Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, maio 11, 2009

MARCHA DA MACONHA NOVAMENTE

O QUE TENHO LIDO na blogosfera acerca da Marcha da Maconha é incompreensível. "Vão fumar maconha". Como tu sabes? Se fumarem, aí se faz algo. Como antecipar isso? "São os boyzinhos desorganizados." E daí, não podem se manifestar se forem? E são? Tu os conhece, por acaso? "A maconha é porta de entrada de outras drogas". Tanto quanto a cerveja, o cigarro ou o Lou Reed. Se existem estatísticas nesse aspecto, certamente não levam em consideração a totalidade das pessoas que já acenderam um baseado na vida. "Maconheiro tem que ficar quieto." Preconceituoso. "Que desrespeito com quem tem viciado na família, com as mães...". Quem disse que a Marcha está indiferente a isso? A proibição evitou que o filho ficasse viciado? "Só no Congresso ou na Universidade, não na praia de Ipanema." ONDE está escrito esse raio na Constituição? Por que não é possível que cidadãos, donos do poder soberano (como diz a Constituição) possam se reunir e manifestar sua inconformidade contra a proibição de consumo de uma substância? "Isso é para aliviar a má consciência". Má consciência nada. O responsável pela política de drogas não é o usuário, mas o Estado. Os caras da Marcha estão justamente dizendo: "olha, eu vou consumir, me dê a opção de comprar licitamente para não alimentar essa violência toda aí". "Ah, mas legalizar tudo não dá." Mas quem está falando em legalizar tudo? O nome não é "Marcha da Maconha"? Os caras estão defendendo a legalização do crack? Onde? "É apologia." Que apologia? Alguém está dizendo, "consuma maconha para seu bem, você será outra pessoa", mais ou menos como os mesmos conservadores-fanáticos fazem com a Bíblia e nosso Estado "laico" agüenta? A propósito, a meu ver esse crime de apologia é nitidamente inconstitucional (ofensa direta e desproporcional à liberdade de expressão).
Moral da história: é tudo hipocrisia, consciente ou inconsciente, para manter tudo como está. O discurso sobre as drogas é a principal plataforma dos conservadores há longa data, pelo menos desde a década de 80. Se os EUA chegaram ao fundo do poço de eleger um arbusto, uma das principais razões é essa guerra burra contra as drogas. E hoje vemos a história se repetindo como farsa aqui no Texas brasileiro.
O usuário de maconha não é responsável pela violência no Brasil, pelo menos não mais do que o dono da uma Pajero que só bebe coca-cola. Se não fosse drogas, seria outro negócio. O problema de violência no Brasil não começou hoje e é estrutural, formado a partir de uma "ralé" que está abaixo da linha da cidadania e, captura fora pelo estado de exceção, reage mediante a violência que vivenciamos. O traficante compartilha os mesmos sonhos de poder e consumo do jovem de classe média, só que não tem opção de assumir o empresa do papi e tocar a vida. Ah, nem todos fazem isso. Claro, há uma parcela dos "adestrados" que aceitam passivamente a humilhação cotidiana e outra parcela, muito menor, que é de "heróis" capazes de transpor as barreiras sociais. Mas quantos de nós podem se chamar de herói?
Essa dinâmica perversa da nossa sociedade perversa é que produz o calderão de violência que vivemos. O luxo de uma elite sem-vergonha contrasta com a extrema miséria que perpetua o homo sacer (o traficante) e o musselmann (o usuário de crack, p.ex.). Se não lidarmos seriamente com a questão, vamos continuar com a história da carochinha dos papagaios moralistas.

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