Mox in the Sky with Diamonds

segunda-feira, agosto 17, 2009

ESQUERDA NÃO-TRABALHISTA

No belíssimo "Cartografias do Desejo", registro de sua visita no Brasil na década de 80 co-escrito com Suely Rolnik, Félix Guattari, embora vendo no PT e em Lula a possibilidade de uma esquerda distinta daquela européia que estava habituado, já comentava que era necessário pensar também, daqui para diante, em uma esquerda não apenas do trabalhador, mas também do vagabundo.
O DNA do PT já está cravado no seu nome: é o partido dos trabalhadores. Não é de se estranhar, por isso, que certos petistas (não são a maioria, felizmente) têm uma visão de segurança pública exatamente igual a dos defensores da Lei e Ordem: os criminosos não são trabalhadores, afinal. Como o PT é o único grande partido de esquerda no Brasil, toda discussão é pautada pelo trabalho. O protagonismo do sindicalismo, que é a origem de Lula, e da intelectualidade marxista é sintoma disso.
A candidatura Marina Silva, por esse aspecto, pode também ser positiva. Repito: tudo dependerá de como ela construirá uma coalizão de forças ao seu redor. É só isso que nos permitirá analisar o processo. Falo, portanto, em tese. E, em tese, a candidatura Marina pode fortalecer a formação de um grupo de esquerda desvinculado do trabalhismo em geral.
No Brasil, o eleitor que parece um pouco o liberal norte-americano, defensor da sustentabilidade, do pluralismo social, dos direitos humanos, da descriminalização das drogas e do aborto, do pacifismo, das ações afirmativas e outros temas fica quase sem representação. O PT, reitero, é o partido do trabalho, tem nele a sua principal pauta. Sustenta os outros temas como bandeiras periféricas. O eleitorado de esquerda cujas principais preocupações tem que votar "por tabela", acreditando que, por ter sido um partido surgido "de baixo para cima", como foi o PT, tem uma agenda mais flexível e é capaz de equacionar melhor essas questões (e, de fato, é assim).
Não importa tanto se Marina Silva tem chance de vencer pelo PV. Alguns petistas já estão partindo para agressão. Que bobagem. Essa coisa partidária-fanática é mesmo boba. A eleição não é apenas a consagração da glória do vencedor, mas também a constante circunscrição de limites entre campos políticos. Um candidato que sai em terceiro ou quarto lugar pode terminar a eleição mais forte do que começou. E um que sai em segundo mais fraco (caso, p.ex., de Geraldo Alckmin). As coisas não são lineares. Não é um bom argumento para rechaçar Marina o fato de que Dilma, só por ser do PT, é melhor; tampouco o de que só Dilma é "viável" eleitoralmente. Marina pode representar a formação de um quarto bloco político, alheio a PT (trabalhistas), PSDB-DEM (conservadores) e PMDB (fisiológicos), composto por "liberais de esquerda" e "anarquistas" que priorizam outras temáticas que não a do trabalho. Formado o campo, ele passará a negociar com os dois protagonistas eleitorais.

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