Rodrigo Maia e a tentativa de reciclagem do PFL
Chega a ser patético ver a UDN, digo ARENA, ou seja PFL, quer dizer DEM, tentar se reciclar como “democrata” e “liberal”. O seu presidente, Rodrigo Maia, assinou o último mico, um artigo na Folha em que uma boa dose de má fé se mistura a uma boa dose de confusão. Para benefício dos sem-UOL, reproduzo trechos do artigo em itálicos e depois comento:
Democratas, sim, e daí?
RODRIGO MAIA
A QUESTÃO não é nova, mas aflorou com intensidade nos últimos dias, quando as firmes posições dos Democratas -quanto à fidelidade partidária e à batalha contra o achaque dos impostos, agora via CPMF, que sustentamos desde o princípio- levaram ao reconhecimento de que há um novo ciclo no partido, abrindo espaço para novas lideranças e claros delineamentos políticos na nova democracia brasileira.
O deputado mente ao dizer que sua turma é contra o “achaque dos impostos, agora via CPMF .... desde o princípio”. O “princípio” da CPMF se remonta a 24 de outubro de 1996, lei número 9.311, patrocinada pelo governo da coalizão PSDB/PFL. Qual “princípio”, cara-pálida?
O fato de os Democratas assumirem abertamente a condição de liberais, no sentido de origem, afirmarem sua ideologia e seus compromissos fora do transnoitado embate entre os tradicionais de esquerda e de direita assustou alguns e os animou a abandonar suas tocas para lançar dúvidas quanto a nossas afirmações de democratas sem adjetivos. Pois bem, cartas à mesa. Os Democratas são liberais, sim.
Mentira, deputado. Os liberais são, por definição, favoráveis em quaisquer circunstâncias à democracia representativa, às eleições diretas, à liberdade de organização partidária. O seu partido tem suas origens na ARENA e seus integrantes são, na esmagadora maioria, ex-apoiadores da ditadura militar. Qual é o sentido de “origem” da palavra “liberal” que incluiria apoiadores de um golpe militar contra um governo legítimo? Entendeu agora por que quase ninguém acredita em vocês? Espelhe-se nos direitistas americanos e tenha a coragem de declarar o que é, deputado. Outra coisa: o PFL não anda assustando ninguém mais. “Assustar” é um verbo que vocês não andam em condições de usar sem cair no ridículo.
Nossos compromissos começam com a liberdade que só se afirma num Estado democrático de Direito e com garantias de mínimos sociais. Quando nos caluniam cavilosamente, não analisam nossas ações, mas, quem sabe, se assustam com os espaços que temos ocupado.
Quais espaços? A única vez em que vocês lançaram um candidato a presidente da república, em 1989, tiveram menos de 1% dos votos, com Aureliano Chaves. Nas últimas eleições, perderam até mesmo a sua tradicional base, a Bahia, numa derrota acachapante do seu maior coronel, Antônio Carlos Magalhães. Seu reduto eleitoral, o Nordeste, vem sendo carcomido pelo sapo barbudo. Vocês têm a prefeitura de São Paulo graças a uma renúncia do eleito, que não cumpriu a promessa de terminar o mandato. Com a exceção da prefeitura do Rio de Janeiro, a quais “espaços” mesmo o sr. se refere, já que os seus votos só vêm minguando?
Para ser preciso tecnicamente na nossa autodefinição: professamos o "empenho pelo direito à liberdade de cada indivíduo e a manutenção da dignidade humana", independentemente da diversidade cultural, social e econômica.
Preciso tecnicamente? Que precisão é essa? Demonstremos a imprecisão, deputado: encontre uma força política que não declare ser a favor do “direito à liberdade de cada indivíduo e a manutenção da dignidade humana” e depois tente sacar alguma conclusão sobre como sua retórica é vazia.
Lutar pela democracia -como valor, além de sistema- exige essa permanente reflexão sobre tática e estratégia, da qual não podem escapar de julgamento os que negaram o voto a Tancredo Neves (o que redundava num presidente do regime que se superava) e negaram a sua assinatura na Constituição de 1988, que hoje lhes dá as garantias que não tinham.
Vocês jamais lutaram por democracia nenhuma, deputado. Solaparam-na de 1964 a 1985. Ninguém “negou voto” a Tancredo Neves porque “voto” pressupõe a ida de eleitores às urnas e Tancredo jamais foi candidato a presidente pelo voto. Acredito que o sr. se refira aos que se negaram a participar do colégio eleitoral implantado pela ditadura militar, não é? Pois bem, naquele momento havia uma emenda constitucional estabelecendo o voto, emenda derrotada no Congresso com inestimável contribuição do grupo político no qual se origina o seu partido. Segundo: É verdade que a Constituição de 1988 nos dá garantias que não tínhamos. Por que será que não as tínhamos mesmo? Terá algo que ver com o fato de que a sua turma, aliada aos militares, havia implantado um regime de terror no Brasil?
Todos os partidos orgânicos brasileiros -se comparados com os europeus- estão em sua formação com menos de 30 anos das instituições democráticas implantadas. Afirmamos nossas utopias -não como o inalcançável, mas como um processo permanente de aperfeiçoamento partidário, político e institucional.
Decida-se, deputado. Ou é utopia, ou é um processo permanente de aperfeiçoamento. As duas coisas, sinceramente, não dá. Aconselho uma consulta ao dicionário sobre o sentido da palavra “utopia”.
Os donos da verdade já produziram as catástrofes de que todos se lembram.
Com certeza nos lembramos. Torturas, mortes, seqüestros e terror entre 1964 e, pelo menos, 1979. Posteriormente, quebradeira do país, pauperização e dilapidação do patrimônio público entre 1994 e 2002. Lembramo-nos, certamente. Que tal o sr. se lembrar de qual era a turma que então se encontrava no poder?
Depois não entendem por que continuam levando surras nas urnas. Faço minhas as palavras de alguém insuspeito de ser esquerdista, o Marcos Matamoros: a direita brasileira anda tão perdida que seu mais novo herói é um cara que pinta os cabelos e escreve novelas. Quando a alternativa é Rodrigo Maia, até Aguinaldo Silva parece um estadista.
TUDO AO CONTRÁRIO
DEPOIS DE, contra todas as minhas expectativas, iniciar-se um processo de mínimo consenso no RS, a partir da proposta do xiita Raul Pont (PT) de economizar recursos para o 13º salário dos servidores, acatada pela Situação, é para meu espanto que o PSDB nacional, que parecia muito mais maduro, dá um show de imbecilidade ao rejeitar a CPMF, sacrificando o país por interesses de poder.
Corinthians na segundona
Vou deixar para o Inagaki a tarefa de ser elegante. Farei um post para ser xingado. Se os corintianos forem elegantes nos xingamentos, eles não serão apagados. Combinemos uma coisa? A torcida do Corinthians tem que baixar a bola e entrar na segundona com outra atitude. Se mantiver a que tenho visto, vão ficar 10 anos por lá. O caderno Aliás, do Estadão, publicou no domingo uma nota do publicitário corintiano Washington Olivetto que termina com uma frase sombria e ameaçadora. Lembrem-se meninos: não saber ganhar é ainda pior do que não saber perder. Parece que a grande maioria dos corintianos ainda não entendeu a corrente-pra-trás que uniu contra eles todo o Brasil, com a exceção, talvez, dos vila-novenses de Goiás. Gremistas e colorados, atleticanos e ex-ipiranguenses: todo mundo torceu junto. E não foi por inveja da Fazendinha.
Essa corrente tem duas raízes: a revolta do público espectador com as manipulações da Rede Globo e a memória, muito viva, de todas as maracutais nas quais o Corinthians já esteve envolvido. Só o Flamengo supera o Corinthians em títulos roubados. Como se sabe, o último título ganho pelo Flamengo sem a ajuda do apito foi o tricampeonato carioca de 1955, quando o ataque era Joel, Rubens, Índio, Benítez e Esquerdinha. Dali pra frente, foi tudo José Roberto Wright.
Como é do conhecimento até do mundo mineral, roubar campeonatos para Flamengo e Corinthians é o pré-requisito para comentar arbritragens na Globo. Algo me diz que o sucessor de Wright e Márcio Rezende de Freitas na telinha de Galvão Bueno será o Carlos Simon. A queda do Corinthians vem sendo tratada pela imprensa de forma completamente diferente das quedas, anteriores, de Palmeiras, Fluminense, Botafogo, Grêmio e Galo, como se o Corinthians fosse maior que algum deles. Foi constrangedor assistir a transmissão da última rodada do campeonato. Parecia que o Olímpico presenciava uma partida da Seleção Brasileira contra um combinado de estupradores nazistas. Um amigo latino-americano olhava, incrédulo: mas essa transmissão é nacional? Eu digo: sim, é nacional. O cabra: mas Goiás e Rio Grande do Sul não são parte do Brasil? Por onde começar a explicar essas coisas para quem não é brasileiro?
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