"COM BASE NA EMOÇÃO"
CELSO ROTH afirma que o Grêmio o demitiu "com base na emoção", apenas porque perdeu 4 grenais, quando o planejamento para a Libertadores estava correto.
Nos últimos 20 anos, parece que o positivismo invadiu também o futebol. Ninguém mais quer falar de "emoção"; tudo deve ser racional, mecânico (palavra preferida de Roth), planejado, "científico".
Por óbvio nada tenho contra o estudo do futebol, como aliás nada tenho contra a ciência. O problema é reduzir uma coisa à outra. O lado "emocional" ou "místico" do futebol permanece, apesar de todas as robotizações que alguns técnicos tendem a imprimir. Talvez essa recusa da "emocionalidade" de Roth seja justamente seu maior erro: suas entrevistas eram sempre brutalmente frias, indiferentes, perfeitamente racionais. Mas o futebol não é. Ele depende de uma série de coisas que não são nem um pouco racionais, dentre elas (e vejam aqui o erro do Roth) a relação com a torcida. Ou alguém tem dúvida que a paixão pelo clube não tem nada a ver com a razão?
Os administradores do clube devem ser predominantemente racionais; como, aliás, acho que todos deveriam ser. No entanto, há momentos em que o "emocional" corta a razão e se impõe de forma avassaladora, sem que possamos fazer nada a não ser negociar com ele. São justamente os momentos da paixão, como quando nos apaixonamos por alguém, mesmo que a nossa razão nos diga que não é a pessoa certa. Nesse momento, o máximo que podemos fazer é negociar com a paixão. O mesmo se dá no futebol: o racional deve imperar, mas há momentos em que a "mística" é essencial. O racionalismo frio de Roth talvez o tenha impedido de ver isso (e possivelmente de enxergar a si próprio, Roth-emocional-depressivo).
Futebol não é só razão. A tática, organização da equipe, é fundamental. Sem ela, só equipes geniais vencem. Mas só ela também não basta. É preciso o gesto da equipe, a plasticidade, aquilo que escapa da mecânica básica de jogo. Esse lado místico está presente em qualquer relação humana e faz parte tanto quanto o racional. Não dá para o ignorar (sem errar).
O gesto não é apenas a plasticidade do drible. Na cultura brasileira, geralmente é. Na tradição gremista, o gesto pode ser a raça, a dedicação, até a violência em campo. Mas é preciso o gesto para acender a mística, numa celebração festiva de sublimação ou catarse como é o futebol. Não é à-toa que Felipão gesticula tanto à beira do gramado, apesar de sabermos que os jogadores não compreendem grande parte do que ele quer dizer. Quem ignora esses aspectos não é racional, é racionalista, e por isso mesmo comete erros básicos de compreensão da esfera humana da qual o futebol faz parte.