Mox in the Sky with Diamonds

terça-feira, agosto 05, 2008

ANTI-SEMITISMO DE ESQUERDA

Pedro Dória escreve sobre o "novo" anti-semitismo, desta vez de esquerda e ligado à questão de Israel. Realmente, tenho notado que a horrenda política externa israelense tem gerado as mesmas reações que gera a igualmente horrenda política externa norte-americana: racismo. A quantidade de esquerdistas anti-americanos é caricata e patética: eles projetam os norte-americanos como bodes expiatórios da maldade humana, como se apenas os EUA fossem capazes de ser imperialistas e estúpidos. Essa corrente, que tem seus intelectuais de luxo com Noam Chomski no trono supremo, agora se projeta para Israel. O auge do ridículo chegou com o filme Fahrenheit 9/11, do também ídolo Michael Moore, quando o Iraque é retratado como um belo parque de diversões antes da chegada das tropas de George W. Bush.
O anti-americanismo é patético por ser auto-contraditório e xenófobo: a mesma generalização que ele censura (Bush considera todos os muçulmanos potenciais Bin Ladens) é repetida (todos os norte-americanos são imperialistas e estúpidos). É tão racista e xenófobo quanto o que ele critica. Os EUA fizeram a Guerra do Vietnã, do Iraque, são matriz de corporações corruptas e de um complexo industrial-militar -- é verdade. Mas também são o berço de fortes lutas pelos direitos civis, dos movimentos feministas, negros e homossexuais, souberam zelar pela sua democracia e cultivam a tradição liberal com maior tolerância que muitos outros países. De outro lado, quem enxerga nos norte-americanos egoísmo instititucionalizado deveria virar a esquina e olhar para o Brasil: nossa tradição congrega um capitalismo selvagem sem o igualitarismo liberal, combinando a cartorialismo e hierarquização com competição e cinismo. Basta ver a posição dos brasileiros em relação aos recentes perdões de dívida concedidos por Lula à Bolívia e alguns países africanos para se sentir bastante próximo aos habitantes da terra do Tio Sam.
Agora esses mesmos esquerdistas cegos e xenófobos atacam indiscriminadamente Israel, ressuscitando o fantasma do anti-semitismo que deveria assombrar a todos nós. Alega-se que os judeus criaram uma "indústria do holocausto". Ora, pensadores insuspeitos como Theodor Adorno e Jacques Derrida sempre enfatizaram que o holocausto foi a experiência decisiva da Modernidade. Toda nossa educação, todas nossas decisões políticas, nossa ética deve ser pautada por Auschwitz. Foi o momento em que o genocídio juntou-se a uma razão industrial e se produziram fábricas da morte. Isso é pouco?
A Shoah sempre deve ser pesada em todos os momentos que se fala da política de Israel, para compreender as decisões. É verdade que Israel vem mantendo uma política hedionda em relação aos palestinos. No entanto, o juízo que delimita um povo como "perverso" é tão perverso quanto essas decisões políticas, por ser racista e violento. Todo "anti" é violento; até o anti-violência.

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