa seria sua diferença em relação ao socialismo. Porém eu creio que -- além das belas idéias -- os fatos começam a caminhar no sentido da desagregração dessa totalidade. O processo de abstração cada vez maior do capital vai levar à sua destruição (faz anos que tenho essa intuição). De tão virtual, poderá ser eliminado com um clique. A destruição da propriedade poderá ser realizada sem traumas porque essa propriedade terá se desconectado do mundo em um nível que nenhum suporte físico mais a lastreará. E nós vivemos - não custa lembrar - no mundo real, no mundo bruto, é esse que sustenta o virtual. A própria internet, de outro lado, já é um pouco realização de um novo modo de trocas, gratuito e comum, como ocorre em quantidade cada vez maior com músicas, filmes, livros e assim por diante. Na internet nós experimentamos o dom e o comum, para desespero da indústria dos direitos autorais. A demonização da pirataria é uma estratégia fadada ao fracasso. Em pouco tempos, os piratas serão agentes de uma revolução surpreendente nas formas de troca e mesmo de sociabilidade. O estigma pirata se transformará em emblema. E outras formas de comunicação, não sujeitas ao controle do capital sobre a mídia, se alastrarão em tendência vertiginosa, sem qualquer possibilidade de que a informação possa ser controlada, como hoje precariamente é. Nesse momento, haverá uma luta decisiva em torno do estado de exceção na internet, pois o controle irá reivindicar uma série de restrições e retormar o funcionamento centralizado do sistema. Esse será o instante da revolução. Nós seremos os vírus.

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