Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, março 02, 2009

TABU E TABU INVERTIDO

A FILOSOFIA MUITAS vezes usa expressões estranhas, como a de "teologia negativa". Quer dizer: quando ao negar Deus (ou simplesmente um fundamento absoluto), se está afirmando um outro ("negativo"). Essa idéia do sinal invertido que simplesmente repete o outro ao contrário pode ser expressa, por exemplo, na esquerda punitiva, que repete a direita invertendo o sinal (quando li, n'O Globo, a entrevista de Fausto De Sanctis sobre o processo penal, enxerguei ali um torquemada de esquerda). Na política idem. E etc. Derrida nos ensinou que o importante não é apenas mostrar o lado marginalizado das oposições (bom/mau, feio/bonito, civilizado/bárbaro, etc.), mas descobrir uma espécie de "voz média" que, a rigor, desarticula toda oposição.
Bem, talvez seja - e é - louco o salto que vou dar, mas, vá lá: o Milan ameaça demitir Ancelotti. E, apesar de ser geralmente contrário à demissão de treinador, acho que faz bem. Ancelotti parece ter perdido o rumo e cada vez mais se mostra um técnico desorientado, perdido na escalação e dependente de jogadas individuais dos seus craques. [Aliás, eu já teria feito isso há mais tempo; não tenho antipatia por Ancelotti, mas também não o acho grande técnico.]
Qual é o "tabu invertido"? O senso comum aponta que é sempre o técnico que deve cair; a dissidência, que não. Nem um nem outro [dois lados da mesma moeda]. Os técnicos que duram longos anos se desgastam SIM com a equipe e perdem o controle do vestiário. E o que fazem, então? Simples: montam outro time. Vejam Alex Ferguson e Arsene Wenger, dois dos técnicos mais longínquos do futebol. Cansam de desfazer toda equipe e montar outra. Ferguson chegou a mandar embora Verón, Beckham, Nistelrooy e Keane -- todos praticamente a preço de banana, só para refazer a equipe.
Quer dizer: o desgaste ocorre com jogadores e técnicos juntos muito tempo, queira-se ou não. Chega uma hora em que o clube tem que escolher. Geralmente, é o técnico que cai [mais barato, afinal]. Para alguns especiais, é toda equipe.
Com o plantel atual, creio que renderia mais ao Milan trocar o técnico e substituir alguns jogadores em idade avançada demais para equipes de ponta. Feito isso, o time está pronto para levantar novos troféus.
[O mesmo jogo de oposição/situação se aplica à discussão retranqueiros X ofensivistas, que abordei há algum tempo por aqui.]

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