Mox in the Sky with Diamonds

quarta-feira, agosto 12, 2009


A CANDIDATURA MARINA SILVA E O XADREZ DA ELEIÇÃO

TENHO EVITADO falar da sucessão de 2010 porque repudio o "jornalismo-Caras" da política que impregna nossos jornais e revistas. As análises da política se resumem a bate-bocas, encontros, acordos e trocas, ocupando todo cenário que deveria se preocupar com as questões essenciais, e não com moralismos e colunismo social. Se X ou Y é aliado de Z é um assunto que pode vir a ser importante, mas jamais substituir a discussão pela quantidade imensa de pautas que deveriam ocupar esse lugar: segurança pública, racismo, sustentabilidade, extrema pobreza, distribuição fundiária, separação do público e privado, etc.
A possibilidade, no entanto, de uma frente que reuniria gente como Marina Silva, Cristovam Buarque e Fernando Gabeira, sem falar de apoiadores como Luiz Eduardo Soares e Marcos Rolim, não é desprezível. Como vocês podem ver, tratam-se de nomes que ganharam já alguns pontos aqui no blog por serem uma esquerda rejeitada pelo PT, embora por (muitas) vezes até mais interessante.
Os opositores da candidatura têm o seguinte perfil: a) são entusiastas xiitas do partido, acreditando que todo aquele que se opõe ao PT é um traidor (corrente de genealogia bastante evidente); b) são "pragmáticos" que acreditam ser necessária a união da esquerda desde o primeiro turno, e que a candidatura Dilma é imensamente mais viável que a de Marina, sendo aquela inclusive melhor candidata; c) céticos que consideram a candidatura como uma manobra da direita para desagregar a base de Lula e retomar o poder, usando Marina como uma espécie de fantoche. É só essa alternativa "c" que me interessa. E ela que me põe em dúvida. Tudo dependerá de como será construída essa candidatura.
Se Marina Silva conseguir trazer para seu grupo uma espécie de "esquerda idealista", sem as vinculações partidárias fortes com a cúpula do PT e o movimento sindical que geraram o "lado podre" do Governo Lula, é uma excelente candidata. Melhor que Dilma, inclusive. Apesar de certos elogios ao criacionismo que deixaram de cabelo em pé algumas pessoas, Marina se mostra uma inteligência lúcida, com vivência dos dramas da população pobre no Brasil e consciência plena do desafio ambiental que se avizinha (e Lula apenas ignora). Eventuais vinculações dela com evangélicos não podem ser demérito (a menos que meus amigos de esquerda ateus (como eu) também não apoiassem um presidente assumidamente católico) e excessos certamente seriam facilmente corrigidos pelo seu grupo de sustentação. Entre eles, vários com poderosas credenciais.
Apesar de considerar muito bom o Governo Lula, de forma que não me incomodaria muito votar em Dilma Roussef, é fato que a agenda ambiental anda totalmente esquecida e a eleição da senadora não poderia representar recuo nos demais itens sociais. Além disso, com o apoio de Gabeira e Buarque, entre outros, seria possível começar a fazer andar um projeto de "desintoxicação" da esfera pública brasileira, enfraquecendo as oligarquias. Atacar a corrupção, diga-se de passagem, é uma medida política de primeira ordem, que envolve uma posição política firme e traz uma infinidade de benefícios para o país, especialmente aos pobres. Marina representa uma "terceira via" real entre Dilma e Serra (ou Aécio), podendo até conseguir mobilizar - em alianças futuras - parte do PT e do PSDB e, com isso, liderar ambos e isolar o atraso (o artigo do Presidente do PV escrito esses dias na Folha trouxe algumas idéias tão semelhantes às escritas aqui que cheguei a cogitar a possibilidade de que tenha lido esse blog...). Em muitas outras questões, diga-se de passagem, é possível que um Governo Marina fosse mais radical que um Dilma: por exemplo, na educação, na questão fundiária e na segurança pública.
O "se" vem de uma desconfiança concreta: o discurso de Gabeira, que até agora vem sendo o representante dessa "corrente", é apenas moralista. No fundo, ataca a corrupção por meio da eleição de bodes expiatórios e se alia a forças conservadores que são os verdadeiros motores do processo. Se a candidatura Marina (existindo, claro!) for para esse lado, não terá meu voto. Aguardemos.

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