PRAZER DO DESCONFORTO
MEU PRINCIPAL PRAZER na docência tem sido criar desconforto nos alunos. As categorias criminais são, sem dúvida, as mais rígidas no cenário contemporâneo. Criminoso é o "outro", bem distinto de mim, com sua personalidade distinta e sua etiologia.
O meu principal objetivo é, em primeiro lugar, desconstruir a idéia de "criminoso", uma vez que a maioria das pessoas comete vários crimes ao longo da vida; segundo, mostrar que a demonização do criminoso é uma espécie de projeção que o transforma em bode expiatório; terceiro, mostrar que o projeto moderno convive com dificuldade com a diferença, precisando etiquetar ou exterminar a ambivalência; quarto, mostrar como se forma nosso "lixo" social e jogá-lo na cara das pessoas, com seu odor desagradável e toda alteridade que comporta, mostrando nossa intimidade com os carrascos medíocres do nazismo.
Preciso jogar isso na cara das pessoas. Não hesito um instante em fazê-lo. Devo ser indigesto. Não importa. A realidade é isso aí mesmo. Para além de alienadas utopias liberais ou constitucionais, existe a violência inerente à civilização - essa que queremos ignorar. Minha tarefa, hoje em dia, reside exclusivamente em lançar essa violência na cara de todos.