O HOBBY DO ESQUERDISTA
O esquerdista clássico tem um hobby praticamente masoquista: precisa ler, ouvir ou ver jornalistas de direita. Ele precisa ler. O jornalista de direita é o cara que completa ele, que o faz ir em frente, que o faz persistir nas suas crenças, ainda que crenças anacrônicas.
O esquerdista tem nos seus favoritos sempre um Rogério Mendelski, José Barrinuevo, Políbio Braga, Diogo Mainardi, Reinaldo Azevedo, Olavo de Carvalho, Diego Casagrande, Lasier Martins. Ele baba de raiva ouvindo Mendelski de manhã, mas não consegue deixar de o fazer. Diogo Mainardi é quase um complemento para sua vida. A Veja é o eterno incômodo. É o inimigo ali, despido, tão explícito que é quase pornográfico. O esquerdista lê Reinaldo Azevedo. Quem é Reinaldo Azevedo? Que importa o que ele diz? Quem lê Reinaldo -- senão um esquerdista? O esquerdista tem ódio de Olavo de Carvalho. Quem se importa com suas teorias mirabolantes e praticamente cômicas da conspiração?
Na realidade, esses caras ganham dinheiro só para falar mal da esquerda. O RA, por exemplo, tem até "PT" entre os assuntos do título do blog -- por que não tem os outros? Falar da esquerda no tom que falam Políbio Braga [quem?] ou Mendeslki é tão folclórico que chega a constituir um mercado. Mercado que, paradoxalmente, é consumido pela própria esquerda.
Clóvis Rossi, Jânio de Freitas, Eli Gaspari, Hélio Schwartzmann são figuras que não participam da vida do esquerdista. Ele nem os conhece. Ele gosta da direita pornográfica e da esquerda cega -- Paulo Henrique Amorim, Mino Carta, Caros Amigos, esses que jogam o fla-flu. A vida do esquerdista é motivada por ler os brucutus dos dois lados. Por quê? Eis a minha suspeita: é porque, a rigor, esses direitistas dão mais importância para a esquerda do que de fato ela tem. Eles enxergam conspirações comunistas e "esquerdização" em tudo. Não é confortável acharmos que estamos no centro do mundo?
Se observarmos bem, no entanto, vale muito mais a pena ler gente ponderada e pensante como Elio Gaspari ou Pedro Dória, cujos argumentos trascendem a antiga separação do muro de Berlim. No fundo, esses esquerdistas são velhacos saudosistas, ainda que porventura jovens.