PINCELADAS FILOSÓFICAS LIVRES
Nascemos dos triângulos, coincidências que naturalizamos, gestos que se convertem em linguagem, até enrijecerem-se no sistema.
O sistema é a Totalidade, o que sufoca a alteridade (que nada mais é que nós mesmos -- não existe "conceito" de alteridade).
O comum é o espaço que transita entre a alteridade e o sistema, e nos permite compartilhar o sentido.
Sem linguagem, seríamos apenas aquilo que arrogantemente descrevemos como homo sapiens sapiens. Mas, com a linguagem, nasceu a culpa.
O que compartilhamos entre nós (e não é violência) é o místico, o divino, é Deus -- sua verdade não é demonstração, mas emunah, fé, crença.
A universalidade da crença no divino não é a prova da existência do sobrenatural, mas do comum -- desse espaço compartilhado da linguagem que abre o mundo.
Nosso impulso original é transformar o divino em sagrado; com isso, elegemos o bode expiatório (homo sacer) sobre o qual recai toda nossa violência originária. Quando o sagrado toma tudo, é sistema total -- torna-se inumano, o mal.
O desafio "civilizatório" não é o retorno nostálgico, mas a desativação do sagrado (do sistema). Profanar não é restituir o sagrado a um sentido original mais pleno, mas estabelecer um novo uso a partir dele.
A felicidade humana não vem de um antes ("Paraíso Perdido"), mas num depois onde o humano possa a viver no divino sem sacralizá-lo.
A Modernidade foi herética e secular, jamais profanatória.
Pensar a "pós-"Modernidade é pensar a humanidade sem culpa, vivendo no divino (na linguagem pura), interrompendo a violência que põe e institui o Direito pelo fio da violência divina.
O nexo que corta a violência jurídica e instaura o estado de exceção real é precisamente a política -- local dos gestos, dos meios puros.
Quando desativado o sistema, nos restará a vida.